Especial | Dia das mães
Nota
*- Mama | Papa = "mamãe" | "papai";
*- Alles Liebe zum Muttertag = "todo amor para o Dia das Mães". Expressão geralmente usada na língua alemã para saudações nessa data;
*- Schatz = "tesouro";
*- Mein Herz = "meu coração" ou "coração".
***
Blader
Quando o sono finalmente ficou mais leve, senti um par de bracinhos ao meu redor junto a uma respiração que eu conhecia muito bem. Ao abrir os olhos, me deparei com Mia em sono profundo ao passo que Lins nos observava sorrindo enquanto acariciava a cabeleira ruiva de nossa pequena.
— Que a melhor mamãe do mundo tenha um ótimo dia — disse ele, se inclinando para me dar um beijo.
Sorri em resposta, logo desviando o olhar para a princesinha em meus braços, que resmungou antes de se ajeitar mais e continuar dormindo. O ruivo veio para mais perto e passou um braço sobre nós, sem deixar de sorrir um segundo sequer.
— Nossa princesinha terminou o café da manhã toda animada, dizendo que ia esperar você acordar — explicou. — Mas acabou cedendo ao soninho pouco depois.
— Eu não dormi, Papa — protestou Mia com um grande bocejo, para nossa surpresa. — Meus olhos estavam cansados.
— E muito cansados pelo jeito. — Meu marido desviou o foco para o despertador um instante - Três horas inteiras descansando a vista é bastante tempo.
A pequena me soltou para espreguiçar, porém arregala os olhos de repente e logo me dá um abraço apertado junto a vários beijos na bochecha.
—Alles Liebe zum Muttertag! — Como de costume, nossa ruivinha me desejou feliz dia das mães no idioma nativo do pai, mostrando que realmente era uma miniatura perfeita do violinista. Na verdade, ao estar animada, ela sempre desatava a tagarelar em alemão, portanto não era mais uma surpresa.
— Obrigada, meu amorzinho. — Beijei o topo de sua cabeça ao estreitar o abraço, me sentindo sortuda pela filha que eu tinha.
— Você é a melhor Mama do mundo e eu te amo esse montão aqui. — Mia abriu os braços o máximo que conseguiu, sem esconder o sorriso com um dente de leite a menos.
— E eu te amo muito, muito, muito, princesinha. — Abri uma das gavetas da mesa de cabeceira, tirando um coelhinho de pelúcia que estava guardando como presente — Você me faz a mamãe mais feliz de todas.
Ela pegou o bichinho no mesmo instante, me abraçando de novo em seguida. Lins então envolveu a nós duas dessa vez, deixando o momento ainda mais aconchegante.
— Vou buscar o café da mamãe — avisou o ruivo. — Tome conta dela por mim, Schatz.
— Então pode trazer mais torradas pra mim, Papa? — pediu a pequena, fazendo biquinho e unindo as mãos. — Por favor...
— Ainda tem mais espaço nessa barriguinha? — Meu marido pegou Mia de surpresa com um ataque de cócegas — Para onde vai essa comida toda?
Nossa menina apenas fez um gesto de "não sei" com as mãos e o violinista logo a soltou.
— A senhorita não tinha algo para a mamãe?
— É verdade!
Ambos deixaram o cômodo ao mesmo tempo, me possibilitando ir até o banheiro. Contudo, mal pude lavar o rosto, pois minutos depois escuto passinhos apressados pelo piso de madeira, seguido do som de algo sendo arrastado.
—Mama?
— Estou indo, minha pequena.
Ao longe, ela pediu para que eu fechasse os olhos e então o fiz, sentindo suas mãozinhas segurando as minhas antes de me conduzir de volta para o quarto. Caminhamos devagar por algum tempo, parando quando a ruivinha soltou meu palmo direito para colocá-lo sobre um pacote.
— Surpresa! Pode ver agora, Mama. — Após isso, a ouvi correndo para algum canto da suíte.
— E cadê você? — indaguei ao olhar por todos os lados, porém sem enxergá-la em parte alguma.
— O presente primeiro! — O eco do banheiro denunciou sua localização.
Pensei em ir atrás dela para saber o que estava acontecendo, porém decidi obedecer. Abri o pacote, me deparando com roupas novas em folha. Vieram bem a calhar e isso deveria admitir, pois já estava perto de ficar sem opções de peças.
— São lindas, meu amorzinho — declarei. — Muito obrigada.
— Foi o papai que comprou e eu ajudei!
— Fizeram um excelente trabalho.
No mesmo instante, Lins retorna com a bandeja de café. Me aproximei dele para agradecer pelo presente e então contei sobre o estranho comportamento de nossa pequena.
—Schatz, já estou aqui. Não precisa ficar escondida.
— Vocês combinaram?
— Sim. — Quando estreitei os olhos, ele levantou as palmas em sinal de rendição — Em minha defesa, a ideia foi dela.
—Papa, vem aqui!
— Continue onde está, mein Herz — Me pediu o ruivo, indo até o banheiro e se agachando ao encontrar Mia atrás da porta. Pareceu alinhar algo que estava fora do meu campo de visão e logo ficou em pé novamente. — Aqui está o presente que nossa pequena preparou para você.
A espertinha logo apareceu, me deixando sem saber se achava graça ou se me derretia de fofura, porém acabei optando pela segunda opção.
Ela ajeitou minha armação no próprio rosto, porém sem as lentes, enquanto adentrava o quarto como se estivesse em um desfile. Os cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo, em cada braço havia uma imitação das minhas lâminas e as roupas eram iguais ao conjunto que eu mais gostava de usar: calça jeans na cor preta, uma blusa de gola alta na mesma cor, o casaco cujo comprimento ia até os joelhos e os tênis pretos.
—Jack, se você pegou chocolate escondido de novo eu vou te amarrar no teto igual pinhata! — Até o tom era o mesmo que o meu.
— Juro pelo Operador que dessa vez nem cheguei perto da despensa! — O grito do próprio palhaço monocromático vindo do corredor me fez ceder às gargalhadas.
— Já achei minha substituta perfeita. — Sem dúvida, aquele seria o dia em que achataria a ruivinha com tantos abraços. Naquele instante, aproveitei para ver mais de perto o material das "lâminas", ficando aliviada ao ver que se tratava apenas de isopor.
—Ela queria porque queria ficar igual à mamãe — Lins explicou, rindo quando nossa menina saiu de perto de mim para ficar em frente ao espelho e golpear o vazio com suas armas de mentira. — E sabe como é, certo?
— Ainda bem que você já tem maestria em lidar com mulheres decididas — brinquei, me sentando na cama e sem deixar de observar Mia.
— Acho que "intensas" seria a palavra certa — replicou, colocando a bandeja ao meu lado e roubando um selinho escondido. — E onde está a mocinha comilona que me pediu torradas?
— Aqui!
A pequena Blader veio correndo, apreciando suas torradas uma atrás da outra sem pausa sequer para conversar, o que já não me espantava mais. Afinal, ela poderia ter a aparência do pai e parte do meu temperamento, contudo o apetite veio da tia e isso jamais poderia ser contestado.
***
Apesar dos pesares, meu querido pai não me deu o dia de folga, o que já era de se esperar. De toda forma, pude continuar curtindo o dia das mães sem problemas, pois Mia insistiu em fazer as rondas da casa junto comigo e ainda vestida de mini algoz.
Por ter acompanhante, usar a invisibilidade estava fora de cogitação dessa vez, o que deveria ter sido um problema, contudo minha pequena era esperta o bastante para pegar os meliantes no flagra e depois chamar por mim a plenos pulmões. Juntas, espantamos Jack da cozinha enquanto Ery fazia brigadeiro, encerramos a briga de Ben e Jeff pelo videogame e encontramos Toby dormindo durante o treinamento.
—Mama, podemos pedir um brigadeiro para a tia Ery agora? — Minha princesinha colocou as mãos sobre a barriga — Estou com tanta fome...
— Daqui a pouco vamos almoçar — avisei, afagando o topo de sua cabeça. — Depois vem o doce.
— Tá bom... mas a gente pode passar na cozinha só pra ver o que tem para comer e falar oi para o Papa e para o Tio Brian? Por favorzinho...
— Vamos bem rápido então. Ainda precisamos dar uma voltinha pelo lado de fora para garantir que ninguém está aprontando nada.
Os cheiros do arroz, dos refogados e da carne tomando conta da sala de jantar indicavam que tudo estava dentro dos conformes. No entanto, cedi alguns minutos para Mia ver o pai, pois este ficara responsável por ajudar no almoço junto com Brian. O que não esperava, porém, era o grito da pequena segundos depois de adentrar a cozinha.
—MAMA! O Papa e o Tio Brian estão comendo o brigadeiro todo!
Adentrei o ambiente no mesmo instante, dando de cara com os dois meliantes tentando esconder o prato vazio.
— Até poderia esperar isso de você. — Apontei para meu marido, cuja expressão se mantinha serena, como se nada tivesse acontecido — Mas você? — Olhei para Brian, que limpava a boca com um guardanapo de papel.
— Não me culpe se Lins é a pior influência dessa casa.
— Eu apenas comecei, foi você quem me seguiu de livre e espontânea vontade — retorquiu o ruivo ao amigo.
Balancei a cabeça negativamente enquanto minha pequena passava por mim em direção aos dois. Cruzou os braços e os encarou por tempo suficiente para um vinco se formar em sua testa, momento em que ela decidiu tomar providências. Pegou nas mãos de ambos, arrastando-os para fora do recinto.
— Ei, ei, e quem vai terminar o almoço? — questionou Brian.
— A Tia Ery — respondeu a menor. — Porque ela vai fazer churrasquinho de vocês.
—Mein Herz, não vai fazer nada a respeito?
— E eu deveria? — perguntei de volta, me limitando a seguir os três escadaria acima. — Para o azar de vocês, essa é por conta da minha ajudante. — Ela olhou na minha direção um instante e lhe direcionei uma piscadela — E confio plenamente nela.
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