RUNAWAY (Angela)
Então você se senta em casa sozinha
Pois não há mais nada que você possa fazerHá apenas retratos pendurados nas sombrasDeixados ali, olhando pra você
Você sabe que ela gosta das luzes à noite
Nas fachadas de neon da BroadwayE, na verdade, ela não se importaÉ apenas amor que ela espera encontrar
Oh, ela é uma pequena fugitiva
A garotinha do papai aprendeu rápidoTodas aquelas coisas que ela não podia dizerOh, ela é uma pequena fugitiva
— Runaway, Bon Jovi
"Você não tem sentimentos, você é vazia"
As palavras dele reverberam em minha mente enquanto me encontro no terraço da empresa, admirando o que deveria ser minha vitória. Ao final, minha mãe alcançou o que tanto desejava. Ela sempre afirmou que se eu persistisse com Seungmin, ele, como homem, não resistiria à beleza de um rosto jovial e um corpo atraente. Contudo, tudo o que consegui foi intensificar seu desprezo por mim. Estou convencida de que, quando compartilhar a notícia com ela, minha mãe não hesitará em organizar um suntuoso jantar de noivado, mas, para a infelicidade geral, meu único desejo é que essa história se dissipe. Seungmin me abomina, e a última coisa que desejo é ser submetida a tal desdém por um homem. Eu definitivamente não preciso disso...
Permito-me um momento para lamentar minha deplorável existência e, em seguida, deixo o prédio da empresa, caminhando em direção ao meu carro. Coloco meus óculos escuros, ligo o rádio e deixo que o rock dos anos 70 preencha o ambiente até chegar à mansão dos meus pais. A imensa e extravagante residência onde vivem meus pais, se faz imponente ao longe, enquanto minhas descrença de estar indo até lá só aumenta. Junto aos meus pais, ali vive uma legião de empregados dedicados à manutenção de tudo.
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*Música que Angela estava escutando: Fortunate Son, Creedance Clearwater Revival*
Contemplo a vasta propriedade, recordando o tempo em que ali residia durante minha fase universitária. Não sou coreana de nascimento; minha infância foi em Londres, devido ao emprego de meu pai. Vivi em Londres até os dez anos, e depois, por conta de uma transferência de trabalho dos adultos, mudamo-nos para os EUA, onde permaneci até os dezesseis. Retornei a Londres, onde concluí minha graduação e almejava ingressar em Oxford; no entanto, para meu pai, era essencial preservar as raízes familiares, o que me levou a ser compelida a estudar na Coreia.
Quando vim aqui pela primeira vez, a mansão encontrava-se desabitada, tornando-se inviável viver ali, o que me fez recorrer aos dormitórios universitários até que a mansão estivesse apta a me acolher. Detesto profundamente esse lugar, este país, estas pessoas, e, acima de tudo, abomino a maneira como minha liberdade é meramente ilusória.
Ouço batidas na janela do meu carro e, ao baixar o vidro, deparo-me com o velho mordomo de nossa família. Desde que me entendo por gente, esse homem já tinha uma idade avançada... parece que a morte simplesmente se esqueceu dele.
— Senhorita Angela, sua presença hoje me surpreende — Sua voz carrega um tom de formalidade misturado com surpresa.
— Pois é, cheguei trazendo uma novidade.
Com um movimento ágil, desembarco do carro e lanço as chaves em sua direção, ignorando seu protesto distante de que não é meu manobrista. A indiferença domina minha atitude, enquanto adentro a casa. Conforme avanço, as empregadas reverenciam minha passagem. Sem hesitar, sigo diretamente para a biblioteca, o refúgio habitual de meus pais quando estão em casa. Ao entrar, a cena é exatamente como previ: meu pai acomodado em sua poltrona, absorto na fumaça de seu cachimbo, e minha mãe ao telefone. Seu sorriso formal mal esconde a surpresa quando anuncio:
— Vou me casar com Seungmin.
A reação é imediata: meu pai deixa o cachimbo escapar de suas mãos, enquanto minha mãe interrompe abruptamente sua conversa telefônica. Com um sorriso que preenche o ambiente, ela se aproxima de mim, exultante:
— Finalmente conquistou aquele homem! Já estava questionando sua habilidade em fisgá-lo.
— Sim, mãe, conquistei... — Minhas palavras escondem o turbilhão de sentimentos que prefiro não revelar. Seria inútil.
Desde minha chegada à Coreia, meus pais não cessam em suas insistências para que eu fizesse Seungmin se casar comigo, custe o que custar. Será que eles não percebem que essa não é minha vontade? Não é que eu não deseje o Seungmin; afinal, ele é um gostoso, nossa como eu adoraria dar para aquele homem, aquela carinha de santinho é puro golpe.
No entanto, Seungmin nutre um ódio por mim, convencido de que sou uma pessoa superficial, o que apenas reforça sua aversão por toda essa encenação matrimonial. Talvez ele tenha razão, pois tudo o que eu realmente quis na vida parece ser deliberadamente obstaculizado por meus pais:
— Isso nos dará o controle da empresa. — Meu pai expressa, com um sorriso arrogante.
Apesar de sua amizade com o pai de Seungmin, divergências ocasionais surgiam, embora sempre superadas pela necessidade de manter a empresa unida. Contudo, ele não esperava que uma doença e acusações de sonegação de impostos o colocassem em uma situação delicada, forçando-o a depositar suas esperanças em mim para assegurar o futuro da empresa. Por essa razão, exigiu minha permanência na Coreia.
— Ótimo para vocês, só vim informar. — Estou prestes a me retirar quando minha mãe me detém.
— Teremos que organizar um jantar para celebrar o noivado. Precisamos começar os preparativos imediatamente.
— Eu não quero nada disso...
— Não seja ridícula, Angela. Precisamos demonstrar à elite coreana a união de nossas famílias. — Seus olhos brilham com a ideia de um evento extravagante.
— Eu realmente não quero nada disso. — Rebato, retirando meu braço de seu aperto e encarando-a com firmeza. — Vou pegar algo em meu quarto e depois irei para meu apartamento.
— Garota ingrata! Pois bem, farei o anúncio na mídia. Finalmente, nossas famílias se unirão. — Sua voz, embora carregada de reprovação, também revela uma ponta de triunfo.
Reviro os olhos e me apresso para sair daquele lugar, dirigindo-me ao quarto que não utilizo mais, mas que se mantém montado e devidamente limpo. Recordo que deixei uma mala ali quando vim de Londres para o funeral do Sr. Kim. Depois que por livre espontânea pressão eu decidi ficar na coreia, me apressei em encontrar um apartamento para alugar e ficar longe e acabei esquecendo uma mala.
Para minha infelicidade, meu passaporte estava dentro dela. No entanto, estar impedida por meu pai de sair da Coreia não fazia muita diferença naquele momento. Eu precisava ver alguém que estava muito longe deste país, e não permitiria que me impedisse. Com o passaporte em mãos, eu estava prestes a sair quando minha mãe adentra o quarto:
— Finalmente ele largou aquela empregadinha. Filha, você deve ser firme com ele. Quem garante que ele não te trairá com outra empregada? — indaga ela — Não existe nada mais vergonhoso para nossa posição ser traídas por empregadas.
É com isso que ela está preocupada? Sério?
— Por mim, que ele que coma todas as empregadas. Esse casamento é uma farsa! Ele não me ama. — respondo, exasperada.
— Você não precisa de amor, precisa do dinheiro e da influência que este casamento vai proporcionar. Basta garantir um herdeiro e tudo estará resolvido. Ele poderá seguir com sua vida de ídolo e empresário, e você terá o mundo a seus pés, desfrutando dos benefícios deste casamento... claro, o herdeiro ficará com a babá. — Ela afirma, passando a mão por meu cabelo, querendo fingir que é carinhosa.
— Claro... — murmuro, questionando-me se deveria revelar meus pensamentos sobre o divórcio, mesmo antes do casamento ocorrer.
— Deixe-me dizer-lhe algo. Eu nunca amei seu pai, mas mantivemos nossa união estável. — confessa ela.
— Que reconfortante... — respondo, sem esconder meu sarcasmo. Sua descrição de um casamento perfeito espelhava exatamente o que eu vivenciei na infância.
— Ah, não seja modesta, Angela. Olhe para suas roupas, para si mesma. Vai me dizer que não gosta de ser uma mulher rica? — Ela analisa meu blazer branco da Chanel, enquanto a encaro com frieza.
— Sabe, quando vocês envelhecerem, farei questão de colocá-los em um asilo, o mais longe possível de mim. — afirmo, decidida.
— Desde que eu possa continuar tomando meus martinis. — Minha mãe sorri, e eu pego minha bolsa, determinada a sair daquela casa.
Dirijo-me até meu carro e sigo diretamente para meu apartamento. Ao chegar, retiro a mala do armário e começo a selecionar algumas roupas. Com a passagem comprada, decido acender um cigarro, colocar Iron Maiden para tocar e abrir uma garrafa de vinho. O voo seria apenas no dia seguinte, e eu desejava esquecer todo o caos que me rodeava. Subitamente, meu celular começa a tocar, e eu atendo prontamente ao reconhecer o número.
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*Musica que Angela está ouvindo: Fear Of The Dark, Iron Maiden*
— Alexia! Preciso compartilhar tantas novidades contigo.
— Amiga, quando você pretendia me contar sobre o seu casamento com aquele coreano por quem você se apaixonou?
— O quê?
— Sim, aquele cantor da boyband... Eu tinha a impressão de que ele não gostava de você.
— Como você... Ah, minha mãe, com certeza já deve ter aberto a boca pra mídia. Bem, de fato, vamos nos casar, mas é apenas por uma questão de responsabilidade empresarial. Ele continua não gostando de mim.
— Amiga, lamento muito. Sei que você tem uma quedinha por ele...
— Que ele vá para o inferno! Estou indo para a Inglaterra amanhã, preciso me afastar de toda essa situação por um tempo.
— E os seus pais?
— Alexia, que eles, o Seungmin, a Kimsan, todo mundo vá pro inferno. Eu só quero ter um respiro da minha própria vida novamente.
— Entendido, venha logo. Vamos nos divertir e esquecer de todo esse drama.
Alexia me pôs a par de como estavam as coisas em Londres e, após desligarmos, percebi que já eram quase 19h. A mídia estava em polvorosa com a notícia do casamento do famoso Idol. As fãs já estavam movimentando as redes sociais, comentando em como eu era linda e como estavam com inveja, algumas proferiam palavras de ódio contra mim, coitadas. Seungmin não vai comer nem a mim, imagine essas mocreias.
Falando no dito cujo, ele provavelmente deve estar gritando para todos os lados o quanto me despreza. De fato, sou atraída por esse rapaz, mas jamais desejei estar casada só para ter que ouvir ele dizer que me abomina. Precisamos permanecer casados por um tempo para mantermos as aparências e ai podermos solicitar o divórcio e resolver a divisão dos nossos bens. O que realmente me perturba é a certeza de que ele me odeia, pensando que fui eu quem divulgou o casamento, e me detesto por não querer ser odiada atoa.
— Tsc... Que saco.
Coloco meu sobretudo, pego minhas chaves e minha bolsa, decidida a não permitir que ele continue me insultando dessa maneira.
Quando chego no desembarque do aeroporto, Alexia está ali me esperando. Usando uma calça social com uma blusa branca e seu cardigã azul. Seus cabelos cacheados e volumosos lhe dão uma aparência de um pequeno leãozinho, digo pequeno pois ela é uma mini querida de 1,49. Alexia me abraça e eu retribuo:
— Que saudades. Venha, temos muito que fazer — Ela diz, me puxando em direção a saída.
Alexia é minha amiga há incontáveis anos e representa a única pessoa que realmente faz questão de gostar de mim. Juntas, seguimos em direção ao meu apartamento, o qual divido com ela, e me encontro imersa em suas histórias de desventuras amorosas e relatos sobre como seu novo emprego é divertido.
Para Alexia, nunca importou de onde eu vinha, ou quão megera eu fosse. Ela sempre me dizia que mulheres gostosas são aquelas que colocam medo e abalam todas as estruturas de um homem e se eu tivesse que ter a síndrome da menina malvada para lidar com eles, estava tudo bem; seu paninho era rosa com glitter.
Posteriormente, decidimos passear sem destino pelas ruas de Londres. Eu amo esse lugar, a Coreia é tão estranha e conservadora, Deus me livre ter que morar lá a vida toda. Ao passarmos em frente à minha catedral favorita, faço uma pausa. Sempre proclamei que aqui seria o lugar onde eu me casaria, usando um deslumbrante vestido adornado com cristais.
Por que cristais? A resposta é simples: uma vez vi um vestido desses na televisão, todo encrustada de cristais de uma famosa marca de diamantes e foi amor à primeira vista, o adquirindo mesmo sem ter a menor ideia de quando um casamento de fato aconteceria. Meu desejo de viver um amor verdadeiro parece piada, mas vai que um dia eu realmente me casasse. Eu não sou uma Tudor, mas sou uma rainha, portanto necessitava de um vestido que estivesse à altura de tal título.
Os meus pais nunca me proporcionaram amor; fui criada para ser a perfeita herdeira rica, mas minha mãe sempre estava ocupada com seus próprios assuntos, e meu pai, via-o apenas uma vez por semana. Essa realidade não é estranha a muitas crianças abastadas, porém, no meu caso, parecia ser ainda mais grave.
Na escola, todos me evitavam, receosos pela minha fortuna ou pelos meus olhos puxados. Na Inglaterra, estudei numa escola católica e eu era a única asiática entre tantas loiras dos olhos azuis. Obviamente elas não gostavam de mim, tudo bem, eu também não gostava delas, mas foi estudando nos Estados Unidos que percebi a necessidade de me defender.
Toda menina malvada tem seu ponto fraco é o meu pateticamente é a Disney. Cresci assistindo filmes e seriados da casa do ratinho, me iludindo com a ideia de que eu encontraria um amor verdadeiro tal qual a Cinderela que encontrou o seu por causa de um sapato. Dizia sempre para minha babá que meu casamento seria diferente dos meus pais, que todo dia a minha vida seria como um filme.
Quando minha mãe colocou na minha cabeça que eu me casaria com Kim Seungmin, passei a desejar que fosse ele o meu príncipe encantado. Seungmin é o tipo de pessoa por quem qualquer um facilmente se apaixonaria, mas ele sempre me verá apenas como uma mulher bonita e superficial. Talvez eu seja mesmo superficial, nunca quis dividir meus problemas ou aspirações, apenas desejava estar na moda e ser invejada pelas outras garotas. Essa sensação de controle é viciante e incita o desejo de estar sempre no topo.
No entanto, apesar de ter tudo que eu queria, ainda ansiava por sentir o amor, por conhecer essa doçura e amargura que tanto falam, por experimentar a sensação de estar com alguém, e por anos me iludi achando que esse alguém queria Kim Seungmin. Vivendo em minha própria escuridão, eu ansiava para que ele trouxesse luz à minha vida. Mas aí a gente cresce e aprende que a Disney mentiu para todos; o amor não é real para os ricos, pois no fim, as influências sempre prevalecem.
Não vivenciei o amor do Kim Seungmin, mas aproveitei intensamente os prazeres da vida. Com meus pais longe de Londres, tive total controle sobre mim e minhas decisões, conheci lugares e pessoas, me envolvi em cada coisa, aventuras aqui e ali, o que sempre me divertiu.
Mas agora aqui, contemplando essa igreja, só consigo me sentir triste e patética. Sou católica, talvez não tão praticante quanto deveria, mas ainda mantenho minha fé. Sim, meninas malvadas também acreditam em Deus. Imagino que Seungmin riria de mim se soubesse que vou à missa pelo menos um domingo por mês. Para ele, eu nunca seria esse tipo de pessoa, porque ele me vê apenas como uma vagabunda que fez mal pra empregadinha de estimação dele. O Minnie não tem que ficar bravo com minhas atitudes, quem tem que ficar bravo é Deus e eu vou acertar as contas com ele um dia.
Sei que não deveria me importar com o que ele pensa, é só mais um homem que pensa com a cabeça debaixo, mas é Seungmin, e essa aversão que ele nutre por mim me irrita profundamente.
A Igreja Católica mantém uma postura rígida quanto à anulação de casamentos, reservando esse direito apenas para casos de adultério. Por conta dessa doutrina, ficarei sem a possibilidade de me casar novamente sob as bênçãos divinas. Embora possa soar como uma ironia, minha fé em Deus e em seus ensinamentos é genuína; foi essa crença que me manteve equilibrada diante das exigências incessantes de minha família.
— Angela, o que houve? — indaga Alexia, notando meu olhar perdido na direção da igreja.
— Por que eu não poderia ser rica e ainda ter pais que são legais?
— Bem, eu não nasci em berço de ouro, mas meus pais são incríveis — responde Alexia, esboçando um sorriso.
Nossa amizade floresceu no ambiente escolar, onde a mãe de Alexia lecionava na escola católica e por isso a filha pode estudar lá. Alexia foi a única garota que queria andar comigo. A família dela é pobre e são as melhores pessoas que eu conheço, mas ainda sim...
— Deus me livre de ser pobre! Olhe para a minha roupa, é Prada. Sinto pena daqueles que não podem se dar ao luxo de possuir Prada — exclamo, sem me importar se soou muito arrogante.
— Eu sinto pena mesmo é quem não tem uma amiga rica para poder usar a Prada dela — retruca Alexia e começamos a rir.
Entrelaço meu braço ao dela, e juntas, seguimos para nosso pub favorito, onde uma banda de rock desconhecida se apresentaria naquela noite. Acomodamo-nos e pedimos cervejas. Pouco tempo depois, amigos se juntam a nós, e, cercada pela alegria do momento, esqueço-me de todas as angústias: a indiferença dos meus pais, o desprezo de Seungmin, e até mesmo a inveja que sinto pela empregada que conquistou seu coração.
Por que ela, e não eu? O que ela tem que eu não tenho? Coração puro que não é porque a Leah já me provou que se fosse tão rica quanto eu, seria uma víbora.
Preciso esquecer essa vadia e o Seungmin, pelo menos enquanto estou aqui. Me lembro de um "namorado" que tinha aqui, cuja mera lembrança me causa arrepios. Ele era atraente, com seus cabelos longos, vestes de couro, pilotando sua Harley imponente, e dono de uma voz encantadora que casa muito bem com sua guitarra.
Quando estava ao seu lado, as pressões familiares se dissipavam, e eu me transformava apenas na patricinha que ele tanto adorava. Contudo, ao retornar para a Coreia, os velhos sentimentos por Seungmin ressurgiram e eu me odeio por isso. Por que meu coração insistia em alguém que só tinha olhos para outra?
Deixar-se levar por essas emoções foi um erro. Influenciada por minha mãe, flertei com Seungmin, e confesso que foi divertido no início desconcerta-lo, ele diz que não, mas não tira os olhos de mim. Mas é humilhante que logo eu, uma mulher adulta e tão gostosa tenha que ficar mendigando a atenção dele e ainda ficar aguentando as suas ofensas.
Eu nunca precisei me rebaixar por ninguém, e com ele não seria diferente. Essa situação me faz questionar se encerrei meu relacionamento com Dave, meu rockeiro favorito, ou se ele agora me vê como alguém volúvel, especialmente agora que o rumor sobre meu casamento com Seungmin, o vocalista principal do SKZ, circula por aí.
Após uma noite de diversão e bebidas, retorno ao meu apartamento, indo direto para quarto, onde me deparo com uma caixa no armário. Movida por uma curiosidade magnética, a abro, encontrando um monte de fotografias antigas.
Entre elas, acho uma do anuário escolar, do tempo em que estudava com Seungmin. Naquele ano, ainda éramos próximos e até fomos coroados rei e rainha do baile, para desgosto das líderes de torcida que não me aceitavam como a abelha rainha do colégio. Eu estava entre os mais populares, embora muitos me odiassem. Nunca me importei; gostava da inveja que provocava com minhas roupas de marca e minha beleza.
Falem bem, ou falem mal, mas falem de mim.
Contemplar o Seungmin do passado me faz refletir sobre o quão iludida estive em acreditar que me casaria com ele e seria feliz. Parece que, para Nam Angela, a felicidade é apenas uma ilusão perdida no tempo.
Não mudou muita coisa desde os tempos de escola; sempre fui a antagonista, mantive esse papel durante a faculdade e ainda o encarno. Penso que, talvez, após o divórcio, eu deveria transferir minha participação na empresa para Seungmin e retornar a Londres, onde me sinto em paz. A ideia provavelmente enlouqueceria meus pais, que já estão à beira da insanidade por eu ter voltado para Londres sem qualquer aviso e ficariam ainda mais perturbados se eu passasse minhas ações para os Kim, mas não é como se eu me importasse muito também. Desde o dia que meu pai transferiu suas ações para mim, ele já deveria contar com a possibilidade de eu desfazer delas.
— Toc toc, Angel, você não vai dormir? — Alexia indaga, parada na porta.
— Vou, sim é que é uma pena, sabe? Me casarei na igreja com alguém com quem não permanecerei para sempre.
— Você vai usar o vestido dos seus sonhos? — Ela se aproximava fica observando a foto do Seungmin na minha mão — Ele até que é bonitinho, mas você é muita areia pro caminhãozinho dele.
Rio alto e observo a foto. O desgraçado é lindo demais.
— Por que eu faria isso? Digo, me importar com o vestido, com a cerimônia e afins, não é um casamento feliz.
— Mas ainda é o seu sonho se casar com esse daí, e talvez isso te faça sentir melhor — Alexia argumenta, sentando-se ao meu lado e acariciando meus cabelos com suavidade.
Talvez ela esteja certa; essa poderia ser minha chance de vestir o traje que sempre desejei. Ele está seguro dentro de um cofre privado em um banco. Preciso experimentá-lo urgente para verificar se necessita de ajustes.
— Quem sabe ele não acabe se apaixonando por você?
A fala da Alexia me arranca mais risadas e eu nego com a cabeça:
— Não seja ridícula, Alexia. Ele me detesta... Sinto falta do Dave, ah, aquele homem me fazia sentir nas nuvens! Maldito seja o momento em que o pai de Seungmin faleceu! — Exclamo, jogando a cabeça para trás. Sentir a barba por fazer de Dave roçando em meu pescoço era uma das sensações mais prazerosas dos nossos encontros.
— Talvez você deva vê-lo antes de voltar para a Coreia. Parece que alguém não vê sexo a muito tempo.
Olho com deboche para minha amiga, mas pensando bem...
— Sabe? Você acaba de dizer algo muito sensato.
Sorrimos e recebo um leve cutucão dela em resposta. Talvez eu realmente devesse encontrar Dave para esclarecer umas coisas e terminar devidamente com ele.
Dave reside em um pequenino kitnet situado a uma certa distância do centro da cidade. Sempre o mantive em sigilo para meus pais, eles enlouqueceriam ao descobrir que a filhinha tinha um relacionamento com um homem pobre, vocalista de uma banda de garagem, que adotava o estilo de um roqueiro dos anos 80. Talvez fosse essa aura de rebeldia que me atraía tanto.
Ao tocar a campainha e vê-lo abrir a porta, meu coração acelera descompassadamente. Ali está ele, desprovido de camisa, vestindo uma calça jeans de cós baixo, revelando a ausência de cueca, com seus cabelos longos e desalinhados.
— Quem é vivo sempre aparece — ele pronuncia, apoiando-se na porta. Seus olhos verdes fixam-se nos meus, e eu me vejo incapaz de resistir à atração que sinto.
— Não seja cruel. Detestei ter que partir de Londres — respondo, fazendo um biquinho com os lábios.
— Soube pela TV que você vai se casar com um cantor coreano. Pensei que odiava K-pop.
— Ah, pode ter certeza de que detesto. Prefiro os que têm cabelos longos e tocam guitarra — digo, piscando para ele.
Dave esboça um sorriso de canto e me atrai para si, unindo nossos corpos. Seus lábios encontram os meus, e logo sinto o gosto de nicotina em sua boca. Entrelaço meus dedos em seus cabelos enquanto ele me conduz para dentro do kitnet.
— Senti sua falta, Lady Angel — ele sussurra entre o beijo, enquanto suas mãos envolvem meu quadril.
Esse apelido que ele me deu, me faz sorrir de orelha a orelha. Embora eu não o ame, me faz sentir única.
— Hoje, eu preciso muito de você — Eu digo entre o beijo.
— Posso te ajudar com isso — Ele responde e a rouquidão de sua voz me faz suspirar.
Rapidamente, ele desfaz de minhas roupas, posiciona-me sentada na bancada, e ali permitimos que nossos corpos se fundissem. Parece que meu mau humor desapareceu em meio ao prazer, pois, enquanto me deleitava naquele momento, não sentia raiva ou angústia, apenas desejava que o prazer me envolvesse por completo. Por mais que eu possa ter um crush no Seungmin, os ocidentais sempre serão meu tipo preferido.
Mais tarde, depois do sexo maravilhoso que tivemos, Dave me convida para assistir a um show de sua banda e eu chamo Alexia. Ao retornar para casa a fim de me arrumar, encontro uma sacola sobre minha cama. Curiosa, a abro e descubro uma lingerie, uma camisola transparente acompanhada de um robe, ambos em branco, evocando uma pureza que não me pertence.
— Gostou? Ao vê-la na vitrine imaginei que ficaria angelical — Alexia diz, surgindo na porta.
— Para que isso?
— Para sua noite de núpcias, claro. Você é completamente apaixonada pelo idol, tenho certeza de que algo acontecerá.
— Seungmin jamais me tocaria. Seria mais provável usar isso com Dave — respondo, guardando a lingerie e aproximando-me da penteadeira para me maquiar.
— Você e o Dave são intensos. Cada beijo que vi entre vocês era voraz; nem consigo imaginar na cama. Ele não é do tipo que saberia valorizar uma lingerie — ela comenta, jogando-se em minha cama.
— Alexia, esqueça essa ideia de que algo acontecerá entre mim e Seungmin. Nem perca seu tempo com esse casamento. Não enviarei convite algum — digo, aplicando a base em minha pele e dando leves batidinhas com a esponja em meu rosto.
— Nossa, Angel, sério isso?
— Primeiramente, meus pais já escolheram os padrinhos. Segundamente, estarei infeliz. Não quero compartilhar esse momento contigo. Se um dia eu me casar por amor, você será a primeira a saber. Poupe-se dessa farsa...
— Tudo bem, mas leve a lingerie, pelo menos. A ausência de amor não impede que aconteça o sexo — ela pisca para mim, e eu contenho o riso.
— Você é uma safada, sabia?
— Olha quem fala! Não fui eu que corri para a casa do ex-namorado para dar pra ele.
Rimos juntas enquanto finalizo minha maquiagem. Eu amo Londres por isso. Aqui eu não preciso me transformar em alguém que não sou; posso ser eu mesma. E eu não preciso de mais ninguém, nem de você Kim Seungmin.
*Curiosidades sobre mim*
Todo mundo passa por aquela fase em que percebemos o que é a atração. Muita gente acha que meu primeiro crush foi um coreano, já que escuto kpop a uma cota, mas o meu primeiro crush tem um nome e se chama Jon Bon Jovi. Eu tinha uns 11 anos na época quando me pegava obcecada pela beleza desse homem e dizia no meu diário (sim eu tinha um diário) que ele era meu namorado.
O que eu não sabia é que os dvd's que minha mãe tinha eram de flashback, ou seja, aquele homem lindo e maravilhoso que eu via cantar Always, Blazy of Glory e It's My Life na verdade já era bem velho, e quando a ficha caiu eu fiquei real impactada ao descobrir que ele tinha idade para ser meu pai. Foi uma grande desilusão mas juro que o sentimento nunca morreu, sigo fã dele até hoje e várias de suas musicas não saem do meu repeat do spotify.
Inclusive, uma das minhas primeiras fics que foram apagadas junto com meu primeiro perfil do wattpad era sobre ele mas... jamais será revelado a história, irá comigo para o tumulo hahaha
O crush da Angela foi inspirado no Bon Jovi dos anos 80 que sempre será meu crush.
É isso galerinha, não esqueça a estrelinha
BIG HUG
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