15 - The View
Eu não sabia, o caminho em minha frente era tão escuro
Pois eu nunca tinha deixado ir
Agora eu me sinto bem, eu gosto desse sentimento
E eu nunca irei deixá-lo ir (vamos lá)
Eu gosto da vista agora
— The View, STRAY KIDS
Eu ainda estou em completo choque. No chão, só consigo ver uma poça de sangue ao lado do corpo de Seungmin, que está de bruços. Quero me abaixar e verificar se ele está vivo, mas não consigo; só percebo um líquido quente tocar minha bochecha. Levo a mão ao rosto e noto que são lágrimas que caem. Faz tanto tempo que não deixo uma lágrima escorrer, e agora, por causa desse idiota, sinto-me incapaz de manter a calma. Nem sequer sabia que ainda era capaz de chorar, mas juntando tudo que me aconteceu nas últimas horas, chorar é o mínimo. Meus pensamentos são interrompidos por Leah, que se joga no chão e começa a balançar o corpo de Seungmin freneticamente:
— Minnie! Minnie, acorda! Minnie, por que você entrou na frente? Eu nunca quis machucar você... Minnie — A desgraçada começa a chorar.
Ouço tiros e gritos, e um dos homens anuncia que a polícia está cercando a fábrica. Leah continua debruçada sobre o corpo de Min, chorando. Será que, de alguma forma, essa doente realmente tem sentimentos por ele? Me sinto irada ao vê-la chorar por ele, depois de todo mal que fez. Min gosta dela, mas eu não... Então, num surto de adrenalina, me jogo sobre ela, usando todo o resquício de força que ainda tenho. Sou uma mulher de palavra e estou dizendo desde que cheguei aqui que acabaria com essa maldita.
— Desgraçada. — Ela diz tentando se livrar de mim.
A infeliz começa a me arranhar, e eu dou vários tapas em seu rosto. Estou possessa de ódio; como ela pôde atirar em Min? Leah puxa meu cabelo, e dessa vez, encho a mão em um soco, acertando a lateral de seu olho. Aquilo deve ter doído, pois ela afrouxa a mão. A garota olha para cima, vê que a arma está próxima e tenta alcançá-la, mas me adianto e a pego primeiro, já apontando para seu rosto:
— Me dá um motivo para eu não estourar a sua cabeça. — Digo, já destravando a arma, e, para minha surpresa, ela ri.
— Você só estará sendo o monstro que é. Vamos, me mate. Não é o que você sempre quis? Aperta logo esse gatilho! ANDA!
Posso alegar que foi legítima defesa, afinal, ela tentou me matar primeiro. Acabar com essa maldita parece um sonho. Nunca nos demos bem, mesmo quando dividimos o quarto. Claro que o fator Min intensificava esse ódio mútuo, já que ambas gostávamos da mesma pessoa, mas eu odiava como ela conseguia ser falsa. Como ela me atacava e depois se fazia de coitada, e todo mundo só julgava a mim: "Angela é a cobra, Angela é a riquinha mimada que humilhou a coitada da Leah, tadinha da Leah, essa Angela não presta". Ninguém desconfia da garotinha pobre se fazendo de coitadinha... Ninguém sabe como era insuportável ter que dividir o quarto com essa garota, e me doía ver que a pessoa de quem eu gostava dava razão a ela. Então sim, matá-la seria muito bom, para ser sincera, mas...
— Eu não sou um monstro como você.
Dizendo isso, travo a arma novamente e, quando ela vai reagir, aplico toda a minha força para dar uma coronhada em sua cabeça, fazendo-a finalmente perder a consciência. Volto para perto de Min e vejo que ele ainda tem pulso, mas se não for logo para o hospital, pode morrer devido ao ferimento e ao sangramento. Ainda há muitos barulhos de tiros e gritos. Das duas uma: ou a polícia vai nos tirar daqui a qualquer momento, ou vamos morrer aqui mesmo. Pelo menos posso ficar feliz que o príncipe veio salvar a princesa, mesmo que, aos seus olhos, eu seja uma bruxa.
Acordo sem saber exatamente onde estou. Por um breve momento, só consigo enxergar o teto branco e as luzes. Meu corpo parece pesado demais para me mover, e, ao tentar, sinto dor. Então, as memórias do que aconteceu voltam: lembro de encarar o rosto de Angela antes de tudo ficar confuso. Tento me sentar, mas não consigo, e então vejo que minha omma está ali:
— Filho? Ah, graças a Deus. Meu bebê. — Ela vem até mim e me abraça com cuidado.
— Omma... O que aconteceu? — Apesar de imaginar o que houve, preciso de uma confirmação externa.
— Você tomou um tiro e ficou uns dias em coma, mas, graças a Deus, está bem. O médico disse que você acordaria a qualquer momento. Estou tão aliviada. Achei que ia te perder também... — Ela começa a chorar, e eu a aperto contra mim, tentando confortá-la, mas meu peito dói.
— Estou bem, omma... Desculpe por preocupar você... Não chora, por favor.
— Preciso avisar a todos que você acordou. Seus amigos me pediram para avisar assim que você abrisse os olhos. — Ela sorri e pega o celular.
A porta do quarto se abre e, para minha surpresa, é Angela. Ela está com os cabelos curtos, vestindo roupas adequadas para o frio e não poderia faltar seu escarpin barulhento. Seu sorriso ao me ver acordado é o mais bonito e sincero que já vi ela dar e ela se aproxima:
— Ah, Min, que alívio por te ver acordado. — Ela diz, pegando minha mão.
— Que bom que você está bem. — Digo, apertando sua mão.
— Obrigada... Por me proteger... — Seu olhar de gratidão repousa nos meus. Ela tira a franja de minha testa e sorri — Mas juro que, se numa próxima vez você se colocar na minha frente de novo, eu mesma vou terminar o serviço — Ela continua rispidamente, e seu sorriso se fecha, voltando a ser a Angela que eu conheço.
— Meu Deus, Angela, isso não é coisa que se diga! — Minha omma diz, e eu rio alto.
Mais tarde, me contaram que a bala passou muito perto de me matar e que eu deveria me sentir grato por estar vivo, mas me sinto mal. É surreal pensar que a mulher que amei, com quem compartilhei momentos íntimos e que esteve grávida de um filho meu, foi capaz de tal coisa. Meu coração dói mais do que a bala que perfurou meu corpo. Quero odiá-la de verdade, mas, no momento, só consigo lamentar que as coisas tenham tomado esse rumo.
Haein apareceu e me atualizou sobre a situação da empresa. Após a prisão de Hui, o governo iniciou uma investigação mais detalhada, o que repercutiu na mídia. Todos souberam do tiro que levei, da morte do meu pai e, até agora, Hui e mais dois diretores foram presos. Um dos diretores aliados está cuidando da empresa temporariamente e já declarou que pretende colaborar com as investigações, ressaltando que a Kimsam manterá a parceria com o governo.
Angela me contou que seu nome está na lista das investigações, mas o detetive garantiu que, se for verdade o que ela disse sobre não ter total ciência das atividades de Hui ao intermediar a venda da caixa egípcia, ela pode até ser indiciada, mas provavelmente pagará fiança ou responderá em liberdade.
Fico contente por ela. Aprendi da pior maneira que preconceitos sobre alguém podem custar caro. Quero acreditar que ela não é corrupta como os outros, pois se mostrou apenas uma pessoa indiferente, um tanto egoísta e egocêntrica, mas não uma pessoa ruim.
Meus amigos chegaram e senti a falta de Hyunjin ali. Ele já havia partido para o serviço militar e Han está para voltar. Após todos esses eventos, não me assusto mais com isso. Na verdade, acredito que será perfeito para colocar meus sentimentos em ordem. Cumpri minha parte e já decidi quem cuidará da empresa no meu lugar.
Bang Chan decidiu gravar um vlog do SKZ para mostrar ao STAY que estou bem. Angela não quis ser simpática e saiu da sala. Haein fingiu que ia vomitar, e os meninos riram. Parece que Angela realmente não se importa em ser amada ou querida por ninguém.
O carro chega ao local pontualmente às 8 da manhã. Desço, ajeito meu blazer e Haein vem logo atrás de mim. O lugar não é bonito, mas sua finalidade não é ser belo. Os policiais permitem minha entrada e eu entrego um objeto para ser vistoriado enquanto passo pelo detector de metais. Assim que terminam de vistoriar Haein, ela me olha ainda descrente:
— Tem certeza disso?
— Tenho.
— Você é meio idiota às vezes...
— Você se ofereceu para vir comigo, então não reclame.
— É porque eu também sou idiota. — Ela resmunga em voz baixa, e eu faço uma careta para ela.
Entro na sala de visitas, que possui várias cabines com duas cadeiras de cada lado, uma mesa com um vidro separando o contato direto e um telefone acoplado para ouvir a conversa. Sento-me em uma delas e aguardo ansioso até ver a porta do outro lado se abrir. Um policial segura o braço de Leah, que está vestindo um conjunto laranja. Seus longos cabelos, que eu tanto admirava estão presos em uma trança de lado, e suas olheiras são visíveis. Ela me olha surpresa e parece relutante em se sentar e conversar comigo, mas, por fim, o faz. Pegamos os telefones, e eu sou o primeiro a falar:
— Oi.
— Oi...
— Estão te tratando bem aqui? Imagino que não deve ser fácil viver em um presídio.
— O que você quer? — Ela pergunta impaciente, e eu dou um pequeno sorriso.
— Conversar... Sabe, eu tentei e continuo tentando te odiar, mas não consigo. Tudo que sinto é tristeza... As coisas não precisavam ser assim...
— E daí? Veio aqui mostrar que é uma pessoa misericordiosa e dizer que me perdoa? — Sua voz sai fria e ríspida. Eu não estou acostumado com esse tom vindo dela, mas essa é a verdadeira Leah, e eu preciso aceitar isso.
— Não exatamente. Eu realmente queria ver como você estava.
Ela me avalia. Somente Haein sabe que decidi visitar Leah. Qualquer um poderia me chamar de idiota, mas estou mesmo preocupado em saber como ela está. Condenada a quase trinta anos de prisão, quando soube disso, chorou como uma criança afastada da mãe. Quero odiá-la e tenho muitos motivos para isso, mas só consigo me sentir mal por tudo o que aconteceu. Ela acaba relaxando a postura e diz:
— Não é fácil saber que passarei uma boa parte da vida aqui... e não... não são legais comigo.
— Lamento muito — É tudo o que consigo dizer.
— Como você pode lamentar? Deveria estar feliz que estou presa.
— Leah, sei que matou meu appa, que atirou para matar Angela e que traiu minha confiança... mas, em nome de todo carinho que ainda tenho por você, realmente vim aqui porque imaginei que estaria sozinha.
Ela me encara e, para minha surpresa, começa a chorar. Seu rosto fica vermelho e ela desvia o olhar, fixando-se em suas mãos.
— Eu nunca quis machucar você...
— Mas machucou quando ateou fogo na minha casa... quando sequestrou e torturou Angela... quando decidiu que mataria meu appa — Ela não reage diante minha fala, só continua olhando para suas mãos, deixando que as lágrimas caiam.
— Eu só... queria vingar meu appa. Minha mãe sofreu com o luto até o último dia de sua vida e eu só queria que ela soubesse que terminei o que ela tentou fazer.
— É uma faca de dois gumes. Por um lado, seu appa, e eu realmente me solidarizo, pois imagino como foi difícil... e, por outro, o meu...
É triste saber que desavenças entre nossos pais nos levaram a esta situação. Meu appa não deveria ter respondido à dívida de forma violenta, assim como Leah não deveria ter devolvido na mesma moeda.
— Posso perguntar uma coisa? — Ela faz que sim com a cabeça e eu continuo. — Você realmente esteve grávida de um filho meu?
Ela respira fundo, mas não me encara; seus olhos permanecem fixos em suas mãos.
— Sim... Nunca menti sobre isso...
Me arrepio com a possibilidade de ter tido um filho com uma mulher capaz de matar, mas não estou ali para julgá-la.
— Obrigado, eu precisava saber. De toda forma, vim lhe dar um pequeno presente; considere como um Natal antecipado, já que estamos em dezembro.
Entrego uma caixinha ao policial, que abre a porta com a chave e passa para o outro lado. Ele entrega a caixa a Leah, que a pega relutante. Ao abrir, seu semblante fica surpreso. Ela tira o relógio que me deu no meu aniversário de vinte e sete anos e me encara, sem entender:
— Por que você me deu isso?
— Eu mandei consertar. Lembra que estava quebrado? Os policiais me disseram que você pode ficar com ele, já que é inofensivo.
— Tá, mas... por quê?
Eu observo o relógio em sua mão e sorrio ao recordar as lembranças felizes que tive ao seu lado. Desejo que, de alguma forma, ela seja feliz.
— Eu realmente te amei no passado, talvez ainda te ame agora, mas no futuro... não quero mais. Desejo que você seja feliz, que repense sua vida e, por isso, estou lhe dando o relógio de milhões. Assim, você saberá que, mesmo que seja difícil reerguer sua vida, você pode. Tomei a liberdade de acertar o pagamento pelo tempo trabalhado para os Kims. Obviamente, você só terá acesso a esse dinheiro quando sair da prisão, mas terá como recomeçar. Desejo que fique bem e boa sorte a você, de verdade. Estou te entregando o relógio e, com ele, todo o amor que um dia senti. Quando sair daqui, recomece sua vida, retome os estudos, supere o passado e terei que te pedir... fique bem longe de mim, para o seu bem e o meu. Preciso ir agora.
Ela não reage e realmente não é qualquer um que faria o que eu estou fazendo por ela. Mas, em nome da amizade que um dia tivemos e do amor que ainda existe em mim, eu quero fazer isso. Suas lágrimas voltam a escorrer e ela diz:
— Agradeço... me perdoe pelo que fiz... eu não mereço nada disso, mas mesmo assim você fez... e eu realmente lamento muito por tudo...
Sorrio para ela pela última vez e saio da sala. Haein me aguarda e o próximo destino é o cemitério. Quero visitar o túmulo do meu pai, e assim o faço. Sento-me na grama e observo as palavras lapidadas no mármore. Meu pai errou, mas eu o perdoo e espero que ele também tenha me perdoado por toda a ignorância que tive. Pego meu celular e coloco as músicas do meu álbum para tocar, relembrando a alegria que senti por trabalhar nisso. Após todos esses meses, já não me sinto mais um super idol mas sim um super idiota. Já iniciei o processo de alistamento e, até fevereiro, já devo ter ido para o exército.
Brinco com a aliança dourada em meu dedo, pensando que isso acabou sendo conveniente; posso considerar o divórcio quando voltar do exército, e enquanto isso, a soberania da empresa ainda pertence aos Kim-Nam.
Angela voltou a ser a Angela, e a diferença é que eu não a odeio mais. Ainda acho muito sem noção o que ela fez em relação ao vídeo que conseguiu gravar, mas todo aquele ódio que sentia se dissipou. Acredito que poderíamos tentar ser amigos no final de tudo.
Percebo que já faz um bom tempo que estou sentado na grama, então me levanto, limpo a calça e digo olhando para a lápide:
— Sabe, appa, você era meu herói e, mesmo que eu dissesse a mim mesmo que não me importava... eu queria ter sido seu orgulho também. Quero acreditar que, onde quer que o senhor esteja, de alguma forma se orgulhe do homem que me tornei. Infelizmente, o senhor nunca verá seus netos, assim como eu não verei o senhor envelhecer, mas eu prometo que cuidarei da minha omma por você, está bem? A empresa estará em boas mãos e você pode ter certeza de que vou me manter ativo, mesmo que de forma indireta, nos negócios da empresa... Appa, eu preciso ir... mas estarei bem, não se preocupe...
Sorrio sozinho e volto para o carro. Haein não larga o celular, resolvendo as coisas da empresa. Sou grato por ela ter estado ao meu lado todo esse tempo. Vou me certificar de que o Bang Chan a promova e aumente consideravelmente seu salário.
Sei que muita gente vai se questionar "a mas porque o Seungmin fez isso?"
Amor não acaba do nada. Leah foi sua grande paixão da adolescência, então mesmo que ele repudie tudo que ela fez, os sentimentos vão indo embora aos pouquinhos.
Sobre o Tiro eu quero deixar claro que em minha defesa, um dos betas disse que o Seungmin não podia terminar a fanfic sem tomar um tiro kkkkkkk
Não esqueçam a estrelinha
BIG HUG
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