11 - Glimpse Of Us
Porque às vezes eu olho nos olhos dela
E é aí que eu encontro um vislumbre de nós
E eu tento me apaixonar pelo toque dela
Mas estou pensando em como foi
Disse que estou bem e que segui em frente
Só estou aqui passando o tempo nos braços dela
Esperando encontrar um vislumbre de nós
— Glimpse of Us, Joji
Vários diretores se aproximam de nós para oferecer suas congratulações pelo casamento. Hui, no entanto, encontra-se sem palavras diante da situação, consciente de que pouco poderia fazer caso Angela e eu nos casássemos. No momento eu detenho da maior parte das ações da empresa, seguida pela família da Angela. Mesmo que Hui tenha conseguido me ultrapassar, com a minha união a família Nam será impossível que ele assuma o controle. Esse foi nosso cheque-mate.
A surpresa o atinge de tal maneira que sua única reação foi se afastar caminhando em passos largos. À medida que a confusão se dissipa, meus olhos se fixam no detetive presente, observando atentamente o desenrolar dos eventos. Ele se aproxima e indaga:
— Podemos conversar, para que você me esclareça melhor o que está acontecendo aqui?
Angela, sem hesitar, responde ao homem, cuja expressão indica uma certa desconfiança:
— Não há nada a ser explicado. Trata-se apenas de uma discussão dentro da empresa, envolvendo um tolo que não aceita o seu papel aqui.
— Tenho a impressão de que há muitas questões a serem esclarecidas e espero que você, Kim Seungmin, possa me contar. Aqui está o meu cartão, mantenha contato.
Aceito o cartão com um sorriso discreto, solto Angela e me dirigi à minha sala, refletindo sobre o caos que estava instaurando. A ideia de perder Leah me deixa sem ar, logo agora que tive a coragem necessária para lutar pelo nosso amor, sou obrigado a agir dessa forma... ela nunca vai me perdoar. Angela entra logo em seguida, e, quando começou a falar, a interrompo de imediato:
— Por favor, só cale a boca!
Ela replicou, com um leve sorriso nos lábios:
— No final eu te disse, era a melhor solução. Se tivesse me ouvido não estaria tão chateado.
— É tão difícil pra você se calar? — Vocifero, ainda transtornado com o rumo da situação
— Na verdade é sim! Não é dessa forma que você deveria estar falando com à sua futura esposa.
— Podemos até estar casados no papel, mas você nunca, nunca, JAMAIS, será minha esposa.
Minhas palavras a atingiram profundamente, seu semblante se torna sério e ela não tenta mais dizer nada, limitando-se a me encarar. Cubro o rosto com as mãos, ainda incrédulo por ter permitido que a situação chegasse a tal ponto.
— Seungmin, você tem certeza disso? — Haein questiona ao entrar na sala.
Lanço um olhar de descrença e revolta para Angela enquanto ela permanecia parada, me encarando, com uma expressão séria no rosto. É difícil acreditar que ela havia conseguido o que queria, afinal. Ela sempre consegue o que deseja... Porém, seus olhos não exibiam o brilho habitual de suas vitórias. Em vez disso, um olhar amargo se fixa em mim.
— Deve existir outra maneira, sem que precisem recorrer a um casamento forçado. — Haein sugeriu.
Angela, ignorando Haein, fala mais alto, com intensidade, expressando uma indignação que eu nunca tinha visto antes:
— Quando você vai perceber que eu não sou vazia como um saco de papel? Que eu também possuo sentimentos? Acha que pode falar assim comigo? — Sua boca treme, mas seu olhar se mantém firme.
Me aproximo dela, ficando bem próximo de seu corpo, se ela quer me encarar, eu também posso fazer isso. Então deixo as palavras escaparem:
— Não, você é vazia. Só pensa em si mesma. Está disposta a enfrentar um casamento infeliz apenas para não perder para Leah.
Ela parece pronta para responder, mas sua reação seguinte me surpreende, o que me desarma: seus olhos se encheram de lágrimas. Nunca a vi demonstrar tristeza antes, mas, mesmo assim, nenhuma lágrima chegou a cair; secaram tão rápido quanto surgiram:
— Não sou obrigada a aguentar isso. — Disse ela, virando-se e saindo da sala.
Ela que se dane; eu não menti. Tenho plena consciência do que aquela mulher é capaz, e só de pensar em casar com ela, sinto uma dor de cabeça avassaladora. Por ora, preciso deixar essa história de lado e focar em outras coisas, enquanto elaboro um jeito de contar a Leah.
Após o almoço, comprei um novo celular e recuperei meu número. Passo o dia todo às voltas com meus pensamentos, ainda sem saber como encarar Leah e contar-lhe tudo. Talvez ela compreendesse meu lado; afinal, eu não estou me casando com Angela por vontade própria. Mas, como eu poderia pedir para ela esperar por mim?
Meu plano é se casar com Angela, passar algum tempo juntos para evitar suspeitas e, em seguida, solicitar o divórcio. Será que deveria comprar um anel de noivado ou algo semelhante? Ah, que se dane; eu estou assumindo esse compromisso totalmente por obrigação. Se eu comprar a aliança dessa patifaria um dia antes do que, provavelmente, seria o pior dia da minha vida, já estará de bom tamanho.
Quando estou prestes a deixar a empresa, meu celular toca, e vi que era Bang Chan.
— Oi, Chan, quando você vai parar de enrolar a gente e lançar seu álbum?
— Minnie, que história é essa de casamento?
— O quê? — pergunto, incrédulo. Como ele já sabe?
Haein entra na sala, visivelmente agitada, e começa a falar:
— Seungmin, saiu em todos os portais de notícias que você e Angela vão se casar.
— Aquela desgraçada... — murmuro. Claro que ela não perderia tempo divulgando isso.
Então, solto um grito de frustração, agarro aquele maldito pêndulo e o lanço contra a parede com toda a minha força, o que fez Haein se assustar. Deus, será que todo esse tumulto é porque eu me recusei a ser católico quando meus pais tentaram me catequizar na igreja?
— Seungmin, o que está acontecendo? — ouço a voz de Chan do outro lado da linha.
— Preciso ir, Chan — digo, antes de desligar o celular.
Estou prestes a sair da sala quando Haein se coloca à minha frente, impedindo minha passagem:
— Sai da minha frente! Preciso ir embora.
— Você não vai dirigir nesse estado, lembra do que aconteceu com Changbin em 2022? Então, senta e respira.
Acabei acatando seu conselho, ninguém merece mais um acidente trágico. Quando me sinto mais calmo, dirigi-me ao meu carro e saí o mais rápido possível. Assim que chego em casa, entro e vou diretamente ao quarto de Leah, mas ela não está lá. Corro ao quintal, mas minha mãe me intercepta no caminho:
— Filho, como assim vai se casar com Angela? Você não me disse que estava com Leah?
— É uma longa história — respondo, seguindo para o quintal, sem encontrar Leah.
Subo para o segundo andar e noto que a porta do meu quarto está aberta. Entro imediatamente e vejo Leah parada em frente à janela. Aproximo, começando a falar já em desespero:
— Leah... Eu...
Antes que pudesse continuar, ela se vira e me deu um tapa no rosto. Seus olhos estão cheios de lágrimas, e aquilo parte meu coração:
— Como você pôde fazer isso comigo? Como pode me dar esperanças de novo e correr para os braços daquela maldita?
— Leah, estou me obrigando a casar com ela para me tornar o majoritário da empresa... Se eu não fizer isso, Hui Jun vai tomar tudo.
— E os meus sentimentos, como ficam? — Sua voz, carregada de mágoa, quase me leva às lágrimas, mas sei que chorar em sua frente não resolverá meu problema.
— Eu sei que você está magoada, mas tente entender que eu não tenho escolha... Eu te amo, de verdade...
— Ah é? Você me ama? Então escolha: eu ou essa maldita empresa. — Fico sem palavras, e solto um sorriso nervoso. Ela, por outro lado, está vermelha de ódio, enquanto as lágrimas imundam seu rosto. — Você disse que estava disposto a enfrentar tudo por mim. Então, esqueça essa empresa e fique comigo... Por favor... Me escolha, Seungmin, pelo menos uma vez na sua vida, me coloque como sua prioridade...
Me sinto tonto, invadido por um desejo avassalador de abandonar a empresa, a minha carreira, tudo. O que mais anseio é estar com a mulher que amo, convencido de que isso me traria felicidade. Contudo, a lembrança de que ao fazer isso, Hui acabaria por tomar posse da empresa que meu pai construiu com tanto esforço, me detém. Hui acredita que, por ter passado alguns anos na empresa, tem o direito de ser seu dono. E é meu dever como herdeiro legítimo a não deixar isso acontecer. Além de que, se ele for mesmo um assassino eu preciso dar um jeito de colocá-lo atrás das grades:
— Eu realmente queria que as coisas fossem diferentes... — Confesso, com o olhar fixo no chão, incapaz de enfrentar os olhos da pessoa diante de mim.
— Dói saber que, no fim, ela conseguiu o que queria... Seja feliz com ela.
Leah se afasta e sai do quarto. E eu, paralisado, não faço nenhuma tentativa de retê-la. Meu celular começa a tocar, mas a urgência das minhas lágrimas me impedem de atender. O dinheiro é a pior das maldições, se eu fosse apenas pobre, sem tanto patrimônio por causa de meu sobrenome, eu não precisaria passar por nada disso.
Após algum tempo, consigo me acalmar e desço para encontrar minha mãe na sala, compartilhando com ela toda a situação. Ela me apoia, argumentando que casar com Angela sempre foi um plano desde o nosso nascimento. Enquanto escuto minha mãe, indignado, Leah reaparece, pronta para partir com sua mochila às costas. Levanto-me instintivamente, mas ela fala antes que eu possa dizer qualquer coisa:
— Senhora Kim, Seungmin... Sou muito grata pelo tempo que passei nesta casa. Serei eternamente agradecida a vocês.
Ela se inclina em agradecimento, e minha mãe se levanta, respondendo:
— Leah... Se isso te consola, Seungmin sempre foi prometido a Angela. Sei que vocês se gostam, mas existem responsabilidades que transcendem os sentimentos. Você é jovem e bonita; tenho certeza de que encontrará a felicidade.
Leah sorri fraco, sem conseguir dizer nada, nossos olhares se cruzam pela última vez, fazendo-me perder toda coragem. Decido acompanhar Leah até a porta, sentindo a necessidade de me despedir, mesmo sabendo que ela talvez nunca me perdoe. Ao abrir a porta, encontramos Angela prestes a tocar a campainha. Seu olhar desliza da mala para Leah, não escondendo um leve sorriso de satisfação.
Leah, surpresa, avança sem dar atenção a Angela, que, para minha surpresa, não profere nenhuma provocação.
Incapaz de seguir Leah, meus olhos se enchem de lágrimas ao vê-la sair pelo portão.
— Vamos conversar. — Angela sugere, entrando e dirigindo-se ao escritório.
Eu a sigo, já me preparando para enfrentar a megera, mas ela inicia:
— Antes que você comece a me ofender, foi minha mãe quem divulgou a notícia. Ela tem contatos na mídia e pediu a divulgação. Viu como você me julga mal? — Ela argumenta, com aspereza ao notar minha cara de ódio.
Faz sentido. A mãe dela é tão obcecada por esse relacionamento quanto a minha. A mulher deve estar soltando até fogos de artifício em sua mansão:
— Você já deu motivos para duvidar de suas intenções. — Digo, sem nenhuma intenção de pedir desculpas.
— Deixe para lá. Vim para dizer que precisamos permanecer casados por um tempinho sabe, pra não chamarmos atenção. Seis meses é mais do que o suficiente. Quando solicitarmos o divórcio, poderemos dividir as ações novamente. Planejo passar a maior parte para seu nome, dessa forma você se livra de mim e eu me livro de você. Todos ficamos felizes e eu posso voltar para casa.
Eu a olho com espanto. Isso não é atitude que eu esperaria vindo dela. Imagino que ela sinta falta de Londres, já falou de forma superficial que não gosta da Coreia. Angela é inglesa, sua cultura e criação é diferente daqui. Mas daí, me entregar a maior parte das ações dos Nams fácil assim?
— Nossa... Imaginei que você desejava passar o resto da sua vida com alguém que não te ama pelo poder que teria nas mãos... — Não escondo a surpresa.
Ela avança dois passos em minha direção, sorri de lado e me olha de forma desafiadora:
— Você acha mesmo que eu quero isso para mim? Ser maltratada? Se liga Seungmin, eu sou muito melhor que isso.
— Sinceramente? Achei sim. Você passou os últimos meses tentando me seduzir de todas as formas. Eu não tenho porque acreditar em você. — Cruzo os braços e devolvo o olhar desafiador.
— Tsc... — Ela desvia olhar, Angela sabe bem que tentou me fazer cair no seu jogo. Eu não sou mais um adolescente controlado por hormônios, sou um homem e não iria cair no seu charme. Não satisfeita, ela continua — Obrigada por me lembrar que não preciso de ninguém. Sempre estive só e assim me saio melhor. Após estes seis meses, nos separamos e você estará livre de mim. É uma pena que você vai voltar correndo para Leah. Alguém como ela não te merece.
— Como assim, alguém "como ela"? Uma pessoa que não vem do mesmo berço de ouro que nós? Já falei para não colocar o nome dela em sua boca.
Ela sorri, indecifrável, e se dirige à porta:
— Que pena, Seungmin. Eu realmente gosto de você, mas você me odiará para sempre. Vou cumprimentar sua mãe, com licença.
Após a saída de Angela, sento-me, desolado, e decido enviar uma mensagem de texto para Leah:
"Sinto muito por não ter tido forças para me despedir pessoalmente, então envio esta mensagem, sem esperar resposta. Eu preciso me casar com Angela, mas quero que você saiba que não a amo. Estou me forçando a isso pela empresa. Nunca quis te magoar; acreditei que poderia salvar a empresa sem chegar a este extremo, mas me enganei e acabei te machucando. Sou grato por tudo e desejo que você seja muito feliz. Termine sua faculdade, veja o mundo; você merece mais do que ser apenas uma empregada.
Com amor, Minnie"
Observo a tela do celular, alimentando uma vã esperança de uma resposta que nunca chega. Perdi Leah para sempre.
Angela e eu tomamos a decisão de nos casar no próximo mês. Enquanto estávamos na minha sala na empresa, dedicávamo-nos a discutir a lista de convidados, com Haein encarregada de anotá-los. Finalmente minha assistente descartou o Pêndulo de Newton, que, para minha surpresa, não retornou a aquela sala. Estranhamente, isso trouxe um súbito alívio ao ambiente.
— Minha mãe já contratou um organizador de eventos. Ela insiste que tudo deve ser impecável. — Angela compartilha, vasculhando os contatos em seu celular à procura de mais nomes para adicionar à lista.
— Bem, se vai ser um espetáculo, que seja perfeito então. — Comento, sem desviar a atenção dos contatos em meu próprio telefone, refletindo sobre o quão pouco me agrada a ideia de meus amigos sacrificarem seu valioso tempo por uma cerimônia que, no fundo, sabemos ser uma farsa.
— É triste... Duas pessoas se casando contra a vontade... — Haein comenta.
— Ninguém pediu sua opinião. — Angela a responde com rispidez.
— Angela! Não fale assim com ela... — Eu a repreendo.
Angela solta um resmungo e volta à tela de seu celular. Nesse instante, o celular de Haein toca. Ela atende e, em seguida, dirige-se a mim com um olhar comunicativo:
— Você tem uma visita... Bang Chan está aqui e deseja falar com você.
— Deixe-o subir, por favor — Instruo.
Alguns minutos se passam e Bang Chan aparece, sendo recebido por Haein na porta. Ao entrar, ele faz uma pausa para observar o ambiente, depois fixa o olhar em Angela e, por fim, em mim. Me levanto e caminho em sua direção, enquanto Angela permanece imóvel, apenas lançando um olhar rápido em sua direção antes de retornar à tela de seu celular:
— Chan. Como você está? — O cumprimento com um abraço, que ele retribui. Noto que ele trazia consigo um presente embrulhado, opto por não comentar ainda sobre o presente.
— Estou bem... Aquela é...
— Angela, minha noiva. — Nós dois observamos a mulher, que permanece absorta em seu celular. — Angela...
Com um gesto de desdém, ela se levanta, demonstrando sua falta de interesse em ser cortês, e se aproxima de nós:
— Ah, sim. Eu havia me esquecido que dar atenção aos seus amigos faz parte desta encenação. — Ela põe a mão na barra do seu vestido, fazendo uma reverência exagerada, e fala no seu inglês polido com sotaque britânico. — Encantada em conhecê-lo. — Seu sorriso se desfaz no mesmo instante e volta a falar em coreano. — Haein, você está ocupada?
— Sim, tenho bastante trabalho a fazer. — Ela responde, sem se mover do lugar.
— Perfeito, então pode ir ali comigo. Agora! — Angela conclui, determinada a sair do local.
Angela deixa a sala apressadamente, e Haein, simulando indisposição, segue seus passos. Bang Chan me lança um olhar de reprovação, e eu, suspiro, é claro que ele iria me confrontar sobre todos os eventos recentes:
— Onde você estava com a cabeça quando decidiu se casar com essa mulher? Não é ela quem te humilhou? E também humilhou Leah? Eu pensei que você estava com Leah.
— Você falou corretamente, estava do verbo não estar mais. Aconteceu e é isso. — Respondo impaciente e me arrependo. Chan não tem nada haver com meus problemas.
— Não precisa falar assim. — Ele diz se aproximando de mim e apertando meu ombro.
— Chan, eu tinha que fazer isso. Você acha que eu queria, de verdade?
— Você não precisa se forçar a nada disso.
— Claro, você não compreende o funcionamento das famílias ricas e suas divisões de poder...
— Esse não é o Seungmin que eu conheço! O Kim Seungmin, membro do Stray Kids, não iria deixar ser controlado dessa maneira e já teria dado um jeito de resolver. Agora se casar com essa mulher? Você está se perdendo. Tente anular isso...
Solto sua mão de meu ombro e caminho até a estante de livros. Queria mesmo poder anular isso, queria que tudo fosse diferente, muito fácil para ele falar sem ter passado por tudo que vem acontecendo:
— Olha, tenho vivido um verdadeiro inferno por causa dessa empresa. O que deveria ter durado alguns dias já se arrasta por quatro meses, e estou exausto. Então, por favor, não venha até minha sala para dizer que eu não sei o que estou fazendo.
Um silêncio desconfortável se instala. Bang Chan, fica perplexo com minha resposta, mas eu dessa vez não me arrependo. Somente eu conheço o tormento que tem sido enfrentar todos esses problemas.
— Então, por que você não me conta? Quer meu apoio, comece a ser sincero. O que está te atormentando tanto?
Eu o encaro, ponderando. Definitivamente, não posso revelar a ele sobre a máfia, os esquemas corruptos; não posso dizer nada que o coloque em risco. Chan iria querer encontrar uma maneira de prender os mafiosos, mas a ameaça de Allifer permanece vívida em minha mente. Não desejo que ninguém da JYPE family se machuque por minha causa. Então, por hora, agir com arrogância vai ter que bastar:
— Eu não te devo explicações... Apenas, por favor, evite me dar lições de moral. Se estivesse em meu lugar, não faria diferente.
— Uau... se tornar um homem de negócios realmente te transformou. Sinto pena de Leah e espero que ela não esteja sofrendo.
— Eu também espero que ela não esteja sofrendo...
Meu coração anseia por saber onde ela está, o que está fazendo, mas me forcei a bloquear seu número. Não posso mais alimentar essa conexão; preciso me habituar à ideia de que nunca mais terei uma chance com Leah, e isso me magoa. No próximo mês, estarei ao lado de alguém que não amo, e refletindo sobre isso, percebi o quão difícil deve ser para Angela estar com alguém que não faz nada além de desprezá-la. No fim, todos somos perdedores neste jogo.
— Eu e os membros compramos isso para você. Agora que é um homem de negócios, achamos que vai combinar com a sala. — Bang Chan diz, entregando-me um embrulho.
Curioso, abro o pacote e me deparo com um Pêndulo de Newton novinho. Meu olhar se fixa no objeto com uma mistura de surpresa e descrença, o que não passa despercebido pelo mais velho:
— Ei, o que foi? Não gostou? É que eu, Changbin e Minho estávamos assistindo a uma maratona de filmes e percebemos que toda sala de presidente de empresa tem um. Então, decidimos comprar um para você.
— Ah... que legal... adorei. — Coloco o pêndulo sobre a mesa, mas observá-lo apenas intensifica o peso em meu peito.
Angela nasceu na Inglaterra e queria se casar lá. No entanto, diante da minha argumentação, que considerava desnecessário mover rios e montanhas para realizar um casamento com um prazo de validade em outro país, ela concordou em selecionar uma igreja em Seul. A escolha recaiu sobre uma igreja de beleza notável, o que, de certa forma, amenizou a sensação de medo que estava sobre esse casamento, pelo menos as fotos ficariam lindas.
Infelizmente o dia chegou e já me encontro na porta da igreja, refletindo sobre os eventos que antecederam aquele momento. Mais cedo, havia me encontrado com Hyunjin e Han, que, apesar da surpresa do evento, haviam conseguido permissão para deixar a base militar e comparecer ao meu casamento. Apesar de todos demonstrarem oposição ao matrimônio, eles não hesitaram em aceitar o papel de padrinhos. Changbin, por outro lado, demonstrou uma compreensão mais profunda da situação. Talvez, como herdeiros, compartilhássemos uma perspectiva comum que nos permitia entender as complexidades dessa união.
Diferente de Changbin, que conta com uma irmã mais velha inteiramente dedicada aos negócios da família, eu não gozava desse privilégio.
— O casamento vai começar — anuncia o cerimonialista, ao passo que minha mãe assume seu lugar ao meu lado.
Ela exibe um vestido laranja de mangas, adornado por um corte elegante. Seus cabelos estão arranjados em um coque perfeito, complementado por uma maquiagem impecável. Ao ajustar a flor em minha lapela e segurar meu braço, ela diz:
— Sei que você não está feliz com isso, mas eu fico tão contente de ver que as famílias Kim e Nam finalmente vão se unir.
Eu havia optado por não revelar a ela os planos de divórcio, preservando, assim, sua alegria pelo casamento. A cerimônia teve início ao som de uma música solene, e adentrei a igreja ao lado de minha mãe, concentrando meu olhar apenas na imagem de Jesus Cristo atrás do padre, culpando ele por todos os meus infortúnios.
O momento da entrada da noiva é recebido com expectativa por todos os presentes, que voltam seus olhares para a porta da igreja. Angela surgiu ao lado de seu pai, trajando um vestido que marca suas curvas de maneira elegante, com alças finas e uma saia fluída, destacada por uma fenda que revela parte de sua perna e valoriza suas sandálias de salto alto adornadas com brilhantes. O vestido, ricamente incrustado com cristais, foi confeccionado sob medida, um luxo que não justifica para um casamento arranjado. Com seus cabelos soltos e uma maquiagem que realça seus traços, Angela está, deslumbrante, ouso dizer que ninguém está mais bela que ela nesse momento.
Após o início da marcha nupcial, é substituída pela solene "Ave Maria", momento em que me esforço para não soltar uma risada. Não me parece apropriado que uma música tão... sagrada acompanhe alguém como ela. No entanto, a mulher avança em minha direção, sem desviar o olhar de mim.
Fecho os olhos e, por um instante, é Leah quem vislumbro, vestida em um belíssimo vestido branco, rodado e volumoso, como se fosse a personificação de uma verdadeira rainha. Seus cabelos caem soltos pelas costas, e em suas mãos, um buquê de lírios. Nesse momento imaginário, nenhum sorriso poderia ser mais sincero que o meu. E ao encontrá-la no altar, eu confessaria quão deslumbrante ela está. Mas, ao abrir os olhos, me deparo com Angela, a realidade fria de que a cerimônia é apenas um vislumbre de algo que jamais possuirei.
Conforme o ensaiado, assim que ela se aproxima do altar, caminho em sua direção. Ela segura meu braço e, juntos, prosseguimos até o altar. O padre inicia a cerimônia, e durante todo o tempo, nossos olhares se cruzam, sem que nenhum de nós esboce um sorriso. Nesse momento, tenho a certeza de que ela está tão infeliz quanto eu: casando-se com quem gosta, mas sem possuir meu amor; e eu, unindo-me a quem não amo, enquanto meu verdadeiro amor permanece inalcançável...
— Nam Angela, é de livre e espontânea vontade que você aceita Kim Seungmin como seu legítimo esposo, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria ou na tristeza, até que a morte os separe? — indaga o padre, aproximando o microfone dela.
— Sim — ela responde, com firmeza.
Dirigindo-se a mim, o padre repete a pergunta, e eu, da mesma forma, afirmo com um "sim". Trocamos as alianças e, ao final, o padre anuncia:
— Pode beijar a noiva.
Esperava que esta parte fosse saltada, já que muitos casamentos modernos dispensam tal formalidade. No entanto, suspiro, aproximo-me de Angela, a seguro pelo quadril, e selamos o ato com um beijo rápido, meramente formal. Deixamos a igreja sob olhares alheios, e, por escolha mútua, decidimos não celebrar com uma festa. Todavia, o pai dela insistiu em patrocinar nossa viagem de lua de mel para as Ilhas Cayman, o que nos leva a trocar de roupa e seguir para o aeroporto.
Embarcamos em um voo particular rumo ao Caribe, chegando à noite. Um carro já nos espera e nos conduz ao hotel onde ficaremos hospedados: um chalé sobre as águas. Entramos em silêncio, mantendo essa atmosfera durante toda a viagem, trocando poucas palavras, a maioria delas sobre negócios.
Exausto, deito-me na cama enquanto ela perambula pelo quarto, examinando cada canto do espaço. O chalé, é acolhedor e compacto, abriga uma cama queen size adornada com lençóis brancos. A decoração é dominada por tons marrons e materiais de madeira, e o teto, embora remeta à madeira, é feito de um material que não consigo identificar com certeza. O ambiente é complementado por uma cozinha compacta, duas confortáveis poltronas, um banheiro e, do lado de fora, uma convidativa rede e escadas que descem diretamente para o mar.
— Esperava mais, considerando a fama do lugar — ela comenta, com um tom de leve decepção.
— Achei bonito — respondo, sentindo-me agradado pelo charme simples do espaço.
Ela se dirige ao banheiro, e eu permaneço ali, contemplando o teto, inalando o aroma salgado do mar. Momentos depois, ela reaparece, trajando uma camisola branca e um robe transparente. No entanto, em vez de se juntar a mim na cama, ela opta por sentar-se em uma das poltronas, e desabafa:
— Dizem que da azar não consumar o casamento... — Ela me olha e eu apenas devolvo o olhar, ela não vai vir com essa pra cima de mim, vai? Ao perceber minha falta de resposta, ri e continua — Ganhei da minha melhor amiga. Disse que era para minha noite de núpcias e, bem... Aqui estou eu, na minha noite de núpcias, vestindo uma bela lingerie para passar uma noite triste.
Pela primeira vez, sinto uma certa empatia por ela. Embora inicialmente pensasse que ela fosse fria como gelo, a expressão de desgosto em seu rosto revelou muito mais sobre seus sentimentos. Talvez, a frieza que ela exibe seja apenas uma armadura que construiu para se proteger.
— Desculpe ter dito que você não tem sentimentos — digo, provocando um tímido sorriso em seu rosto.
— Tudo bem, querido. Você não é o primeiro e certamente não será o último a pensar assim. Vou lá fora respirar a brisa do mar. Não precisa me esperar acordado.
Após sua saída, decido tomar um banho e me entregar ao sono. Temos seis longos meses pela frente...
Já dizia a fada injustiçada da Dilma: "Ganhando ou perdendo estamos todos perdendo"...
Não esqueça sua estrelinha ⭐
BIG HUG
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