10 - Wake Up
Oh eu sinto isso
Sinta está se desamarrado hoje à noite
Cante comigo
Ou ou ou ou
Seja livre
Você sabe que você quer
Você é a escolha
Vamos ver Eu sei que você quer
— Wake Up, Elaine (from It's Okay Not To Be Okay soundtrack)
Sinto a água gelada ser lançada em meu rosto, me fazendo abrir os olhos com grande dificuldade. De repente, uma luz intensa brilha diretamente em minha face, me cegando por uns instantes. Risadas ecoam ao meu redor, e ao forçar a visão, percebo a presença de vultos movendo-se diante de mim. Imobilizado, minha respiração torna-se pesada e acelerada, um sinal claro do crescente pânico sobre onde eu poderia estar.
— Olha só, o menino Kim acordou — zomba uma voz.
— Olá, menino Kim — provocam.
— Quem são vocês? — indago, desorientado, mas minha pergunta é recebida apenas com mais risadas.
— E se a gente cortasse o cabelo dele? — sugere alguém, alimentando a atmosfera de medo.
— Eu acho que arrancar um dente seria mais satisfatório — propõe outro, elevando o nível de crueldade.
O pânico se instala em mim de forma avassaladora. Quem seriam essas pessoas e o que queriam comigo?
— P-por favor, não façam nada... Por favor... — imploro, a voz embargada pelo desespero.
— Ah, ele está implorando pela vida, que bonitinho — escarnece um deles.
— Implore mais, quem sabe — incentiva outro, em tom de deboche.
— Chega! — A intervenção vem de uma voz autoritária ao fundo, seguida por passos em minha direção. Então, as luzes se acendem plenamente, obrigando-me a piscar repetidamente, incomodado pela súbita claridade. Percebo que estamos em um tipo de galpão.
Diante de mim, há três homens que, presumo, eram os responsáveis pelas vozes ameaçadoras. Além disso, noto a presença de homens fortemente armados. E, então, vejo Aliffer. Engulo em seco ao seu sorriso:
— Ah, Seungmin, você realmente achou que conseguiria nos entregar para a polícia? Nunca assistiu a filmes de ação? Toda máfia que se preze mantém contatos dentro da polícia.
Sou um completo idiota. Deveria ter previsto isso. No entanto, a presença de Aliffer à minha frente estranhamente traz-me uma sensação de calma. Já o enfrentei uma vez, e acredito que posso fazer isso de novo:
— Eu não tenho a intenção de entregar a Máfia — começo, buscando firmeza na voz. — Eu só precisava de um meio para me proteger. — Admito, reconhecendo que a polícia se mostrou inútil.
— Estamos vendo o quão "seguro" você está. — Aliffer retorque com um riso carregado de ironia, aproximando-se com um ar ameaçador. — Lembra-se daquela vez que você trapaceou no poker? Eu deixei você escapar e até lhe entreguei o quadro, pois o considerei inteligente. Me sinto traído agora.
— M-me desculpe, Aliffer, eu não quero interferir nos seus negócios... — Tento articular, lutando contra a gagueira. A presença de Aliffer, uma pessoa perigosa, e o fato de estar em seu território tornam a situação bastante intimidadora.
— Então, você não quer interferir, mas está disposto a colaborar com o governo? Eu estou ciente de tudo o que acontece lá dentro, Seungmin. Você se autodenomina presidente, mas, na verdade, o verdadeiro presidente sou eu. — Sua afirmação me inflama com um muito ódio.
Esse homem não contribuiu em nada para a formação da empresa, não moveu um dedo a não ser para lucrar com vendas ilegais, e ainda se autoproclama presidente da minha empresa? A reputação da Kimsam que se dane, eu quero todos os envolvidos atrás das grades.
— Eu só estou tentando descobrir quem matou meu appa. — explico, com a voz embargada pela emoção. — Eu estava seguindo alguns nomes que me levaram até vocês novamente... De verdade, não quero nenhum problema com vocês...
Aliffer, com um riso de escárnio, saca uma Beretta e a aponta diretamente para o meio da minha testa. Ele destrava a arma, e uma tontura avassaladora me atinge. Esforço-me para manter a respiração controlada, recusando-me a demonstrar medo. Vim até aqui com um propósito, e não é agora que irei fraquejar.
— Dê-me um motivo para eu não meter bala em seu crânio, garoto.
— Você pode me matar... Mas, por favor, apenas me diga, quem assassinou meu pai?
Ele esboça um sorriso e, quando penso que irá disparar, vira a arma e atira para o lado. Sinto minha alma deixar meu corpo e então retornar pelo susto.
— Você é mesmo um garoto muito corajoso.
Neste momento, o telefone dele toca e ele se afasta para atender. Tento captar algum fragmento da conversa, mas me é impossível. Analiso o ambiente em busca de uma saída, mas os numerosos homens armados me fazem lembrar que não sou James Bond, capaz de operar milagres com minhas inexistentes habilidades de combate. Parece que minha única opção é cooperar até que decidam me libertar. Sinto que, se Allifer desejasse minha morte, já teria o feito. Ele passa um tempo ao telefone e, ao retornar, diz:
— A pessoa que matou seu pai foi a mesma que acaba de me ligar, pedindo, gentilmente, para não matá-lo a fim de evitar atrair atenção... Seu pai tinha muitos inimigos; não lhe parece estranho como os Sons ascenderam ao poder tão repentinamente? Ele estava tão focado em derrubar diretores corruptos que falhou em perceber os impostores ao seu lado. Agora, você, diferente dele, desconfia do Hui e sabe que ele não é confiável. Definitivamente, você é um garoto astuto... Sabe, seu pai foi fraco, ao ter uma arma apontada para sua cabeça, sua única reação foi chorar e implorar por sua vida, mas você, não. Até admiro isso. — Ele caminha para meu lado e cola seu rosto ao meu, puxando meu cabelo para trás, o que me faz range os dentes para não suspirar de dor. — Mas lembre-se, aqueles que são corajosos demais tendem a morrer jovens... Que isso sirva de lição para que aprenda a não se meter conosco. Se eu o pegar novamente tentando nos denunciar, invadirei a JYPE e matarei todos que lá estiverem. Estamos entendidos?
— Sim... — respondo, enquanto a terrível imagem de um tiroteio em minha empresa toma minha mente. Não posso permitir que isso aconteça.
— Excelente. Apareça no cassino qualquer dia desses. Vamos jogar pôquer novamente.
Ele afaga meu cabelo e então cobrem meu rosto. Fico confuso sobre para onde estou sendo levado, mas percebo que me colocam em um carro. Depois de algum tempo, retiram o capuz, param o carro e me expulsam dele. Sinto a dor do impacto com o chão e, ao olhar em volta, percebo que estou em alguma estrada deserta, sem celular, carteira ou dinheiro, apenas com meu relógio de valor inestimável, agora quebrado.
— Droga...
Murmuro, começando a caminhar em busca de uma placa que me indique, ao menos, onde estou.
[...]
Chego à tarde em um bairro de Seul, sentindo-me completamente exausto e desgastado. Não achei um banco 24 horas por perto para retirar dinheiro e chamar um táxi. Mas, se seguir pela avenida poderia me levar próximo ao apartamento de Angela, a aliada mais próxima que poderia me ajudar.Minha exaustão é tão grande que a ideia de caminhar mais um pouco me parece desanimadora, então a casa da Angela vai ter que servir.
Ao chegar, me identifico ao porteiro, que após notificar Angela, permite minha subida. Ela reside em um apartamento de estética simples, porém sofisticada, situado distante do centro de Seul, o que me faz questionar suas escolhas, considerando que o luxo sempre pareceu ser algo essencial em sua vida. Ao tocar a campainha, a porta se abre, revelando a mulher de robe e camisola bem curta, vermelha e seda.
— Meu Deus, você está horrível. — Ela comenta, me observando enquanto tenta, em vão, limpar uma mancha em meu blazer.
— Você poderia vestir algo mais apropriado? — Peço, desviando o olhar, constrangido pela generosidade do decote de sua camisola, que realça suas formas com uma sensualidade acentuada pelo tom vermelho da peça. Por que ela faz isso?
— O quê? Não gostou da minha camisola? É uma seda indiana, extremamente cara e refinada.
— Está quase sem roupas na minha frente... Por favor, cubra-se. — Questiono, incomodado por sua atitude provocante.
— Seungmin, você sabe que horas são? Eu estava me preparando para dormir quando fui informada de sua chegada na portaria... Se não queria ver como me visto para dormir, por que veio até aqui? — Ela argumenta, mas decide ser um pouco mais cooperativa, puxando o robe para fechá-lo.
— Você têm máquina de lavar e secadora aqui? A máfia me fez de refém e como pode ver, não foram muito gentis. Não posso chegar em casa neste estado. Se descobrirem, saberão que algo aconteceu e... Prefiro que não saibam. — Explico minha situação. — Pode me ajudar?
— Só se me der um beijo. — Ela propõe, adotando uma postura sedutora. Reviro os olhos e a empurro de leve, adentrando o apartamento.
Ao entrar, deparo-me com uma sala que abriga um sofá, uma mesa de centro e uma televisão enorme, um tanto desproporcional para o tamanho do ambiente. Uma planta ao lado da estante e algumas revistas alinhadas complementam a decoração. Mais adiante, uma mesa com quatro cadeiras confortáveis e uma pequena varanda que oferece vista para a rua chamam a atenção.
— Você tem algo que eu possa vestir enquanto lavo minha roupa? — Pergunto, enquanto ela fecha a porta atrás de nós.
— Um roupão de banho serve? — Ela oferece uma solução prática.
Eu assinto e ela segue pelo corredor, voltando com um roupão branco em mãos. A mulher me guia até o banheiro e entra no ambiente comigo e eu a empurro para fora antes mesmo de dar chance dela dar em cima de mim. Estou em sua casa e ela vai aproveitar disso e se oferecer de todas as formas possíveis.
Retiro minhas roupas e a entrego pela porta, em seguida, tomo um banho. Enquanto a água cai, reflito sobre o que Allifer me disse: "Por que os Sons conseguiram tanto poder?". Eles tinham muitos diretores do lado deles. Hui tem muitas influências na máfia, já que são seus maiores clientes. Com certeza, ele pediu para não me matarem pelo escândalo que isso causaria para a Kimsam. Para mim, não restam dúvidas de que era o Hui que estava por trás de tudo.
Ninguém esperava que eu deixasse a minha carreira de lado para assumir a empresa. E, mesmo quando eu e Angela nos impusemos, todos eram a favor de Hui assumir a liderança. O filho da puta era alguém que meu pai considerava como um filho, alguém de extrema confiança. Mesmo quando ele o pegou tentando passar a perna, o Sr. Kim o perdoou. Como eu poderia provar que foi Hui?
Desligo o chuveiro e saí do box. O roupão feminino que Angela me deu estava um pouco apertado, deixando meu peito um pouco exposto, o que me incomoda, já que estou na casa dela. Assim que saio do banheiro, dei de cara com a dita cuja e me assusto. Para minha surpresa, ela havia trocado de roupa. Ainda estava de camisola, mas era bem menos reveladora e o roupão estava mais fechado dessa vez. Não é possível que ela dormia daquele jeito. Isso não é lingerie que as mulheres usam em momentos íntimos com seus parceiros? Ela possuía um sorriso enorme no rosto, olhando para meu peitoral descoberto.
— Uau, você é tão lindo.
— Sabia que eu posso considerar isso como assédio? — Disse, empurrando-a e indo para a sala. Ela me seguiu.
— Também posso considerar assédio você olhando meus seios por causa da camisola.
Viro o rosto, um tanto envergonhado, porque a Angela tinha que ser tão linda? Eu queria ser ferro, mas meus olhos continuam me traindo e a diaba sempre repara:
— Você é ridícula.
— Ah querido, vai precisar de mais pra me ofender — Ela mantém um sorrisinho irritante no rosto.
Reviro os olhos e me sento no sofá. Angela sentou ao meu lado e praticamente se jogou em cima de mim. Eu a empurro e suspiro, só precisava das minhas roupas limpas.
— Os mafiosos acabaram com a sua cara, né? — Ela diz, olhando para minha cabeça — Wow, você levou uma pancada aqui e tá sangrando. Não está doendo?
— Está, mas estou ignorando — A dor latejante na minha cabeça não está me preocupando tanto. Se fosse algo grave, já teria caído.
— Não vai passar um remédio aí? Ou ir num hospital? Agora entendi porque o porteiro queria chamar a polícia.
— Preciso convencer que fui assaltado. — Encosto de leve no machucado e meu corpo retrai. Talvez eu devesse procurar um médico.
— Já vimos que sua atuação é digna de um Oscar... O que mais descobriu?
— Foi o Hui. Hui era um cara de confiança do meu appa, que o tratava como um filho. Ele usou isso para ganhar influência debaixo do nariz dele e, assim puxar seu tapete.
— Seu appa foi ingênuo. Eu sempre espero o pior das pessoas.
Eu a encaro nos olhos, meu pai era um homem de índole inquestionável, bem diferente dessa mulher em minha frente:
— Meu appa era um homem bom cercado de pessoas más... Enfim, não podemos mais entregar os diretores corruptos para a polícia. Se eu tentar denunciar a máfia de novo, eles vão... — A imagem de um atentado contra a JYPE voltou e afasto tais pensamentos.
Sinto a necessidade de compartilhar mais com Angela. Afinal, ela é a única pessoa em quem eu posso confiar no momento, por mais duvidoso que possa ser seu caráter:
— Eu não sei como provar essas informações para a polícia, mas não tenho forças contra ele se não tiver a justiça do meu lado. Hui agiu pelas sombras e com a máfia do lado, eu me torno a presa.
— Eu descobri que as ligações que o Hui tem com a máfia vão muito mais do que lavar dinheiro e realizar negócios ilegais. Ele também está envolvido em atividades de tráfico de drogas e armas. O canalha é perigoso — Angela cruza os braços e eu a encaro em choque pelas informações que ela adquiriu. — O que foi? Eu fiz meu dever de casa, andei investigando também.
Pisco ainda incrédulo, estou lidando com algo muito maior do que imaginei:
— O que vamos fazer, então? — Pergunto, preocupado.
— Vamos começar investigando mais a fundo. Precisamos descobrir todas as conexões do Hui, seus cúmplices e como ele opera. Precisamos encontrar mais provas que vão incriminá-lo e garantir que ele não escape impune.
Enquanto planejamos os próximos passos, eu sentia uma mistura de medo e esperança. Estamos entrando em um território perigoso, mas também acredito que, com a minha determinação e quem sabe sorte, poderíamos resolver. Era hora de lutar contra a corrupção e proteger a empresa que meu pai construiu com tanto esforço.
— Mas você esta sendo muito imprudente. — Angela diz, pegando em minha mão e observando os machucados pelo impacto com o chão. — Disse que não pode envolver a polícia e se continuar a enfrentá-los dessa forma, vai acabar morrendo. — Angela me fita, um tanto aflita, e posso notar preocupação em seu tom de voz. Essa mulher, que tem o coração de gelo, está preocupada comigo?
— Vou pensar em algo. Irei resolver isso.
— Odiaria perder você...
Nossos olhos se encontram, criando um clima estranho entre nós. Ela se levanta e vai até o seu quarto, voltando com uma maleta de primeiros socorros. Angela começa a limpar os ferimentos em meu punho, o que me desconcerta. Eu nunca a vi ser gentil, nunca vi ela se preocupar com nada além de si mesma, mas aqui está ela, me ajudando. Angela limpa um ferimento em minha bochecha, o que me faz esboçar uma careta pela ardência e ela sorri. Angela é uma mulher muito bonita, eu continuo preso na beleza dela.
— Seungmin, não vejo outra forma de resolver isso se não for com um casamento. — Ela diz, me libertando do meu devaneio e me encarando de forma séria. Solto uma risada seca, mais uma tentativa de me manipular — Tô falando sério, case comigo, você não vê que é a solução mais rápida? Juntando os nossos aliados, mais as nossas ações, o Hui não vai ter poder suficiente e podemos até pedir a demissão dele. Ele pode continuar como acionista mas vai sumir da empresa. Com ele longe, podemos continuar reunindo provas e teremos resolvido essa questão da presidência. — Ela diz, colocando sua mão no meu ombro.
— Para de falar besteiras. — Sorrio de nervosismo e afasto sua mão. Me casar com essa mulher seria a última coisa que faria nessa vida.
— É a verdade. Se você assume um compromisso comigo, é o fim pra eles.
— Eu me recuso, tenho nojo de você.
Me levanto rápido, criando distância entre nós. Ela, por sua vez, ergue-se, claramente ofendida, e me confronta:
— Por que você tem nojo de mim? Por que não fica logo comigo? É por causa da empregadinha? Está com ela de novo? — Ai está o seu tom de arrogância de sempre. Não acredito que me deixei levar pelo seu teatro de preocupação, como eu odeio essa mulher.
— Quer saber? Sim, eu estou com a Leah, e você pode divulgar isso para quem quiser; sinceramente, não me importo. Que se dane você e a mídia.
Sua expressão endurece, um misto de surpresa e indignação.
— Tsc... Você me troca por aquela garota...
— Ela não é qualquer garota. Ela é muito mais do que isso. E você... Bem, nossa "amizade" se é que podemos chamar assim, se resume apenas a assuntos da empresa. Será que você já se esqueceu do motivo pelo qual eu te odeio?
— Quem vive de passado é a Kimsam, Seungmin! Você não precisa ficar remoendo essa história do vídeo. Supere! Além do mais, deixe-me dizer algo sobre a sua querida empregadinha... Ela é uma fingida, falsa, tão ridícula que chega a dar pena de tanta hipocrisia. — Ela diz, apontando seus dedos para mim.
A olho furioso, como essa maldita ousa falar mal de Leah na minha frente?
— Tira o nome dela da sua boca suja e nunca mais fale assim dela! Tá achando que é melhor que ela? — Vocifero, enquanto me coloco em sua frente, indignado que ela tenha coragem de falar mal da Leah.
— Sou, sou bem melhor que aquela piranha! Na faculdade, eu tentei ser legal, mesmo que eu achasse patético ela se vangloriando para todos de ser da "família Kim". Eu tava na minha, deixando ela viver em sua fanfic, só que eu não aguentei o cinismo para cima de mim. Aquilo me irritou, aí eu contei a verdade às pessoas. E sabe o que ela fez? Ela e os amigos passaram a ser xenofóbicos comigo. Eu apenas respondi ao bullying dela com o meu, que, admito, foi pior. Ela não suportou a pressão e correu para se queixar a você. — Ela ri, como se tivessem contato a melhor piada para ela — Patético.
— sabe o que é patético? A foto íntima que você tirou dela.
— Foto íntima? — Angela me olha, com um misto de choque e espanto. — A única foto que eu tenho foi de quando ela estava tentando falsificar as notas na prova.
Tento esconder minha cara de choque. Leah? Falsificando as notas? Nego com a cabeça, Angela está tentando entrar na minha mente, querendo me manipular.
— Isso não justifica o fato de você ter vazado aquele vídeo para a minha empresa, para a minha família... Você não percebe o quão doentio isso é?
— Eu precisava fazer você me ouvir de alguma forma. Mas você é burro como uma porta! Quem pode te julgar né? Homem só pensa com a cabeça de baixo.
— Vai se foder Angela! Você não se cansa de ser ridícula? Paga de autossuficiente o tempo todo, mas não perde uma oportunidade de se insinuar para mim, apesar de eu continuar a te rejeitar. Colocou até uma lingerie, achando que poderia me seduzir com seu corpo? Até quando vai continuar agindo como uma prostituta?
Seus olhos se tornam indecifráveis, e, pela primeira vez, percebo que talvez tenha sido duro demais, mas em nenhum momento disse uma mentira. Ela parece incansável em seus esforços para chamar minha atenção, como se pudesse apagar todo o nosso passado conflituoso.
— Sabe de uma coisa? Estou farta da su cara. Vai embora. AGORA!
— Com prazer! — Rebato.
Vou até à área de serviço, onde encontro minhas roupas no processo de secagem. Após vesti-las, saio sem me despedir. Que ideia idiota visitar a casa de Angela, embora fosse a opção mais próxima, eu poderia ter me esforçado para ir a outro lugar. Consigo localizar um caixa eletrônico 24 horas, saco algum dinheiro e, em seguida, chamo um táxi, chegando em casa bastante tarde.
Logo ao adentrar, sou calorosamente recebido por Barto, enquanto minha mãe apressa-se em minha direção, ansiosa, logo na entrada:
— Meu Deus, Seungmin! Por onde você andou? — Ela me envolve em um abraço apertado, ao qual eu prontamente retribuo.
— Fui assaltado.
— Meu Deus! Você está bem? — Soltando-me, minha mãe começa a me examinar em busca de ferimentos, seus olhos percorrendo cada parte de mim com preocupação.
— Minnie? — Leah se aproxima, ignorando por completo a presença de minha mãe e envolve em um abraço — Meu Deus, Minnie, eu estava tão preocupada, você desapareceu.
— Estou bem, só levaram meu celular e carteira.
Um pigarro interrompe o momento, e nós dois nos viramos, assustados, para encarar a mulher em nossa frente.
— O que significa essa intimidade toda? — Ela indaga, com uma leve tensão na voz.
Percebendo a intimidação em Leah, entendo que não há mais o que temer. Já sou adulto o bastante para enfrentar a Sra. Kim. Segurando a mão de Leah, declaro:
— Estou com a Leah, a senhora aceitando ou não. Você tem duas opções: ou aceita e nos apoia, ou não aceita e fica ressentida.
Minha mãe permanece em silêncio. Embora eu saiba que ela não está satisfeita, decido que não posso mais fingir que nada está acontecendo entre nós.
— Minnie, sua cabeça... — Leah comenta, preocupada.
— Eles me atacaram, mas está tudo bem. — A tranquilizo, tentando minimizar a preocupação evidente em seu olhar.
Apesar da tensão palpável no ar, o silêncio de minha mãe deixa claro todos os seus pensamento. Seus olhos, embora repletos de preocupação e desaprovação, também revelam uma relutância em me confrontar. Leah, repara a relutância da mais velha e aperta minha mão um pouco mais forte, um gesto silencioso de medo da rejeição. Olho para minha mãe, que ainda está sem palavras:
— Eu sei que isso é um choque para a senhora — continuo, escolhendo minhas palavras com cuidado, tentando amenizar a situação. — mas Leah tem sido uma parte importante da minha vida. Ela tem me ajudado a suportar tudo que venho passando, sei que a senhora desaprova, mas é ela que amo e desejo construir um futuro com ela... gostaria de sua aprovação omma...
Leah me lança um olhar de gratidão, seus olhos brilhando com emoção de finalmente eu ter tido a coragem de enfrentar alguém por ela. Por um momento, o mundo ao nosso redor parece desaparecer, deixando apenas a conexão genuína que nossos olhares transmitem.
Minha mãe, observando nossa interação, solta um suspiro resignado.
— Eu só quero o melhor para você, Seungmin. Sempre quis. E certamente não é ao lado dessa mulher... — Sua voz, se mantém tensa, pelo visto, nunca vai aceitar Leah como parte da família.
— Omma... eu preciso viver minha vida, cometer meus próprios erros e aprender com eles. Leah faz parte dessas escolhas agora — digo, firme em minha decisão, mas tentando mostrar o respeito que tenho por ela. Não quero ir contra sua vontade, quero que ela entenda.
Ela fica em silêncio, o que me deixa ansioso. Eu quero que ela diga qualquer coisa, mas a mulher se mantém calada, perdida em seus pensamentos. Depois de um tempo naquele clima tenso, ela diz tentando soar indiferente:
— Tanto faz. Deixa eu ver essa cabeça...
Ela mudou o assunto, mas parou de bater na tecla sobre Leah ser um erro. Acredito que aos poucos, ela vai conseguir aceitar meu relacionamento, não irei ceder à pressão alguma dessa vez.
Consigo escapar da vigilância preocupada de minha mãe e de Leah, que querem examinar meu ferimento, e me refugio em meu quarto, onde me deito, esticando o corpo sobre a cama. Nesse momento de solidão, permito que o terror pela situação em que me envolvi se aposse de mim, enquanto reflito sobre as consequências de minhas ações. Me pergunto sobre o que a polícia deve ter pensado com o meu desaparecimento, preocupado pelo fato de meu sumiço não ter sido notificado oficialmente. Em meio a esses pensamentos, a porta do quarto se abre, revelando Leah, que entra e se deita ao meu lado, dizendo:
— Obrigada... Por se impor diante de sua mãe por mim. Isso significou muito.
— É apenas o início, meu anjo. — Respondo, selando sua testa com um beijo e acariciando seu rosto com ternura.
— Você ficou sabendo do atentado na feira? Meu Deus, o que será da Coreia? Nunca antes sofremos um atentado terrorista, e agora estão dizendo que foi a Coreia do Norte.
Refletindo sobre suas palavras, então é isso que as pessoas estão pensando? Um atentado terrorista? Não tive como pesquisar a gravidade da situação.
— Não vamos nos preocupar com isso agora... — Digo, entrelaçando nossos dedos, enquanto a memória das palavras de Angela sobre Leah surge em minha mente. Odeio aquela mulher, e me odeio muito mais por ter permitido que ela colocasse a sementinha de dúvidas em minha cabeça — Leah, posso te fazer uma pergunta?
— Sim, claro. — Ela responde.
— Angela mencionou que você agiu com preconceito contra ela na faculdade, dizendo que você e seus amigos a discriminaram por ser estrangeira... Isso é verdade?
Leah se tensiona ao ouvir minha pergunta, seu olhar se endurece, ficando irritada com a acusação:
— E daí? Ela me humilhou, todos riram de mim. Começaram a me excluir por eu não vir de uma família abastada, então por que eu não poderia fazer o mesmo com ela?
— Porque você não deveria ter se rebaixado ao nível dela. — Respondo, tentando acalmá-la.
— Agora você tá me ofendendo. — Leah se levanta bruscamente, mas a seguro antes que ela possa se afastar. — Eu não sou como aquela... vaca.
— Ei, eu não estou dizendo que você é como ela. Apenas não acho certo revidar com mais ódio entende? Isso só deu a ela mais motivos para agir como agiu. Angela é perigosa, e estou sempre cauteloso em relação a ela. E me desagrada que ela esteja te chamando de falsa.
— E o que você quer que eu faça? A convide para um café e peça desculpas?
— Não... Definitivamente, quero que você fique longe dela. Desculpe trazer esse assunto à tona. Vem, fique aqui comigo.
Ela me olha, um sorriso toca seus lábios, e nos entregamos a uma troca de beijos e abraços, até que o sono finalmente me vence. Agora, livre da necessidade de buscar a aprovação de minha mãe, podemos dormir juntos, envoltos em nosso amor. Ainda preciso confrontá-la sobre essa história de falsificar notas, mas esse assunto pode esperar.
Passei no hospital, onde cuidaram do ferimento na cabeça e segui para a empresa. Logo ao chegar, avisto dois policiais que, ao perceberem minha presença, me fazem congelar no lugar. Entre eles, destaca-se uma figura familiar: o detetive Matthew, com quem já havia conversado anteriormente na delegacia e bolou o plano desastroso que levou ao meu sequestro. Ele me reconhece de imediato, esboça um sorriso e se aproxima com passos decididos, dizendo:
— Kim Seungmin. Fico feliz em ver que está bem. O que aconteceu ontem? Procuramos por você por toda parte.
— Eu... A explosão me jogou ao chão e, para ser sincero, minha memória está um tanto confusa. Acabei indo para a casa da minha amiga, bastante assustado. Peço desculpas, nunca havia vivenciado um atentado antes.
Ele pondera sobre minha resposta, deixando-me incapaz de discernir se acredita ou não em minhas palavras, mas então afirma:
— De qualquer modo, você mencionou que tinha nomes desta empresa para nos fornecer. Se há irregularidades, acredito que seja prudente resolvê-las.
— Senhor detetive, pode contar com minha total cooperação. Terminarei de reunir todas as provas e as entregarei ao senhor. — Minha mente já calcula como ganhar tempo, pois, se Aliffer descobrir que estou revelando os esquemas novamente... A situação se agravará.
De repente, ouço alguém gritar meu nome. É Haein, que corre em minha direção, ignorando a presença do detetive, e começa a me arrastar em direção ao elevador, dizendo:
— Seungmin, que bom que você chegou! Precisa impedi-los!
— O que está acontecendo?
Mesmo sem entender nada, opto por correr pelas escadas, visto que o elevador demoraria. Ao chegar no andar da minha sala, vejo alguns diretores segurando Angela, que gritava para Hui, o qual apenas ria em resposta. Outros diretores tentavam acalmar a situação, que rapidamente se transformou em um caos generalizado. Não aguentando mais, intervenho:
— HEY! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? SOLTEM A ANGELA! — Grito, puxando a garota que não para de xingar.
Hui, com um sorriso no rosto, responde:
— Você não é mais o maior acionista da empresa. Acabei de adquirir uma parte significativa dos outros acionistas e, com o apoio de vários diretores, isso me coloca em uma posição superior à sua aqui.
Angela reage indignada:
— Isso é um absurdo! Você não pode fazer isso!
— Estou de posse dos documentos assinados. Os Sons agora têm a maioria, e exijo uma nova eleição para a presidência. — Ele diz, estendendo o documento em minha direção.
Ao pegar os papéis e confirmar as assinaturas, sinto uma onda de raiva me invadir. A diferença entre nossas ações agora era de apenas 2%, mas ele tem o apoio da maior parte da direção. A ideia de que o homem responsável pela morte do meu pai pudesse tomar o império que ele construiu é insuportável. Diante dos documentos legais, percebo que só me resta uma coisa a fazer:
— Você não é majoritário coisa nenhuma. Eu continuo no poder, e você vai ter que aceitar isso.
— Você é cego por acaso? Não consegue ler os documentos? — Hui se aproxima, provocante.
Nesse momento, percebo que estou prestes a tomar uma decisão burra e estupidamente drástica, mas é como um jogo de xadrez, e é hora do meu cheque-mate:
— Eu e Angela estamos noivos. Vamos nos casar. — Anuncio, colocando meu braço em volta da cintura dela.
Angela me olha em choque, mas sorri e deita a cabeça em meu ombro. As pessoas fazem cara de espanto e Angela aproveita a deixa para levar a mão em meu peito e colar mais nossos corpos.
— Vocês devem estar brincando. Desde quando estão noivos? — Hui nos olha incrédulo.
— Estamos N-O-I-V-O-S, e com isso, ainda somos os mais influentes aqui. Então, pegue esse documento e vai pra casa do caralho. — Angela declara, perdendo a classe e exudando confiança, enquanto o rosto de Hui se tinge de vermelho, não de vergonha, mas de puro ódio.
Enquanto me mantinha ali, segurando Angela pela cintura, meu coração se aperta ao pensar nas consequências que minha decisão poderia acarretar...
A situação está saindo completamente fora do controle. Será que Seungmin terá realmente coragem de se casar com Angela para salvar a empresa?
Fiquem ligadinhos no nosso doraminha, muitos kisses para vocês.
Ah, não esqueça a estrelinha ⭐
BIG HUG
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