☠︎︎🏴 Capítulo 20 - Aprendizado ☠︎︎🏴
Reescrito 🏴☠️🐺
O Capitão se aproximou do contramestre calmamente, e sentou-se no caixote que o Ômega havia utilizado para soltá-lo.
— Respeitarei sua decisão seja qual for. — Zhoucheng falou.
Ele não tentou se justificar ou implorar por clemência. Sabia que havia cometido uma falta grave, mas a sua consciência estava tranquila.
— É até engraçado você falar isso, já que estamos nessa situação justamente porque você não respeitou minha decisão. — O contramestre anuiu sobre o que foi a grande ironia em suas palavras — Você acha que eu sou o mesmo de cinco anos atrás.
— Esse Ômega...
— Yibo não é Zanjin.
— Não. Seu poder de persuasão é muito maior. — Zhan riu balançando a cabeça em negação — Mas creio que não há nada que eu possa falar que o faça enxergar isso. Afinal, é sua vontade.
— Minha vontade, meu caro contramestre, foi expusá-lo desse navio desde o primeiro momento em que soube de suas façanhas imbecis.
— Entendo completamente. — Zhoucheng se levantou, pronto para deixar o navio.
— No entanto — ele parou ao ouvir o Capitão —, a tripulação decidiu que você merecia uma segunda chance… e eu também. Por tudo o que passamos juntos.
O Contramestre ergueu as sobrancelhas completamente surpreso. Motins era algo considerado imperdoável entre tripulações pirata, e por isso, receber uma segunda chance do Capitão significava que Zhan possui grande confiança nele. Zhoucheng sentiu-se imensamente grato, e nunca teve tanta certeza de que escolheu seguir o Alfa certo. Prometeu a si mesmo que nunca mais decepcionaria o Capitão Xiao novamente, enquanto pertencesse àquela tripulação.
— Obrigado, Capitão.
— Mas no segundo em que eu perceber que é uma ameaça para o meu Ômega, você vai implorar para ser expulso.
O olhar sombrio que o Capitão lhe dirigiu, fez todas as células do Alfa congelarem.
— Compreendo. — Zhoucheng disse, engolindo em seco.
— Vamos voltar lá para cima. Temos uma questão importante a ser discutida.
Zhoucheng assentiu, respirando tranquilo. O mar era a sua casa e a tripulação do Black Swan sua família. Ele não teria nenhum outro lugar para ir, e muito menos queria deixar seu lar, entre seus companheiros.
— Então, o que faremos a seguir? — Yu Chen questionou.
Todos estavam na cabine do Capitão, em torno de sua mesa, enquanto examinavam os mapas dispostos sobre ela.
— Iluminar a entrada. — Fanxing leu em voz alta, a tradução do terceiro fragmento — Eu sugiro que...
— Como você consegue saber onde devemos ir? — Yu Chen o interrompeu — Está sempre bêbado.
— Ora, que conversa! Não estou bêbado...
— Estou sentindo o cheiro de rum daqui.
— Por que você não cala sua boca? — Peixin se dirigiu a Yu Chen — Deixe ele falar.
Fanxing o lançou um sorriso agradecido e voltou à sua reflexão:
— Como eu estava dizendo, eu sugiro que devemos direcionar nosso curso à linha dos comerciantes. Como não sabemos onde estão os demais fragmentos, pelo menos nós podemos fazer alguns saques. Nosso estoque de prata está quase vazio.
— Claro. O Capit-... — Yu Chen interrompeu o que seria uma crítica pelos gastos exagerados que Zhan fez, para libertar Yibo do leilão e no tributo à Fenn Barba-Ruiva, mas o Capitão lançou-lhe um olhar tão sombrio que o pirata engasgou com sua língua e fechou o boca no mesmo segundo.
— Diga, Yu Chen. — Xiao se aproximou do Alfa.
— Eu ia falar que concordo com o nosso navegador.
— Vou falar com Ziyi. — Fanxing disse saindo da cabine.
— Zhoucheng — O Capitão se voltou para o contramestre — No próximo saque eu quero que leve Yibo consigo.
— Mas ele não sabe-...
— Leve-o.
Zhoucheng comprimiu os lábios, mas nada fez além de concordar com a ordem recebida.
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A taça que estava na mão do governador Wang Quon trincou, até partir em dezenas de pedaços de vidro. O sangue escorreu por seu antebraço, pingando no chão. O Comodoro acabara de lhe contar sua falha tentativa de resgatar o filho dele. Ao seu lado, estava o oficial que recebeu um tiro na mão, do próprio Yibo.
— Ele disse que agora é um pirata. — o Alfa informou — Que pertence a tripulação do Black Swan e... e que seu nome é Xiao Yibo.
— Ele o seduziu! — Wang rosnou, atirando no chão os cacos que restaram em sua palma — Yibo nunca faria algo assim.
— Saia. — Wen ordenou ao outro oficial e ele se retirou — Seu próprio filho disse que se entregou àquele patife. Nessas condições eu acredito que não tenho outra escolha, a não ser cancelar o contrato.
— Está dizendo que meu filho não é digno de você? — fúria exalava das feições do governador — É muita audácia da sua parte.
— Ele se entregou à outro Alfa, Senhor.
— Então eu sugiro que você procure outro emprego. Porque no momento em que desistir desse casamento e manchar a honra do meu filho, você será expulso da Marinha.
— Ele não me quer. — Wen ainda tentou insistir.
Ele era um Alfa que mantinha o mesmo pensamento arcaico que a maioria das pessoas de sua época. Para ele, um Ômega deve comparecer ao leito de núpcias ainda intocado. Mas Yibo além de ter entregue seu corpo a um outro Alfa, fez questão de mostrar o quanto estava orgulhoso daquele comportamento. Casar-se com um Ômega assim, era de extrema humilhação para o Comodoro.
— Yibo é um Ômega, ele não tem esse poder de escolha e nós dois sabemos disso. Ele vai se casar com você, eu responderei por ele diante do padre. Agora vá e encontre um jeito de conseguir trazê-lo de volta.
O Comodoro assentiu e saiu do gabinete, deixando o governador sozinho.
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Yibo estava sentado na proa do Black Swan conversando com o médico da tripulação. Após cuidar dos machucados do seu irmão, Ji Li ouvia feliz o depoimento do Ômega, sobre suas façanhas ao salvar Zhan e também, os momentos em que ficou perdido na ilha com o Capitão Xiao.
— Pirata Xiao Yibo, hm? Quem diria.
— Eu não sei porque disse isso. Eu nem sei como eu fiz aquilo tudo... — O Ômega respondeu sorrindo nervoso — Minhas mãos ainda estão tremendo, veja.
— Você foi muito forte. Salvou o nosso Capitão — Ji Li o elogiou — Parece que agora você é um pirata, não é?
O Ômega sorriu um pouco ruborizado, e ficou pensativo com a pergunta. Ele não se enganou a respeito dos piratas, eles eram sim Alfas e Betas cruéis e dispostos a tudo para obter riquezas. Contudo, ele tinha que admitir que aquela tripulação se distinguia das demais em alguns aspectos.
— Eu acho que é isso... — Yibo sorriu incerto, mordendo o lábio inferior. — Sabe, pode parecer um pouco precipitado, mas é como se eu estivesse começando a viver agora.
Yibo não tinha dúvidas do quanto amava o seu pai e também o irmão, entendia que tudo o que seu pai fez foi na intenção de que tivessem uma boa vida. Mas Yibo nunca se sentiu ele mesmo sempre que fazia de tudo para agradar o governador. Aquele Yibo era apenas uma peça que se movia de acordo com o que a sociedade exigia, e isso o deixava infeliz, embora escondesse tão bem. Agora, estava se sentindo livre pela primeira vez, para ser quem ele realmente era.
— E eu estou muito orgulhoso. — Ambos olharam na direção daquela voz, e viram Zhan se aproximar.
Neste momento, Zhoucheng também se aproximava da proa, e quando Ji Li o viu de longe, se levantou no mesmo instante. O Beta ainda estava chateado pelo comportamento prepotente do Alfa de semanas atrás. Ele se levantou no mesmo instante em que o Zhoucheng se juntou a eles.
— Tenho coisas importantes a fazer, com licença. — Ji Li saiu sem dirigir ao menos um olhar ao contramestre.
Zhoucheng olhou para seu Capitão e o mesmo deu de ombros.
— Você que lute.
O contramestre logo tratou de rumar para outro canto, ajudando alguns bucaneiros pelo convés inferior.
— Então, Xiao Yibo... — o Capitão se aproximou do Ômega e o abraçou quando uma rajada de vento forte os cortou — Está muito frio aqui fora, por que não vem me fazer companhia em nossa cabine?
— Estava pensando em algo...
— Conte-me.
Yibo desceu da mureta e encarou o Alfa de frente.
— Na noite em que fui levado pelo Barba-Ruiva até os aposentos dele. Eu vi Ômegas presos em seu quarto. Eu queria soltá-lo mas Cheng me levou para fora com ele...
— Embora seja um excelente espadachim, ele não seria capaz de salvar todos vocês. Assim que os soltasse, eles seriam capturados novamente.
— Mas eles estão presos e sabe-se lá os tipos de torturas que estão fazendo... eu quero salvá-los, Zhan.
— Estamos muito longe de Nabuco. A tripulação já decidiu que vamos passar pela rota dos comerciantes. — Yibo suspirou com tristeza — Mas assim que possível nós vamos voltar à Nabuco, e vamos libertá-los.
— Está falando sério?
— Eu lhe dou a minha palavra.
— Obrigado. — Yibo abraçou o próprio corpo, protegendo-se do vento gelado.
— Está frio. Vamos entrar.
— Ah, o Fan vai me mostrar como navegar seguindo as constelações.
Zhan olhou para cima, o céu estava bastante estrelado. Ele então retirou seu casaco e o encaixou nas costas do Ômega.
— Tudo bem. Mas fique com isso.
Yibo assentiu e o mais velho entrou.
Ele apertou o manto negro em volta do seu corpo, e inalou o aroma natural do Capitão que provinha dele. Era quentinho e cheirava a rosas. Fanxing, juntamente com Cheng se juntaram à ele e juntos aprenderam com o Beta, noções de orientação e navegação sem o auxílio de uma bússola.
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Na manhã seguinte, Yu Chen enxergou um navio mercante através da lente de sua luneta, no alto do mastro. Ele desceu eufórico e logo comunicou ao restante da tripulação.
— Vamos interceptá-los pela lateral. Se eles tentarem alguma coisa, conhecerão o fundo do Pacífico. — Xiao comandou.
Os piratas assentiram e conduziram as velas e mastros à bombordo. A experiente timoneira, girou o leme com habilidade e com extrema rapidez eles se aproximaram da embarcação mercante. Ao verem a aproximação do navio de velas negras, os tripulantes do navio mercante subiram bandeiras brancas, simbolizando sua rendição imediata. Assim, o Black Swan pôde se aproximar, sem a necessidade de descerem os botes. Pranchas foram dispostas através das duas embarcações, para levar os piratas até o outro lado.
Yibo seguiu na frente junto ao Contramestre. Alguns minutos antes, Zhoucheng havia lhe ensinado como falar com a tripulação e render todos os Alfas, desde os grumetes ao comandante. Zhan também fôra junto dessa vez, para ver como o Ômega iria se sair em seu primeiro saque.
Com a cabeça, Zhoucheng fez sinal para que o Ômega começasse.
Yibo engoliu em seco.
— B-boa tarde... — ele disse em voz baixa — Meu nome é-...
— O quê?! — um dos Alfas rendidos questionou forçando a audição.
— Não estou ouvindo nada. — um Beta adicionou.
— Fale mais alto. — Zhoucheng indiciou e o Ômega assentiu.
— Meu nome é Yibo! Eu quero as... as… eu...
— Você atirou contra um oficial da Marinha. — Zhoucheng o lembrou — Vamos, fale o que ensinei.
— Eu estou nervoso... — Yibo tentou engolir o nervosismo e suspirou, começando mais uma vez: — M-meu nome é Yibo. Eu-...
— Isso nós já ouvimos. — um Beta rendido disse com um tom de riso — Difícil vai ser saber o que a gracinha deseja se não p-parar de g-g-gaguejar — ele gaguejou forçadamente para imitar o Ômega, arrancando risos dos demais tripulantes.
— É — um Alfa concordou, entrando na brincadeira — F-fala logo d-d-de uma vez.
E todos os tripulantes da embarcação mercante caíram outra vez em uma gargalhada irritante. Eles pararam de rir ao verem o Capitão Xiao, que ainda estava sobre uma das pranchas, descer as escadas até o convés da embarcação.
Zhan se dirigiu ao Ômega e acariciou sua face, ignorando todos que os assistiam.
— Por que você não volta ao Black Swan, meu coração? — ele indagou com voz suave e um sorriso terno. — Ajude Fanxing a encontrar aquilo que procuramos, entre os pergaminhos que iremos mandar.
Yibo suspirou assentindo e retornou ao Black Swan. Assim que ele atravessou a prancha completamente e sumiu das vistas de Zhan, o Capitão levou a mão as duas adagas presas em seu cinto e voltou-se aos Alfas e Betas que estavam zombando do seu Ômega.
A tripulação do Black Swan ignorou os gritos de desespero que os Alfas e Betas da embarcação mercante exprimiam, enquanto levavam as cargas de valor. Eles tentavam manter suas bocas fechadas, outros tossiam engasgados com o próprio sangue, gemendo de dor. O chão, estava repleto com dezenas de dentes que foram arrancados de forma violenta pelo Capitão Xiao.
— Terminamos, Capitão. — Peixin informou, ignorando as lamúrias vindas dos rendidos.
Zhan limpou as lâminas de suas adagas que estavam sujas de sangue, na roupa de um dos Alfas e assentiu.
— Obrigado pela cooperação e não deixem de sorrir. — disse ironicamente, e logo após subiu nas pranchas para deixar o navio e retornar ao Black Swan.
Continua...
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