Capítulo XV: Poder e dever - Culpados

Duas horas depois do incidente no Umeda Sky

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O último raio caiu ao longe deixando um estrondo assombrar os bairros de Osaka. A chuva ainda despencava como uma névoa, menos intensa que há algumas horas.

Helicópteros iluminavam os andares destruídos e incendiados do Umeda Sky, numa parte quase inacessível, onde em meio a destroços de concreto, vidro e chamas, Simon tentava se regenerar. Sua armadura fora destruída na parte do peito, costas, ombro e braço direitos e ambas as pernas até metade das coxas. O que sobrou de seu traje havia sido quase carbonizado, e sua pele exposta foi queimada. O Coronel se debatia em grunhidos de dor ao chão.

Uma equipe de bombeiros tentava chegar em Simon, retirando com cuidado os grandes pedaços de concreto que o isolavam no andar. Ele podia os ouvir chegando, torcia para que chegassem logo, ele precisava de ajuda.

No passo em que o comandante conseguiu se pôr de pé, sua pele quase em cinzas retornava ao seu natural. Com dificuldade para respirar e ainda tonto atordoado, o soldado ouviu algo tocar por debaixo da pilha de destroços de onde saíra.

Com a visão esbranquiçada, não menos turva e um semblante tonto, Simon cambaleou ao caminhar até o som, caindo de bruços no terceiro passo. Após alguns segundos de descanso ele levantou um pouco o grande pedaço de concreto que cobria a origem do som.

Seu celular blindado, era o que tocava lá embaixo. Com um tomar apressado, o coronel pegou seu celular e viu quem chamava, atendendo em seguida.

*Inglês* — General Reese?!~ Sinto muito, General. A missão falhou, os vídeos provavelmente já vazaram a essa altura. — Disse Simon enquanto se sentava sobre as ruínas. Sentia uma intensa dor de cabeça.

*Inglês* — Eu sei disso. Mas se você teve ou não sucesso em sua missão, pouco me importa, eu só estou me envolvendo por que eu gosto de você, e para balancear o jogo, já que o Hynder resolveu interferir diretamente nos assuntos de vocês. Mas enfim, eu te liguei antes do seu superior encarregado para informar sobre uma nova informação. — Respondeu uma voz máscula e grossa.

*Inglês* — O que quer dizer com isso, Senhor? — Simon perguntou, recuperando seu vigor gradativamente. Sentia todos os seus sentidos melhorarem.

*Inglês* — No momento, descobri algumas coisas sobre o projeto da tríade, que você pode usar ao seu favor. —

*Inglês* — Sei... E o que descobriu?! —

*Inglês* — Você se lembra do líder da Yakuza, O Shogun? Ou deveria dizer... Kyoichi Kudo? — Disse o general sério.

*Inglês* — Pelo que eu sei, ele é um grande sócio do "esquema"... Não vai me dizer que essa merda é~?! — Simon questionou confuso e surpreso, e o general já começaria a o explicar...

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Enquanto isso, no distrito de Tobita Shinchi

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Max de repente acordou num susto após mais um curto pesadelo, porém apenas sentiu seu corpo despertar, pois sua mente permaneceu inerte. Paulatinamente seus olhos abriam, mostrando o ambiente ainda turvo a sua visão. Desorientado, ele ouvia uma voz familiar discutindo ao seu lado.

*Japonês* — ...Eu sei, não era pra ter acontecido. — Disse a voz.

Uma chieira se fez, parecia uma voz irritada saindo de um aparelho telefônico.

*Japonês* — Isso não importa agora, conseguimos as gravações, temos todas as provas que precisamos. — Falou a voz, seguida novamente pela chieira.

*Japonês* — Caso não se lembre, aquela certa situação nos forçou a adiantar o nosso plano. — Explicou a voz ouvindo os sons estranhos.

*Japonês* — Pode ficar tranquilo, querido irmão, vai dar tudo certo. — A voz disse e a chieira continuou.

*Japonês* — Vamos apenas dar continuidade, agora não tem mais como parar. — A voz finalizou.

O jovem tentou se levantar, mas sentiu seu fôlego falhar e travar sua respiração, além de uma extenuante dor de cabeça. Ele estava de calças jeans e também enfaixado no peito e no braço esquerdo.

Estava deitado ao lado de seu celular, que se punha acima de meias brancas e uma blusa preta de manga longa com capuz, numa cama grande e incrivelmente confortável em um quarto escuro, iluminado apenas por neons vermelhos acima da porta e pela luz amarelada e fraca de um abajur ao lado da cama, numa pequena bancada.

O quarto tinha paredes com ornamentos chiques, e o chão era de carpete, em seu interior estavam dispostos a cama, com um par de botas militares pretas a frente, uma cadeira almofadada e uma mesa tradicional japonesa "kotatsu hideki" e um pequeno e suspeito armário trancado, que cheirava a lubrificante.

*Japonês* — Então já acordou? — Disse Kyoichi, se sentando na cadeira e cruzando as pernas.

*Japonês* — ...O que aconteceu? — Max perguntou se ajeitando na cama.

*Japonês* — Do que você se lembra? — Shogun apontou.

Max pensou um pouco e disse:

*Japonês* — A última coisa que eu me lembro é de ter levado um... "golpe" do Simon. Lembro de ter sido jogado, mas nada além disso... Como me acharam? O Hynder falou pra você? —

*Japonês* — Óbvio, o Hynder tem rastreado todos os seus movimentos, caso não tenha percebido. Te achamos num beco a dois quarteirões do arranha-céu, você estava todo quebrado. Não devia ter lutado contra o Simon. — O Yakuza respondeu, surpreendendo Max.

*Japonês* — Acho que isso explica o meu estado. — Max afirmou.

*Japonês* — Hynder disse que sua regeneração funciona com base em uma espécie de "músculo extracorpóreo". Se você se ferir muito, tanto no externo quanto no interno, sua capacidade de se recuperar fica mais lenta, nesse caso você pode precisar de um médico. Ainda assim sua velocidade e capacidade regenerativa pode ser recuperada se você comer e beber, principalmente coisas naturais. Então eu tomei liberdade e pedi uma boa mesa de comida. —

*Japonês* — Como é q~!? — interrompendo Max, de repente, alguém bateu na porta.

*Japonês* — Ah! A garçonete deve ter chegado. — Disse o mafioso animado.

Então Kyoichi andou apressado até a porta e atendeu uma linda mulher japonesa de cabelos longos e pretos, olhos com lentes vermelhas.

Ela usava uma lingerie sexy vermelha, cujo a calcinha continha uma abertura que dava visão a sua lisa vulva, e pendurada ao lado da cintura havia uma chave com ranhuras que se encaixavam na fechadura do armário suspeito. Todo o traje exaltava seu corpo avantajado.

Ela entrou no quarto com o carrinho de comida e pôs os pedidos na mesa. Sushis de todos os tipos, frutos do mar, Yakisobas, Onigiris de vários sabores e carne de porco, tinha de tudo um pouco.

Após preparar o banquete, o Shogun agradeceu a mulher, que disse num tom depravado em seguida:

*Japonês* — O nosso convidado precisa de mais alguma coisa? — A mulher perguntou botando um de seus dedos sensualmente na frente da boca.

*Japonês* — Haha! O que acha, Fangs-Sama? Quer molhar o biscoito um pouquinho?! — Kyoichi riu animado em um tom malicioso.

*Japonês* — Valeu, mas não tô afim... — Max respondeu desconfortável, corado, e ocultando um certo local em sua calça, onde ocorria uma desordem.

*Japonês* — Tudo bem então, vou me retirar. — A mulher o cumprimentou e saiu do quarto fechando a porta.

Não muitos segundos depois disso, Kyoichi notou que Max o fitava confuso.

*Japonês* — O que foi? — O Yakuza perguntou.

*Japonês* — Que lugar é esse? — O garoto questionou.

*Japonês* — Um bordel. — Kyoichi falou de forma cômica.

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5 segundos de assimilação depois

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*Japonês* — COMO É QUE É?!!!!! — Max gritou embasbacado. Todos no clube se assustaram com o grito.

*Japonês* — Não vai me dizer que nunca entrou em um? —

*Japonês* — O que tem a ver o cu com as calças? Eu tô machucado, era pra estarmos em um lugar quieto e seguro, um hospital, um... Uma base secreta talvez, mas um BORDEL?! —

*Japonês* — Eu queria relaxar um pouco, ué?! Suas feridas não eram tão severas assim. Quer dizer, muitos dos seus ossos estavam quebrados e sua carne estava toda retorcida, mas você estava se recuperando, não precisamos de um hospital. Pensei que fosse gostar do lugar, as garotas são bem limpas, educadas, bonitas, fazem uma maravilha de boquete e também dão uma delícia de cavalg~ — Dizia Kyoichi se explicando cheio de razão.

*Japonês* — Certo, já entendi! Agora deixa eu comer! — Max o interrompeu tentando não desviar seu foco por vontades carnais.

*Japonês* — Claro, claro! — Kyoichi assentiu e Max não pensou uma segunda vez antes de cair de boca na comida.

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Alguns momentos depois

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Já vestido com a blusa e os sapatos, o moreno havia comido mais da metade da comida, se deleitando de um lámen, Max foi interrompido por Shogun, que começou uma conversa.

*Japonês* — Quando eu disse que talvez precisasse de medidas letais... Não imaginei que você fosse levar tão a sério... —

*Japonês* — Pra alguém que precisava da minha ajuda pra ir até o lugar, essas informações chegaram em você bem rápido... — Max comentou ainda de boca cheia.

*Japonês* — Se você está insinuando que eu tenho espiões, saiba que não é o caso. — Shogun retrucou.

*Japonês* — Então qual é o caso? — Max questionou confuso.

*Japonês* — Faz duas horas desde que te encontramos, nesse meio tempo eu consegui, por meio de terceiros, ameaçar a mídia a criar uma narrativa que corroborasse conosco, o que também deixou a "organização" a mercê da minha vontade quanto a esse desfecho. — Kyoichi explicou enquanto gesticulava os braços. — Sobre a sua questão. A mídia é sempre a primeira a saber da história toda para distorcer a realidade de forma que fique acreditável para o público e vantajoso para a "organização". No fim, acabou que um certo amigo de dentro dos jornais, o que me ajudou a ameaçar a mídia, me questionou como eu tinha conseguido alguém capaz de fazer aquela carnificina no complexo subterrâneo, e ele me mostrou as imagens... Honestamente, sua brutalidade é assustadora. — Shogun entrelaçou os dedos numa posição pensativa, disfarçando seu nervosismo perto de Maxwell.

*Japonês* — ...Porra, quanto mais eu sei, mais eu fico confuso... Como que é possível que façamos uso da mídia se a sua "organização" tem controle dela? Aliás vocês não têm nome não? — O moreno indagou.

*Japonês* — Pra começar, não somos NÓS, são ELES. Eu não faço parte deles, e eles não têm nome, bandeira ou brasão. — Kyoichi esclareceu.

*Japonês* — Saquei, não terem uma identificação torna muito mais difícil de notar sua presença. E quanto a sua... Não participação... Isso faz de você um sócio ou algo assim? —

*Japonês* — Se eu tivesse que chutar, na visão deles, eu sou apenas um recurso, nada mais. Pra mim, eu sou uma espécie de provedor fixo de serviços, mas está relação está prestes a mudar. — Shogun soltou.

*Japonês* — Mudar, é?... Tem a ver com o seu irmão? — Max citou num tom provocativo.

*Japonês* — Então você ouviu... Acho que amanhã você irá entender tudo. —

*Japonês* — *Tsc* E eu achando que você fosse tirar todas as minhas dúvidas... Mas voltando um pouco, você pode me dizer quem faz parte da organização? Ou quem manda nela? —

*Japonês* — Eles andam bem descuidados ultimamente, talvez você, que parece mais um filhinho perdido pra eles, descubra mais cedo ou mais tarde, mas eu não te devo essa resposta. — Shogun comentou pensativo.

*Japonês* — Pelo que eu sei, a maior parte deles me quer morto... Não sei quantos mais não querem isso além do Hynder. —

*Japonês* — Até onde eu sei, todo mundo quer matar você. Sinceramente, mesmo eu estaria atrás de você e seu grupo se não fosse a proposta que Hynder me fez. —

*Japonês* — Fala da tríade? —

*Japonês* — Também, tem muita coisa que você não entende, Sr. Fangs, como eu disse da última vez, o buraco é mais embaixo do que você acha que é real. Mas o que importa é que eu estou do seu lado enquanto você estiver no Japão. —

*Japonês* — Espero que saiba que eu não tenho tanta consideração por você, como você parece ter por mim. — O garoto disse num tom sério, um tanto ameaçador.

*Japonês* — Hum, você é realmente assustador, rapaz... Mas eu gosto dessa marra em você, me lembra de quando eu era jovem. —

*Japonês* — Quando você era jovem? Hum, você devia ser um pé no saco inconsequente. —

*Japonês* — Nada diferente de você, suponho. — O yakuza falou enquanto acendia um cigarro.

*Japonês* — Como é que é?! — Max engrossou a voz.

*Japonês* — Você também não pensa muito nas decisões que toma, Moleque. Se o fizesse não estaríamos aqui conversando, estaríamos? — Shogun olhou de rabo de olho enquanto dava um trago.

*Japonês* — Se tá falando do Simon, eu não tive escolha, o desgraçado é forte. Aliás você nunca mencionou que ele estava no estágio superior. — Max retrucou.

*Japonês* — ~Estágio superior?! O Hynder não falou nada sobre isso... —

*Japonês* — Que surpresa... Conhecendo ele da forma que conheço, a única coisa que vem na minha mente pra explicar isso é ele não ter essa informação, ou então ele queria que eu morresse... —

*Japonês* — Bem, receio que você esteja certo... De qualquer modo, ainda bem que tivemos um bom final. — Shogun murmurou demonstrando preocupação.

*Japonês* — Bom final, é?... espero dar isso pra aqueles moleques... E também até onde isso que eu fiz foi bom...— Max disse pensativo.

*Japonês* — Eu gostaria de poder dizer a você que foi algo bom... Mas o futuro é incerto, afinal, não me tornei Yakuza do nada. —

*Japonês* — Ah, é? E como foi que tu virou esse merda? — O garoto questionou curioso.

*Japonês* — Não é tão complicado. Comecei mais novo que você, fazia alguns bicos pra uma gangue. — Shogun contou.

*Japonês* — Hum, teu pai deve ter ficado orgulhoso. Mamou alguém pra subir na hierarquia, foi? — Max caçoou com escárnio.

*Japonês* — Não... Meu pai podia ser pobre, mas era honesto, ele se matou de desgosto quando descobriu, mas foi por causa disso que ganhei meu título, "Shogun". — Kyoichi parou um pouco, respirou, e então continuou num tom mais sombrio. — Naquele dia eu tinha sido preso preso... Não demorou para eu sair, e nada mudou quando eu voltei, nada exceto que... Eu não tinha mais que me preocupar em mentir pro meu pai. Nem eu, nem meu irmão. Então fizemos o que mais nos agradava depois, e com os amigos corruptos dele, os meus esquemas de golpes e assaltos levaram minha gangue ao topo, Há-há, tínhamos até influência nos sistemas de aliciamento e tráfico de Shibuya! Bons tempos! — O homem riu com nostalgia.

*Japonês* — Você me dá nojo... Mas isso era na gangue... Como tu entrou na Yakuza? — O moreno questionou.

*Japonês* — Bom, não sei se soube, mas em 1990 houve uma grande crise econômica. O lado bom disso pra mim foi que, com meu irmão no governo, foi possível criar de antemão um plano de crescimento e infiltração no mercado e na bolsa de valores. O lado ruim, foi que com o crescimento extraordinário da minha gangue, que já era grande, outras resolveram se aproveitar, o problema é que não era possível ter todos como aliados... As coisas se complicaram, e tudo acabou numa guerra por influência. — Shogun relembrava enquanto com uma careta rancorosa.

*Japonês* — E a Yakuza? Tua gangue foi aniquilada e o líder da época te recrutou, foi isso? — O mais jovem supôs.

*Japonês* — É, senhor Fangs... Você continua impressionante... — Comentou o Japonês. *Japonês* — Depois que mataram todos os meus amigos, eu pedi ajuda ao meu irmão pra me vingar. No fim, eu acabei quase morto com ele num estacionamento, mas como você disse, o líder da época me recrutou por causa das minhas particularidades... Então, agora estou aqui... E pode apostar que eu estou muito bem... Aqui... — Terminou com um olhar intimidante.

*Japonês* — Pra um verme como você, acho que isso é mais do que cê merece! Só espero que a sua "particularidade" faça todo meu esforço valer a pena. — Max provocou irritado, batendo seus hashis na mesa, agora, cheia de pratos sujos.

*Japonês* — Hum, os últimos escândalos devem deixar o governo do Japão bem ocupado, ainda mais com o que está por vir. Se for ficar por aqui, não acho que vai encontrar grandes problemas pelas próximas duas ou três semanas. —

*Japonês* — Entendo... Espera, o que você quer dizer com "o que está por vir"? —

*Japonês* — Você vai ver, amanhã a tarde, só espere! — Shogun exclamou de forma misteriosa.

— "Maldito! Você tava tão descuidado até alguns segundos atrás..." — Max pensou. *Japonês* — Hum, que saco! Se era isso o que tinha a dizer, então eu vou embora, tenho algumas coisas a fazer. — O moreno falou se levantando.

*Japonês* — Opa! Espera! Não vai perguntar o motivo de eu lhe contar meu passado?! — Shogun indagou se desestabilizando, esticando o braço.

*Japonês* — Humm, porque eu perguntei e porque você queria que eu soubesse o lixo que você é? — Max retrucou.

*Japonês* — Não acha que a história tem um aprendizado importante? —

*Japonês* — Pra falar a verdade, acho. Acho que pessoas decentes deviam dar mais valor a quem os pais foram. —

*Japonês* — É até um chute interessante, mas eu interpreto isso tudo de outra maneira: As vezes, a vida onde você vence, não é a mesma que você é orientado a seguir. Veja o que eu alcancei sendo parte da Yakuza, e olha o que você alcançou sendo um assassino... Você é uma lenda agora, tem noção da calamidade que o "Garoto da cicatriz" tem causado por aí? Você nasceu pra isso, garoto! E eu acho, que podemos ganhar muito juntos. —

*Japonês* — ...E eu ainda acho é você é um produto das merdas que fez, você é um câncer pra esse mundo, um lixo, um verme. Prefiro me matar a trabalhar pra você. — Rosnou com nojo balbuciado.

*Japonês* — É o sujo falando do mal lavado. —

*Japonês* — Como se você e eu estivéssemos no mesmo pacote... —

*Japonês* — Ah, é? Então... Porque você está aqui, falando com o chefe da porra da Yakuza?! —

*Japonês* — Deve ser porque em um momento eu fui fraco. Mas se eu fosse você, não me testaria agora! — Max arranhou a garganta demonstrando raiva em cada palavra.

*Japonês* — Você não tava brincando quando falou do apresso que tinha por mim... De qualquer modo, isso não muda que você está aqui por algo maior que você, algo corrupto, como eu. — Shogun Disse assustado, recompondo sua compostura ao final.

*Japonês* — Como você mesmo disse, você está do meu lado enquanto eu estiver no Japão. Quando essa aliança acabar, te mato se eu te ver de novo... — Max finalizou se dirigindo a porta.

*Japonês* — Ahr... Desisto, você é um porre de se convencer. Enfim, se gostar de alguma garota pode comer ela pra se aliviar, ou usufruir do diferencial deste estabelecimento e aluga-la por uns dias, não vai custar nada, você é um vip gratuito, só precisa dar um feedback na folha que ela te entregar quando acabar, enfim... — Shogun respirou e, pensando, retomou sua fala num pulo:

*Japonês* — Ah, e o Hynder pediu pra te avisar que os pormenores da volta de um amigo seu estão resolvidos, então vocês não devem ter problemas, só falem com a maior autoridade do lugar que ele tem que ir antes de tudo. Deve ter uma mensagem no seu celular... Era isso, até mais ver, Senhor Fangs. — Kyoichi se despediu pegando uma pequena garrafa em seu bolso interno do paletó e dando um gole.

*Japonês* — Espero que não! — O rapaz disse em um tom seco, batendo a porta, deixando o quarto.

Querendo esquecer aquela conversa, o moreno andou a passos nervosos pelo corredor de chão de granito preto polido e reluzente ao refletir os arredores, e paredes de madeira ornamentada, também era cheio de portas maciças de uma liga metálica branca que abafava o som do interior dos quartos. Pelo corredor ressoava uma música eletrônica calma, e iluminavam luzes roxas e rosas que se alternavam mescladas uma a outra, sempre mantendo a intensidade do roxo.

Numa saída mais a frente, Max alcançou o salão principal, repleto por uma tênue fumaça, com a mesma iluminação completada por um brilho rosa intenso, onde ficava o palco de piso reflexivo iluminado, repleto de garotas esbeltas e avantajadas, quatro ao todo, uma delas mais a frente, com os seios à mostra, sensualizando gloriosamente aos caras que a cercavam levantando animadamente maços de dinheiro.

Oposto ao palco, havia um bar, onde estava sendo grelhada uma costeleta de porco na roleta, e estavam dispostos sushis e aperitivos de vários tipos, além do enorme estoque de bebidas e drinks na parede atrás do balcão, que era separado do resto do salão por um vidro grosso, porém quase imperceptível, o que também separava o cheiro da comida do bar do cheiro lavanda e perfume afrodisíaco do resto do clube noturno.

Max sequer deu atenção à cena do palco, apesar de querer dar uma longa olhada, estava mais preocupado em achar a saída do lugar.

E nessa procura, uma meretriz de cabelos rosa, olhos com lentes azuis e aparência jovem e inocente, apesar do porte bem desenvolvido e avantajado, usando uma lingerie sexy e cavadinha, bem pra dentro, também com uma chave pendurada em sua calcinha, que exaltava sua bunda redondinha e sedutora com marquinhas de biquíni, esbarrou em seu braço esquerdo, derrubando uma bandeja de sushis em suas roupas.

*Japonês* — M~Me desculpe... E~Eu sou nova aqui... S~Se você quiser, eu poço te fazer um carinho como pedido de desculpas... — Disse a garota, corada, confusa e assustada, mas instintivamente esfregando sua mão nas regiões íntimas de Max enquanto massageava seu peito ao se aproximar casualmente, tentando manter sua compostura, e tranquilizar a situação, caso ele fosse um famoso "pavio-curto".

*Japonês* — O quê?! Não, valeu, eu só quero achar a saída. — Max respondeu nervoso, tirando calmamente as mãos da garota de seu peito. — "O que é isso?! Ela parece nova... Nova demais!..." — O rapaz pensava preocupado.

*Japonês* — Ahh... Entendo, a saída fica por ali, e me desculpe o incômodo. — A garota se afastou, apontou para o canto direito ao lado do bar, onde ficava uma porte de correr automática discreta, e se curvou com os braços rentes ao corpo em seguida, fazendo reverência.

*Japonês* — Sem problemas, e obrigado, moça... Antes de eu ir, permita-me tirar uma dúvida, quantos anos você tem? — Max disse em tom cortês.

*Japonês* — Eu tenho dezenove... Porque? — A menina indagou confusa.

— "Ufa! Ela é mais velha... Isso é bom... Mas isso é um bordel da Yakuza, será que ela está aqui por vontade própria?" — Max pensou aliviado por um lado, e preocupado por outro. *Japonês* — Porque você entrou nessa vida? — O garoto questionou de forma séria.

*Japonês* — Q~Que tipo de pergunta é ess~ —

*Japonês* — Por favor, me responda... — O rapaz suplicou de forma séria, tal qual fez a garota ceder por se sentir... Digamos... Afetada, de um jeito bom.

*Japonês* — Bem... Eu gosto de fazer sexo, sabe? Uma amiga que trabalha aqui disse que pagam bem, então fiz o teste e passei, agora estou aqui fazendo algo que eu gosto e ainda aproveitando pra receber uma nota por isso. Eu só estou meio nervosa por ser meu primeiro dia... Mas mudando de assunto, você tem certeza que não quer nada? Eu posso ser novata, mas sei cavalgar bem gostoso. E pelo que eu vejo, seu amigão aqui tá ardendo de vontade. — A jovem, mordendo os lábios, o abraçou sensualmente, com um olhar mortalmente atraente, enquanto apalpava sua genital gentilmente.

— "Ela foi... Franca demais..." — O moreno refletiu enquanto caia a ficha de que estava em um puteiro de luxo, além de entrar em desespero com a situação que se encontrava. *Japonês* — Ah, saquei... Olha, valeu moça, mas hoje eu tenho outros planos. E muito obrigado por me mostrar a saída. — Max, corado como uma pimenta, removeu seus braços gentilmente, se curvando em reverência sequencialmente.

Após a garota o reverenciar em despedida, nenhum dos dois disse mais nada. Então Max caminhou até a saída e se retirou do bordel. A menina ficou parada no mesmo lugar, com a mesma cara de paisagem.

*Japonês* — "Ele era tão gostoso... Não parecia japonês... E aquela cicatriz no olho, será que ele é alguém importante de outra máfia ou algo assim? Tenho certeza que eu teria um belo início de carreira se eu dormisse com ele... Mais ainda, me botariam no nível sênior!... Será que eu vejo ele de novo?" — A garota pensava mordendo os lábios.

*Japonês* — EI! Amiga, para de pensar na vida e vem comigo! Temos um ministro coreano bem ali sedento por uma suruba, só falta você pra completar oito, ele tá preso no país desde que essa baboseira de terroristas começou, e ele não vê a esposa a dias, então temos que dar um bom trato nele! Quem sabe ele não nos dê pontos o suficiente pra subirmos no ranking! — Outra prostituta, sua amiga, a chamou logo a puxando e tirando de seu transe...

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Max, após sair do salão principal se viu em outro pequeno corredor com luz rosa, dois seguranças de preto e armados guardando a entrada por onde saiu, e uma mulher, bem-vestida, sentada em uma pequena sala para dentro da parede esquerda, podendo ser vista apenas pelo vidro, que continha uma abertura retangular em seu ponto mais baixo, dando acesso a um compartimento que podia ser puxado pela mulher do outro lado. Era o guichê de entrada do bordel.

Ao final do corredor, ficava outra porta dupla automática, a saída. O rapaz cumprimentou a mulher, que devolveu o crédito, e logo em seguida se dirigiu a porta, deixando o estabelecimento sequencialmente.

O jovem suspirou ao sair, pensando com alívio e arrependimento ao mesmo tempo:

— "É cada uma... Como foi que eu rejeitei aquelas duas?! Elas eram tão... Se bem que, eu me recuso a perder a virgindade em um puteiro, eu num tô tão desesperado... Se bem que eu vou morrer, né?... Talvez um pouquinho..." — Max pensava abalado, lembrando do desastre majestoso que era sua vida amorosa.

Estava numa rua repleta de clubes noturnos, onde garotas de programa dançavam sensualmente com roupas quase ou totalmente transparentes nas vitrines dos outros estabelecimentos.

Uma fina cortina de chuva caía sobre o asfalto. Max se encontrava em uma rua que tangenciava outras três, sendo uma delas caminho para um pequeno corredor coberto, cheio de lojas.

De repente, duas viaturas policiais entraram na rua lentamente, apenas com faróis ligados e sirenes piscando. Ao estacionarem ao lado de um clube um pouco mais humilde e desanimado, dois policiais saíram de cada veículo, e adentraram, sem esperar muito no clube ao qual estacionaram logo a frente.

— "...Aqueles caras estão procurando o Hoku e o Satori? O Hynder é um fodido mesmo... Pelo visto aqueles dois costumavam passar por aqui... Hum, pelo menos é bom lembrar que a polícia ainda lida com problemas de verdade, de gente de verdade... É melhor ir embora." — Max concluiu enquanto os observava do topo do prédio de três andares que era o bordel de onde saiu.

O garoto se virou e caminhou até a outra borda, vendo a cidade, a surpreendente destruição no Umeda Sky ao longe, que queimava em ruínas, e também os vários helicópteros que sobrevoavam seus entornos.

Então se lembrou da notificação que recebeu sobre Aki, e abriu o celular, buscando a mensagem de Hynder.

"Aki se perdeu depois que pegou o ônibus errado, foi encontrado em Hida algumas semanas depois. Sua morte foi declarada com equívoco, o corpo na verdade era de outra vítima". Era o que estava escrito. Então ao terminar de ler, guardou o dispositivo e seguiu retornando ao apartamento.

Ao começar a saltear de volta até o apartamento de Aki, com a bela visão da Osaka noturna, da brilhante torre de Tsuntenkaku, e do castelo de Osaka onde selou aquele acordo, Max refletiu fortemente sobre os últimos acontecimentos... Sobre seus sentimentos... Ele sabia que havia algo fora do lugar, mas não entendia o que era, e tinha medo de descobrir.

Era notório esse contraste... De um olhar quieto, frio, mas ardente, como uma revolta, um grito, um berro de fúria e desespero... Para ele, não era nada simples lidar com a dualidade em seu coração, e mais ainda com seu turbilhão de sentimentos... Como uma enorme e devastadora tempestade, uma trágica calamidade.

E no fim, mesmo dando seu sangue para não pedir socorro... Ele sentia que estava sozinho para lidar com isso, sem ninguém ao seu lado... Ou talvez não... Talvez fosse só um peso que ele mesmo criou em seu próprio mundo... Mas ele não podia arriscar envolver mais ninguém, não queria... O problema era que as alternativas estavam ficando escassas.

Ainda assim, mesmo que temporariamente, ele decidiu seguir seu caminho triste e solitário, apenas lutando com ardor para cumprir seu objetivo, e no final ter sua morte, sombria e vazia, com a escuridão a qual ele estava abraçado...

Se aproximando habilmente do apartamento, para não ser visto por nenhuma aeronave, o garoto viu Yan o fitar com um olhar preocupado ao passar a curva do prédio em frente a residência de Aki.

Foi então que ao chegar na varanda, molhado e olhando de maneira distraída, Max apenas acenou cumprimentando Yan, que já vestia sua nova e limpa regata branca, enquanto ia direto para a porta.

— Ei! Espera aí! O que aconteceu?! Porque tem vários helicópteros voando por essa região?! Tem tanques parados a nordeste daqui também!... E porque que você tá cheirando a sangue fresco e... Perfume... Que perfume estranho é esse? Parece que afeta os sentidos. — Yan indagou confuso, segurando o braço direito de Max.

— O cheiro de sangue é da briga, o perfume... Do clube de strip... — Max admitiu, relutante ao finalizar a frase.

Ambos se viraram e foram até a sacada e andaram até lá.

— Você tem que controlar a sua violência, car~ Opa! Como é?! Clube de strip?! Você parou pra~?! — Yan comentou se engasgando com a outra novidade.

— Não, porra! Eu levei uma surra feia, e me jogaram do alto de um arranha-céu, daí uns capangas do Shogun me resgataram, só que ao invés de me levarem a um hospital, me levaram 'prum bordel... Mas independente disso, o importante é que eu resolvi a nossa situação. — Max afirmou se apoiando no guarda peito.

— Isso é bom, mas e aí, o bordel era tão triste e melancólico como falam?... Espera, você desse que levou uma surra ou foi impressão minha? — Yan perguntou assustado e não menos desacreditado, com uma gota nervosa de suor escorrendo por sua testa exaltando sua preocupação.

— Era um puteiro de luxo, Yan, as garotas de lá devem gostar do que fazem, afinal, não acredito que se alcança o topo com mera atuação, o clima era bem tranquilo por lá, apesar de ser o tipo de lugar que pessoas vão pra saciar necessidades corporais... Não existem relações lá... Só vontades vazias... E sobre a surra, sabe aquele tal de Simon Kurt? Me encontrei com ele. O cara me quebrou inteiro, e os poderes dele... Se parecem com o seu, mas tem alguma coisa diferente, parece que o ar só obedece as alterações que ele faz por causa da física... Tipo um efeito secundário, ou algo assim. — Max falou com desgosto estampado no rosto.

— Entendo... Olha, eu estou sentindo que você não quer falar sobre isso, então vou mudar de assunto. Você descobriu alguma coisa interessante nisso tudo? — Yan perguntou meio sem graça.

— Eu só tô meio cansado pra contar essa história em detalhes, mas valeu, Yan, falo melhor sobre isso amanhã, vai ser bom criarmos uma estratégia pra vencer ele. Sobre o que eu descobri... Se eu for analisar os fatos que temos, podemos deduzir mais ou menos como funciona a organização, eu acho. — Max disse animado.

— Tô vendo que sobre isso você quer falar. — Yan levantou o astral.

— Bem, pra começar, temos a "organização", a máfia, a mídia e o governo. Pelo que eu sei a organização está entranhada no governo, mas não tem nome ou identificação, a partir daí temos duas principais teorias possíveis: A primeira, é o próprio governo, ou pelo menos os membros do mais alto escalão serem a própria organização, o que mudaria o termo para "esquema". A segunda, é a organização ESTAR no governo, e agir de forma independente, porém ainda o controlando, como eu pensava, sendo assim uma conspiração. Pelas informações que eu tenho, também dá pra ver que nenhum dos integrantes é necessariamente amigo um do outro, já que todos os poderosos parecem estar tensos e jogando uns contra os outros na situação atual. — Max explicou pensativo.

— Certo... Mas e a máfia e a mídia? —

— A máfia é como um sócio, podendo agir de maneira independente desde que não os envolva diretamente ou os prejudique. A mídia também não é diferente, mas é bastante provável que haja algum tipo de estrutura hierárquica dentro dela, tão complexa quanto a máfia, pra balancear os riscos quanto a informações sigilosas... O mais confuso até agora tem sido o pessoal da segurança pública... Não acho que todas as agências estejam envolvidas, mas aparentemente eles não podem agir de forma independente como a máfia ou a mídia... — O moreno esclareceu tendo um pensamento que poderia facilmente ser aplicado de forma generalizada numa visão comum.

Mas pelo fato de sido treinado pelo exército, embora tivesse crescido num país como o Brasil, o rapaz insistia e confiar mais na segurança, a acreditar que haviam coisas boas ainda...

— Entendi! É por isso que eles ainda procuravam a tríade, né?! A máfia tinha uma operação separada. —

— Também. Mas vou ser honesto, com relação ao Shogun, tô achando que isso vai dar merda... —

— Eu sabia que não era uma boa ideia confiar em um mafioso... Mas fala aí, porque? —

— Se você "sabia" tanto por que não falou nada?!... Ahr, esquece. Acontece que o irmão do Shogun aparentemente tem um envolvimento importante nesse rolê, não sei qual, mas se eu tiver que chutar, ele é do governo, julgando pelos claros benefícios do Shogun. E além disso também tem a tríade... O que caralhos eles estavam fazendo aqui?! Com certeza não tem nada a ver com a "organização", já que eles próprios estavam procurando por eles... Pode ter sido coisa do anjo da guarda mas, se fosse ele, não teria sido o Shogun a dar essa informação, e mais, o shogun parecia já ter algo arquitetado contra os chineses, então... —

— Pera, tá dizendo que o Shogun pode estar envolvido com a tríade, e tudo que aconteceu pode ter dado influência política pra ele?! — Yan ficou embasbacado.

— Infelizmente sim, mas ele não vai fazer nada contra a gente por enquanto, não enquanto estivermos no Japão, aliás a gente deve ficar livre de confusão pelas próximas duas ou três semanas dentro do país, se continuarmos aqui, já que vai ter um monte de merda pra limpar e burocracia pra resolver... Isso e eu nem tenho certeza sobre a parte política da minha teoria. — O jovem disse dando um leve sorriso orgulhoso.

— Ai graças Deus... Haha! Eu não acredito! Pelo menos uma coisa boa. — Yan riu aliviado, se jogando no chão.

— O que foi? — Max indagou sorridente, mas curioso.

— ...Como eu posso dizer... Olha, Max, eu posso até ter feito tudo que eu fiz ontem, e você está certo, sobre tudo... Mas eu não posso mentir, eu não aguento mais isso, Max. Toda a carnificina desenfreada... E não só eu, a Mia também, e as crianças, então fico feliz que agora vamos ter um pouco de descanso. — Yan falou desabafando sua preocupação, se sentando ao chão e em seguida se deitando.

— Hm, saquei... — O moreno fechou a cara, voltando o rosto para a cidade coberta pela fraca chuva.

— Que foi? Você estava assim também? — O monge questionou.

— Na real, não, é isso que me preocupa... Eu acho que eu estava... gostando até, sei lá, de um jeito estranho. — Max baixou a cabeça em um tom ressentido.

— Maxwell, eu já estou a algum tempo com você, mesmo assim eu não te conheço direito, mas francamente, você é um cara violento... Eu agradeço, agradeço de verdade por me salvar daquele navio e também agradeço pelos outros, principalmente o Harry... Mas Maxwell... As vezes, eu acho que só o que há em você, é Guerra... Não, ódio e egoísmo, disfarçados de altruísmo e desculpas morais. — Yan falou de forma séria e ríspida, ainda respeitosa, encarando Max nos olhos.

— Você pode achar o que quiser, Yan... Você não vai entender. Mas se quiser compreender um pouco de mim, é só não esquecer: Si vis pacem para bellum. — Maxwell olhava para o nada com uma expressão serena, mas caída, quase sem vida. O monge notou seu recolher.

— Eu é... Isso tem algo a ver com a cicatrizes? — Yan perguntou temendo a resposta, encarando a nuca de Max enquanto deitado. Claro, Yan não fazia ideia do que Max estava falando, mas o tom do mais velho o fez sentir um arrepio, o mesmo que teve ao ver as marcas espalhadas no corpo de Max.

— Não totalmente, Yan, não totalmente...— Max o encarou de volta.

— Erm, eu não sei se ajuda, mas, se você quiser conversar... Eu~ — Yan levantou de prontidão.

— Relaxa, Yan. Eu tô bem, só preciso enfiar a cabeça no lugar certo. Ainda mais agora, que tá tudo se acalmando. — Max interrompeu Yan o tranquilizando, logo então se inclinando a porta.

— Okay. O sofá tá livre, se quiser dormir um pouco. — O monge apontou o seguindo com os olhos.

— Com certeza eu vou, depois de um banho, é claro. Onde cê  deixou minhas roupas? — O cicatrizado bocejou.

— Estão no quarto do Aki. E tem uma toalha extra no banheiro, é pra você mesmo. —

— Certo, vou pegar elas e tomar meu banho. — Max disse indo até a porta.

— Ah, e Yan... Os pormenores da volta do Aki estão resolvidos, então se ele quiser ir pra escola mais tarde, vai com ele e fica de olho, só lembra de falar com o diretor antes, e se alguém perguntar, as informações da morte dele foram um grande equívoco e na verdade ele se perdeu depois de pegar o ônibus errado, valeu? E acharam ele em Hida. Ah, e lembra, se ele se meter em confusão alguém pode se machucar feio. E eu não posso ir, considerando que minhas cicatrizes chamam muita atenção. — O moreno falou cansado, bocejando, enquanto abria a porta.

— Pode contar comigo! — Yan disse inspirado, quase gritando de animação pela nova tarefa... Na verdade, algumas horas antes, ele, Mia e Harry haviam planejado a volta de Aki para a escola sem que mais ninguém além do garoto soubessem, então não era bem "nova". Mas no final das contas, esta ideia, partia do mesmo fim que a de Maxwell: Evitar transtornos com os novos poderes do garoto.

Max adentrou o apartamento escuro, onde o grupo dormia profundamente em cima de lençóis no chão da residência, usando os próprios braços de travesseiro. De exceção havia Harry, que dormia sentado ao lado do sofá.

— "Logo vão poder dormir em suas camas de novo." — Max pensou, sorrindo de levemente numa expressão mansa, se reconfortando ao ignorar completamente o desconforto de sua experiência com Simon.

Logo então o jovem se encaminhou ao quarto de Aki a passos discretos e silenciosos, quase inaudíveis. Se pondo para dentro com cautela ao abrir e fechar a porta.

Suas roupas estavam em cima de uma grande mala preta no canto do quarto. Uma blusa preta simples, junto de calças jeans e botas táticas também pretas, e também uma escova de dentes branca com uma capinha e um adesivo escrito "Max".

O jovem já pegava suas vestes, tudo em silêncio, quando de repente, um gemido amedrontado junto de um choro genuíno veio da cama, onde Mia deveria estar dormindo.

Max largou as roupas imediatamente, e num pulo impulsivo o garoto já estava ao lado da doce menina, que chorava desesperadamente em contorções, se destapando por completo.

— Mia? — Ele sussurrou próximo a seu ouvido para não assustá-la em seu despertar.

Mas não deu em nada. Mia continuou dormindo enquanto chorava e se revirava na cama, a garota tinha um pesadelo.

Sem saber muito o que fazer, Max tocou no ombro delicado de sua amiga, e para sua surpresa, seus leves gemidos de medo foram se acalmando, e suas lágrimas diminuindo.

Max subiu sua mão pelo pescoço e rosto de Mia, sentindo cada emissão de seu calor corpóreo agradável, até que chegou em sua testa, começando a afagar leve e afetuosamente sua testa e seus cabelos.

Mia foi se acalmando até que parou de vez com o choro. Max apenas a observava preocupado e com pena, se sentindo mal pela garota.

Quase um minuto após se acalmar, Mia parecia dormir profundamente, então o moreno cicatrizado afastou sua mão calmamente, deixando a garota pacificamente.

Em seguida, Max a tapou afetuosamente, com cuidado. Vendo que ela estava bem, ele a deixou no quarto levando consigo as roupas que fora buscar.

Antes que tomasse banho, Max deixou a bota em posse de Yan, já que ele tinha conseguido outro par com Shogun, o monge ficaria melhor com as botas do que com seus tênis.

— O que estava acontecendo com a Mia? — Yan perguntou logo antes de Max reentrar no apartamento.

— Ela teve um pesadelo eu acho, mas ela está melhor agora. — Max esclareceu.

— Entendo... Valeu. — Yan agradeceu cabisbaixo, deixando que Max fosse, finalmente, para o chuveiro...

Após relaxantes minutos, Max terminou de tomar seu banho, e estava a colocar sua blusa, quando percebeu o enorme hematoma em seu peito, que ele sequer reparou quando retirou suas ataduras.

— "Cacete..." — O rapaz refletiu sobre o quão perigoso Simon era.

Deixando essa comoção de lado, Max terminou de se vestir, prensou suas ataduras, que estavam acima da tampa do vaso, numa bola e as jogou no lixo.

Logo depois o garoto olhou a pia, viu um copo grande com defeito escovas de dente brancas dentro, todas com capinhas e adesivos com os nomes de seus donos, pasta de dente usada ao lado. Assim ele a pegou e colocou em sua escova, limpando os dentes com ela em sequência.

Saindo do banheiro, o moreno passou novamente na varanda, deixando sua nova blusa e também calça jeans para secar em cima do guarda-peito, dando boa noite a Yan, e indo direto até o sofá posteriormente.

No momento em que ele pôs sua cabeça a braçadeira numa posição confortável, o choro de Mia novamente ressoou do quarto.

Sem fazer drama, Max se dirigiu ao quarto. E lá fez novamente carinho na testa de Mia, acalmando-a de novo.

No entanto, logo que tirou a mão de sua testa, Mia retornou ao seu estado amedrontado e trêmulo.

Então Max segurou sua mão de maneira confortável, e se sentou enquanto via a garota sorrir sutilmente conforme o tempo passava.

— "A mão dela... É muito macia, meu Deus, parece uma almofada!" — Maxwell pensou quase delirando com o quão gostoso poderia ser apertar aquela mão.

E assim ficaram, até que Max finalmente caiu no sono, e assim como Mia, passou uma ótima noite sentado, sem pesadelos ao menos...

.

Já na manhã seguinte, às 06:30

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Hayato e Fumiko terminavam de se ajeitar na pressa, logo após se levantarem pela manhã, enquanto ouviam as notícias do jornal, que anunciava o fim dos atos terroristas no Japão.

*Japonês* Nesta madrugada de Segunda-feira, dia onze de maio, os membros da Equipe Provisória Internacional de Combate Antiterrorista, a Intrepid, realizaram uma intervenção no arranha-céu Umeda Sky Building, que controlou a calamidade terrorista no país. O grupo pertencia à Tríade, e não deixou claro os motivos por trás do ataque. Mas as autoridades estão investigando este ataque a fundo, agora que existem dados reais para analisar, e ao que  tudo indica, as atividades dos criminosos já estavam sendo realizadas em território nacional. Havia um complexo subterrâneo abaixo do Umeda Sky, que abrigava equipamentos usados na fabricação dos explosivos, cinquenta e quatro pessoas em estado de vida análogo à escravidão, que infelizmente padeceram durante o avanço da Intrepid, e mais de trinta caixas cheias de bombas C-4, que continham uma substância experimental chamada "R-XL0", capaz de ampliar o raio de impacto da explosão. Não temos detalhes sobre as propriedades da substância, mas ela estava sendo desenvolvida pela empresa de desenvolvimento tecnológico financiada pelo governo "TOSHISO Industries", a qual o CEO, Hidetaka Toshiso, negou envolvimento direto ou ativo com os criminosos, porém ele está sob uma investigação pesada. Os outros materiais para a fabricação dos explosivos chegava pelo porto de Osaka, transportadas por um navio de carga que, por sorte, afundou na tarde de ontem graças a uma falha técnica, as provas foram apreendidas pelo grupo de forças especiais, o SFG. Sobre os invasores do aeroporto, era um pequeno grupo composto por vinte algozes, e todos tiveram suas baixas confirmadas, entretanto ainda não se sabe o porquê de eles atacarem de fora quando outros dos seus aliados já operavam em solo nacional. A suspeita é de que eles seriam algum tipo de distração. O exército e as entidades federais ainda investigam nomes influentes no governo e no campo empresarial externo. O Primeiro-Ministro, Hiroshi Watanabe, se recusa a fazer qualquer pronunciamento. As relações com a China estão tensas, e tendem a piorar a depender do desenrolar deste caso. A respeito do horário escolar e de trabalho, tudo voltará ao normal, com exceção dos portos marítimos e aéreos, estes permanecem interditados. Voltamos com mais informações após o intervalo. — Finalizou a repórter.

E assim, Hayato desligou a televisão enquanto se vestia com uma calça social marrom com cinto preto, uma blusa social branca junto de uma gravata vermelha, um paletó também marrom e sapatos sociais pretos, além de pegar sua pasta executiva de couro.

Fumiko punha seu vestido formal e sua jaqueta de escritório, ambos brancos, e pegou sua bolsa de couro sintético amarelo.

Ao saírem do quarto foram imediatamente até a porta da varanda, buscando Max, mas encontraram Yan ao invés disso.

*Japonês* — Ué?! Onde está o Fangs? — Hayato questionou em voz alta com um olhar confuso enquanto olhava de um lado para o outro.

*Japonês* — Querido, o nome dele é Max. — Apontou Fumiko.

*Japonês* — Eu sei, amor. Mas nosso filho chama ele assim, então eu chamo também... Bom, tanto faz. — Hayato respondeu abotoando seu paletó.

*Japonês* — Ei, Yan! Bom dia, por acaso você sabe onde o Fangs foi? Além disso, acho que também não vi aquela menina, a Mia, lá dentro... — O pai de Aki perguntou ao monge educadamente.

— "Ele disse 'Fangs'?... Ele parece procurar alguém... Eu não entendi mais nada do que ele disse, mas acho que sei o que ele quer..." — O monge refletiu após escutar Hayato.

*Chinês* — Ele está no quarto. — Disse Yan, apontando na direção do quarto de Aki.

*Japonês* — Há! Quem diria que ele entenderia! Muito obrigado, rapaz. — Hayato agradeceu, se curvando a Yan, junto de sua esposa.

Yan se curvou de volta em reverência, e logo ambos, Hayato e Fumiko foram até o quarto de seu filho, onde se depararam com algo inesperado...

*Japonês* — POSSO SABER O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO?! — Hayato gritou ao ver a cena:

Max e Mia deitados um do ladinho do outro.

Mia, com o cabelo todo desarrumado e roupas reviradas, pincipalmente seu suspensório desabotoado e camisa levemente esgarçada, jogada ao lado de seu ombro deixando um decote casual, tudo amarrotado, e ela abraçava calorosamente o braço do moreno ao seu lado, que estava com o cabelo todo bagunçado e roupas mexidas amarrotadas e puxadas, seu abdômen estava a vista.

Os dois jovens abriram os olhos no susto, quase pulando da cama, e ao encontrarem seus olhares, ambos paralisaram, corando paulatinamente cada segundo enquanto se encaravam.

— O~O~O~O q~quê que tá acontecendo aqui? — Mia perguntou gaguejando e confusa, ainda agarrando o braço de Max.

— É que v~você estava tendo um pesadelo essa noite... Eu~Eu só segurei sua mão, eu juro que não me deitei com você. — Max se explicou envergonhado.

*Japonês* — ATÉ EU ESTOU IRRITADA! Vocês fizeram... "Aquilo", na cama do meu filho?! — Fumiko questionou em um tom de decepção, adentrando o quarto.

*Japonês* — QUÊ?! Não! Eu estava sentado aqui do lado quando eu dormi! Eu só fiquei aqui porque a Mia estava tendo um pesadelo, e se acalmou quando eu apertei a mão dela. — Max esclareceu desesperado.

*Japonês* — Como assim?! Eu já estava na cama?! — Mia indagou perdida.

*Japonês* — Eu te coloquei aqui antes de sair. — Max explicou rapidamente.

*Japonês* — Espera, "sair"? Pra onde você foi? — Hayato perguntou.

— Que gritaria toda é essa? — Yan surgiu.

— Então... — Mia corou mais do que já estava, escondendo o rosto entre os cabelos.

Yan não pediu mais informações, vendo Max e Mia sentados na cama juntos o monge pôde imaginar o que estava acontecendo, então apenas disse:

— ...Entendi. — E logo Yan saiu do quarto, deixando o clima de constrangimento maior ainda.

Hayato e Fumiko se acalmaram, mas continuaram com uma grande dúvida, que também valeu para Mia.

— Você foi onde mesmo? — Mia perguntou, se pondo de pé.

*Japonês* — Certo, por onde eu começo... — Max coçava a nuca, sentando direito na cama...

Após contar tudo o que ocorrera a noite, omitindo alguns pequenos detalhes desnecessários, como o clube noturno. Mia, Fumiko e Hayato ficaram espasmados, isso por vários motivos.

*Japonês* — Espera aí, como disse?! Você matou quantas pessoas?! — Fumiko perguntou boquiaberta e pálida, não menos que Hayato.

*Japonês* — Essa merda deu influência política a um Yakuza?! — Hayato questionou eufórico.

*Japonês* — Tinham crianças lá?! — Mia lacrimejava desacreditada, com o semblante mais triste que ela demonstrou a Max até aquele momento.

*Japonês* — Como eu disse, só quem deve ter sobrevivido, fomos eu e aquele Simon Kurt... Não consegui salvar ninguém, e quando vi já tava coberto de víscera dos filhos da puta... E sobre o lance da política, Hayato, não posso provar, mas acho que sim. — Max esclareceu.

Fumiko, assustada com a resposta de Max, o encarava com medo estampado na cara. Mia desanimada por saber das trágicas mortes inoportunas que Maxwell presenciou. Hayato, preocupado, queria respostas, buscando uma forma de lidar com tais informações.

*Japonês* — Se o irmão do Yakuza estiver mesmo no governo? Tem ideia de quem seja? — O Sr. Aburaya indagou.

*Japonês* — Pra falar a verdade, não. Mas se for deve ser alguém de algum cargo alto, considerando os privilégios do Kyoichi. — Max arrazoou.

*Japonês* — Pode até ser... Será o Primeiro-ministro adjunto? — Hayato se aproximou calmamente de Max, botando pilha no debate.

*Japonês* — Não, deve ser um cargo um pouco mais baixo... Não precisariam dessa macaquice toda se o tal irmão do Shogun fosse a porra do adjunto. —

*Japonês* — Espera, "Shogun"?! É com ele que você tem trabalhado?! — Hayato se exaltou, irritado.

*Japonês* — Querendo matar ele a todo momento, mas sim. Pera aí! Tu conhece ele?! — Max também se exaltou.

*Japonês* — Meu pai era policial, prendeu ele uma vez. — Hayato falou com desgosto.

*Japonês* — ...Saquei... Seu pai mora na cidade? — Maxwell indagou num tom amigável.

*Japonês* — Ele foi assassinado pela ex-gangue daquele filho da puta! E nem pense em ter pena, vamos sair desse assunto! — O pai de Aki respondeu estressado.

*Japonês* — Meu Deus, sinto muit~ Tudo bem então... Continuando, se o irmão do Shogun for mesmo do governo e estiver em um cargo alto, provavelmente é um senador ou um ministro, talvez...? — Max disse pensativo.

*Japonês* — Seu raciocínio é impressionante... Mas acho que ainda tem muitas possibilidades. Existem algumas lacunas vazias que podem mudar muita coisa. — Fumiko comentou como se estivesse totalmente imersa naquela "investigação".

*Japonês* — Tem razão. — Max e Hayato concordaram em uníssono.

*Japonês* — Então isso é tudo que temos? — Fumiko questionou.

*Japonês* — Pelo visto, sim. Não acho que vamos descobrir algo aqui debatendo, temos que lidar com fatos. Acho que vamos ter que esperar o jornal da tarde se quisermos descobrir. Embora eu gostaria de já ter a resposta em mãos. Honestamente, essas mentiras e segredos deles me irritam pra caralho... Hm... Talvez eu não seja tão diferente, se eu parar pra pensar~! — Max murmurou em altos pensamentos.

*Japonês* — Erm... Max, desculpe interromper... Mas já que chegamos em um "beco sem saída" nessa conversa, a gente pode conversar um instante? — Mia indagou um pouco corada, tocando o ombro do garoto suavemente.

*Japonês* — Claro, Mia. O que voc~ —

*Japonês* — Olhem, me desculpem a intromissão, mas eu preciso falar com ele primeiro... A sós, de preferência. — Hayato os interrompeu com uma expressão séria.

*Japonês* — Certo, eu vou ver o que tem pra fazer... Posso fazer o café, Senhorita Fumiko? — Mia concordou, olhando para a esposa de Hayato.

*Japonês* — Claro, querida. Eu vou te ajudar. — A mãe de Aki se animou, já indo em direção a porta.

As duas, Mia e Fumiko foram para cozinha e sem muita conversa começaram a cozinhar. A turma que dormia despojada no apartamento, o fazia profunda e pesadamente. Maxwell e Hayato foram até a varanda, com cuidado é claro, para não tropeçar em ninguém.

— Ai, Yan. Você pode nos deixar a sós, por favor? — Max fez o pedido educadamente.

— Ah, claro. Sem problemas. — O monge que vigiava a cidade coberta por uma fina camada de chuva assentiu, entendendo a situação. E em seguida se pôs adentro.

— Ah, e aquilo não era o que você tava pensando! — Disse Max, vendo Yan entrar e dar uma leve risadinha maliciosa.

Hayato se apoiou na sacada, onde chamou Max para se apoiar também, e assim, poder dizer o que queria.

*Japonês* — Sobre o que quer conversar? — Max começou, ficando de bruços na sacada.

*Japonês* — ...Eu sei que tenho sido... Impertinente, pra vocês... — Hayato falou num tom sério e amargo.

*Japonês* — Não discordo. — Max comentou.

*Japonês* — Acontece que pra mim isso tudo é difícil de digerir... Primeiro meu filho desaparece... E depois de duas semanas procurando disseram que acharam uma dupla de assassinos e os corpos de suas vítimas carbonizados, e junto deles havia o corpo de um único menino... Todas as provas apontavam para eles, e tudo dizia que aquele corpo carbonizado era do meu filho... — Hayato caia em prantos, não tinha lágrimas, mas era notório seu choro.

Maxwell apenas o observava e escutava, com um olhar distante, perdido em tristeza, raiva, ódio e sede por vingança... Todas emoções intensas, que não passavam de fogueiras corruptas para aquecer seu coração estilhaçado.

*Japonês* — Eles tiraram meu amor, meu orgulho e minha dignidade como pai... Bem, não posso negar que virei um marido ainda pior... É só olhar pro estado raquítico, pra não dizer subnutrido da minha mulher. — O Sr. Aburaya dizia enquanto tentava segurar o choro e Max o olhava com uma expressão entristecida com lampejos de raiva, observando a estrutura raquitica do homem. *Japonês* — Sabe, quando você apareceu, e disse que meu filho estava vivo... Eu tenho que confessar, demorou um pouco até cair a minha ficha, mas... Eu não sabia o que pensar... Embora agora eu tenha que lidar com o fato de que tudo que eu acreditava, que eu seguia e confiava é mentira... —

*Japonês*Vermes... É o que são... Por isso eu os mato, e vou continuar matando enquanto eu puder... — Max balbuciou num tom agressivo, quase capaz de matar quem escutasse.

*Japonês* — O quê?! — Hayato indagou num soluço, engolindo o choro, visto que não entendera uma palavra sequer.

*Japonês* — ...Nada... Mas porque exatamente você está me dizendo isso? — Max respondeu mudando seu humor bruscamente.

*Japonês* — Bem... Pode ser egoísta da minha parte, mas... Eu... Gostaria de te pedir algo... N~Não é segredo pra ninguém que eu não sou o melhor pai do mundo, nem o melhor marido, afinal, não cuidei da minha esposa, nem consegui proteger meu próprio filho, ha-ha... — O Sr. Aburaya soltou numa mansidão pesada, como se demonstrasse sua tristeza e culpa.

*Japonês* — Tudo bem, pode fazer seu pedido... — Max aprovou com um olhar, agora, sincero e tranquilo.

*Japonês* — V~Você... Eu imploro... P~Por favor... — Hayato dizia enquanto se ajoelhava no chão e curvava sua cabeça até o mesmo... *Japonês* — Por favor... Nos salve! Nos ajude a nos reeguer! — Hayato disse em prantos de ódio e lampejos de hostilidade, então encarou Max ainda curvado.

*Japonês* — Você sabe que isso é algo que vocês tem que fazer sozinhos, né? — Max indagou quase negando de vez o pedido.

*Japonês* — Imaginei que diria isso... Ainda assim eu... Queria dizer... — Hayato levantou secando as lágrimas, tentando se recompor. *Japonês* —Acha que eu consigo nos manter na linha? Acha que eu consigo lidar com tudo do mesmo jeito que antes? —

*Japonês* — É só não vacilar, ouviu, homenzinho. — Max falou rindo, já esclarecendo o que Hayato não deveria fazer novamente.

*Japonês* — Babaca! Aquilo foi~ Ah quer saber, esquece, a culpa foi minha mesmo. — O homem devolveu a risada.

*Japonês* — Agora vai lá, a Mia também quer falar comigo.  — Maxwell apontou para a garota na cozinha atraves da porta de vidro.

*Japonês* — Certo, já vou. Mas cuida da casa e do meu filho pelo menos por hoje, pra eu poder resolver uns assuntos no trabalho. —

*Japonês* — Claro! Eu pretendia ir embora amanhã de manhã ou hoje a noite mesmo. Tenho mais gente pra levar pra casa, mas é bom esperar um pouco e se preparar pra viagem. — Max sorriu de leve

*Japonês* — "E eu pensando que esse rapaz era só mais um garoto... Ele é um homem. Um bem problemático, mas um homem." — Hayato pensava em admiração.

*Japonês* — Certo, vou terminar de me arrumar, e chamar aquela garota, já que ela queria falar com você... Mas hein, eu sei que vocês vão ficar cuidando das crianças e tal, mas se comporte com ela, viu? Ela é linda, eu sei, mas você ainda está na minha casa! Haha! — Hayato brincou, abrindo a porta do apartamento.

— Pelo amor de Deus! Aquilo não era nada demais~ Ah, merda, não, 'pera, língua errada! — Max travou ao perceber sua falha no idioma.

*Japonês* — O que?! — Hayato o olhava com um rosto risonho, logo fechando a porta, deixando Max sozinho, com a mão estendida em sua direção.

Então ali, se sentindo envergonhado, Maxwell foi deixado só. Mas sabendo da vontade de Mia, o garoto permaneceu ali, até que a garota viesse.

— Bom dia. — Disse uma voz doce e feminina, que aqueceu o coração do garoto.

— Bom dia... — Max respondeu de maneira mansa, quase amorosa, se virando a porta e vendo Mia a fechar cautelosamente.

— Olha, sobre o que aconteceu mais cedo... — Mia começou, se avermelhando.

— Não precisamos falar daquilo... Foi só um pequeno problema de sono, não é como se eu tivesse me deitado na cama com você... — Max falou desesperado com o rosto coberto com o rubor de seu sangue que fervia.

— Não é isso, o que eu queria dizer é... Obrigada... Eu estava tendo um... Um pesadelo... Eu não sei se foi isso que me acalmou, mas valeu, sabe, por ficar lá comigo. — Mia disse corada e envergonhada, com algumas gotas de lágrimas no canto dos olhos.

— Ahh que isso, eu só não queria te ver daquele jeito... — Max corou mais do que já estava, parecia um pimentão maduro, fora a careta que fazia.

— Haha! Sua cara tá engraçada! — Mia riu, abrindo um sorriso radiante que quase nocauteou Max.

— Ahm, jura?! Haha... Eu, ehrm... Olha, indo ao que importa, você queria falar comigo, né? — Max se descontrolou, brevemente, mas se recuperou bravamente.

— Ah sim... Sobre isso eu, ehh, era sobre o meu pesadelo... — Mia de repente fechou o rosto em encontro com sua atual emoção, medo, terror e desespero, sentimentos que vibraram intensamente por suas próximas palavras, seguidos por lágrimas amargas e soluços de engasgos. — Pensando bem, eu não quero falar sobre aquilo agora... Mas... Eu não quero ficar sozinha... Eu q~quero v~v~v~voltar pra casa, Maxwell. — Mia fraquejava a voz cada vez mais.

— Mia... Calma, e~eu tô aqui com você, tá legal... Não precisa se preocupar, tá?... Tudo vai ficar bem. — Max se aproximou da jovem, pondo suas mãos por cima de seus ombros suaves, cobertos por sua blusa preta e rosa.

— V~Você promete? — Mia indagou se aproximando ainda mais de Max, quase colando seu corpo com o dele, enquanto o encarava.

— Sim, Mia... Eu prometo a você, ninguém vai matar vocês, sequer tocar! E eu vou enfrentar qualquer desgraçado que aparecer na nossa frente pra garantir isso! — Max afirmou descendo suas mãos até os braços da menina.

— Mas e você?... — Ela tremeu.

— Você não precisa se preocupar comigo, eu vou ficar bem, quando isso acabar, tudo vai ficar bem... — Max respondeu, sentindo agora, o peso do acordo feito com Hynder, mas mantinha suas metas bem claras em mente.

— Max... Obrigada... Eu sei que eu tô repetindo, mas eu nem sei mais o que falar pra você... Só, obrigada! — Mia o abraçou se aconchegando no peito do rapaz, enquanto chorava e tremia, na segurança dos braços de seu protetor, que devolveu o abraço com todo o carinho que seu corpo era capaz de proporcionar ali.

Yan os observava com um olhar orgulhoso, só um pouquinho malicioso... Talvez fosse o monge um cupido?...

.

Alguns minutos depois

.

Maxwell e Mia adentraram o apartamento, ambos levemente corados, mas figiam que nada tinha acontecido. Mia ajeitava sua blusa preta e rosa um pouco amarrotada, estava mais calma, já parara de chorar, e Max com sua expressão séria de sempre, já vestindo sua blusa de frio preta.

Hayato e Fumiko já haviam saído do apartamento, apressados para o trabalho, nem puderam se despedir por não querer atrapalhar o momento dos dois jovens que se abraçavam na varanda.

— Bom dia pros dois pombinhos, dormiram bem? — Yan indagou num tom zombeteiro.

— Ahh fica quieto aí, pô! — Max ordenou corado, virando o rosto na direção contrária de Mia, que fez o mesmo.

— Haha! Tudo bem, mas o que vamos fazer enquanto eles não acordam? — Yan questionou.

— Vamos acordar essa gente, Yan. O Aki tem aula daqui a pouco, e tenho quase certeza que ele não estuda a tarde. — Disse Max.

— Acha mesmo que isso é uma boa ideia? — Mia perguntou, curiosa com o posicionamento do rapaz cicatrizado.

— O que eu acho é temos que ir pro próximo destino logo, e temos que ver como o Aki vai agir na escola antes... Ele é uma criança com força pra levantar um carro, se não tomar cuidado vai acabar matando alguém, e se desconfiarem, nosso trabalho pra trazer ele pra casa vai ser em vão. — Disse Max, pensando em tudo isso, e nos termos do acordo de Hynder.

— Tem razão, além disso, a mãe dele acha que ele sofria bullying... — Mia comentou.

— Mais um motivo. — Max acrescentou.

— Beleza... Ontem mesmo você disse para eu ir com ele, mas eu não sei falar japonês. — Yan soltou.

— Eu não posso ir, tenho que cuidar deles... — Disse Mia.

— ...Deixa que eu vou... — Harry afirmou num tom cansado, enquanto se espreguiçava no chão onde dormia, vestindo sua nova camisa social branca, que ressaltava um grande emagrecimento de sua parte, proveniente dos pedidos de Max, no dia anterior.

— E tu fala japonês, moleque? — Max questionou confuso.

— Falo sim... Aprendi ontem a noite antes de dormir... E é melhor do que você ir com essa cicatriz na cara, sabe, por segurança. — Harry se levantou, subindo também seu tom de voz.

Max e Yan concordaram, Mia também não foi contra. Então os quatro, após finalizarem essa conversa, começaram a discutir o que fariam naquele dia, e que dia seria...

— Então, recapitulando o plano, nós vamos levar o Aki pra escola ver se precisamos mantê-lo na linha, o Max e a Mia cuidam das crianças que ficarem aqui, então se tudo der certo vamos embora amanhã de manhã bem cedo, direto pra Jozankei em Hokkaido, certo? — Harry retomou toda a ideia.

— Exatamente... Mas tem algo que seria melhor já resolvermos pra onde vamos depois do Japão também, não acham? — Max apontou.

— Talvez, mas já são sete e meia, o Aki tem que estar na escola as oito e meia, acho melhor acordarmos ele e aí falamos sobre isso a noite. — Mia repontou.

— Concordo, mas ele tá igual uma pedra, vocês pretendem jogar um balde de água fria nele, ou vão gritar pra acordar todo mundo? — Yan indagou.

— Eu tenho uma ideia, isso sempre funciona. — Max falou como quem já tinha a chave pro problema.

— Ah é? E qual é a sua ideia, espertão? — Harry provocou.

— Alguém aí já ouviu falar no lampião? — Max perguntou de maneira sugestiva.

— Fala do cangaceiro? — Mia sugeriu.

— Esse mesmo! — Max confirmou animado enquanto Harry e Yan não faziam ideia do que se tratava aquilo.

.

Alguns segundos depois

.

Max e Mia estavam próximos de Aki, quase colados em seus ouvidos, Harry e Yan apenas observavam. Foi então que o casal mais velho começou a cantar o clássico...

— Acorda, Maria Bonita! Levanta, vai fazer o café! Que o dia já vem raiando! E a polícia já está de pé!... — Os dois cantaram em uníssono, e como mágica Aki acordou com uma felicidade inexplicável ardendo no peito.

— Bom dia... Ah, Fangs! Olha, agora eu sei falar sua língua. — Aki disse animado.

— É, tô sabendo... E aí, vai pra escola guri? — Max balançou a cabeça em concordância e soltou a pergunta.

— Ah é, sim eu vou. Deixem eu me arrumar! — Aki levantou determinado.

Num passo largo o garoto entrou no banheiro, e tomou seu banho rápido como quem tinha uma pizza a espera em um jantar de família. Então logo que saiu, Aki vestiu seu uniforme preto tradicional do Japão, Tomou seu café, preparado com amor por sua mãe e Mia, sendo este o famoso asagohan, e apesar do peixe um pouco salgado, e do arroz meio sem tempero, foi bom tomar um café da manhã realmente digno depois de tanto tempo.

Logo que acabaram de comer, Yan e Harry se despediram e saíram do apartamento, levando Aki consigo num passo apertado, correndo bastante, já que a Osaka Shik Gakuin, onde Aki estudava ficava a quase cinco quilômetros de seu lar.

— Ele ia a pé sempre? Não me surpreende ele ter sido sequestrado. — Max comentou.

— Ele costumava pegar Uber antes, ou os pais dele levavam... Se bem que eles não sabem que ele vai hoje, mas como agora corremos tanto quanto carros é até mais rápido dar um passeio a pé pela cidade sem ninguém saber. — Mia o refutou.

— Hmm, entendi... Pera eles não sabem?! Vocês planejaram isso?! — Maxwell indagou, percebendo uma falha em sua estrutura de planejamento. — Quer saber? Foda-se, ele vai e ponto. A gente tem que ver se vai ficar tudo bem na escola e eu não quero passar nem mais um dia nessa cidade! — O rapaz deixou as coisas andarem

— Na verdade, eu quero aproveitar que temos tempo e conversar sobre algumas coisas... — Mia falou em um tom sugestivo, olhando para uma das balas que removeu das costas de Finn, que possuía símbolos brilhando verde em seu interior, que era estranhamente oco e aberto...

E assim, um longo dia teve início.

<--To be continued...

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