Capítulo X: ...Justificam os meios
Yoshiaki
Ao fim de tantos dias, assustado e mal dormido, agora passava um tempo eterno abraçado de meus pais. Terno era o calor de minha mãe. E seguro o de meu pai. De volta para casa, meu lar, em fim. Porém, não mudou nada. A felicidade que tomou meu peito ainda era vazia, inquietante, perturbadora. Eu nem conseguia chorar. Estava distante, longínquo, perdido.
Entendi tudo isso quando os vi novamente, meus pais. Vi meu pai encontrar o filho, assim como minha mãe. Vi os dois chorando como eu. Mas, não era "eu", não há muito tempo. Algo estava errado, eu não estava lá, apesar de estar, e não queria acreditar. Mesmo assim, me permiti aproveitar o melhor possível. E desse modo, perdurou aquele momento.
Narrador
Já em um dos cantos do grupo...
— Quem era no telefone? — Mia perguntou ao se aproximar de Max.
— N~Ninguém não... Era só um atendente oferecendo planos de internet, essas coisas aí. — Max respondeu, escondendo seu estado de choque.
— Ahh, essas coisas são chatas, né? — Mia brincou.
— Muito... —
— Pelo menos agora nós temos um jeito mais prático de nos manter atualizados. — A garota comentou.
— Isso é verdade, mas não sei o quão seguro é esse meio... — Max repontou.
— a gente pode ver isso depois, acho melhor só aproveitarmos esse momento feliz por enquanto. —
— Sim...~ —
*Japonês* — Vamos entrar. Esse negócio de terroristas invasores deixou o país inteiro um caos, não é uma boa ideia ficarmos nas ruas. Vai que a gente encontra eles... — Disse o pai de Aki, secando suas lágrimas e mantendo a compostura.
*Japonês* — Entãum, sobre os terroruistas... — Max começou.
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Alguns minutos depois de uma longa explicação
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Todos estavam na sala do senhor e da senhora Aburaya. Depois de uma longa explicação sobre os conflitos que se desdobravam desde o porta-aviões até aquele momento. Maxwell foi bem direto, não deu muitos detalhes, apenas explicou o que sabia sobre a conspiração e o problema que os perseguia.
Os pais de Aki estavam pálidos, assustados e confusos, não sabiam como reagir, estavam apenas boquiabertos ali, parados como pedras.
*Japonês* — E~Eu não sei o que dizer... C~Como vocês sobreviveram? — A mãe do Aki perguntou.
*Japonês* — Tiro, porrada e bomba. Literalmente. — Max respondeu de prontidão.
*Japonês* — Então todo esse sangue em você é~? — O pai de Aki perguntava.
*Japonês* — Meu Deus... Quantos anos você disse que tinha? — A Sra. Aburaya perguntou assustada, interrompendo o marido.
*Japonês* — Não disse. Tenho quinze anos. —
*Japonês* — E você já passou por tanta coisa, mas você é tão novo...? Bem, não é surpresa, vocês parecem que passaram um inferno... — Disse a Sra. Aburaya surpresa.
*Japonês* — Fumiko tem razão. Acho que vocês parecem muito cansados, porque não tomam um banho e descansam um pouco? Podem passar o tempo que for necessário na nossa casa... Afinal, salvaram nosso filho... Só não quebrem nada, por favor. E se quiserem tomar banho, temos toalhas para todos. O que vai estar em falta são escovas de dentes, mas acho que usar os dedos não deve ser problema. — Completou o Sr. Aburaya.
*Japonês* — Certô. Dùvido que a gentie consiga sair de Osaka por enquanto, de um jeito ou de otro teríamos que ficá em algum lugar... E sobre o bano, eu já aviso que vou primeiro. — Disse Max correndo até o banheiro, quase que apostando corrida com as outras crianças.
Antes que fechasse a porta a Sra. Aburaya lhe entregou uma sacola para que colocasse suas roupas sujas e uma toalha para que se secasse, e o jovem agradeceu gentilmente. Logo em seguida Max fechou a porta, botou suas roupas na sacola e foi tomar seu banho. Os outros o esperavam na sala, enquanto conversavam.
Aki se divertia muito com seus pais, afinal, ele estava finalmente de volta em casa...
Yoshiaki
Papai e mamãe estavam muito felizes, devo dizer. E para falar a verdade, eu nunca tinha visto eles tão contentes. O sorriso que eles deram quando me viram... Se eu soubesse que seria assim, aceitaria de bom grado ser sequestrado mais vezes.
Estávamos agora, entrando em meu quarto... Quanta saudade...
*Japonês* — Então filho? O que você achou...? — Minha mãe perguntou ao me mostrar meu quarto, onde se podia ver minha mesinha ao lado da porta com meu computador em cima, minha cama no meio do quarto, e meu armário no canto oposto ao da mesinha, o qual tinha três gavetas cheias de tralhas velhas na parte de baixo, e dali pra cima uma metade era uma porta que guardava minha roupas, e a outra eram quatro estantes, cheias de livros de literatura infantil, mangás e livros didáticos.
*Japonês* — UAU! Tá igualzinho à quando eu deixei... Ahh, como eu senti falta da minha cama. — Falei me jogando no colchão forrado com uma colcha azul-marinho.
*Japonês* — Sim... Eu e seu pai deixamos arrumado esperando que você voltasse... M~Mas há uns dias um policial veio dizendo que você tinha sido m~morto... N~Nós ficamos tão arrasados, eu fiquei... — Mamãe disse entre soluços, depois chorou e me abraçou de novo, soltando sua voz da mesma forma que eu soltava antes de tudo... Como uma criança...
*Japonês* — É filhote, o papai também... O papai também ficou muito preocupado... Droga! — Papai disse de forma calma, enquanto se aproximava a passos tortuosos, mas só quando chegou perto que ele caiu de joelhos e mostrou seu rosto frágil... Vulnerável como nenhum outro que ele já havia feito. Senti um aperto em meu coração... Era como ter algo pesado sobre minhas costas...
*Japonês* — Tudo bem mamãe. Tudo bem papai. Agora eu estou aqui, eu estou bem. E agora eu estou muito forte, agora eu posso me proteger e proteger vocês. — Minhas palavras podiam ter sido ditas por pena... Ou talvez fossem honestas... Eu não sei bem por que disse aquilo, eu estava me sentindo sobrecarregado com os sentimentos de meus pais, mas a resposta que eu tive, foi a melhor coisa que já me aconteceu.
*Japonês* — Sim, Akinho... Você pode... Eu te amo, meu filho. — Meu pai disse dando um sorriso brilhante, tão intenso quanto o sol no dia de verão mais quente.
*Japonês* — Nós te amamos filho, mais do que tudo, bebê. — Minha mãe disse, também sorrindo... Mas o sorriso que ela deu foi diferente do de papai... Foi... Harmonioso, pacífico... Ele não ardia como brasa... Ele era sereno e tranquilo, como se não houvessem mais preocupações ou problemas. Ver aquilo me fez sentir livre, livre e completo.
*Japonês* — Eu também amo o papai e a mamãe. — Falei abraçando os dois, dando o sorriso mais sincero que já dei na vida. Chorei como o menino que eu era ao abraçá-los.
Papai e mamãe retribuíram o abraço, e ali ficamos, abraçados aproveitando a presença uns dos outros por mais um looongo tempo... Antes de nos deitarmos a cama e termos boas conversas em família.
Heidi
Eu e minha mana estávamos sentadas na sala conversando, assim como o resto do grupo. Estávamos no chão em frente ao sofá, já que este foi miseravelmente ocupado por gente que não era a gente.
*Alemão* — Maninha, sobre os seus poderes...? — Perguntei curiosa
*Alemão* — Eu já disse, não sei como eles funcionam. Só sei que eu consigo entender o que os outros sentem hora ou outra. — Evelyn respondeu baixinho para ninguém ouvir, com sou rosto e voz secos como sempre.
*Alemão* — Eu sei, você já disse isso. O que eu quero saber é: Como que é quando acontece? —
*Alemão* — Como eu posso explicar... Eu meio que consigo "sentir" as pessoas próximas a mim, e se eu me concentrar em uma, os sentimentos ou as intenções da pessoa a qual me concentrei passam por mim. Para falar a verdade eu não sei direito qual dos dois eu capto... —
*Alemão* — Tá... Então você pode ficar feliz por causa dos sentimentos de outra pessoa? —
*Alemão* — Acho que não, os sentimentos passam por mim como uma corrente de dados, e eu só consigo identificar alguns por que eu tenho você e a Mia pra comparar. Aliás quando eu capto essas informações não é como se eu estivesse sentindo o que a pessoa sente, parece mais um código que eu tenho que decifrar. —
*Alemão* — Poxa mana, você complica as coisas demais. É difícil de te entender as vezes... — Reclamei fechando os braços e virando a cara, tenho certeza de que minha irmã continuou olhando para mim com aquela expressão de mosca dela.
*Alemão* — Hmm... — Evelyn gemeu cabisbaixa.
*Alemão* — Ahh, mas fica tranquila mana. Eu tenho certeza que um dia você vai encontrar alguém que te entenda. — Eu falei dando leves tapinhas em suas costas.
*Alemão* — Eu não sei... Eu sou tão diferente das outras meninas da nossa idade... —
*Alemão* — Certo... E dos meninos? Hihihihi. — A provoquei, conseguindo arrancar um belo par de borrões vermelhos em suas bochechas, mesmo que ela sequer tenha mudado a expressão.
*Alemão* — Nós somos muito novas pra pensar nessas coisas, Heidi! E além disso... Você sabe que eu não sou boa com pessoas... Por isso eu estou sempre sozinha. — Ela retrucou, mas agora sua expressão era triste, não muito diferente de seu tom de voz.
*Alemão* — Ahh deixa disso maninha, você pensa assim agora, mas olha em volta. Tem vários meninos da nossa idade, vai que um deles gosta de você! E cá entre nós, o Giovanni é um partidão! — Me exaltei, gesticulando as mãos como um tique nervoso.
*Alemão* — Humpf... Você é incurável, irmã. — Evelyn respondeu em sussurros, dando uma leve bisbilhotada na direção do Giovanni, e voltando seu olhar para os joelhos, tentando disfarçar.
*Alemão* — Ahh para com isso, Evelyn! Eu posso ser incurável, mas eu sei que no fundo você é pior do que eu, as quietinhas sempre são, hahaha! — Atormentei-a rindo, mas ela negou com frieza.
Mas pode apostar que eu continuei a infernizando, afinal, se tinha uma coisa que eu amava fazer, era tirar expressões e reações daquela cabeça dura antipática... E além disso, algo pra me fazer rir era o que eu mais precisava naquele momento...
Yan-Li
Eu estava na varanda apoiado na sacada, admirando a vista deserta da cidade. Tentando me concentrar em qualquer coisa que não fossem minhas lembranças. Eu estava... Em conflito, e precisava de algo para me manter na linha, algo para me redimir comigo mesmo, e com meus dogmas... Meu pai me mataria se me visse quebrando todos os nossos princípios como eu estava fazendo... Droga.
Em algum momento, notei Harry ao meu lado. Minha distração estava enorme, pelo visto, mas pelo menos eu aproveitei a ocasião para tirar algumas dúvidas. O que conseguiu me dar algo pra me concentrar e me acalmar.
*Inglês* — Aí Harry, lembra de ontem, no ônibus? — Arrazoei.
*Inglês* — Lembro, por que? — Harry respondeu no susto, pela minha ação repentina.
*Inglês* — Como você sabia que aquilo ia dar certo? —
*Inglês* — Foi um palpite, mas funcionaria de qualquer forma. —
*Inglês* — Han?! —
*Inglês* — Lembra quando você falou dos seus poderes? —
*Inglês* — Sim... Se não me engano foi no avião. —
*Inglês* — Eu pensei que a sensação de estar na "água" era uma forma do seu corpo falar pra você o que você controlava. Em outras palavras, você podia controlar o ar. Pessoalmente eu acredito que seja especificamente o oxigênio, então não tínhamos motivos para não fazermos o que fizemos. —
*Inglês* — Tá bom, e o que exatamente a gente fez? —
*Inglês* — Basicamente, ao remover a "água" em volta do míssil, você eliminou uma das fontes fundamentais pra existência do fogo, por isso as chamas apagaram e ele caiu. —
*Inglês* — Entendi. Isso quer dizer que eu posso apagar alguém fazendo esse negócio do míssil? Tipo um golpe na traqueia ou no diafragma? —
*Inglês* — Pode, mas se usar a mesma fórmula você vai tirar todo o ar dos pulmões e dos arredores, e assim vai matar a pessoa. Recomendo criar um uso mais versátil para seus poderes, acho que deveria criar isso pensando que você controla o oxigênio em si. Assim você comprova minha teoria e se torna um dos caras mais poderosos do mundo ao mesmo tempo... Maaasss se for muito difícil, porque você não tenta comprimir tudo numa pequena área e jogar tudo depois? Vai ser um estouro! — Harry finalizou e entrou de volta no apartamento.
Eu permaneci na varanda, pensando em como seguiria o conselho de Harry...
Narrador
E os outros estavam apenas refletindo na própria vida, aproveitando o momento de segurança.
Max, saindo do box no banheiro, não conseguia parar de pensar em tudo, não conseguia tirar nem por um segundo a responsabilidade que por si próprio fora atribuída, a responsabilidade de proteger aquelas crianças... E mais importante uma dúvida que já devia ter martelado sua cabeça a tempos.
Maxwell
Eu havia acabado de tomar um magnífico banho e estava à me secar. Durante o banho eu acabei ouvindo algumas conversas alheias, sem querer, enquanto vigiava os arredores com minha audição. Não era legal, mas era melhor do que ser pego de surpresa.
— "Então foi assim que o Yan 'desativou' aquele míssil..." — Pensei, ainda com remorso por ter pago de metido.
De qualquer forma eu não ouvi nada comprometedor, e se ouvisse fingiria o contrário. Apesar de que eu gostaria de poder ver e ouvir mais cenas como a do Aki e de seus pais. Por mais triste que fosse a lama da qual sairam, eles ainda eram a coisa mais linda que se podia ter por perto naquele momento... Com exceção talvez, de uma certa garota...
Ao sair do box, não conseguia parar de me olhar do espelho, e mais, não conseguia parar de pensar no que meus amigos de diriam se me vissem... Se já me chamavam de "Mafioso" antes, agora eu seria o próprio Al Capone.
Mas no fim, acho que as cicatrizes combinaram comigo, era como se elas me completassem, era como se elas pudessem falar algo que eu nunca consegui... Elas... As cicatrizes, eram parte de mim. E olhar pra elas daquela forma me fazia refletir sobre a minha raiva... Eu podia ter gostado delas, mas isso não apagava o fato de que minha vontade, quase tão pura quanto salvar aquelas crianças, era de me vingar. Eu não pensava muito sobre isso, mas era verdade... No fundo eu ainda queria matar os vermes que me fizeram sofrer e a tanta gente...
— "Eu ainda vou matá-los... Mas antes, preciso salvar esse pessoal..." — Era o que passava em minha mente. E eu demorei pra perceber, mas aquela ideia era mais simples e problemática do que meu lado consciente gostaria...
Finalmente, após tanto refletir, acabei de me secar, mas a mochila com minhas roupas normais estava com a Mia, então a chamei como fazia com minha mãe as vezes:
— Mia! Você pode me dar a mochila com minhas roupas! —
— Claro, Max, aqui pega! — Ela falou batendo na porta. E eu abri o suficiente para passar apenas meu braço e ela não poder me ver.
Peguei a mochila e coloquei minhas roupas, Mia fez a gentileza de colocar o último colete social junto delas, então o coloquei também por baixo de tudo.
Ao sair do banheiro me deparei com uma cena um tanto cômica. Chloé estava com uma tesoura na mão tentando segurar o Harry, que estava gritando por ajuda.
*Inglês* — SOCORRO!! ALGUÉM ME AJUDA! Fangs, DÁ UMA FORÇA AQUI! — Harry gritou.
— "É só impressão ou todo mundo tá me chamando desse jeito?" — Pensei arqueando a sobrancelha. Não que o apelido fosse ruim, é claro, eu confesso que gostei um pouco.
— O que está acontecendo aqui? — Perguntei
— A Chloé está tentando cortar o cabelo do Harry. — Mia respondeu.
— Meu Deus... Isso é sério? — Perguntei.
— Para ela é sim. A Chloé disse que a mãe dela é uma grande Hair Stylist, ela quer seguir os passos da mãe, e mesmo sendo nova ela não estragaria o cabelo de alguém. Aparentemente ela confia no que faz... — Mia disse.
— Bom, ela parece animada para alguém que estava sem as duas pernas ha algum tempo. Acho que deve ser seguro... — Comentei.
*Inglês* — Harry, 'quieta o faixo. Deixa a Chloé trabalhar. — Disse em tom de ordem.
*Inglês* — Ahh sei, pra você é fácil falar já que não é o seu cabelo que está em risco! — Harry repontou.
*Inglês* — Eu vou depois de você independente do resultado. Agora deixa a Chloé fazer o dela. — Finalizei.
Harry me escutou, apesar de algumas reclamações. Chloé foi ao banheiro e colocou alguns panos de chão, em cima deles um banco, onde Harry sentaria. Ela vestiu uma capa de chuva que pegou emprestada de Aki no Harry, que tinha retirado a camisa, e cobriu a parte do pescoço com papel filme e em seguida começou a cortar seu cabelo.
— Isso deve demorar. — Comentei.
— Sim... Falando em demora, você ficou um tempão no banheiro. — Mia falou como uma reclamação.
— E~Eu tive que limpar o sangue no meu corpo e no cabelo, além de uns... Uns pedaços de carne que estavam grudados em mim. — Respondi desconcertado... Não que eu tenha feito nada errado, claro, mas digamos que essa resposta não tenha sido bem verdade...
— Tinha tanta coisa assim? — Ela franziu o cenho, curiosa.
— Limpar o sangue e restos mortais é difícil... —
— Entendi. —
— Que bom. Acho que o que nos resta agora é esperar. —
— Sim. —
Eu me sentei no sofá enquanto junto do grupo e para esperarmos começamos a jogar UNO. Até que foi divertido, mesmo sem entendermos o que um ou outro estavam falando.
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1 hora e 15 minutos depois
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Chloé havia cortado nossos cabelos até rápido para uma criança, e o resultado foi... Surpreendentemente agradável.
Comigo ela raspou a pelugem no meu rosto – que por acaso não eram bem uma novidade, era meio que genético – e fez um topete curto e levemente espetado, com uma suave inclinação para frente e deixou um degradê leve, com a tesoura e a máquina no 1, dos lados e atrás mantendo o corte e penteado ao estilo militar que eu usava normalmente, mas para variar ainda combinou com a cicatriz no meu rosto. Devo dizer que cada vez mais eu me apegava àquelas marcas em minha pele.
No Harry ela passou a máquina no entorno, também no 1, e em cima ela cortou apenas um pouco com a tesoura para tirar o excesso de cabelo, principalmente a franja, e fez duas mechas lisas na frente, jogando ambas para as extremidades laterais, deixando a testa de Harry a vista. Ficou ótimo no nele, e tenho certeza que ela pensava o mesmo, ficou até se admirando no espelho depois.
*Inglês* — Chloé, esse corte ficou incrível. Onde aprendeu isso? — Perguntei impressionado com o resultado.
*Inglês* — Eu já falei, minha mãe é uma hair stylist muito boa. Eu quero ser igual a ela, então venho aprendendo desde pequena. — Chloé respondeu.
*Inglês* — Caramba você é muito boa. Como você fez para deixar meu cabelo reto sem usar gel? Ele sempre vira para a esquerda... — Indaguei curioso.
*Inglês* — Hihihi! Isso é segredo. — Ela disse botando o indicador na frente da boca.
*Inglês* — O que?! Assim você mata a gente de curiosidade.! — Harry comentou.
*Inglês* — Se estão assim por causa dos efeitos de um creme, podem lavar as cabeças para tirar os pelos soltos... — Chloé disse de uma maneira sugestiva.
*Inglês* — C~Como assim?! Não vai nos dizer que~ — Eu e Harry dissemos em uníssono e corremos para o chuveiro para lavar a cabeça.
Graças a proteção do papel filme não precisamos tomar um banho, foi só passar água na cabeça e estávamos limpos. Mas o que nos deixou desapontados foi o fato de nossos cabelos reagirem normalmente e desfazerem o penteado.
*Inglês* — Ué! Nosso cabelo voltou ao normal Chloé... — Harry disse.
*Inglês* — Hahahaha! Óbvio que voltou! Eu não faço mágica, eu só queria que vocês lavassem a cabeça. Os penteados de antes eram só testes, mas como ficou bom e vocês gostaram, nós vamos ficar com eles. — Chloé explicou.
*Inglês* — Fizemos papel de besta, Harry — Falei fitando a expressão indignada do britânico.
*Inglês* — Talvez, mas o penteado ficou bom. — Ele respondeu.
*Inglês* — Exatamente, agora sentem aí! Eu vou fazer de novo. — Chloé mandou.
Nos sentamos no sofá mesmo, e Chloé fez os penteados novamente, usando o pente fino e a escova de cabelo. Ao acabarmos colocamos nossas roupas de volta e ela arrumou a bagunça no banheiro, o que não demorou nada, foi só retirar os panos de chão com cuidado.
*Inglês* — Você já cansou? — Perguntei provocando Chloé.
*Inglês* — Não, eu ia fazer só o cabelo do Harry porque ele reclamou do jeito que estava. Só cortei o seu por que você quis, não vou incomodar ninguém por coisas que não querem ou não reclamam... E eu quero um tempo sozinha agora. — Ela respondeu dando de ombros e em seguida caindo o olhar triste e discretamente.
*Inglês* — Entendi. — Respondi mórbido, encarando seus joelhos cicatrizados.
Após isso cada um foi para seu canto esperar a sua vez de tomar banho. O primeiro a tomar banho depois de mim foi o Aki.
Eu peguei as armas e fui para a varanda ficar vigiando os arredores. Utilizando minha audição, visão e até olfato dessa vez eu recebia uma quantidade incontável de informações, era possível descrever tudo o que acontecia em um raio de 500 metros, apesar de ter dificuldade se eu me concentrasse eu conseguiria descrever um acontecimento de forma isolada.
Podia ouvir as varias conversas no apartamento de Aki, podia ouvir cachorros latindo ao longe, a água do esgoto escorrendo pelas tubulações abaixo da rua, crianças chorando, correndo e brincando em diversas casas, gatos miando, passarinhos voando, casais brigando ou até trepando. Enfim, tinha muita coisa acontecendo, mas o que me chamou mais atenção foi um som mecânico pesado, ou melhor, varios deles, vagando pela cidade, além dos helicópteros. Como eu previ, haviam tanques e aeronaves rondando, alguns ainda entravam na cidade, esta que era, na verdade, um campo de guerra.
Então ali fiquei, ouvindo tudo acontecer, vigiando a cidade enquanto o encontro com Hynder pairava em minha cabeça, a martelava mais frequentemente do que eu gostaria... Eu estava em dúvida... E isso eu sabia que não podia acontecer, pois a dúvida trás a certeza de que à falha você irá ceder.
Aqueles questionamentos internos me faziam pensar no caminho que eu tinha percorrido até ali. E para ser honesto, não conseguia tirar da mente a sensação de que eu estava fazendo algo de errado... De que tinha algo fora do lugar... Eu não conseguia ver o que era mesmo sendo tão óbvio... Simplesmente devolver as crianças pra casa, para a família, numa corrida desenfreada e depois eu me vingaria... Eu sabia, tinha mais que certeza, que era um plano idiota, nem dava pra chamar de plano... Ainda assim eu me negava a ver o porque, de onde havia saído uma falha estratégica como aquela? Eu deveria estar dando o meu melhor...
Eu nunca fui daquele jeito. Eu era mais esperto que aquilo, eu era melhor... E eu sabia disso porque o fato de estarmos vivos ainda era a mais pura sorte... Merda... Não consegui relaxar pensando nisso.
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Aproximadamente 1 hora depois, quando muitas das coisas que ouvia haviam já se acalmado (graças a Deus, é bizarro ouvir gemidos alheios)
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A maior parte do grupo estava na sala procurando algo para assistir que agradasse a todos... São nessas horas que seria bom passar "Tom & Jerry", ninguém fala, só faz e geral da risada.
Mikhail e Yuri estavam sentados atrás do sofá, ambos estavam quietos como sempre, não que eu quisesse me intrometer, mas eles eram tão quietos que era estranho, principalmente o Mikhail... O olhar que ele tinha... Era profundo e pesado, nada normal pra idade dele... Nem a Chloé ficou com um olhar assim depois do que aconteceu com ela...
Pensar nisso me fazia perceber uma parte do meu plano que estava errada... Muito errada... Até onde eu queria salvar aquelas crianças? Por um momento eu senti que toda a minha ideia era pra tirar minha responsabilidade sobre eles... E nesse instante, eu senti medo... Medo do meu coração estar no lugar errado, e meus princípios estarem sendo perdidos... O que eu estava fazendo não era justo, e porque? Eu estava tão cego assim pra não ver? Como eu temi por mim a perda de meus valores...
Enquanto eu estava perdido em meus pensamentos Mia se aproximou de mim discretamente em uma tentativa de me surpreender.
— BOO! — Ela gritou.
— E aí, Mia. — Eu disse seco, afinal ela não era nada discreta, e não eram pensamentos que me desviariam dos arredores o suficiente para ser surpreendido por ela.
— Hmm, essa não era a reação eu esperava... — Ela bufou cabisbaixa.
— Eu estava distraído, mas te ouvi chegando. — Comentei sem tirar os olhos da cidade.
— Você não baixa a guarda, né? — Mia se aproximou com os braços para trás, numa postura que... Eu odeio admitir... Mas aqueceu meu coração.
— Acho que não, ainda mais ultimamente. — Respondi ignorando aquela sensação.
— Tem sido um inferno, né... a gente pode ser atacado à qualquer momento... Mas pelo lado bom, seu plano até que está funcionando. — Ela sorriu discretamente, apoiando sua mão direita logo acima do peito.
— Funcionando é uma palavra muito forte... A ideia é bem idiota, na verdade. E pra ser sincero, é uma surpresa muito grande nós ainda estarmos vivos, quer dizer, não era pra ter sido tão fácil... Mas se quer saber eu 'tava trancado quando 'tava no banho, imagina se eu entro numa luta pelado? — Tentei descontrair um pouco, estava na cara que ela precisava de um pouco de alívio por enquanto, e pra falar a verdade, eu também. Infelizmente, o fato de eu estar totalmente confuso com minhas próprias ações...
— Ia ser constrangedor, tipo quando a gente vai pra escola pelado nos sonhos. — Ela riu com aquele sorriso de tirar o fôlego de qualquer um.
— "Agora que eu penso, eu não já lutei praticamente nu lá no navio...?" — Pensei caindo a ficha. — Haha! Isso, mas eu acho que não ia ter tempo de me constranger. — Eu disse, quebrando o clima sem querer. Porra, e tava ficando bom.
— Talvez... Mas ehrm... Aqui, mudando completamente de assunto, tinha uma coisa que eu queria te perguntar. A minha aula foi tão boa assim? Quer dizer, você aprendeu japonês em menos de um dia... — Mia falou chateada com os braços cruzados.
— Acho que sim... Você foi falando e eu só fui aprendendo. Depois foi só botar em prática com o Aki... — Olhei para ela, pensativo.
— Isso não faz sentido! Você só pode ter algum conhecimento prévio, ou então é um gênio, ninguém aprende uma linguagem rápido assim! —
— Bem, isso é verdade. Será que tem algo a ver com nossas "mutações"? —
*Inglês* — O que está acontecendo aqui? O Max está te incomodando, Mia? — Harry questionou de rapente, nos fazendo virar para ele.
*Inglês* — Na verdade não. Eu só estranhei o fato de ele ter aprendido japonês em menos de um dia. E ele está dizendo que ele simplesmente foi dominando a língua conforme eu fui explicando. —
*Inglês* — Isso deve ser por causa da nossa "mutação". — Harry disse.
*Inglês* — E o que te faz pensar isso, Harry? — Perguntei.
*Inglês* — Para pra pensar que agora todos os nossos sentidos estão melhorados e ainda temos sentidos a mais no corpo. Provavelmente nossos cérebros, ou melhor nossos neurônios e sinapses foram melhorados para não entrarem em colapso com a quantidade extra de informação para processar. Talvez nossa capacidade de raciocínio e aprendizado tenha aumentado consequentemente. — Ele explicou.
*Inglês* — Cacete! Faz todo sentido! Harry você é um gênio! — Exclamei como um "Eureka".
*Inglês* — Eu sei que sou. Agora eu vou voltar lá pra dentro. — Harry finalizou entrando de novo e fechando a porta.
— Hmm se eu soubesse que isso ia acontecer teria estudado as línguas depois dessa "mutação". — Mia reclamou.
— Sim, e deixado de ajudar bulhufas no processo. — Comentei.
— O quê?! V~Você acha que eu ajudo? Mas eu só tento cuidar deles... —
— Tenta, não, você cuida sim! Você tem cuidado de todo mundo desde que vocês se conheceram. É por sua causa que muita gente aqui tem com quem conversar, caso contrário muitos já teriam enlouquecido, e além disso, sem você esse grupo ia ser uma completa desordem. Se todo mundo tá vivo, é por que você foi capaz de manter geral na linha. Eu não fiz nada além de puxar o gatilho algumas vezes e mostrar um caminho pra seguir. —
— O~Obrigada. — Mia disse um pouco corada.
— Eu que agradeço, é por sua causa que tudo tem dado tão certo... E... Além disso, é bom ter alguém legal pra conversar depois de tanto tempo... Eu senti muita falta disso, e aliás, você provavelmente é a pessoa mais doce e gentil que eu conheci. — Corei e desviando o olhar, não sei como ela conseguia arrancar aquele tipo de reação de mim. Não que fosse difícil, mas eu definitivamente não me sentia no clima pra esse tipo de coisa, e ainda assim...
— AH! Que isso, eu só tento ser um pouco amigável... — Mia também corou, ainda mais que eu, acho. Coçou a nuca meio sem graça. — Agora que eu estou pensando, você disse que ficou três meses naquele navio, não foi? — Ela disse numa epifania.
— Sim, porque? —
— Me desculpa perguntar, você também não precisa responder se não quiser, afinal eu sei que mataram os outros na sua sala, e bom... Mas... Você ficou muito tempo sozinho...? —
— As pessoas que estavam lá quando eu cheguei duraram mais uns dois dias... Depois nunca mais... Mas sempre ia algum soldado lá, então dava pra... Bater um papo... — Desviei o olhar novamente, relembrando de alguns momentos desagradáveis. Senti a raiva me tomar por um instante, notei apenas quando senti meus dedos esmagando a carne do meu próprio punho fechado...
Foi aí que a minha ficha caiu.
Era aquela a razão de eu ter feito um plano tão pífio pra devolver as crianças pra casa? Vingança? Sim, eu queria matar, queria dilacerar e macerar a carne daqueles desgraçados, mas... Não assim... Eu não deveria botar meus próprios objetivos acima da vida deles... Isso não me tornaria diferente de nenhum criminoso, de nenhum verme...
E o que era um criminoso? Um pobre coitado maltratado pela sociedade? Há! Não... Todo mundo é maltratado pelo meio em que vive de alguma forma, uns de um jeito, outros de outro, mas todo mundo sofre, o erro é achar que você sofre mais que o outro e por isso tem o direito de exigir dele alguma coisa... Isso é o cúmulo da inveja e da raiva... Todos sofrem, todos tem problemas pra lidar, mas parece que ninguém cansa de brigar pra ver quem sofre mais, invés de simplesmente conviverem e se ajudarem... Preferem ficar culpando um ao outro.
Mas enfim, o que eu estou tentando dizer, é que você não pode passar por cima da vida de alguém que, como você, luta todo dia por outro melhor, pois se você acha que a sua vida vale mais que a do seu irmão, que sofre tanto quanto você, não seria a sua a que menos vale? Pois é, isso que é um criminoso. Um verme, um parasita, que em algum momento, decidiu passar por cima de vidas inocentes, que todo dia se fodem tanto quanto ele já se fudeu, mas mantém a cabeça no lugar... Por isso, a vida de um verme não vale nada além de um simples disparo.
Porra, e eu estava ficando igualzinho a um.
Eu precisava superar minha raiva, urgentemente, e precisava de uma nova estratégia para salvá-los... De realmente garantir que estavam seguros... Só não esperava que conseguiria isso da maneira que aconteceu...
— Entendi, ainda assim deve ter sido horrível. — Mia respondeu tocando meu ombro confortavelmente.
— Hum... — Arfei em silêncio com uma tristeza profundamente abissal me batendo o peito, desviando o olhar para a cidade... Era pra mim difícil falar do navio... Toda vez que eu pensava em falar era como espetar mil agulhas no meu coração, meu pulmão apertava, junto com o revirar de meu intestino... Eu definitivamente não conseguiria tocar naquele assunto tão cedo.
— Tubo bem, vou ficar quieta. — Ela disse, e mesmo querendo ouvir mais de sua voz angelical, não consegui esboçar qualquer reação. Apenas me calei contra minha vontade.
Mia apenas parou de falar e ali permanecermos, observando a cidade, sentindo o vento balançar nossos cabelos, e o sol brilhar marcando a aproximação do final da tarde. A sensação que tínhamos não era outra senão um sentimento pacífico.
Mas para a minha infelicidade eu acabei lembrando da mensagem de Hynder, e não sabia se seguiria aquelas instruções ou não. Só sabia que se ele fosse realmente o nosso benfeitor, estaríamos muito encrencados no caso dele se ausentar. E devido às circunstâncias, achei melhor não envolver os outros, isso era algo que eu deveria resolver sozinho.
De repente uma voz chamou a mim e a Mia da porta da varanda.
*Inglês* — Um de vocês dois, pegue um palito. — Disse Yan.
*Inglês* — Certo, mas pra quê? — Perguntei pegando um dos dois palitos que estavam em sua mão.
Em seguida Yan olhou para seu palito, que era maior do que o meu, depois se virou para Mia.
*Inglês* — Decidido. Mia, como o Max pegou o menor palitinho você vai ter que nos ensinar português. — Ele disse.
*Inglês* — Como é?! — Ela questionou.
*Inglês* — a gente fez o jogo do palitinho pra ver qual língua a gente aprenderia, pra facilitar a nossa comunicação. A ideia foi do Harry. — Yan explicou.
*Inglês* — Moleque apressado. — Comentei.
*Inglês* — A ideia é ótima. Já que vou ensinar pra variar pessoas vou ter que me organizar um pouco, mas a gente pode começar amanhã depois que voltarmos para o ônibus. — Mia afirmou.
*Inglês* — Certo, vou avisar o pessoal. — Disse Yan, retornando para dentro do apartamento.
Eu e Mia continuamos a observar a cidade. Apenas aproveitando a companhia um do outro, foi... Bom, simplesmente bom, indescritivelmente bom... Foi como não estar solitário por um momento, como... Se a gente se entendesse.
Depois de alguns minutos sem dizer uma palavra sequer, Mia acabou soltando algo inesperado.
— Max... Porque está nos protegendo? Porque você tem que se sacrificar tanto? — Ela perguntou, como se estivesse em um devaneio.
— ...Eu não sei... Acho, que é porque eu fiz disso a minha missão... Ou talvez eu simplesmente não tenha motivo, talvez eu só queira... De qualquer forma, eu não posso deixar de pensar que talvez eu não esteja dando o meu melhor. — Respondi sem pensar muito no que estava dizendo.
— 'Pera, você ouviu?! — Mia perguntou corada e surpresa.
— ...Sim... 'Pera eu respondi em voz alta? — Perguntei assustado e canhando uma coloração avermelhada na pele.
— E~Eu só tinha pensado alto, n~não precisava ter respondido! —
— Eu nem percebi que estava falando em voz alta, e~eu não ia responder! — Falei corado, com uma expressão estranha.
— Eu v~vou entrar. Você vai continuar aí? —
— Vou. Tenho que ficar de vigia... —
— V~Você e o Yan podiam combinar turnos. Ele quer muito te ajudar, sabia. —
— "Mas que droga! Eu não queria envolvê-lo, porque ele pode acabar matando alguém, e eu não quero que ninguém tenha que caregar esse peso, mas se continuar assim..." — Refleti revoltado. — ...Vou pensar nisso. — Disse em um tom pensativo.
— Tá bom então. — Ela disse e entrou de volta no apartamento. Mas voltou logo em seguida e me chamou. — Ei! Eu não sei se você lembra, mas temos que contar do plano pros pais do Aki. —
— Nossa, é mesmo. Eu quase esqueci dessa parte. — Respondi acompanhando-a para dentro.
Fomos juntos até o Sr. e Sra. Aburaya, eles estavam no quarto de Aki. Eles pareciam muito felizes, riam e gargalhavam atoa. Os pais de Aki estavam contando uma história infantil para ele quando os interrompemos.
*Japonês* — ~Mas Issunboshi não se abalava, ele subia na cabeça do cachorro com corag~ Ei! O que vocês estão fazendo aqui?! Batam na porta antes! — Disse o Sr. Aburaya.
*Japonês* — Sentimos muito Sr. Aburaya, mas é um assunto importante. — Mia explicou.
*Japonês* — Hum, é bom ser mesmo. — Ele disse irritado enquanto se sentava na cama, a Sra. Aburaya fez o mesmo.
*Japonês* — E então? O que é tão importante? — A Sra. Aburaya perguntou.
*Japonês* — Como dissuemos antes, temo litéralmente uma conspiração mundial queriendo nos matar. Por causa disso, essa casa não é um local seguro, na verdade, é surpreéndénte que vocês ainda estejam vivos... — Expliquei.
*Japonês* — Está dizendo que temos que fugir? — O Sr. Aburaya perguntou.
*Japonês* — Isso no mínimo. Temos que desaparecer, encontrar um lugar onde não nos encontrem. — Mia enfatizou.
*Japonês* — A gente não pretende obrigar vocês a fazer nada, mas sair daqui é a melior opção que têmos no momento. — Eu disse.
*Japonês* — ...Vamos pensar nisso, certo querida? — Disse o pai de Aki.
*Japonês* — Sim, nos deem um tempo... Por favor. — Disse a Sra. Aburaya.
*Japonês* — Certô... Vamos sair então. Mas decidam até amanhã. — Respondi me dirigindo a porta com Mia logo atrás.
*Japonês* — Ok, amanhã a gente diz a nossa decisão. — Afirmou o Sr. Aburaya.
Meu coração palpitou... Na minha cabeça havia passado o breve pensamento dele recusar vir conosco. E eu gostei... Isso não era certo, seria como tirar a responsabilidade das minhas costas, tendo certeza de que eles morreriam sem mim... Entrei em desespero. Eu precisava escolher, e precisava ter certeza de que era totalmente genuíno... Eu precisava escolher, minha vingança ou salvar as crianças, eu não poderia ter os dois... Se eu quisesse proteger, teria de ficar com eles, se eu quisesse vingar teria que atacar... Fazer os dois era impossível...
Mia e eu deixamos o quarto e fomos de volta para a varanda, onde fomos surpreendidos pelo som de um helicóptero nas proximidades. O susto nos deixou paralisados por alguns segundos, com o coração acelerado, suando frio.
Havíamos nos abaixado na sacada para não sermos vistos, e conforme os segundos foram passando e o som das hélices foi se mostrando mais e mais distante. E gradualmente fomos nos acalmando, voltando a nos mexer.
Olhei de relance e vi o helicóptero se afastar, era o mesmo que nos atacara durante a fuga do aeroporto. E logo em seguida passaram dois jatos patrulhando a cidade.
— S~Será que nos encontraram. — Mia perguntou assustada.
— Se fosse o caso, já teriam nos atacado. — Respondi.
— S~Sim... Acho que você está certo. —
— Bom, independente disso eu vou ficar aqui de vigia até irmos embora. —
— Tem certeza? Você já não dormiu noite passada... —
— Eu vou ficar bem. Não precisa se preocupar. — Falei sorrindo gentilmente.
— Bem... Se você não se importar, eu acho que vou ficar por aqui até o anoitecer pelo menos. — Ela disse um pouco sem graça.
— Não me importo. Mas se acontecer alguma coisa, você corre pra dentro e sai com todo mundo, ok? —
— Certo. — Ela respondeu sem tirar os olhos da paisagem ao longe, me dando a chance de aproveitar aquele momento calmo em sua companhia.
O vento passava vagarosamente junto as horas, aproximando-nos da escura noite. O pôr do sol era lento e belo, a enorme estrela estava a brilhar tons de vermelho e laranja ao final do dia, tingindo o céu com seu esplendor.
O sol finalmente se pôs, deixando a lua cheia tomar seu lugar. Grande e brilhante, parecendo estar logo ali na frente, a lua se mostrava no céu escuro da noite. Apesar do que houvera mais cedo, Aquelas poucas horas marcaram um dos poucos momentos pacíficos que teríamos em meio aquela jornada.
E mesmo com tudo isso, o que era mais calmante para mim, por algum motivo, era ter a Mia do meu lado. Não de um jeito romântico, por mais que eu a achasse extremamente atraente, mas de uma forma inspiradora... É difícil colocar em palavras, mas ela tinha esse dom, sabe? De fazer as pessoas ao lado dela quererem ser melhores. Aquilo mantinha minha alma serena, como um Oasis no meio de um deserto de sangue e cadáveres, onde ronda a morte...
— É... Parece que está de noite... — Mia disse ao ver o alvorecer da lua.
— Então já vai entrar? — Perguntei.
— Vou... Quer que eu traga algo pra você comer? —
— Não... Não precisa, eu tenho um pacote de salgadinho aqui comigo. —
— Tudo bem. Vou indo ent~ —
*Inglês* — Gente o pai do Aki fez sushi aos montes pra janta! Os "Djôs" estão perfeitos, pelo menos de acordo com os outros, eu vou ficar só nos Surimis, mas sério, vocês tem que comer! — Disse Yan ao abrir a porta bruscamente.
— Hmm... — Eu fiquei ansioso, com água na boca.
— Tem certeza que não quer que eu traga nada? — Ela perguntou com um tom brincalhão.
— Não precisa... Eu posso pegar sozinho, sair daqui um pouco não deve fazer mal. — Respondi
— Haha! — Ela riu.
Nós entramos. Alguns estavam no chão perto do sofá comendo com potes ou tigelas, Kabir, Pablo e Diogo estavam sentados no sofá e Aki estava na mesa com seus pais.
Eu, Mia e Yan pegamos o que tinha sobrado que ainda servia como prato e começamos a comer. Repetimos algumas vezes, já que os sushis estavam divinos.
*Japonês* — Sr. Aburaya, onde você aprendeu a fazer sushis assuim? — Perguntei.
*Japonês* — Ahh que bom que perguntou! Eu já fui um baita sushiman na adolescência! Eu não quero me gabar, mas eu era o melhor do bairro haha! — Ele respondeu feliz da vida.
*Japonês* — Óbvio, você era o único do bairro, haha! — Disse a Sra. Aburaya.
*Japonês* — Pode até ser, mas eu realmente era muito bom. E que eu me lembre, foi por causa disso que nos conhecemos. — Ele respondeu.
*Japonês* — Aqueles malditos "Tekkamakis"... — Disse a mãe de Aki, com um olhar suspeito para seu marido.
*Japonês* — Seria muito bom se tivéssemos um lugar melhor para colocar essas crianças, não tem nem futons pra elas aqui... Quem eu quero enganar, eu só queria um pouco de privacidade com a Fumiko agora... — O Sr. Aburaya disse baixinho para si mesmo choramingando. (Óbvio que eu ouvi).
Eu, de novo, voltei para a varanda. Estava quieto, silencioso. No relógio marcavam 19:45. A noite estava clara por causa da lua que cintilava no céu, então eu podia enxergar uma boa distância, e caso prestasse atenção podia ver ainda mais longe. Por lá ficaria um bom tempo.
.
2 horas e 30 minutos depois
.
— Oi Max. Olha, todo mundo já dormiu e eu estou indo também, então eu te trouxe isso, já que você vai passar o resto da noite... — Mia disse colocando uma cadeira perto de mim.
— Obrigado. — Falei meio sem graça.
— De nada... Boa noite. — Ela se despediu indo de volta para o apartamento.
— Boa noite. —
— Ahh, Max... —
— O que foi, Mia? —
— Eu sei que você quer nos proteger... Mas você não precisa morrer pra isso, você sabe né? —
— O que eu sei é que eu estou disposto a fazer isso, caso precise. —
— Eu sei, mas... Você não precisa... Todos nós podemos voltar pra nossas famílias... —
— Eu te entendo, Mia. Mas não se preocupe comigo, eu vou ficar bem. —
— Eu sei que vai, você é o cara mais forte que eu conheço... Ainda assim, não somos... Você não é invencível. Se continuar se jogando de cabeça no perigo por nossa causa, uma hora você vai acabar morrendo... Eu não quero isso... de novo não... — Ela disse com a voz trêmula e os olhos marejados.
— Hmm, pode ficar tranquila Mia... Todos vamos voltar para nossos pais. —
— ...Promete...? —
— Sim, Mia. Eu prometo, custe o que custar. — Disse com firmeza.
— Obrigada, só vamos tomar cuidado com mais inocentes no fogo cruzado, acho que os do aeroporto já foram o suficiente... Boa noite, e é pra valer dessa vez. —
— Não sei como vamos fazer isso, mas claro que vou tentar evitar mais baixas civis! Ah, e Boa noite, Mia. Durma bem. — Falei com um leve sorriso galante, apesar de ter planejado uma expressão determinada.
— Han?! C~Cuidado como fala... — Ela falou baixinho para si mesma com o tom de voz constrangida, e fechou a porta, me deixando sozinho na varanda.
.
Pouco mais de 1 hora depois
.
Todos já tinham dormido, alguns tiveram dificuldade, outros nem tanto, mas todo mundo conseguiu pegar no sono, mesmo que ainda desse pra ouvi-los se remexendo e se virando, não parecia ser nada além de um pesadelo...
Eram quase meia noite. Eu estava com um pouco de dúvida, mas tinha decido que iria ver o que Hynder queria, e fiquei tão preocupado tentando me decidir que esqueci de sequer dar uma desculpa caso alguém desse por minha falta. Quer dizer, eu não estava gostando de mentir, mas envolvê-los com o Hynder seria um caminho sem volta.
De qualquer maneira, Hynder poderia nos ajudar muito se ele realmente fosse nosso "anjo da guarda", e se não fosse... Era só matar.
Com cautela desci de andar em andar pelo lado de fora do prédio, então sem fazer muito barulho cheguei ao chão e lá, marquei o Castelo de Osaka no GPS.
Antes que pudesse sair da rua escutei alguns carros andando pela área, eram carros de polícia. Acabei pulando de susto, e parei em cima de um telhado a uns 8 metros do chão. Nessa hora eu lembrei do pulo absurdo que eu dei em Salinas, o que me fez pensar em um modo rápido, prático e seguro de chegar ao meu destino.
Me prontifiquei para dar um pulo em cima do prédio logo em frente e sem hesitar corri e me lancei para cima. Eu não pulei alto o suficiente, mas tive uma descarga de adrenalina naquele momento que deixou tudo mais lento, lento o suficiente para que eu pudesse amenizar a minha queda segurando na parede do prédio. Tenho certeza que meus olhos brilhavam naquele momento.
Eu não desisti, apenas me lancei novamente para cima com meus braços e, como estava tudo muito lento, eu consegui correr para cima do prédio. Ao chegar no topo me vi com impulso enorme, que me jogou alguns metros para cima.
O pouso não foi um problema, eu estava ansioso... Acelerado. Peguei um impulso para frente já pulando para o próximo prédio. Saltar e me impulsionar foi tudo o que eu precisei para continuar com aquele parkour, foi mais fácil do que parece, apesar de eu ter ficado tenso.
Cada salto era dado com meu corpo inclinado para frente, pendendo todo meu peso nesta área e redistribuindo minha força de equilíbrio nos ombros, já que a força unidimensional com a qual minhas pernas me impulsionavam conseguia me manter num vetor único por tempo mais que o suficiente na maioria dos prédios. E quando não mantinha, meus reflexos e minha surpreendente mobilidade aérea eram mais do que o suficiente para que eu pudesse encontrar outro ponto de impulso, por mais improvável que fosse.
E assim segui até o Castelo de Osaka. Vale dizer que no caminho não faltaram viaturas patrulhando a cidade, além dos helicópteros na periferia e dos vários tanques de guerra entrando pelas rodovias... É, andar na rua definitivamente não era seguro.
Assim que cheguei nas dependências do Castelo de Osaka, observei cada centímetro do lugar. Ele estava vazio, sem qualquer iluminação ou barulho além de três batimentos cardíacos, deixando o clima tenso no ar. Eu estava andando cautelosamente, com a mão na parte de trás da minha calça onde estava minha SIG. E foi no portão do castelo que Hynder chamou por mim.
— Pode entrar Sr. Rodrigues. Não há porque adiar mais essa conversa. — Ele disse num tom descontraído.
Eu obedeci e entrei. Ele estava sentado em uma cadeira, tomando alguma coisa em uma xícara, havia mais uma cadeira além da que ele estava sentado e uma pequena mesa redonda entre ambos, além de dois caras altos do seu lado, ambos fortes, vestidos de preto com óculos escuros.
— Por que você me chamou aqui, Hynder?! — Perguntei estressado, apontando minha arma a sua cabeça.
— Bem, pra que o senhor acha? — Ele me questionou sorrindo e em seguida tomando um gole de uma xícara de chá.
— Acho que você quer me matar. Mas é um sentimento recíproco entre eu e você. — Apontei de forma séria, sem perder a mira.
— O senhor não poderia estar mais errado. Meu caro, veja bem porque eu permitiria que chegassem lá do Equador até aqui se eu quisesse vocês mortos? —
— Eu não sei, deve ser porque você é um sádico filho da puta que gosta de joguinhos! —
— Haha! Vejo que mesmo depois de tudo você ainda tem senso de humor. — Hynder riu, mostrando seus dentes brancos como marfim, no sorriso assustador que eu tanto odiava.
— Ah vai se fuder porra! Me chamou aqui pra ficar de palhaçada? Se for, eu vou só te abrir no meio! — Terminei rosnando.
— Se acalme meu rapaz, por favor, sente-se e tome uma xícara de chá. — Ele disse apontando em direção a cadeira vazia com sua xícara, logo antes de tomar um gole e cruzar as pernas.
— Não vou sentar em merda nenhuma nem tomar essa caralha de chá! Fala logo o que você quer filho da puta! — Dei um murro na mesa, a estraçalhei, junto de tudo que havia em cima dela. Meus dedos na mão vazia tremiam psicóticamente... Eu estava me segurando pra não dilacerar mais nada nem ninguém naquela hora. Os guardas pareciam tremer só de olhar.
— Certo, como quiser. Como você deve imaginar eu deveria matar vocês... —
— Sim, mas você diz que não vai fazê-lo... Porque?! — Indaguei ainda com raiva, mas mais calmo que antes.
— Me diga, garoto foi você que matou o sargento Nikolas Scott Andrey? —
— Sim, fui eu mesmo. —
— Foi fácil? —
— Onde você quer chegar? — Questionei impaciente.
— Existem duas questões que me fazem te querer vivo. A primeira é um problema que eu estou enfrentando atualmente sobre o soro, que, mesmo que não mate mais as pessoas, ainda é muito fraco em adultos, o que desagradou boa parte dos meus chefes. Então eu tenho que modificá-lo só mais um pouquinho. —
— Tá, e você quer que eu seja sua cobaia por vontade própria dessa vez?! — Questionei fora do sério.
— Pode ficar calmo. Eu preciso de várias coisas, incluindo ver até onde você é capaz de chegar se tratando dos limites corporais, mas não preciso mais de uma cobaia daquele tipo... Não tão jovem, pelo menos. Enfim, o que eu quero dizer é que eu vou permitir que leve os pirralhos de volta para suas casas, e enquanto isso vou analisar seu desempenho contra as dificuldades no caminho. — Hynder falou de forma sugestiva.
— Então é só isso?! Você me chamou aqui pra ter uma conversa que não muda nada?! —
— Você está enganado, meu caro. Eu disse que precisava disso, mas não é tudo o que eu preciso. —
— Isso tá com cara de acordo... Tem a ver com o outro motivo pra me querer vivo? — Comentei massageando a raiz do meu nariz.
— SIM! E fique tranquilo, eu gosto de você, rapaz! Quando tudo acabar, tudo que você terá de fazer, é aceitar ser morto. Caso contrário todos vocês vão morrer. — Ele soltou um sorriso convencido.
— Gosta de mim o teu rabo arrombado! E em troca, o que a gente ganha exatamente?! E eu pensei que você me queria vivo!— Esbravejei a plenos pulmões.
— Sim, Maxwell, eu gosto de você... Não... Eu preciso de você... Preciso que você veja, preciso que você entenda tudo o que está acontecendo... Esse é o segundo motivo para eu te querer vivo agora... Por isso eu não quero te matar, e por isso eu estou oferecendo ajuda, que para começar, vocês terão meios de transporte para se locomover, eu dou uma arriada nas tropas deles, alivio a vigilância nas ruas, reduzindo só para alguns helicópteros, tanques de guerra, viaturas e camburões, de ofereço caminhos mais seguros, no caso, tudo que você já tem até agora. E para terminar, ofereço uma vida dos seus amiguinhos de volta. Isso é claro, já está em parte, garantido, considerando que eu apaguei o registro deles do Runner, fator que retarda a descoberta de suas identidades, até que sua volta dos mortos na sociedade o faça, mas eles não poderão usar poderes, nem nada mais acentuado em suas capacidades físicas. E caso duvide, eles estariam seguros, mesmo sem minha interferência, já que uma criança morta chama atenção, morrer duas vezes seria demais, ainda mais com a família junto. Mas você tem que lembrar que mesmo com a minha ajuda, não posso garantir que todos sobrevivam, e além disse, eu tenho uma quantidade finita de recursos, então depois do Japão o avanço e a sobrevivência de vocês vai ser problema seu. E pode apostar, não vai ser pouco. — Hynder esclareceu, tomando o que restava de chá em sua xícara, olhando para o fundo da taça ao terminar de engolir.
— O QUE?! Que palhaçada é essa, porra? De que adianta eu entender seja lá o que for, se eu for morrer depois?! — Comentei com desgosto, guardando minha SIG do lado da calça, contrariando meus instintos.
— Eu não posso te dizer, Maxwell... Você tem que descobrir por conta própria... Isso é algo importante... Importante o suficiente para que eu os traia te mantendo vivo...
Independente disso, é bom que saiba que ainda tem um terceiro motivo pra te manter vivo. Eles estão desesperados com a sua fuga, com a segurança deles, e com informações vazadas. Estão descuidados. E em parte isso é culpa minha, por ter deixado você fugir. Então em nome da minha palavra eu tenho que impedi-los de se autodestruir assim, por sua causa, um empecilho grande demais pra deixarem vivo... E também é por isso, que mesmo se eu não tivesse meus interesses, você ainda teria que morrer, nem que fosse pra convencê-los a esquecer totalmente seus amigos, que nem são lá uma prioridade, apesar de tudo... Então eu te pergunto, Sr. Rodrigues, quer protegê-los? Porque só existe um caminho pra vocês se manterem vivos até completar esse objetivo e agora, você sabe qual é. — Ele jogou naturalmente a xícara para trás, pude ouví-la quebrando ao fundo.
— Não posso dizer que entendi tudo... Mas ainda me parece uma proposta bem precária... — Disse pensativo.
— Pode ser, mas duvido que você tenha uma ideia melhor. — Ele retrucou em deboche.
— E se eu tiver?... —
— Nesse caso, eu não vou mais proteger você, e o destino que te aguarda será bem pior do que o que estou planejando. — Ele ameaçou com um olhar arrepiante... Desgraçado.
— Merda... Tá legal, só fala a parte permanente do acordo de novo pra eu ter certeza que não perdi nenhum detalhe. —
— Eu ofereço conveniências de transporte, caminhos e vigilância geral, além da vida dos seus amigos de volta em troca da sua. Então, o que me diz? — Hynder abriu seu principal sorriso rasgado que me tirava sério.
— Em primeiro lugar, vai se foder! —
— Anotado. —
— E em segundo... — Falei relutante enquanto pensava e repensava.
Eu queria salvar aquelas crianças, a Mia, o Yan... Todo mundo. Eu queria que eles pudessem ter suas vidas de volta. Mas estar de frente com uma decisão daquelas era... Porra, eu tinha passado o dia pensando naquilo, e agora estavam me dando uma escolha, proteger ou ser egotista...
Se eu aceitasse, estaria os protegendo e vendendo a minha vida, se eu recusasse, eu tinha certeza que poderia sair de lá, mas também tinha certeza que não poderia proteger ninguém. Sem a ajuda do Hynder seria realmente impossível sobreviver... Já não tinha sido fácil com a ajuda dele...
E além de tudo, eu nunca tinha pensado que minha morte fosse acontecer sem que eu lutasse antes de tudo acabar, nunca achei que fosse entregar o fio da minha vida para que alguém cortasse... Mas a vida é foda, e isso conseguia me deixar tão puto quanto lembrar do Andrey.
Admito, eu fiquei indeciso... Eu queria mais do que tudo salvar aquele moleques, mas por outro lado, eu também queria me vingar, dilacerar todos aqueles desgraçados, mesmo sabendo que isso era um objetivo tolo, além de também não querer morrer sem lutar...
Infelizmente, não da pra ficar em duvida, porque a duvida traz a certeza de que você vai fracassar... Então eu fiz o que jurei fazer muito antes de ter aquela vontade assassina dentro de mim... Fiz a única escolha que me permitia concluir minha missão, a única coisa que me permitiria morrer em paz comigo mesmo: Salvar aquelas crianças...
— O quê...? — Ele perguntou apreensivo.
Eu lembrei da minha vida antes daquilo tudo... Lembrei do meu irmão, dos meus pais, dos meus primos, avós e amigos... Minha vida estava tão boa antes de tudo, eu estava tão feliz... Como foi acabar daquele jeito? Foi uma escolha errada... Talvez tenha sido certa... De qualquer jeito, eu estava chorando, não derramei uma lágrima, mas estava chorando... Eu queria muito a minha vida de volta também... Mas isso não me impediu de fazer minha escolha... Nenhum maldito sentimento o faria, não mais.
— "Merda! Merda! Merda! Merda! Merda!... Me desculpa... Me desculpa... Me desculpa, pai... Me desculpa, mãe... Me desculpa, irmãos... Parece... Que eu não vou votar pra casa..." — Pensava com um aperto sufocante em meu peito, e um frio indescritível nas mãos.
— Eu aceito a oferta, Hynder! — Afirmei sério, com um olhar forte, após meio segundo de hesitação.
<--To be continued...
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