Prequel
IMPÉRIO VALIRIANO — CAPITAL VALÍRIA: 50 A.C
POV DO NARRADOR
Os primeiros raios de sol despontavam no horizonte, tingindo o céu com dourados e laranjas, como se a própria aurora saudasse a grandiosidade do Império Valiriano. A capital, uma joia forjada por fogo e ambição, despertava lentamente. Majestosos dragões, símbolos das quarenta casas de senhores de dragões, cruzavam os céus em voos sincronizados, compondo uma dança que refletia a diversidade e o poder do reino.
A opulência valiriana estava em cada detalhe: nos palácios de mármore esculpido com figuras de dragões em chamas, nas praças adornadas com fontes mágicas, e até nas vestes luxuosas que os nobres exibiam. As ruas pulsavam de vida. Nobres transitavam altivos, acompanhados por servos diligentes que carregavam sacolas abarrotadas de iguarias ou guiavam os filhos de seus mestres com cuidado respeitoso.
No entanto, sob a superfície de tamanha magnificência, uma realidade sombria corroía o coração do Império. Além dos muros dourados da cidade, nas profundezas das minas vulcânicas das Catorze Chamas, ecoavam os estalos dos chicotes. Lá, os escravos trabalhavam até a exaustão, forçados a arrancar ouro das entranhas da terra. Seus lamentos mesclavam-se ao odor sufocante de enxofre e sangue, criando uma melodia macabra que a capital preferia ignorar.
O brilho de Valíria era inegável, mas suas sombras eram tão profundas quanto as labaredas que iluminavam as noites do Império. O esplendor e a ruína caminhavam lado a lado, numa dança tão antiga quanto os próprios dragões que dominavam seus céus. Sentado em um canto discreto, o jovem lorde Daemon Targaryen , com apenas 22 anos, tamborilava os dedos no caderno de couro negro relacionado sobre sua perna, como se marcasse o ritmo dessa dança. O dragão vermelho de três cabeças, símbolo inconfundível de sua Casa, adornava a capa com majestade. Logo abaixo, gravado em letras que parecem brilhar à luz do sol nascente, o lema familiar ecoava em sua mente: "Fogo e Sangue" .
Seu olhar intenso permanecia fixo na entrada monumental do templo de Hunara, a Deusa da Magia. O edifício, uma obra-prima de pedras e aço valiriano, erguia-se imponente no coração da capital de Valíria. Cada detalhe, desde as runas sagradas em tons místicos de azul e violeta até as esculturas meticulosas que narravam os feitos divinos de Hunara, evocava reverência e mistério. Ao redor do templo, jardins belos se estendiam como uma dádiva divina. Flores de uma beleza arrebatadora desabrocharam em sincronia com a magia que parecia fluir das próprias raízes, exalando fragrâncias que enfeitiçam os sentidos.
Daemon sentiu o peso dos olhares sobre si. Os sacerdotes e fiéis que subiam a colina lançavam olhares furtivos, mas foi a atenção das donzelas que mais o incomodava. Algumas murmuravam entre si, fascinadas pela aura imponente do jovem Targaryen.
Com traços esculpidos pela aristocracia, Daemon exalava um tipo de beleza que era ao mesmo tempo irresistível e perigosa. Seus cabelos prateados, tão lisos quanto seda, caíam até os ombros, contrastando com os olhos violeta que carregavam um mistério sombrio. Seu traje era um reflexo de sua linhagem: opulento, intimidador e carregado de significado.
A capa preta, longa e impecável, parecia uma extensão de sua presença, arrastando-se pelo chão como um manto de sombras. Bordados em vermelho escuro teciam histórias de dragões e conquistas, enquanto a túnica negra ajustada ao seu corpo destacava sua figura esbelta e atlética. Um broche de rubis preso ao fecho da túnica captava a luz, brilhando como se alimentado pelas chamas de sua alma.
As botas de couro fino, em preto profundo, e o cinto adornado com gemas vermelhas, completavam o conjunto com um equilíbrio perfeito entre funcionalidade e opulência. E, à sua cintura, repousava a inseparável Irmã Negra. A espada, uma relíquia lendária, parecia pulsar com uma energia própria, como se aguardasse o próximo momento em que seria desembainhada.
Daemon ajustou a postura, engolindo em seco enquanto o tempo parecia desacelerar. A atmosfera carregada de magia, mistério e expectativa o envolvia por completo. A imponente porta de madeira, ricamente decorada com símbolos mágicos e runas, começou a se abrir, revelando as donzelas que seguiam os ensinamentos da deusa Hunara. Sentado em um dos bancos de pedra, Lorde Daemon Targaryen observava com atenção, e então seus olhos finalmente encontraram aquilo que ele buscava incansavelmente desde os 10 anos: Lady Laena Velaryon, a joia mais rara de Valíria. A visão dela fez seu coração acelerar. A beleza exuberante da dama não apenas preenchia seus sonhos, mas agora, na entrada do templo, materializa-se como a realização de um desejo há muito alimentado.
Todos ao redor ficaram encantados com a beleza atemporal e a graciosidade de Lady Velaryon. Seus cabelos, uma cascata de fios brancos e cacheados, fluíam graciosamente até a cintura, assemelhando-se à mais fina seda dançando ao sabor do vento. Cada cacho parecia uma obra de arte esculpida pela própria natureza. Safiras delicadamente incrustadas brilhavam entre os cachos, formando uma coroa que resplandecia com a dignidade de uma rainha, enquanto fios dourados se entrelaçam harmoniosamente em sua vasta cabeleira.
Seus olhos, de um violeta claro celestial, pareciam refletir os segredos do cosmos, transbordando mistério e conhecimento ancestral. Daemon não conseguia desviar o olhar; estava hipnotizado. Quando se permitiu concentrar nos lábios dela, voluptuosos e pintados em um tom suave, percebeu que aquele sorriso tinha o poder de acalmar as tormentas mais selvagens do oceano.
O vestido, de um verde-água etéreo, abraçava delicadamente os contornos de Laena, ressaltando a pureza e serenidade que ela emanava. Detalhes de cavalo-marinho bordados em dourado adornavam a bainha e as mangas, conectando-a sutilmente à ancestralidade Velaryon. A saia fluía em cascata até o chão, conferindo-lhe graça e leveza, enquanto o decote modesto revelava apenas o necessário, emoldurando o colo delicado e destacando suas costas expostas de forma elegante e sensual. Um lenço da mesma tonalidade envolvia suavemente sua cabeça, sem esconder completamente a cascata de cachos brancos, permitindo que a beleza natural de Laena permanecesse em destaque.
Daemon, erguendo-se do banco, sussurrou quase inaudivelmente: — Que os deuses abençoem vossos pais, Dōrīn (meu mar).
No instante em que seus olhares se encontraram, o tempo pareceu congelar. Uma corrente invisível de conexão uniu-os, como um eco de memórias da infância e promessas não ditas. Daemon sentiu o calor familiar de ondas acariciando a costa, enquanto Laena experimentou a suavidade de um vento acolhedor.
Trocaram sorrisos tímidos, mas repletos de significado, como se compartilhassem um segredo inquebrantável. As servas de Lady Velaryon, percebendo a tensão no ar, desviaram os olhares respeitosamente, permitindo que o momento se desenrolasse sem interrupções.
— Lorde Daemon. — A voz dela, doce e melodiosa, cortou o ar como uma brisa suave. Laena fez uma graciosa reverência, e o simples som de seu nome nos lábios dela fez o coração de Daemon pulsar descontroladamente.
O perfume delicado dela o envolve, como uma presença viciante que preenchia todos os sentidos. Cada palavra de Laena parecia tecer uma melodia irresistível, selando o destino de ambos naquele instante. Mas esse destino, cruel e inflexível, havia sido decidido muito antes que seus corações começassem a bater em uníssono.
Um amor de infância destinado a jamais se concretizar, uma vez que Lady Velaryon foi prometida, desde o nascimento, ao desprezível Lorde Stherous Vulcan, da Casa Vulcan, os senhores dragões mais poderosos de Valíria. Criada desde o nascimento pela Casa Vulcan, Laena era uma prisioneira de luxo. Cada movimento seu era calculado, cada palavra, medida. Sua existência era uma dança delicada entre sobrevivência e busca por liberdade.
As amarras do destino pareciam cruéis, entrelaçando os corações de Daemon e Laena em uma dança de desafios e sacrifícios, onde o caminho da paixão se entrecruza com as expectativas e responsabilidades impostas por suas linhagens. Os sentimentos de ambos persistiam, mesmo com o passar do tempo, como brasas ardentes, uma chama que queima em silêncio, alimentada a cada respiração.
— Como tem passado, Minha Lady? — Perguntou ele em um tom preocupado. Fazia luas que ele não a via andando pelas ruas de Valíria. Ele havia feito vigília no templo da deusa Hunara por horas, durante vinte dias na esperança de vê-la, mas ela nunca veio. A sinceridade em sua voz revelava não apenas a cortesia, mas uma verdadeira inquietação pela ausência de Lady Laena em sua vida nos últimos tempos.
Laena hesitou antes de responder. O peso de cada palavra estava estampado em seu olhar, que encontrou o de Daemon por um breve momento. Seu coração vacilava, dividido entre a alegria de vê-lo e o temor das consequências.
— Estava debilitada, Milorde. Peço desculpas por preocupá-lo. — A voz dela, suave como uma brisa de primavera, soou com um misto de gratidão e tristeza.
O tom de Daemon suavizou, mas sua preocupação permaneceu evidente.
— Minha maior alegria é vê-la novamente, Lady Laena. A vossa ausência apagou as estrelas do céu noturno. Valíria perdeu parte de seu brilho sem sua presença. — Os olhos violetas de Daemon brilhavam com um amor que ele não podia esconder, uma esperança tão evidente quanto perigosa.
Os olhos violeta de Laena desviaram dos dele, suas bochechas corando profundamente. Era perigoso demais permitir que seus sentimentos transparecessem. As paredes de Valíria tinham ouvidos, e o brasão flamejante da Casa Vulcan em suas vestes lembrava a ela de sua prisão dourada.
Os servos, postados a uma distância respeitosa, estavam inquietos. Os Vulcan eram conhecidos por sua crueldade e sua habilidade em detectar traições, reais ou imaginadas. Mesmo um vislumbre da conexão entre Laena e Daemon poderia desencadear retaliações impensáveis.
— Lorde Daemon, como sempre muito gentil, com a sua licença. — Ela se desculpou por partir, curvando-se levemente antes de se afastar.
Daemon inclinou a cabeça em um gesto de aceitação, mas a mágoa era evidente em seu rosto.
— Adeus, Dōrīn (Meu Mar).
Enquanto ela se afastava, acompanhada pelos servos da Casa Vulcan, Daemon permaneceu imóvel, seus olhos violeta fixos em Laena até que ela desaparecesse dentro da carruagem negra e dourada que a aguardava. O brasão da Casa Vulcan, um vulcão ativo envolto em chamas alaranjadas, brilhava sob o sol, um lembrete implacável da força opressiva que controlava sua amada e a afastava dele.
Caraxes, o dragão de Daemon, grunhiu ao vê-la partir, como se sentisse a dor de seu montador. Suas escamas vermelho-sangue reluziam à luz do dia, enquanto seus olhos flamejantes seguiam a carruagem descendo a colina. Ele rugiu, um som profundo e ameaçador que reverbera no ar, ecoando a frustração e a impotência que Daemon sentia ao perder Laena mais uma vez.
— Laena. — O nome escapou de seus lábios como um lamento, carregando o peso da perda e do desejo.
Determinado, ele desceu rapidamente os degraus do templo de Hunara e parou diante de Caraxes, que o aguardava com paciência feroz. Crianças que subiam em direção ao templo fitavam o dragão com olhos cheios de admiração, fascinadas por sua silhueta magra e ameaçadora. Cada cicatriz nas escamas de Caraxes era um testemunho de batalhas sangrentas e vitórias ardentes, uma extensão do espírito indomável de Daemon.
Com um gesto firme, Daemon acariciou o pescoço do dragão. Mas, apesar da força em seus movimentos, seus olhos estavam distantes, fixos em um futuro incerto.
— Não se preocupe, velho amigo, Laena será minha, nem que para isso eu tenha que queimar Valíria. — Sua voz era sombria, mas determinada, um eco da loucura e da paixão que o consumiam. Ele não apenas desejava Laena; ele precisava dela, como o fogo queima com o oxigênio.
Caraxes rugiu novamente, dessa vez como uma promessa. O som parecia responder às palavras de seu montador, um juramento de fogo e sangue compartilhado entre homem e dragão. Ambos eram caos personificado, ansiosos por romper as correntes do destino e reescrever a história com suas próprias chamas.
O brilho da estátua da deusa Hunara, no alto do templo, parecia observá-los com um silêncio enigmático, como se testemunhasse o juramento feito sob sua luz. E, enquanto a cidade de Valíria respirava sob o sol, as brasas da promessa de Daemon e Caraxes começaram a arder. O caminho à frente era traiçoeiro e sem retorno, mas a determinação deles era tão implacável quanto o fogo que consumiria tudo em seu caminho.
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Na fortaleza Vulcan, Laena sentia o peso esmagador das paredes ao seu redor. O salão principal, adornado com tapeçarias que narravam as glórias passadas da Casa Vulcan, parecia sufocante, como se as histórias de conquistas e poder fossem fantasmas que a aprisionavam. Lorde Stherous Vulcan, seu futuro marido, era uma figura malévola e desagradável. Seus olhos frios, sempre desprovidos de calor ou bondade, analisavam Laena não como uma pessoa, mas como um troféu, uma peça preciosa em seu intrincado tabuleiro de poder.
Mas Laena não era uma peça submissa. Por trás de sua postura aparentemente resignada, seu espírito rebelde ardia como uma chama que recusava ser apagada. Cada vez que ela pensava em Daemon, sentia o coração acelerar, uma lembrança viva do que poderia ter sido sua verdadeira liberdade. Porém, a realidade era implacável, e os olhos atentos dos Vulcan estavam sempre sobre ela, como feras à espreita de qualquer sinal de fraqueza.
Naquela noite, enquanto o castelo mergulhava no silêncio, Laena buscou um raro momento de solitude. Ela abriu a sacada de seu quarto, permitindo que o ar fresco dos jardins invadisse o espaço opressor. Os jardins, com suas flores raras e árvores ancestrais, eram o único vislumbre de liberdade dentro das muralhas que a aprisionavam. Sob a luz pálida da lua, que parecia compartilhar sua tristeza, ela sussurrou para si mesma:
— Se o destino é tão cruel, por que me permite amá-lo?
Seus olhos violetas se ergueram para o céu, procurando respostas que nunca viriam. Foi então que uma estrela cadente cruzou o horizonte, sua luz fugaz iluminando a noite. Laena fechou os olhos por um instante, e, em silêncio, fez um pedido ao universo: que, apenas uma vez, o destino favorecesse o amor em vez do dever.
Continua...
Nota da autora: O prequel terá 20 capítulos, para que vocês possam se ambientar nos costumes de Valíria e conhecer os outros personagens que contribuíram para a história. Após isso, a passagem do tempo ocorrerá para contar a história das gêmeas dragão. Espero que tenham gostado.
Lady Laena Velaryon
A Flor Rara e Oceânica de Valíria.
Daemon Targaryen
O Dragão de Sangue. O futuro Lorde da Casa Targaryen em Valíria, compartilha a mesma idade de Laena: 22 anos.
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