❝With your feet on the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse
But there's nothing in it
And you'll ask yourself

Where is my mind? ❞

- Pixies

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― Vamos, vamos Aaron! Onde você está com a cabeça hoje?! ― O treinador grita enquanto o garoto corre pelo campo com a bola da mão. Treinador Wilson não deixava de estar certo, ele estava extremamente avoado hoje. O bilhete do biscoito da sorte não saia da sua cabeça, e para variar, as líderes de torcida resolveram treinar junto com o time de futebol, ou seja, Aubrey estava apenas a alguns metros dele. Ás vezes, ela olhava-o e sorria gentilmente, deixando Aaron todo bobo.

― Me desculpa, treinador! Não acontecerá mais. ― Wilson nem se deu o trabalho de responder o menino. Sabia que era um bom jogador e tinha feito uma boa escolha colocando-o como capitão, mas também entendia que nenhum dos seus jogadores conseguiria resistir à um rabo de saia, por isso odiava quando tinha que colocar seu time para dividir o campo com as líderes de torcida.

No final do treino, quando os jogadores estavam indo para o vestiário tomar uma ducha, Aaron foi parado por Aubrey, desejando-o parabéns pelo bom treino. Ele não deixou de pensar que se ela sabia que ele tinha feito um bom treino, era por que estava observando-o. É agora ou nunca, Aaron, você só precisa chamá-la para sair, pensava.

― Aubrey! Espera! ― Aaron correu um pouco para alcançar a garota, que já se encontrava a alguns metros indo em direção ao seu grupo de amigas ― Eu queria saber se você não queria sair para comer alguma coisa hoje de noite... ­­― Aaron perguntou, colocando seu sorriso galanteador no rosto. ― Se você já não tiver compromisso, claro.

― Acho que posso abrir uma exceção por você, capitão ― A garota respondeu, sorrindo gentilmente e encostando no braço do jogador ― Passe no meu apartamento às nove. ― Ela se virou e continuou andando até suas amigas, que olhavam para os dois com sorrisos maliciosos.

O capitão entrou no vestiário sorrindo para todos como se estivesse ouvido que a fome do mundo acabou. Seus companheiros de time já sabiam da enorme queda que ele tinha por Aubrey, e quando ficaram sabendo do encontro, trataram de comemorar dando tapinhas nas suas costas e desejando-o boa sorte.

― Ei cara! ― Um dos companheiros de time dele parou-o quando Aaron ia sair do vestiário já tomado banho ― Você poderia me passar o número da sua amiga, Jackie? Quero chamá-la para sair.

Todos no vestiário ficaram em silêncio. No time, Jackie era assunto proibido. Não levem a mal, ela era uma garota bonita. Muito bonita, na verdade. Suas pernas longas, pele bronzeada e cabelos castanhos deixava qualquer homem maluco, mas para os colegas de Aaron, ela era fruto inalcançável. Mas não é como se ele tivesse falado que ninguém podia chegar perto dela, pelo contrário, nunca falou nada sobre a amiga para os colegas, no entanto, toda vez que um deles comentava de maneira maliciosa sobre Jackie ou até mesmo tentava se aproximar dela em festas, Aaron coloca um olhar mortal no rosto. No começo, todos achavam que o mal humor era porque o capitão via a garota como uma irmã mais nova, mas depois de alguns meses de convivência com ele, foram percebendo que talvez não fosse apenas isso.

Aaron olhou para o companheiro com as sobrancelhas arqueadas. Ninguém nunca tinha lhe pedido o número de Jackie antes. Não gostava da ideia de seus amigos namorando ela, eram todos uns babacas que só pensavam em sexo. Mas o que ele poderia fazer? A escolha tinha que ser inteiramente de Jackie, ele não podia se meter em sua vida amorosa, mesmo ás vezes não concordando com as escolhas da garota.

― Ah sim, te passo sim. ― Aaron respondeu, pegando o celular do amigo e digitando o número de Jackie, que ele já tinha decorado à esta altura do campeonato.

No mesmo instante, múrmuros começaram a circular no vestiário. "Se eu soubesse que ele passaria, tinha pedido há meses atrás" ou "Meu deus, eu sonho com aquelas pernas desde que era um calouro" eram alguns dos comentários que Aaron ouviu após passar o número ao colega. Aquilo o deixou extremamente irritado, quem eles achavam que eram para falar aquele tipo de coisa de Jackie? Mas, como não estava afim de ter seu humor estragado por um bando de adolescentse com muito testosterona, resolveu apenas se retirar do vestiário. Precisava ligar para a amiga e contar que Aubrey tinha aceitado sair com ele.

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― Essa camiseta 'tá boa, Jackie? ― Aaron perguntou pela milésima vez. Jackie revirou os olhos, a camiseta estava ótima e ela já tinha dito isso para ele milhares de vezes. Ela estava deitada na cama do garoto enquanto lia seu exemplar de Zodíaco e ignorava metade das coisas que o amigo falava. ― Você pode, por favor, parar de me ignorar?

― É que você está enchendo meu saco, Aaron! Eu já te disse um milhão de vezes que a sua camiseta está ótima! ― Jackie respondeu, se levantando da cama pisando forte e abrindo o guarda roupa do amigo ― Coloca logo essa calça preta e o seu All-Star preto e some logo daqui! ― Ela disse, enquanto separava a calça e o sapato e entregava-os para Aaron, que a retribuiu com um beijo na bochecha.

― Obrigado, rabugenta!

Faltava apenas alguns minutos para seu encontro e ele estava extremamente animado. De tarde, não conseguiu prestar atenção em quase nenhuma aula e se via viajando pensando no lugar onde levaria Aubrey e em como ia dizer a ela que ela era o amor de sua vida. No entanto, quando estava prestes a sair de casa para ir ao apartamento de Aubrey, ouviu Jackie o chamar:

― Quando você estiver voltando do encontro, faz um favorzinho para mim? ― Jackie perguntou e o amigo assentiu ― Preciso que você passe na farmácia e compre meu remédio de cólica, meu útero não está colaborando comigo hoje.

― Claro, eu compro o de sempre? ― Aaron perguntou e a amiga apenas concordou. Como eles eram amigos a bastante tempo, tinham intimidade o suficiente para falar de tudo. O garoto vivia emprestando seu casaco para Jackie amarrar na cintura em momentos de necessidade, sempre comprava absorventes para ela quando era preciso e uma vez até comprou uma pílula do dia seguinte para a amiga que foi irresponsável por uma noite e estava com vergonha de ir na farmácia.

Já no carro, Aaron lembrava das poucas e boas que Jackie já havia feito-o passar na farmácia de Berkeley. Certa vez, quando a amiga pediu para ele comprar absorventes e ele chegou lá e tinha de diferentes tamanhos e texturas, o garoto ficou perdido. Foi neste dia que ele conheceu o Senhor Smith, um velhinho de 80 anos que era o dono da farmácia local. Senhor Smith, quando viu a confusão nos olhos do menino, lembrou de si quando era mais novo e resolveu ajudar o garoto. O velhinho tinha quatro filhas meninas, então era quase expert em absorventes e remédios de cólica. A partir desse dia, Aaron e Smith se tornaram amigos, e sempre que o mais novo ia na farmácia comprar alguma coisa, passava no mínimo vinte minutos jogando papo fora com o velhinho. 

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