• C A P Í T U L O IV •
𝓔nrruguei o rosto devido uma quantidade de luz difusa que atravessou a janela, adjunto do som das cortinas que invadiu meus ouvidos ao serem abertas pela sra. Susanne. Ao despertar, eu avistei minha mãe sonolenta e espreguiçando-se ao meu lado na cama. Fazia um longo tempo que não dormíamos juntas, mas precisamente desde minha infância. Porém naquela noite, tanto eu quanto ela, decidimos aproveitar todo o tempo que ainda restava.
— Está uma linda manhã, Vossa Majestade. — a governanta reverenciou respeitosamente. — Também não sabia que estaria nos aposentos da princesa.
— Minha filha precisa de mim. — respondeu, antes de selar um beijo na minha testa. — Traga um vestido para sua rainha. Desceremos em breve para o café matinal.
— Vossa Majestade tem alguma preferência?
— Me surpreenda, Sra. Susanne.
— É claro. — se curvou e fez como o mandado se retirando do cômodo consecutivamente.
A rainha assentou na beira da cama e derrubou as pálpebras elevando o queixo para sentir o ar fresco acariciar seu rosto. Eu não conseguia compreender como ela apresentava vivacidade sabendo do quê estava por vir, pois de forma contrária, o meu peito impregnou desespero ainda assombrando minha consciência.
— Não chore, minha flor. — sorriu quando notou as lágrimas em meus olhos. — Sei que encontrará uma maneira de salvar a linhagem de nossos antepassados. — secou a umidade das minhas têmporas com as pontas dos dedos.
Acenei a cabeça de forma discreta. Eu precisei concordar para ascender novamente uma brasa para nos levar a salvação, mesmo na ausência de minha mãe. Ao menos devia aceitar que tudo ficaria bem. Era aquilo ou nada.
Meu entressonho evaporou quando a sra. Susanne retornou com o vestido exuberante em mãos, não me restando optação em granfinar com uma veste cor tangerina, na qual não contrastava muito bem com minha pele, mas os babados e a costura elegante de fato ficavam a altura da rainha, e por fim, no nível da refeição com os visitantes que restaram no Castelo Swallow. Eu não estava apurada com as notícias e nem tinha ciência de quais reis permaneciam em Virgínia, pois nem uma miserável pitada de vontade em reencontrá-los reacendeu em meu âmago. Até mesmo com Gilbert Mitchell. Meu coração assolado ainda sofria pela rejeição.
Tanto eu, quanto ele, entendíamos que não havia casamentos ralizados por amor. Não com a nobreza. Entretanto, a nossa união seria perfeita. Uma princesa renomada, cobiçada e disponível, era o que de fato devia ser de agrado. Mas o amor por aventuras foi o que prevaleceu no príncipe e não a oportunidade de se aliar com o reino de Virgínia. Precisei esquivar minhas dores piscicologicas hesitando pensar naquele homem que revirou meus sentimentos numa grande bagunça.
Deixei o quarto com minha mãe a caminho do banquete para saciar a fome. De acordo com minhas preposições, a mesa estava praticamente vazia comparada com a noite anterior. O silêncio regeu assim que nossos nomes foram anunciados, e de cabeça rebaixada por modéstia, eu acompanhei a rainha para assentar no lugar escolhido. Um daqueles homens nobres e postos de pé, puxou a cadeira vaga antes que o criado o fizesse a tempo. Eu me acomodei sem protestar, assentando próximo da rainha na ponta da mesa. O que castigou meu ouvido foi o rastejar da cadeira soando sob o silêncio torturante, que dificultou qualquer movimento simples durante aquela trajetória. Mas posteriormente, o som voltou-se aos poucos com o porcelanato das xícaras brancas e das louças com variados doces e salgados na hora da degustação dos convidados.
Um bate-papo sobre leis do parlamento, onde os monarcas de cada continente seguia a risca, iniciou entre os homens amparando a frequência cardíaca gradativamente. Bobagem. Pois ao ouvir a voz de meu pai, meus olhos se apressaram automaticamente para notar os seus, causando uma enxurrada de desgosto e depreciação por mim mesma. A expressão emburrada do rei havia, como era de se esperar, se tornado mais acentuada, ignorando sua filha sem mostrar uma fagulha de contentamento.
Por consequência disso, senti o pesar no peito e girei a cabeça para o lado oposto encontrando o olhar sereno de minha mãe ao bebericar o chá de erva cidreira. Seus olhos de cor celestes fixaram nos meus como empurrão para eu continuar firme, perseverando para transparecer mais tranquilidade. Eu precisei encher meus pulmões vagarosamente para estabilizar meus sinais, amenizando aquela constante guerrilha interna de órgãos trabalhando simultâneos num eterno frenesi. Eu não queria correr o risco de desabar diante daqueles indivíduos prepotentes.
Minha intuição foi de me ocupar no banquete e despistar qualquer menção de pronúncia. Todavia, a fome não estava nos doces e salgados, mas sim na necessidade de procurar por alguém. Apertei meus dedos na alça da porcelana e entortei meus lábios. Tentei hesitar e não procurar. Mas fracassei. Pois levei minhas pupilas para o canto dos olhos afim de avistar o outro lado da mesa, vagueando de homem em homem até parar no par de órbes verdes e vidrados nos meus. Era ele, Gilbert. O rapaz acomodado à minha frente em dois assentos para a esquerda não despregou as vistas no meu semblante, tornando meu coração tão apertado que mal foi possível respirar tranquilamente.
Nesse meio tempo, eu me perguntei em como eu fui capaz de estragar com tudo.
Tudo podia ser tão diferente...
Suspirei discretamente e desviei. Voltei a bebericar aquele chá que entalou facilmente na garganta, cobrindo em seguida a boca com o guardanapo de tecido com impressionante diligência. Eu sentia uma profunda aversão. Um forte ressentimento. Eu poderia estar noiva com a probabilidade venerável em continuar com a linha de sucessão. Podia ser com ele, mas não. Quando me dei por conta estava eu olhando o príncipe novamente, plagiando sua forma de sustentar as vistas. Não encontrei um método de concentração no paladar, pois a visão era o sentido que prevaleceu. E Gilbert não colaborou. Não estava sendo uma refeição trivial quando ele lançava aquele olhar de voracidade sobre mim, parecendo não se incomodar com a minha perturbação. Eu não entendia o porquê dessa implicância em observar minha fisionomia e nem mesmo a minha impertinência do atrevimento de meus olhos serem tão sagazes, traidores.
Em um movimento súbito, eu me ergui levando comigo os olhares de todos, inclusive do meu pai. Paralisei por frações de segundos e minha consciência me torturou mais uma vez, no mesmo instante que aqueles homens largaram suas xícaras e se levantaram educamente.
— Eu... — pestanejei, tentando executar um bom argumento para a minha conduta abrupta. —, se me derem licença, eu gostaria de me retirar e deixá-los a vontade com esse deslumbre diálogo sobre regulamentações. — nada fluiu com mais eficácia, porém tentei transparecer o mais distante possível da falsidade. O rei de Virgínia facilitou quando me compreendeu fazendo um sinal discreto com a cabeça. — Tenham um bom dia, senhores. — dobrei os joelhos em reverência, arqueando um leve sorriso por educação.
Todavia, pouco a pouco minha civilidade afável se desfez quando tentei, em vão, evitar lançar um olhar significativo para Gilbert. Inclinei a cabeça de modo depreciativo, desviando ao girar nos calcanhares para deixar a sala e seguir caminho para o labirinto ajardinado, onde diariamente encontrava as flores para colocar os pensamentos em ordem.
O sol escaldante e o ar fresco afagaram minha pele assim que pus os pés para fora do castelo, me levando a crer que no próximo dia a chuva anunciaria a chegada do outono. Os cocheiros tratavam com empenho os reparos das carruagens e dos cavalos, tomando medidas para que tudo se realizasse a contento dos próximos acomodados. Passei pela saudação dos criados, do zelo que exerceram com os bens materiais da família, considerando aquele resultado num perfeito aconchego. Sentindo a tensão pesar sobre meus membros, eu segui a trilha empedrada do rumo ao jardim. Com palpitações na cabeça e os dedos suando frio, eu não conseguia deixar de pensar que em pouco tempo aqueles reis partiriam de Virgínia e eu não podia fazer nada, a não ser, esperar.
Uma nuvem de borboletas em migração buscavam uma temperatura mais amena, descansando sobre as flores do jardim no Castelo Swallow. Busquei admiração nas coloridas asas extremamente finas e largas que pareciam uma linha sutil sacudindo levemente e pousando na flor aberta. Eu desejei ser como elas. Pareciam calmas, sem problemas, sem perigos. Cheguei a me imaginar pequenina com asas condizentes, voando livremente quando e da forma que gostaria. Com meus próprios ideais. Com o poder de ser ouvida.
Uma monarca alaranjada com manchas pretas e brancas, pousou na ponta do meu nariz gerando um riso entre tantas turbulências mentais. Entortei o nariz e ela lançou voo até as margaridas para sugar seu néctar adocicado, quando o vulto azulado da andorinha amiga veio ao meu encontro grinfando e pousando no fino galho do arbusto podado.
— Amiguinha... — acariciei embaixo do bico com o indicador e a passarinha me cumprimentou quando esfregou as bochechinhas na ponta do meu dedo. — Me diga que não está mais brava comigo?
Ela cantarolou e bateu as asinhas de forma lúdica até levantar voo e rodopiar em minha volta, partindo na direção de minha retaguarda quando passos anunciaram algo se aproximando. Minha atenção foi destinada para a andorinha circulando o príncipe europeu que caminhava sorrateiro na espreita de minhas atitudes. Gilbert sorriu alegre pela passarinha fanfarrã, antes dela se despedir quando retornou para o parapeito superior do castelo.
O vento agitou de modo sutil seus fios claros, deixando seu rosto rosado pelo abafado calor que emanava do sol escaldante. Ele estava tão adorável que eu quase perdi o fôlego. Parecia que as borboletas haviam se transportado para o interior de meu estômago, revirando o órgão com a cada calafrio que intensificou no abdômen. Eu nunca soube como sentimentos amorosos atuavam. Nunca havia sentido. Talvez naquele momento eu estaria sendo apresentada a esse novo sentimento e aquilo me deixava impaciente, com o coração ainda mais frenético. Decifrar totalmente essas sensações havia se tornado um novo desafio. No entanto, os sentimentos do príncipe estavam amadurecidos pelas mulheres que o esperavam na Europa, não demonstrando nenhum interesse na minha pessoa. Eu não sabia aclarar reciprocidade no amor.
Gilbert executou uma sequência de passos diminuindo o espaço entre nós em frações de segundos, conforme minha frequência cardíaca acompanhou desesperadamente. A tonalidade esverdinhada da íris era quase imperceptível devido as pupilas estendidas, não hesitando em admirar o azulado dos meus, emanando um ardor exuberante nas minhas têmporas. Uma situação nova, porém esclarecedora e de fato, complicada. Pois eu não devia me apaixonar quando se é educada para se unir em matrimônio com um homem nobre e ser ocupada num papel decorativo. Não havia chance de um casamento por amor, a não ser, se me cassasse com ele, pois tinha um título. Seria uma união afortunada.
Gilbert, moveu sua mão nos miúdos girassóis do espaço limitado daquele jardim, partindo o caule fino de uma das pequenas flores fulvas e agrupadas em direção do leste.
— O que está fazendo? — inclinei a cabeça averiguando aquela cena, iniciando o diálogo de voz suspeita, pois até então, o canto das andorinhas predominavam o jardim. — Não me diga que também tem o hábito de admirar as flores? — não contive o riso apreciativo, observando o canto de seus lábios arquear um belo sorriso, porém ele não emitiu nenhum argumento. Eu acabei olhando em volta pois aquilo tinha sua estranheza. — Não vai dizer alguma coisa?
— Eu... — franziu o cenho. — Ando meio... confuso. — admirou e cambaleou os dedos, rodando a flor de um lado para o outro. — Talvez eu me interesse por flores também? — encolheu os ombros largando uma risada zombeteira.
— Achei que seu interesse fosse em prostitutas. — cruzei delicadamente os braços.
Sua boca abastada ficou parada entre uma risada e um sorriso, e o sol, com raios avermelhados reluziam em seus cabelos. O abafado do tempo e o ar fresco que girou em nossa volta, deixava ele tão natural e bonito que por um segundo eu quase esboçei um sorriso idiota.
— No momento não é o que está me interessando. — ergueu o olhar e se ocupou em admirar meus olhos por um longo período de tempo, causando mais uma etapa de tensão em meu corpo. — Nós... nós fizemos um acordo e... você foi muita corajosa desafiando todos aqueles homens... Nunca antes, havia visto uma mulher fazer o que fez. — gaguejou e gesticulou, como se procurasse palavras certeiras. — Eu me preocupo com você, Clara.
Frouxei os ombros e descruzei meus braços vagarosamente. Se preocupa comigo? Se importa? Ou era a consciência pesando no espírito? Eram muitas indagações em minha mente.
Conforme seus olhos esperavam por uma resposta, os meus nervos ficavam enervantes adjunto da língua que não executou sua tarefa na fala. Aquilo estava me irritando. Eu sempre tinha uma história afiada na ponta da língua, e aquele príncipe me calava com maestria.
— O-o que quer dizer com essas palavras tão... inusitadas...? — pestanejei, antes de finalmente dizer.
Sua boca arqueou um sorriso, me mantendo aprisionada na feição extremamente atrativa. Ele deu um passo mais perto, e meu coração errou nas batidas ao sentir o ar ficar mais denso por seu corpo estar tão próximo. Me entregou o girassol e escorregou seus olhos para minha boca, me seduzindo a fazer o mesmo. Seus lábios eram rosados e pareciam tão macios que uma nova sensação se ascendeu no meu íntimo, inclinando levemente meu corpo com atroz vontade de degustar um possível beijo.
— Com licença, Alteza. — um homem desviou nossa atenção para si, depois de pigarrear.
Recuei dois passos de Gilbert e examinei aquele senhor que tinha visto na festa de ontem. Era impossível esquecer da barba trançada no rosto moreno e a roupa exuberante que diferenciava dos demais. Ele não parecia ter algum tipo de deficiência e tão pouco aparentava ser velho o suficiente para o uso de uma bengala. Aquilo martelou minha mente por alguns instantes.
— Vossa Graça...? — Gilbert indagou para o homem.
— Peço desculpas, Alteza. — dirigiu a palavra ao príncipe. — Mas Sua Majestade o espera para seguirmos viagem.
— Entendi. — umedeceu os lábios e puxou um pouco de ar. — Vou em um minuto. — engoliu a saliva e retornou para minha presença, que a princípio, estava agonizando interiormente em lamentação e esperando por qualquer atitude que faria.
Era visível que sua estimativa era proferir algo, ou fazer, portanto, entendi que ele não sabia como reagir, ou talvez, se devia tomar a iniciativa ou não. Um homem que dizia dormir com tantas mulheres, perderia a aptidão diante de mim?
— Alteza, não temos um minuto. — o homem insistiu, porém Gilbert não desviou o olhar do meu. — Precisamos ir, agora. — continuou e o príncipe assentiu.
— Preciso ir... — falou com a voz arrastada, aparentemente irritado pela momentânea perda de ter que discutir. Ouvi-lo não foi tranquilizante. — Espero vê-la na despedida?
— Se é o que nos resta, então eu estarei lá. — meu peito arquejou.
Não queria perdê-lo, mas também não podia implorar que ficasse. E por causa da dificuldade de processar ambas cognições, eu apenas abri um sorriso enfraquecido e saudei em reverência, juntamente dele. E ele se foi, retornando o caminho empedrado que levava ao Castelo Swallow.
O que mais eu poderia fazer quando havia de mais terrível na minha família? Eram tantos empencilhos assombrando minha mente que naquele momento nada fluía com transparência. Segurei apertado o caule do girassol e admirei suas pétalas fulvas com aflição. Não havia o que fazer para encontrar um marido, tampouco, casar com Gilbert.
Fiquei cerca de uma hora admirando as borboletas se despedirem calmamente do jardim de Swallow, me perdendo em pensamentos e na paisagem de tantas flores belas, tal como o canto das andorinhas que se esforçavam para alegrar o jardim. Todavia, em mim não havia alegria, porém decidi que devia manter a integridade intacta e coragem para seguir solitária sem um casamento. E sem lembranças que me levassem à Gilbert Mitchell.
Segurei o girassol apertado e ergui a ponta do nariz me sentindo mais determinada, irredutível. Retornei para a imensa fachada do Castelo Swallow, onde a conversação dos reis se agrupavam em defronte dos cocheiros num bate-papo formal em despedida. Minha saliva passou a descer com mais dificuldade e a angústia voltou a pousar no meu peito. Balancei a cabeça o suficiente para recolocar minha determinação em sua devida ordem, endireitando a postura e me posicionando ao lado de minha mãe. Por respeito e educação, aqueles homens renomados foram cordiais ao direcionar a palavra para a princesa de Virgínia, mesmo estando óbvio o descontentamento em suas feições sobre minha má reputação.
— Foi um prazer conhecer uma donzela de imensa beleza. — o sotaque britânico do rei europeu o acompanhou quando saudou diante da minha presença. — E... — engoliu a voz por alguns segundos, antes de continuar dizendo: — Um tanto... peculiar eu diria, ao tomar decisões.
Esboçei um sorriso contrafeito, ao mesmo tempo que minhas pupilas escoaram-se pelo canto dos olhos visualizando a expressão do total desmerecimento de meu pai para com sua filha. O Conde, supostamente europeu, surgiu atrás de seu rei retirando aquele mesmo chapéu da cabeça quando se curvou com um sorriso entreaberto, tão estranho quanto aquela bengala que sempre ocupou sua mão.
Contudo, meus olhos tardaram em admirar o príncipe Gilbert parar em minha frente, estendendo a mão como se esperasse pela minha. Estreitei minimamente as sobrancelhas ao examinar tal atitude, pois aquilo era inesperado. Não somente por mim, mas por todos. Imediatamente levei meu olhar para meu pai, porque até onde sabíamos, era esperado que uma senhora fizesse tal cumprimento primeiro. Porém, ao invés disso, eu decidi preencher aquele vão acomodando meus dedos nos seus, criando um calor estranhamente reconfortante. Ele, curvou a cabeça e deixou um beijo suave nos nós de meus dedos. Quase perdi o fôlego. Quase esmigalhei o caule do girassol que residia na outra mão. Minhas têmporas arderam simultâneas adjunto do coração que incitava em mais uma reação nervosa.
O príncipe não disse uma única palavra, porém seus olhos gritavam em pronúncia.
Eu me mantive encarcerada na intensidade daquele olhar esverdeado com a necessidade de dizer, qualquer coisa. Eu não sabia qual reação exercer. Ele esperava, e eu precisava de uma atitude. Qualquer uma. Eu simplesmente não sabia, pois estava absurdamente inerte, impactada. Por causa disso, eu pestanejei sem fracassar no sorriso recatado, levando minhas vistas para o, absolutamente, nada. Foi um momento constrangedor, envergonhado.
— Bom... — o rei britânico pigarreou e assentou a mão no ombro do filho amassando o tecido do casaco com um apertão, como quem dizia para o filho largar a mão da princesa e finalizar tanto alarde. — Agradeço pela estadia e peço desculpas por alguma inconveniência. — dirigiu a palavra para meu pai, que até então, denotou um ressábio sorriso fraco acenando a cabeça consecutivamente, antes de dizer:
— Parece que os jovens adequaram as gentilezas.
Entreter a conversação para não perder a deselegância foi o que fizeram por alguns segundos, ao passo que eu me ocupava em desviar dos olhares de Gilbert. Eu senti que algo o afligia, da mesma forma que em meu peito o coração persistia engalfinhando.
Os europeus se despediram e meus olhos voltaram-se para príncipe mais uma vez. Notando meus olhos com aparente desprazer, ele recuou dois passos manifestando seu rejeito interno. Girou nos calcanhares e caminhou ao lado de seu pai para a carruagem que os aguardavam, enquanto eu fiquei me perguntando o por quê de sentir a extrema necessidade de jogar os braços ao redor daquele príncipe e nunca mais conseguir soltá-lo, mas em vez disso, eu fiquei apenas assistindo a família Mitchell se acomodar na carruagem e levar consigo a minha paixonite. A minha solução
Tensa, eu esfreguei meus dedos contra os outros desejando que ele saísse daquela carruagem e voltasse para mim, mas obviamente aquilo não aconteceu, e nem aconteceria. Por causa disso, apenas respirei fundo e permaneci estagnada com lágrimas ameaçando desabar, observando os cocheiros sacudir as rédeas e iniciar o movimento no trajeto que levaria para o porto.
Inerte e ao lado esquerdo da rainha, com o braço entrelaçado com meu pai, nós três observamos as carruagens sacolejantes por causa dos pedregulhos desiguais que formavam o solo. Os eixos das rodas giravam depressa, levando-os para o mais distante do Castelo Swallow, e sumindo no horizonte com a esperança que se esvaía com um destino drástico. Em breve eu poderia estar sozinha, e aquele sentimento amargurado dilacerava ainda mais o meu coração. Porém nada se comparava com o âmago ferido da minha querida mãe.
•••
O caule do girassol significativo estava submerso em um vaso cilíndrico e de cristal, posto na penteadeira que deveria ser um símbolo de elegância, porém a inspiração para cuidados pessoais foi a exceção naquele momento difícil. Acomodada na poltrona estofada a mais de trinta minutos, eu fiquei diante do espelho emoldurado, examinando os traços da figura de alguém que desperdiçou a chance de obter um pretendente e suceder o trono com um marido. Eu nem havia me tornado rainha e já estava falhando impetuosamente.
Como receberei o título de rainha de Virgínia, se estava agindo de forma tão...
Balancei a cabeça negativamente. Aqueles pensamentos nefastos e contínuos já estavam desgastantes o suficiente para minha tortura piscicologica.
Meus olhos pareciam sem cor e embaçados diante do espelho, porém capacitados a retratar, através do reflexo, que em minha retaguarda a porta do quarto secundário ameaçava abrir. Girei a cabeça para notar a sra. Susanne passar pela soleira da porta, com seus olhos escuros arregalados instantaneamente assim que me viu.
— Alteza...? — indagou, aparentando estar surpresa com a minha presença. — Não esperava encontrá-la aqui.
— Aqui é meu quarto, sra. Susanne. — sequei minhas lágrimas. — Onde mais eu estaria?
— Ah, é claro. — esboçou um sorriso enfastiante. — Desculpe-me pela grosseria. É que pensei que Vossa Alteza estivesse no jardim.
Acenei a cabeça de modo discreto. Ela estava diferente. Geralmente a governanta se expressaria de modo mais sucinto, com o tom mais áspero num comportamento de severidade refletido em seus olhos. Portanto, seu corpo esquivo estava em de aparência maçante com fisionomia cansada devido aos olhos fundos, onde os efeitos da sobrecarga vieram impetuosamente. O cansaço não estava apenas no piscicológico da realeza, mas notoriamente aquele cuidado esmerado com os convidados também havia afetado os criados pelo trabalho exigente.
— Se Vossa Alteza permitir, gostaria de retornar à cozinha. — levou a mão direita para trás do quadril revelando a dobradura de um papel branco que segurava, iniciando os primeiros passos para a direção da saída.
— Sra. Susanne...? — me pus de pé rangendo a poltrona no piso encerado, buscando seu olhar mais rápido para encontrar os meus. — O que carregas na tua mão?
— Ah, como sou esquecida. — num tom de voz vacilante, ela sorriu atrapalhada levando seu olhar para o envelope, balançando-o de um lado para o outro e me entregando logo em seguida. — Um dos príncipes pediu para uma das criadas entregar essa carta em suas mãos — andei até ela e segurei o envelope. —, porém decidi entregar eu mesma para Vossa Alteza.
— Quem? — esfreguei com a unha, o selo vermelho e encerado do lacre.
— O Príncipe da europa, Alteza. — sua voz saiu clara e condescendente.
Esboçei um sorriso significativo ao estender o papel pálido, dando as costas para a mulher consecutivamente.
— Tudo bem. — voltei a assentar na poltrona. — Pode se retirar.
— Como desejar, Alteza. — falou, antes do ecoo da fechadura ao fechar a porta.
Endireitei a postura e deixei minhas vistas passear nas linhas legíveis da tinta escura, conforme não me dispus a sorrir idôneo ao ler letra por letra:
"𝓠𝓾𝓮𝓻𝓲𝓭𝓪 𝓒𝓵𝓪𝓻𝓪,
𝓔𝓼𝓽𝓸𝓾 𝓹𝓪𝓻𝓽𝓲𝓷𝓭𝓸, 𝓽𝓪𝓵𝓿𝓮𝔃 𝓹𝓪𝓻𝓪 𝓼𝓮𝓶𝓹𝓻𝓮.
𝓢𝓲𝓷𝓽𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓭𝓮𝓿𝓸 𝓭𝓮𝓼𝓪𝓫𝓪𝓯𝓪𝓻 𝓼𝓸𝓫𝓻𝓮 𝓶𝓮𝓾 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬̧𝓪̃𝓸, 𝓪𝓹𝓮𝓼𝓪𝓻 𝓭𝓪 𝓭𝓮𝓶𝓸𝓻𝓪 𝓭𝓮 𝓬𝓸𝓶𝓹𝓻𝓮𝓮𝓷𝓭𝓮̂𝓵𝓸. 𝓔𝓷𝓽𝓮𝓷𝓭𝓸 𝓪 𝓹𝓮́𝓼𝓼𝓲𝓶𝓪 𝓹𝓻𝓲𝓶𝓮𝓲𝓻𝓪 𝓲𝓶𝓹𝓻𝓮𝓼𝓼𝓪̃𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓹𝓪𝓼𝓼𝓮𝓲 𝓭𝓪 𝓶𝓲𝓷𝓱𝓪 𝓹𝓮𝓼𝓼𝓸𝓪, 𝓬𝓸𝓶𝓸 𝓭𝓸𝓼 𝓶𝓮𝓾𝓼 𝓪𝓷𝓽𝓲𝓰𝓸𝓼 𝓲𝓷𝓽𝓮𝓻𝓮𝓼𝓼𝓮𝓼. 𝓟𝓸𝓻𝓮́𝓶, 𝓺𝓾𝓮𝓻𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓼𝓪𝓲𝓫𝓪, 𝓺𝓾𝓮 𝓪𝓹𝓪𝓻𝓽𝓲𝓻 𝓭𝓮𝓼𝓼𝓮 𝓶𝓸𝓶𝓮𝓷𝓽𝓸, 𝓥𝓸𝓬𝓮̂, 𝓮́ 𝓪 𝓾́𝓷𝓲𝓬𝓪 𝓺𝓾𝓮 𝓶𝓮𝓻𝓮𝓬𝓮 𝓶𝓮𝓾 𝓬𝓪𝓻𝓲𝓷𝓱𝓸 𝓮 𝓶𝓮𝓾 𝓭𝓮𝓼𝓮𝓳𝓸.
𝓥𝓸𝓬𝓮̂, 𝓼𝓸𝓶𝓮𝓷𝓽𝓮 𝓥𝓸𝓬𝓮̂, 𝓮́ 𝓪 𝓭𝓸𝓷𝓪 𝓭𝓪 𝓬𝓱𝓪𝓿𝓮 𝓭𝓸 𝓶𝓮𝓾 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓬̧𝓪̃𝓸.
𝓔𝓶 𝓷𝓮𝓷𝓱𝓾𝓶𝓪 𝓸𝓾𝓽𝓻𝓪 𝓶𝓾𝓵𝓱𝓮𝓻 𝓮𝓷𝓬𝓸𝓷𝓽𝓻𝓮𝓲 𝓽𝓪𝓶𝓪𝓷𝓱𝓪 𝓬𝓸𝓻𝓪𝓰𝓮𝓶, 𝓭𝓮𝓽𝓮𝓻𝓶𝓲𝓷𝓪𝓬̧𝓪̃𝓸 𝓮 𝓯𝓸𝓻𝓬̧𝓪. 𝓢𝓮𝓻𝓲𝓪 𝓾𝓶 𝓱𝓸𝓶𝓮𝓶 𝓭𝓮 𝓼𝓸𝓻𝓽𝓮 𝓮𝓶 𝓽𝓮-𝓵𝓪 𝓬𝓸𝓶𝓸 𝓮𝓼𝓹𝓸𝓼𝓪, 𝓹𝓸𝓻𝓮́𝓶 𝓪 𝓼𝓮𝓷𝓱𝓸𝓻𝓲𝓽𝓪 𝓭𝓮𝓲𝔁𝓸𝓾 𝓬𝓵𝓪𝓻𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓷𝓪̃𝓸 𝓺𝓾𝓮𝓻𝓲𝓪 𝓾𝓶 𝓶𝓪𝓽𝓻𝓲𝓶𝓸̂𝓷𝓲𝓸, 𝓼𝓸́ 𝓺𝓾𝓪𝓷𝓭𝓸 𝓮𝓷𝔁𝓮𝓻𝓰𝓸𝓾 𝓸 𝓭𝓮𝓼𝓮𝓼𝓹𝓮𝓻𝓸 𝓪 𝓼𝓾𝓪 𝓯𝓻𝓮𝓷𝓽𝓮. 𝓢𝓮𝓲 𝓺𝓾𝓮 𝓪𝓷𝓽𝓮𝓼 𝓽𝓪𝓶𝓫𝓮́𝓶 𝓷𝓪̃𝓸 𝓮𝓻𝓪 𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓮𝓾 𝓪𝓵𝓶𝓮𝓳𝓪𝓿𝓪, 𝓹𝓸𝓻𝓮́𝓶 𝓷𝓮𝓼𝓼𝓪 𝓷𝓸𝓲𝓽𝓮 𝓽𝓸𝓶𝓮𝓲 𝓾𝓶𝓪 𝓭𝓮𝓬𝓲𝓼𝓪̃𝓸 𝓮 𝓭𝓮𝓼𝓮𝓳𝓮𝓲 𝓽𝓮𝓻 𝓿𝓸𝓬𝓮̂ 𝓪𝓸 𝓶𝓮𝓾 𝓵𝓪𝓭𝓸.
𝓟𝓸𝓻 𝓯𝓪𝓿𝓸𝓻, 𝓷𝓪̃𝓸 𝓼𝓮 𝓪𝓼𝓼𝓾𝓼𝓽𝓮. 𝓝𝓪̃𝓸 𝓮𝓼𝓹𝓮𝓻𝓸 𝓺𝓾𝓮 𝓪𝓬𝓮𝓲𝓽𝓮, 𝓶𝓪𝓼 𝓷𝓪̃𝓸 𝓹𝓸𝓼𝓼𝓸 𝓮𝓶 𝓼𝓪̃ 𝓬𝓸𝓷𝓼𝓬𝓲𝓮̂𝓷𝓬𝓲𝓪 𝓷𝓪̃𝓸 𝓶𝓮 𝓻𝓮𝓿𝓮𝓵𝓪𝓻.
𝓙𝓪𝓶𝓪𝓲𝓼 𝓶𝓮 𝓬𝓪𝓼𝓪𝓻𝓮𝓲, 𝓲𝓼𝓼𝓸 𝓼𝓮𝓻𝓪́ 𝓾𝓶𝓪 𝓹𝓻𝓸𝓶𝓮𝓼𝓼𝓪, 𝓪 𝓶𝓮𝓷𝓸𝓼 𝓺𝓾𝓮, 𝓼𝓮𝓳𝓪 𝓬𝓸𝓶 𝓿𝓸𝓬𝓮̂, 𝓶𝓲𝓷𝓱𝓪 𝓒𝓵𝓪𝓻𝓪.
𝓢𝓮 𝓶𝓮 𝓪𝓬𝓮𝓲𝓽𝓪𝓻 𝓬𝓸𝓶𝓸 𝓶𝓪𝓻𝓲𝓭𝓸, 𝓹𝓸𝓻 𝓯𝓪𝓿𝓸𝓻, 𝓭𝓮-𝓶𝓮 𝓾𝓶 𝓼𝓲𝓷𝓪𝓵 𝓬𝓸𝓶 𝓸 𝓫𝓪𝓵𝓪𝓷𝓬̧𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓼𝓾𝓪 𝓬𝓪𝓫𝓮𝓬̧𝓪 𝓷𝓸 𝓶𝓸𝓶𝓮𝓷𝓽𝓸 𝓭𝓪 𝓭𝓮𝓼𝓹𝓮𝓭𝓲𝓭𝓪, 𝓺𝓾𝓮 𝓯𝓪𝓻𝓮𝓲 𝓸 𝓹𝓮𝓭𝓲𝓭𝓸 𝓯𝓸𝓻𝓶𝓪𝓵𝓶𝓮𝓷𝓽𝓮. 𝓒𝓪𝓼𝓸 𝓬𝓸𝓷𝓽𝓻𝓪́𝓻𝓲𝓸, 𝓷𝓪 𝓪𝓾𝓼𝓮̂𝓷𝓬𝓲𝓪 𝓭𝓮 𝓾𝓶 𝓶𝓲́𝓼𝓮𝓻𝓸 𝓼𝓲𝓷𝓪𝓵, 𝓮𝓾 𝓮𝓷𝓽𝓮𝓷𝓭𝓮𝓻𝓮𝓲 𝓼𝓾𝓪 𝓷𝓮𝓰𝓪𝓬̧𝓪̃𝓸.
𝓒𝓸𝓶 𝓪𝓶𝓸𝓻, 𝓖𝓲𝓵𝓫𝓮𝓻𝓽 𝓜𝓲𝓽𝓬𝓱𝓮𝓵𝓵."
Senti algo esquisito invadir meus pulmões, então percebi que se tratava de ar, pois até eu prendia a respiração sem se quer poder notar. Meu coração passou a cantar e bater descontroladamente, enquanto eu voltava a olhar para o meu reflexo, para o brilho nos olhos retornarem com novas lágrimas, de felicidade e satisfação. Em meus lábios um sorriso surgiu devido ao refrigério. Era o que eu precisava. De um marido. De Gilbert. Porém ele não estava aqui. Não mais.
— Eu não dei o sinal. — meu sorriso se desfez em um piscar de olhos. — Ele com certeza pensou que desisti do casamento... — o desespero na minha voz realçou minhas dores. Me coloquei de pé e resmunguei andando de um lado para o outro deixando um rastro no carpete aveludado, encurtando a distância entre um passo e outro até que parei e me perguntei: — Por que não recebi essa carta antes? Por que ele não falou comigo antes? Por que ele mudou sua decisão de um dia para o outro? — sentei na beira da cama relaxando os ombros, então balancei a cabeça. — Isso não importa mais.
Como vamos ficar juntos, se eu o deixei partir?
— O que eu devo fazer? — a rouquidão da minha voz demonstrou que meu coração incitava a mim, prestes a fazer uma loucura.
Sem pensar no pós e nos contras, eu saltei daquela cama e caminhei para fora do quarto aumentando os passos no longo corredor, enquanto um turbilhão de pensamentos invadiam a minha mente. Acabei experimentando uma nova sensação, como algo terrível e ao mesmo tempo exultante. Era emoção, pura e absoluta, uma mistura bizarra de alívio e temor. Eu criei sentimentos assim como ele fez, pois declarou naquela carta.
Eu não podia perdê-lo. Por causa disso, eu ignorei saudações de criados e atropelei alguns degraus da escada curva me sentindo dominada por uma sensação louca e irrefreável.
— Clara...? — a dama enfadonha transitava com pães quentinhos agrupados no cesto de vime e apresado no braço magrelo. Para ela não era algo excepcional, porém estava acima do padrão presenciar a princesa numa correria lunática.
— Agora não, Margot. — contornei sua presença e segui direção da cozinha deixando minha amiga com os pensamentos desnorteados.
Não podia parar. Não havia tempo para detalhar minhas lamentações e objetivos. Eu já estava atrasada por mais de meia hora e por consequência, eu apenas continuei e me infiltrei nas cozinheiras seguindo porta a fora e rumo ao estábulo. Eu precisava fazer alguma coisa, e teria que ser naquele momento, antes que fosse tarde demais.
•••
"Uma vez que havia o sol, quente e maravilhoso, brilhando como o amor dentro do meu coração."
— Thumbelina.
•••
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