Pôr do sol
12. Pôr do sol.
Ouvi um suspiro do outro lado da linha, e quando me respondeu, sua voz soou exausta:
─ Está tudo uma bagunça por aqui. ─ Freya murmurou. ─ Não posso negar, sua ajuda faz muita falta.
Encarei o teto do quarto.
Estava deitada há uns bons minutos pensando sobre o que fazer depois que toda essa confusão chegasse ao fim, então decidi ligar para Freya e me informar sobre o que estava rolando em Nova Orleans e se Klaus já não havia posto fogo em toda a cidade.
─ Logo, logo estarei de volta. ─ Respondo por fim, apesar de não ter tanta certeza disso devido as circunstâncias.
─ Não quero te apressar, fique o tempo que precisar, você não tem obrigações comigo e minha família.
─ Você até me ofende falando assim. ─ Respondo e quase posso ver seu semblante de confusão. ─ Vocês também são minha família. ─ Explico. ─ Bom, pelo menos eu os considero assim.
─ Não foi o que eu quis dizer... ─ Murmurou parecendo arrependida.
─ Eu sei. ─ Sorri, ainda que ela não pudesse ver. ─ Não achei que as coisas estivessem tão ruins, já que o Klaus não me ligou uma única vez desde que vim para Forks.
─ Você o conhece. Klaus é orgulhoso, não quer te incomodar com nossos problemas. ─ Explicou, soltando um suspiro cansado. ─ Acha que pode resolver tudo sozinho, mas parece que quanto mais lutamos mais as coisas se complicam.
Passei a mão no rosto, enquanto tentava organizar meus pensamentos e essas novas informações.
Klaus e todos os Mikaelson estavam correndo risco, assim como os Cullen.
Por mais que eu quisesse voltar para ajudá-los eu prometi que iria ajudar os Cullen e a Renesmee.
Não posso simplesmente deixar que façam mal a uma criança inocente, ou que eliminem todos os Cullen por um "mal entendido".
Mas por outro lado, se os Mikaelson forem derrotados e mortos a Hope também irá sofrer as consequências.
Tudo o que eu podia fazer era torcer para que eu termine meu trabalho aqui e volte para Nova Orleans a tempo de ajudar os Mikaelson também.
─ Se as coisas que se complicarem demais, não hesite em me chamar. ─ Digo por fim para a loira antes de nos despedirmos e ela desligar.
Pela primeira vez em muito tempo eu estava pensando em algo além de mim.
Eu sempre fui um pouco egoísta.
Não era como se eu fosse a pior pessoa do mundo, mas também estava longe de ser uma das melhores.
Quando conheci Elijah Mikaelson algo em mim mudou.
Eu via a escuridão dentro dele, mas também via a forma como ele lutava por sua família, e principalmente por seu irmão.
A mesma coisa aconteceu com o Klaus.
Quando meus olhos se encontraram os azuis esverdeados do tão temido híbrido original, eu pude ver toda a escuridão dentro do seu coração.
Mas, mais tarde, eu também pude ver que até mesmo alguém como ele era capaz de amar e, por incrível que pareça, ser amado.
Eu passei a maior parte dos meus dias sozinha, e eu realmente achava que não precisava de ninguém.
Mas aquele sentimento de vazio ao conhecer famílias como os Cullen e os Mikaelson me mostraram que eu também queria ter com quem contar em momentos difíceis e é por isso que estou aqui.
Porque sei que se eu precisasse da ajuda de qualquer um deles, eles não hesitariam nem por um segundo sequer.
Foi aí que eu entendi que aquela Inari vazia e egoísta, não existia mais.
...
─ Você deve ter tido uma infância maravilhosa morando nesse lugar.
Murmurei para Jacob enquanto caminhávamos lado a lado pela praia de La Push.
Encarei seu rosto de lado, vendo um sorriso crescer em seus lábios, enquanto ele continuava a olhar para o horizonte.
O garoto havia me convidado para um passeio, e achei que seria bom esquecer os problemas por pelo menos algumas poucas horas.
─ Não posso reclamar. ─ Respondeu, após alguns segundos. ─ Acho que ao contrário da nossa adolescência, nossa infância foi calma e divertida como deveria ser.
Jacob parecia nostálgico ao dizer aquelas palavras, como se ele estivesse revivendo os momentos bons da sua infância e sua adolescência turbulenta.
─ Foi muito ruim? ─ Ele finalmente me olhou, parecendo confuso dessa vez. ─ Sua transformação... quando tudo aconteceu. ─ Expliquei.
Dessa vez seu sorriso foi triste, irônico até.
─ Bella e eu estávamos vivendo o nosso melhor momento, estávamos mais próximos do que nunca. ─ Ele começou.
Era estranho e ridículo sentir um desconforto ao ouvi-lo falar sobre ela, mas eu simplesmente não conseguia evitar.
Talvez fosse essa droga de imprinting, ou talvez eu só fosse possessiva demais.
Nenhuma das duas opções era boa.
─ Bom, pelo menos eu achei que estivéssemos na época. ─ Ele riu consigo mesmo, parecendo uma piada que só ele entendia. ─ Então veio as crises de raiva e a febre... e tudo aconteceu.
─ Não precisa falar disso se não quiser... ─ Murmuro ao perceber que aquele assunto não era nenhum pouco agradável para o lobo.
Ele balançou a cabeça, como quem diz que não é nada demais e então continuou;
─ Tudo mudou depois da transformação. Eu tive que me afastar da Bella, eu não podia nem ao menos contar pra ela o que estava acontecendo. ─ Ele pausou por alguns segundos, parecendo ponderar algo, até que voltou a contar: ─ Eu tinha esperanças de que quando eu a visse, o imprinting aconteceria e eu poderia finalmente me abrir com ela e que poderíamos ficar juntos.
Ele riu amargo.
─ Sinto muito. ─ Eu disse, pondo a mão em seu ombro.
A essa altura estávamos parados no meio da praia, a brisa fresca soprava contra nós, mas Jacob continuava quente como sempre.
O Black sorriu, balancando a cabeça em negação, enquanto me encarava fixamente nos olhos.
Senti seus dedos percorrerem a maçã do meu rosto, e então deslizarem até a minha nuca em carícias sutis.
─ Eu não. ─ Ele murmurou, me olhando de forma intensa.
Senti os pelos do meu corpo se ouriçarem e tive a sensação de que meu coração sairia pela boca a qualquer momento.
─ Nunca foi a Bella, eu só não entendia isso. ─ Seu olhar continuava firme no meu e seu tom era mais do que decidido. ─ Sempre foi você, e eu não poderia estar mais feliz com esse imprinting.
─ Jacob... ─ Murmurei em tom repreensivo.
Eu não devia me aproximar tanto assim dele.
Coloquei minha mão sobre a sua a afastando do meu rosto, e cortei nosso contato visual.
─ Tá ficando tarde, acho que deveríamos voltar...
Me virei para caminhar, mas Jacob segurou meu pulso, me impedindo de continuar.
─ Deveríamos parar de fugir disso. ─ Ele rebateu.
Me virei novamente para o garoto, vendo uma expressão decidida em seu rosto.
─ Por que não tentamos nos conhecer melhor? ─ Questionou. Abri a boca para negar, mas ele foi mais rápido: ─ Por favor.
Aquele olhar de filhote pidão parecia alcançar diretamente meu mini coração.
E mais uma vez, eu tive que concordar com a Rose; ele era realmente um cachorro!
Bufei, dando-me por vencida.
─ Tudo bem.
Jacob paracia uma criança feliz por conseguir o que queria.
Infeliz ou felizmente, seu sorriso era contagiante demais para que eu pudesse ficar emburrada por ser contrariada, então acabei sorrindo junto com o garoto.
Minutos depois estávamos sentados em frente ao mar, falando sobre nossas experiências de vida.
É claro que eu já vivi muito mais do que o lobo e tinha muito mais histórias para contar, ocultando alguns fatos não muito legais, é claro.
─ Você deve ter sido uma criança travessa. ─ Jacob disse após ouvir mais uma das minhas aventuras pelo mundo.
Inspirei, pensativa.
─ Na verdade, eu fui uma criança introvertida e certinha. ─ Foi involuntário ficar séria ao falar sobre o assunto, e acho que Jacob percebeu, pois acabou ficando também. ─ Ser uma bruxa as vezes é um porre, mas ser o "futuro" do seu clã é ainda pior.
Eu sabia que Jacob não fazia ideia do que eu estava falando, nem poderia, então tentei explicar de forma resumida:
─ Eu era uma bruxa "especial" tinha um pouco mais de poder do que o normal, então estava em constante vigilância e cobrança... eu tinha que ser a melhor e mais disciplinada. ─ Rolei os olhos, desejando com todas as minhas forças um Burbon ou qualquer outra coisa com álcool naquele momento. ─ Não tive tempo para coisas normais de criança... acho que é por isso que nunca desperdicei uma oportunidade de fazer merda quando pude.
Eu ri, sendo acompanhada por Jacob.
─ Bela desculpa. ─ Ele brincou.
Encarei mais uma vez o sorriso brilhante nos lábios do lobo sentado ao meu lado.
Apesar de tudo, eu podia ver a inocência nos olhos desse garoto, a bondade no seu coração... a luz que erradia de dentro dele.
Sorri comigo mesma, voltando a encarar o mar a nossa frente e o belo pôr do sol que nos acompanhava.
O universo realmente adora nos pregar peças.
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