Indecifráveis

17. Indecifráveis.


Naquela noite, eu tive pesadelos horríveis. Dormi poucas horas, então estava sobrevivendo a base de cafeína.

Passei um bom tempo fazendo as coisas no automático, enquanto minha mente voava para longe.

Fazias algumas décadas que algo não me afetava a este ponto. Pensei ter perdido a capacidade de me sentir culpada pelas coisas ruins que fazia. E, sinceramente? Eu ainda não me importava com elas, mas, por algum motivo, eu me importava com Jacob Black.

Eu deveria estar feliz, certo? Então por que sinto como se tivesse cometido um crime?

─ Inari? Ou! Terra chamando Inari! ─ Amara estalou os dedos em frente aos meus olhos me puxando de volta a realidade.

Estava sentada na minha cama, com uma caneca de café em mãos, encarando o nada.

─ Ahn... oi? ─ Encarei o rosto preocupado da minha amiga.

─ Tem certeza que está bem?

─ Absoluta. ─ Menti, forçando um sorriso.

O confronto com os Volturi estava cada vez mais próximo, assim como minha partida de Forks. Quando tudo isso acabar eu vou finalmente poder voltar para Nova Orleans e para minha vida "normal".

Claro que, eu provavelmente encontraria mais problemas por lá, afinal, Klaus e sua família estão sempre metidos em confusão.

Mas acho que me acostumei com todo esse caos, no final das contas, eu poderia me distrair e esquecer tudo o que se passou aqui.

─ Acho que vai gostar de saber que o Jacob já está 100% recuperado. ─ Ela contou, mas então pensou melhor e retificou: ─ Bom, talvez 75%.

Tenho quase certeza de que os 25% que restaram não tinha a ver com o seu físico.

Suspirei, encarando a caneca em minhas mãos. Tudo isso era muito novo para mim. Obviamente não sou uma garotinha inocente que nunca se relacionou com alguém, pelo contrário, eu posso afirmar com total convicção que tenho muito mais experiência com relacionamentos do que Jacob Black.

Também posso afirmar que nunca amei alguém realmente, não romanticamente falando. Tive alguns relacionamentos, todos fadados ao fracasso, mas, nunca um amor, ou o amor.

Sempre tive pavor de tudo o que pudesse me prender e tirar minha liberdade de ir e vir, ou de simplesmente tomar minhas próprias decisões. De me sentir tão presa à alguém ao ponto de não conseguir me colocar em primeiro lugar. De deixar que alguém me machucasse simplesmente porque eu o "amo".

Eu não sei o que sinto em relação ao Jake, e, honestamente? Também não sei se isso vai fazer qualquer diferença à partir de agora, ele está livre, e tem todo o direito de me odiar por fazer isso por suas costas, mas não admito que me julguem por exercer meu direito de escolha.

─ Fico feliz em saber. ─ Foi tudo o que eu disse.

...

Não estive muito por dentro do que os Cullen vinham fazendo exatamente nos últimos dias, eu estava concentrada demais em quebrar a ligação do imprinting, então deixei com que Amara ficasse responsável por essa parte.

Pelo que ela me contou Bella estava treinando para melhorar seu escudo, e ao restante da família não havia muito o que se fazer a não ser se preparar psicologicamente para o que poderia vir pela frente.

Precisava de um tempo para repor as minhas energias então decidi dar uma caminhada pela floresta. Essas terras tinham uma certa energia revigorante, o que me faria muito bem.

Caminhei por um tempo até comecei a sentir que havia mais alguém alí, ouvi um estralo, como se um galho tivesse sido quebrado e então eu finalmente o vi, em sua forma lupina.

Seus olhos chocolates me encaravam, como naquela noite: indecifráveis.

De repente, meu coração batia tão forte quanto uma escola de samba.

Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que encará-lo, mas isso não queria dizer que eu estivesse preparada para tal.

O lobo recuou de volta para floresta e por um minuto achei que ele tivesse desistido e ido embora, mas então ouvi seus passos novamente, dessa vez em sua forma humana, vestindo apenas uma bermuda jeans, Jacob se aproximou em passos lentos, como um predador se aproxima de sua presa.

─ Por que está tão nervosa, Inari? ─ Ele questionou, ainda se aproximando.

─ Culpa? ─ Eu ri pela minha própria voz falhada. ─ Jacob eu...

─ Era tão ruim assim a idéia de estar ligada a mim? ─ Ele estava a apenas alguns centímetros de mim agora.

Tive a impressão de que meu coração sairia pela boca a qualquer momento. Instintivamente lembrei-me da noite em que nos beijamos e me repreendi internamente por ter uma mente tão traíra e traiçoeira.

─ Não tem a ver com você.

Ele riu, como se eu tivesse lhe contado uma piada tão sem graça que rir era inevitável.

─ "Não é você, sou eu". ─ Ele repetiu aquela frase clichê, passando a mão nervosamente por seu cabelo. ─ É sério que você vai mandar essa?

─ Por que está tão irritado, Black? ─ Questionei, deixando aquela postura indefesa de lado. Eu não sou assim. ─ Você não me conhece direito, não sabe as coisas que já fiz e muito menos as que sou capaz de fazer! Não existe mais imprinting, você está livre.

─ Já estava planejando isso quando nos beijamos, certo? ─ Indagou, me desarmando novamente. Me mantive em silêncio, me sentindo a pior das covardes. ─ Obrigado pelas respostas.

Ele virou as costas pronto para ir embora.

─ Jacob! ─ O chamei, fazendo-o parar, ainda de costas para mim. ─ É melhor assim. Você merece algo melhor, alguém melhor.

Então, ele finalmente me encarou novamente, seus olhos frívolos como eu nunca tinha visto antes.

─ Você tem razão. ─ Foi o que ele disse antes de se virar novamente e correr em direção as árvores se transformando no ar.

Quando o lobo sumiu floresta a dentro, soltei o ar que nem sabia estar prendendo. Sentindo algo escorrer pelos meus olhos, passei a mão pela minha bochecha percebendo algo líquido. Lágrimas? Chocada, encarei minha mão levemente molhada, passando novamente no rosto e a encarando mais uma vez.

Fazia um bom tempo que eu não chorava, então, imaginem o meu susto ao ouvir um soluço escapar pelos meus lábios.

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