21. Frente a frente com os Volturi parte 2.

Refletir. Repassei a fala de Aro em minha mente, tentando analisar onde poderia haver um pegadinha. Reflita por um momento, pois a justiça que pretendíamos aplicar não é mais válida. E bingo! "A justiça que pretendiamos aplicar não é mais válida". Aro está procurando qualquer outro motivo que justifique uma condenação aos Cullen.

Bella e eu trocamos um olhar, e pela sua expressão, ela pensa o mesmo que eu sobre a atitude e as falas de Aro.

— Vai me apresentar sua filha? — perguntou Aro a Edward novamente.

Edward concordou, relutante.

Renesmee é um amor e totalmente encantadora, mas não sei se ela é capaz de convencer alguém como Aro, não sem que ele ganhe algo em troca, ou veja alguma vantagem nisso.

Aro ainda segurava a mão de Edward, e ele agora respondeu a uma pergunta que o resto de nós não ouvira.

— Creio que um meio-termo a essa altura certamente é aceitável, nessas circunstâncias. O encontro se dará no meio.

Aro soltou sua mão. Edward se virou para nós, e Aro se juntou a ele, passando um braço casualmente sobre o ombro de Edward, como se fossem grandes amigos — mantendo contato o tempo todo com a pele de Edward. Eles começaram a cruzar o campo até o nosso lado.

Toda a guarda começou a acompanhá-los. Aro ergueu a mão negligentemente sem olhar para eles.

— Esperem, meus caros. É verdade, eles não nos causarão mal algum se formos pacíficos.

A guarda reagiu mais abertamente do que antes, com rosnados e silvos de protesto, mas se manteve no lugar. A vampira, mais presa a Aro do que nunca, gemeu de angústia.

— Mestre — Sussurrou ela.

— Não tema, minha amada — Respondeu ele. — Está tudo bem.

— Talvez deva levar alguns membros de sua guarda conosco — Sugeriu Edward. — Isso os deixará mais à vontade.

Aro assentiu como se fosse uma observação sensata que ele mesmo devia ter feito. Então estalou os dedos duas vezes.

— Felix, Demetri.

Os dois vampiros estavam a seu lado num instante. Ambos eram altos e tinham cabelos escuros.

Os cinco pararam no meio do campo nevado.

— Bella — chamou Edward. — Traga Renesmee... e alguns amigos.

Bella estava visivelmente hesitante, mas sabia que não havia escolhas. Ela olhou para o lado.

— Seth, Emmett, Inari? — Perguntou para nós.

Estava claro que Emmett estava louco para ir, ele não tinha noção alguma de auto preservação. Seth jamais conseguiria deixar que Renesmee se aproximasse dos inimigos sem sua proteção, e bem, eu, não faria mal ter uma bruxa com eles, caso haja qualquer imprevisto.

Ouvi um rosnado baixo vindo de Jacob, algo como um protesto com o meu afastamento.

— Está tudo bem, Jake. — Murmurei na tentativa de tranquiliza-lo, acariciando seu pelo antes de ir me juntar ao outros.

Atravessamos o campo ao lado de Bella e Renesmee. Ouvimos outro rumor vindo da guarda ao verem minhas opções — evidentemente, eles não confiavam no lobisomem, e muito menos entendiam minha presença alí, afinal, para eles, aparentemente eu era apenas uma humana, um lanchinho a ser servido. Aro levantou a mão, desprezando seu protesto outra vez.

— Companhia interessante vocês têm — Murmurou Demetri para Edward.

Edward não o respondeu, mas fiz questão de encará-lo de igual para igual, até mesmo de uma forma um tanto superior.

Paramos a alguns metros de Aro. Edward escapou de seu braço e juntou-se a nós, pegando a mão de sua esposa.

Então Felix cumprimentou-a num tom baixo.

— Olá de novo, Bella. — Ele deu um sorriso arrogante ao mesmo tempo em que acompanhava cada movimento meu e do Seth.

Ouve um pequeno diálogo entre eles, diálogo esse que não prestei atenção pois estava ocupada demais tetando decifrar o motivo do olhar curioso de Aro sobre mim.

E então, ele finalmente encarou Renesmee. Ele inclinou a cabeça para o lado, fascinado.

— Ouço seu coração estranho —murmurou ele com um tom quase musical. — Sinto seu cheiro estranho. — Depois seus olhos nebulosos passaram para Bella. — Na verdade, jovem Bella, a imortalidade a tornou extraordinária— Disse ele. — É como se tivesse sido feita para esta vida.

Ela assentiu, agradecendo o elogio.

— Gostou do meu presente? — Perguntou ele, olhando o pingente Bella usava, certamente por pura estratégia.

— É lindo. Foi muita, muita generosidade de sua parte. Obrigada. Eu devia ter lhe mandado um bilhete.

Aro riu, deliciado.

— Foi só uma coisinha que eu tinha por perto. Pensei que podia complementar seu novo rosto, e vejo que acertei.

Ouvimos um leve silvo vindo do centro da linha dos Volturi. Ao que parecia alguém não estava satisfeita com o fato de Aro ter lhe dado um presente.

Aro deu um pigarro para recuperar minha atenção.

— Posso cumprimentar sua filha, adorável Bella? — perguntou-me com doçura.

Bella deu dois passos em sua direção. Aro se aproximou ao seu encontro, com o rosto radiante. Ele era no mínimo, um homem muito estranho.

— Mas ela é excepcional — Murmurou ele. — Tão parecida com você e com Edward. — E, mais alto: — Olá, Renesmee.

Renesmee olhou para a mãe rapidamente. Bella assentiu.

— Olá, Aro — Respondeu ela formalmente com sua voz aguda e ressoante.

Os olhos de Aro estavam perplexos.

— O que é isso? — Sibilou Caius de trás.

— Meio mortal, meio imortal — Anunciou Aro a ele e ao restante da guarda sem desviar seus olhos encantados de Renesmee. — Concebida e trazida à luz por esta recém-criada enquanto ainda era humana.

— Impossível — Caius zombou.

— Acha então que eles me enganaram, irmão? — A expressão de Aro era de muita diversão, mas Caius se retraiu. — O coração que você está ouvindo também é um truque?

Caius fechou a cara, parecendo contrariado, como se as perguntas gentis de Aro fossem golpes.

— Calma e cuidado, irmão — Alertou Aro, ainda sorrindo para Renesmee. — Sei quanto você ama sua justiça, mas não há justiça em agir contra esta pequenina singular por sua ascendência. E há muito o que aprender, muito o que saber! Sei que você não compartilha meu entusiasmo por colecionar histórias, mas seja tolerante comigo, irmão, e eu acrescentarei um capítulo que me espanta com sua improbabilidade. Viemos esperando apenas justiça e a tristeza de falsos amigos, mas veja o que ganhamos! Um novo conhecimento sobre nós mesmos, nossas possibilidades.

Ele estendeu a mão para Renesmee, em um convite. Mas não era isso que ela queria. Ela se afastou de Bella, esticando-se, para tocar o rosto de Aro com a ponta dos dedos.

Aro não reagiu com o choque que quase todos tiveram a essa demonstração de Renesmee; ele estava acostumado com o fluxo de pensamento e lembranças de outras mentes, como Edward.

Seu sorriso se ampliou e ele suspirou de satisfação.

— Brilhante — Sussurrou ele.

— Por favor? — Elaa perguntou a ele. Seu sorriso tornou-se gentil. Ela era realmente encantadora.

— É claro que não desejo machucar seus entes queridos, preciosa Renesmee.

A voz de Aro era tão reconfortante e afetuosa, que quase me convenceu. Mas então ouvi os dentes de Edward ranger e, atrás de nós, o silvo de ultraje de Maggie com a mentira.

— O que me faz imaginar — Disse Aro, pensativo, parecendo não ter ciência da reação a suas palavras anteriores.

Seus olhos passaram inesperadamente a Seth, e em vez da repulsa que os outros Volturi mostraram pelo lobo gigante, os olhos de Aro eram cheios de um desejo que eu não compreendia.

— Não funciona assim — Disse Edward, a neutralidade cautelosa distanciando-se de seu tom subitamente áspero.

— Foi só uma ideia errante — Disse Aro, avaliando Seth abertamente. Então seus olhos moveram-se
lentamente por Jacob e então pelas duas filas de lobisomens atrás de nós. O que quer que Renesmee tenha mostrado a ele, tornou os lobos repentinamente interessantes.

— Eles não nos pertencem, Aro. Eles não seguem nossos comandos dessa maneira. Estão aqui porque querem.

Ouvi o rosnado ameaçador de Jacob atrás de nós.

— Mas parecem muito ligados a você — Disse Aro. — E à sua jovem parceira e à sua... família. Leais. — Sua voz acariciou a palavra com suavidade.

— Eles têm o compromisso de proteger a vida humana, Aro. Isso os torna capazes de coexistir conosco, mas não com você. A não ser que esteja repensando seu estilo de vida.

Aro riu.

— Só uma ideia errante — Repetiu ele. — Você sabe muito bem como é isso. Nenhum de nós pode controlar inteiramente nossos desejos subconscientes.

Edward fez uma careta.

— Sei como é isso. E também sei a diferença entre esse tipo de ideia e o tipo que tem um propósito por trás. Nunca daria certo, Aro.

Seth virou-se para Edward, esperando por uma explicação do que estava acontecendo alí.

— Ele está intrigado com a ideia de... cães de guarda — Murmurou Edward.

Houve um segundo de silêncio mortal, então o som de rosnados furiosos vindos de toda a matilha encheu a grande clareira.

Houve um brusco latido de comando de Sam, imaginei, embora não me virasse para olhar — e a queixa foi interrompida, transformando-se em um silêncio agourento.

— Imagino que isso responda à pergunta — Disse Aro, rindo de novo. — Este bando escolheu seu lado.

Edward sibilou e se inclinou para a frente. Bella segurou seu braço, enquanto Felix e Demetri agachavam-se em sincronia. Aro os dispensou de novo. Todos voltaram à atitude anterior, inclusive Edward.

Então, repentinamente, seus olhos pousaram sobre mim com um genuíno interesse.

— Inari... — Aro parecia saborear cada letra do meu nome. — Uma bruxa. — O som de arfos surpresos dos membros da guarda era tudo o que podíamos ouvir, até que Aro sinalizou seu silêncio novamente. — Achávamos que sua espécie estava extinta... ou quase isso.

Eu ri.

— Acho que viver em um castelo os mantém tão isolados a ponto de estarem severamente desinformados. — Não fiz questão de ser cordial, o que me rendeu inúmeros olhares tanto surpresos quanto ultrajados da guarda Volturi.

Acho que sabemos bem quem são os cães de guarda por aqui.

Aro gargalhou. Uma gargalhada tão sinistra quando seu olhar psicótico.

— Deveras. — Murmurou o vampiro, por fim. — Se importaria? — Ele estendeu sua mão para mim, em um convite mudo.

— De modo algum. — Sorri, sem deixar me abalar. Erguendo a minha mão, sem tocar a sua ainda. — Mas devo adverti-lo; seus truques não funcionam comigo. — Então finalmente deixei que sua mão tocasse a minha.

Aro estava cheio de expectativas, queria descobrir todos os segredos sobre a minha espécie e como viemos, quantas de nós ainda existem pelo mundo, mas seu semblante caiu assim que percebeu que não conseguia ver nada. Ele estava visivelmente confuso, já que provavelmente viu na mente de Edward que ele podia ler a minha, mas eu não viria para um confronto como este despreparada.

— Interessante. — Murmurou o vampiro ancião, na tentativa falha de mascarar sua decepção. — Há muito o que discutir — Disse Aro, virando-se para sua guarda novamente, o tom subitamente o de um homem de negócios assoberbado. — Muito o que decidir. Se vocês e seu protetor peludo me derem licença, meus caros Cullen, e Lavelle, devo conferenciar com meus irmãos.

Eu não tinha dúvidas, Aro Volturi não passava de uma cobra ardilosa. Sorte a minha que, sei bem como acabar com sua espécie.