Frente a frente com os volturi
21. Frente a frente com os Volturi.
Eles vieram com pompa, com uma espécie de encanto.
Vieram numa formação rígida e convencional. Moviam-se juntos, mas não marchavam; fluíam das árvores numa sincronia perfeita - uma forma escura e ininterrupta que parecia pairar alguns centímetros acima da neve branca, tão suave era seu avanço.
O perímetro mais externo era cinza; a cor escurecia a cada fila de corpos até o cerne da formação, intensamente negro. Cada rosto estava encapuzado, ensombrecido.
Seu progresso era lento mas decidido, sem pressa, sem tensão, sem ansiedade. Era o ritmo dos invencíveis.
- Os britânicos estão vindo, os britânicos estão vindo - Murmurou Garrett misteriosamente consigo mesmo, e depois riu. Ele se aproximou um passo de Kate.
- Eles vieram - Sussurrou Vladimir a Stefan.
- As esposas - Sibilou Stefan de volta. - Toda a guarda. Todos eles juntos. Ainda bem que não tentamos Volterra.
E depois, como se não bastasse estarem em maior número, enquanto os Volturi avançavam lenta e majestosamente, mais vampiros começaram a surgir na clareira atrás deles.
Os rostos naquele influxo aparentemente interminável de vampiros eram a antítese da disciplina
inexpressiva dos Volturi - mostravam um caleidoscópio de emoções.
Inicialmente, havia o choque e até
alguma ansiedade enquanto eles viam a força inesperada que os aguardava. Mas a preocupação passou
rapidamente; eles estavam seguros em seu número esmagador, seguros em sua posição atrás da irreprimível
força dos Volturi. Suas feições voltaram à expressão que tinham antes de os surpreendermos.
Senti algo quente se aproximar e olhei para o lado percebendo que Jacob estava alí, em sua forma lupina. Agradeci com o olhar. A tensão estava aumentando a cada segundo. Eles estavam em um número muito maior e, é claro que aquilo afetava a confiança dos nossos aliados.
Pelo que os Cullen me contou sobre os Volturi eles só traziam suas esposas e testemunhas quando realmente pretendiam dizimar um clã. Portanto, aquele era um péssimo sinal para nós.
Reconheci uma vampira entre eles; Irina, a conheci no casamento de Edward e Bella, naquela ocasião ela já não estava nenhum pouco contente com os Cullen, já dava sinais de que poderia causar problemas.
Ela hesitava entre os dois grupos, a expressão única em meio aos outros. O olhar apavorado de Irina estava fixo na posição de Tanya na linha de frente.
- Alistair tinha razão - Murmurou Edward para Carlisle.
Carlisle olhou para Edward de forma inquisitiva.
- Alistair tinha razão? - sussurrou Tanya.
- Oh, agora você concorda comigo? - Questinou Alistair, ao rolar os olhos. Parecia que ele estava usando todas as suas forças para não sair correndo para longe daqui.
- Eles, Caius e Aro, vieram destruir e conquistar - Sussurrou Edward quase em silêncio.
Se eu não tivesse feito um feitiço para aguçar minha audição e a de Amara, certamente não poderia ouvi-lo. E ainda assim, se não estivesse ao seu lado, não seria capaz.
- Eles têm muitas estratégias já preparadas. Se a acusação de Irina se provasse falsa de algum modo, eles se empenhariam em encontrar outro motivo para ofender-se. Mas eles podem ver Renesmee agora, então estão completamente otimistas quanto ao rumo que tomarão. Ainda podemos tentar nos defender das outras acusações maquinadas por eles, mas primeiro eles têm de parar, ouvir a verdade sobre Renesmee. - Depois, ainda mais baixo: - O que eles não têm a intenção de fazer.
E então, inesperadamente, dois segundos depois, a procissão parou. A disciplina impecável continuou intacta; os Volturi ficaram absolutamente imóveis. Estavam a cerca de cem metros de nós. Atrás de nós, para os lados, ouvi o batimento de corações grandes, mais perto que antes.
Os lobos tinham se juntado a nós.
Eles eram quinze, espaçados uniformemente em torno de nós - dezessete no total, contando com Seth, e Jacob que se mantinha ao meu lado, como um guarda-costas grande e peludo.
Sabia qual eram as aparências dos reis Volturi pelo quadro que havia na mansão dos Cullen e, senti um arrepio agourento quando o olhar de quem identifiquei como Aro passou pelos nossos aliados, demorando-se um pouco mais sobre mim e Amara ao meu lado.
Eu não tenho certeza, mas acho que ele identificou ou ao menos suspeita da nossa natureza sobrenatural.
Enquanto a pausa se estendia, ouvi a respiração de Edward se acelerar.
- Edward? - Perguntou Carlisle num tom baixo e ansioso.
- Eles não sabem bem o que fazer. Estão pesando as opções, escolhendo os principais alvos... Eu, é claro, você, Eleazar, Tanya. Marcus está lendo a força de nossos laços, procurando pontos fracos. A presença dos romenos os irrita. Eles estão preocupados com os rostos que não reconhecem... Zafrina e Senna, e principalmente Inari e Amara, eles não fazem idéia de quem ou o que elas são, apesar de Aro ter suas suspeitas... E ainda tem os lobos, naturalmente. Nunca estiveram em desvantagem numérica. Foi isso que os deteve.
- Desvantagem numérica? - Sussurrou Tanya, incrédula. Creio que a maioria de nós teve a mesma reação.
- Eles não contam as testemunhas que trouxeram - Sussurrou Edward. - Elas são inexistentes, não significam nada para a guarda. Aro só gosta de uma plateia.
- Devo falar? - Perguntou Carlisle.
Edward hesitou, depois assentiu.
- É a única chance que você terá.
Carlisle endireitou os ombros e avançou vários passos à frente de nossa linha de defesa.
Ele abriu os braços, erguendo as palmas das mãos como em um cumprimento.
- Aro, meu velho amigo. Já faz séculos.
Sobre a clareira branca caiu um silêncio mortal por um longo momento. A tensão aumentava com o passar dos segundos.
E, então, Aro deu um passo à frente, saindo do centro da formação Volturi. Uma vampira moveu-se com ele como se as pontas de seus dedos estivessem costuradas ao manto dele. Pela primeira vez a tropa dos Volturi reagiu. Um grunhido percorreu a formação, as sobrancelhas franziram-se desenhando carrancas, os lábios se repuxaram sobre os dentes. Alguns membros da guarda se agacharam.
Aro ergueu a mão para eles.
- Paz.
Ele andou mais alguns passos, depois inclinou a cabeça para um lado. Seus olhos leitosos cintilavam de
curiosidade.
- Belas palavras, Carlisle - Sussurrou ele em sua voz fina e ciciada. - Mas parecem deslocadas, considerando o exército que você reuniu para me matar e matar os que me são caros.
Carlisle sacudiu a cabeça e estendeu a mão direita, como se não houvesse ainda quase uma centena de metros entre eles.
- Basta tocar minha mão para saber que essa nunca foi minha intenção.
Os olhos astutos de Aro se estreitaram.
- Mas que importância pode ter sua intenção, meu caro Carlisle, diante do que você fez? - Ele franziu a testa e uma sombra de tristeza cobriu suas feições. Duvido que esta seja autêntica.
- Não cometi o crime pelo qual você está aqui para me punir.
- Então saia da frente e deixe-nos punir os responsáveis. Na verdade,
Carlisle, nada me agradaria mais do que preservar sua vida hoje.
- Ninguém infringiu a lei, Aro. Deixe-me explicar. - De novo, Carlisle
lhe ofereceu a mão.
Antes que Aro pudesse responder, Caius moveu-se rapidamente e parou
ao lado de Aro.
- Tantas regras sem sentido, tantas leis desnecessárias você criou para si mesmo, Carlisle - Sibilou o vampiro de cabelos loiros platinado. - Como é possível que defenda a violação daquela que verdadeiramente
importa?
- A lei não foi violada. Se vocês ouvissem...
- Estamos vendo a criança, Carlisle - Grunhiu Caius. - Não nos trate como tolos.
- Ela não é uma imortal. Ela não é uma vampira. Posso provar facilmente isto em apenas alguns momentos...
Caius o interrompeu.
- Se ela não é uma das proibidas, então por que reuniu um batalhão para protegê-la?
- Testemunhas, Caius, como vocês mesmos trouxeram. - Carlisle gesticulou para a horda furiosa na margem da floresta; alguns grunhiram em resposta. - Qualquer um desses amigos pode lhes dizer a verdade sobre a criança. Ou vocês podem simplesmente olhar para ela, Caius. Ver o fluxo de sangue humano em seu rosto.
- É um truque! - Rebateu Caius. - Onde está a informante? Que ela avance! - Ele esticou o pescoço até localizar Irina, hesitante, atrás das esposas. - Você! Venha!
Irina o fitou sem compreender, o rosto como o de alguém que não despertou inteiramente de um pesadelo horrendo.
Impaciente, Caius estalou os dedos. Um dos imensos seguranças das esposas caminhou até Irina e a cutucou rudemente nas costas. Irina piscou duas vezes e andou lentamente até Caius,
atordoada. Parou a vários metros, os olhos ainda nas irmãs.
Caius cobriu a distância até ela e lhe deu uma bofetada. Tanya e Kate sibilaram em sincronia. O corpo de Irina ficou rígido e seus olhos finalmente focalizaram Caius. Ele apontou um dedo para Renesmee, agarrada às costas de Bella, com os dedinhos ainda emaranhados no pelo de Seth.
- É esta a criança que você viu? - Perguntou Caius. - Aquela que era evidentemente mais do que
humana?
Irina nos olhou, examinando Renesmee pela primeira vez desde que entrara na clareira. Sua cabeça tombou para o lado, a confusão cruzando seu rosto.
- E então? - Rosnou Caius.
- Eu... não tenho certeza - Disse ela, a voz perplexa.
A mão de Caius crispou-se, como se ele quisesse bater nela outra vez.
- O que quer dizer? - Disse ele num sussurro de aço.
- Ela não está igual, mas acho que é a mesma criança. Quero dizer, ela mudou. Esta criança é maior do que a que eu vi, mas...
O arfar furioso de Caius passou por seus dentes subitamente expostos e Irina interrompeu-se, sem terminar. Aro flutuou até o lado de Caius e pôs a mão, restritiva, em seu ombro.
- Componha-se, irmão. Temos tempo para esclarecer isso. Não há necessidade de pressa.
Com uma expressão rabugenta, Caius deu as costas a Irina.
- Agora, minha querida - Disse Aro num murmúrio caloroso e açucarado. - Mostre-me o que está tentando dizer. - Ele estendeu a mão para a desnorteada vampira.
Insegura, Irina pegou sua mão. Ele a segurou por apenas cinco segundos.
- Está vendo, Caius? - Disse ele. - É uma simples questão de conseguir o que precisamos.
Caius não respondeu. Pelo canto do olho, Aro olhou para sua plateia, sua turba, depois voltou-se para Carlisle.
- Ao que parece, temos um mistério em nossas mãos. Aparentemente, a criança cresceu. No entanto, a primeira lembrança de Irina foi claramente de uma criança imortal. Curioso.
- É exatamente o que estou tentando explicar - Disse Carlisle, e pela mudança em sua voz pude ver seu alívio.
Essa era a brecha que estávamos esperando.
Carlisle estendeu a mão de novo. Aro hesitou por um momento.
- Preferiria receber a explicação de alguém mais central nesta história, meu amigo. Estou errado em supor que esta violação não foi obra sua?
- Não houve violação.
- Ainda que assim seja, terei cada aspecto da verdade. - A voz frágil de Aro endureceu. - E a melhor maneira de conseguir isso é ter a prova diretamente de seu filho talentoso. - Ele inclinou a cabeça na direção de Edward. - Como a criança está nas costas de sua parceira recém-criada, suponho que Edward esteja envolvido.
É claro que ele queria Edward. Assim que olhasse na mente de Edward, ele saberia todos os nossos pensamentos.
Edward virou-se rapidamente para beijar a testa de Bella e a de Renesmee, nossos olhares se cruzaram por um momento antes do vampiro se virar. Depois atravessou o campo nevado, dando um tapinha no ombro de Carlisle ao passar. Ouvi um gemido baixo atrás de mim - o pavor de Esme transparecia.
Ao encarar Bella eu tive a certeza de que ela estava pronta para ir com tudo caso algo acontecesse ao seu companheiro. A vampira não se paracia em nada com a humana insegura que conheci há um tempo atrás em seu casamento.
De repente, uma risada sobressaltada veio da vampira. Todos a encaramos como se ela tivesse perdido o juízo.
Edward parou a pouca distância de Aro e estendeu a mão para Aro como se estivesse lhe conferindo uma grande honra.
Com um sorriso imperturbável, Aro pegou a mão de Edward. Seus olhos se fecharam de pronto e os ombros se curvaram sob a enxurrada de informações.
Bella sibilou.
- Calma, Bella. - Zafrina sussurou.
Aro continuava a se concentrar nas lembranças de Edward. A cabeça de Edward curvou-se também, os músculos de seu pescoço enrijecendo enquanto ele lia de volta tudo o que Aro tirava dele, e a reação de Aro a tudo aquilo. O diálogo de duas vias, mas desigual, continuou por tempo suficiente para que até a guarda ficasse inquieta.
Quando Aro endireitou-se, abrindo seus olhos, sua expressão era pasma e cautelosa. Seus olhos pousaram sobre mim e eu tive a confirmação de que ele sabia exatamente quem e o que eu era, e eu não gostei nenhum pouco do interesse que vi brilhar em suas íris escarlates.
Ele não soltou a mão de Edward. Os músculos de Edward relaxaram ligeiramente.
- Viu? - Perguntou Edward, a voz aveludada e calma.
- Sim, eu vi, deveras - Concordou Aro, e surpreendentemente ele quase parecia se divertir. - Duvido que deuses ou mortais pudessem ver com tanta clareza.
Os rostos disciplinados da guarda mostraram incredulidade.
- Deu-me muito o que refletir, jovem amigo - Continuou Aro. - Muito mais do que eu esperava. - Ele ainda não soltara a mão de Edward. - Posso conhecê-la? - perguntou, quase suplicante, com um interesse ansioso e repentino. - Nunca imaginei a existência de uma coisa dessas em todos os meus séculos. Que acréscimo à nossa história!
- Do que se trata, Aro? - Perguntou Caius antes que Edward pudesse responder.
Bella puxou Renesmee para meus braços, aninhando-a protetoramente em seu peito.
- Algo que você jamais sonhou, meu amigo pragmático. Reflita por um momento, pois a justiça que pretendíamos aplicar não é mais válida.
Caius sibilou de surpresa com as palavras dele.
- Paz, irmão - Advertiu Aro, tranquilizador.
Aquela deveria ser considerada uma boa notícia, afinal, Aro havia acabado de admitir que nenhum lei fora quebrada pelos Cullen, portanto, não tinha o que punir.
Contudo, algo me dizia que não escapariamos tão fácil assim das garras compridas e afiadas dos Volturi.
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