𝟓𝟗 - 𝐇𝐎𝐖 𝐌𝐔𝐂𝐇 𝐃𝐎 𝐖𝐄 𝐇𝐀𝐕𝐄 𝐏𝐄𝐀𝐂𝐄?


Dizem que, depois da tempestade, sempre vem algo bom, mas onde está essa maldita coisa boa? Não faço a mínima ideia. Essa sensação de estar preso em um ciclo interminável de caos e alívio é sufocante. Sempre que pensamos que podemos respirar, que finalmente encontramos um pedaço de paz, algo surge para nos lembrar que o mundo não permite descanso. Mas talvez seja isso que nos mantém vivos—esses pequenos momentos de felicidade roubados no meio da tempestade: um riso abafado, um olhar cúmplice, o calor de um abraço inesperado. Não importa o quanto o inferno tente nos engolir, ainda encontramos formas de agarrar nossa humanidade com unhas e dentes. Porque, sem isso… sem esses momentos de esperança, o que restaria de nós?

E, ao pensar nisso, chego à conclusão de que estar nos braços do meu marido e filhas é o meu paraíso. Mesmo depois de tudo que presenciei ontem, consigo me manter, de certa forma, em paz.

Depois que eles chegaram com os remédios, os ânimos se acalmaram. O Dixon me abraçou com tanta força que parecia querer me apertar, como se em sua mente algo tivesse acontecido comigo. Bob, o cara em quem não confio, conseguiu distribuir o remédio para quem restou. Foi horrível ver que mais da metade morreu, mas o lado “bom” é que ainda estamos de pé. Hershel e eu precisamos tomar um antibiótico para evitar qualquer tipo de infecção, assim como Maggie.

Assim que saí daquele maldito bloco de celas, corri até a minha família e não a soltei mais. Fiz todos eles dormirem comigo na cela; queria me agarrar a todos o máximo que podia. Foi uma boa festa do pijama. Emília contou tudo o que aconteceu e, inclusive, deixou escapar que Alicent fugiu com Carl para ajudar Rick com os malditos zumbis. Não foi uma das melhores ideias, mas ajudou a prisão a se manter de pé e, com certeza, isso basta para todos.

Movimento meu braço de um lado para o outro, sentindo uma sensação esquisita, como se o osso estivesse roçando um contra o outro. Talvez eu não o tenha colocado no lugar certo. Bufo irritada. Não posso fazer nada; era colocar ele no lugar ou ficar sem os movimentos dele e, se eu ficasse sem, viraria papinha de zumbi. Balanço a minha cabeça, fazendo os fios loiros caírem no coque que fiz. A raiz está imensa; preciso retocar urgentemente ou vou ficar parecendo a loira do banheiro.

Sem julgamentos, a morte pode estar me cercando, mas ainda quero ser uma gostosona filha da puta. O importante é ser gostosa mesmo na desgraça. Isso daria um ótimo slogan.

— É, vamos lá. — bati as mãos uma na outra animadamente.

Assim que me levantei, pude escutar uma gritaria danada do lado de fora da cela; era a voz do Daryl e do Rick. Por que diabos eles estão brigando? — pensei, saindo imediatamente da minha cela. Coloquei a mão no ombro, tombando a cabeça levemente para o lado. Eu já os vi discordando em muitos assuntos, mas discutir desse jeito não; Daryl tem respeito pelas ordens que Rick dá, mas agora parece que não está tão satisfeito. O meu marido andava de um lado para o outro nervoso, enquanto Rick se mantinha na mesma posição, cabeça abaixada e batendo os dedos contra a palma da mão. Cresci com o Grimes, sei que só faz isso quando está nervoso. Isso me faz lembrar de uma coisa: onde está a Carol? Eu já rodei toda a prisão, até mesmo o bloco A, e não encontrei a mulher.

— O que está acontecendo aqui? — rosnei, cruzando os braços. — Qual é? Não vamos aproveitar minimamente a “vitória” que tivemos?

— Pergunta o que seu paizinho fez!

Daryl virou-se para mim com os olhos enfurecidos. Ele caminhou na minha direção, cada passo mais pesado do que o outro, parecia querer matar qualquer um no seu caminho. Ergui a minha destra, espalmando-a em seu peitoral com força, arrancando um rosnado do homem. Vai ficar putinho? Fique, mas não sou saco de pancada e muito menos depósito de porra pra ele vir querer descontar todas as frustrações. Já estou com raiva dele, que não me faça ter ainda mais.

— Parecem duas crianças discutindo — ralhei, descruzando os braços. — Anda, Rick!

— Mandei a Carol embora!

— Oi?

— Ela matou a Karen e o David, disse que fez isso por nós!

— Ai, na sua plena genialidade, mandou ela embora sem conversar com os outros membros do conselho, Richard? Como ela vai se virar sozinha?

— Como disse ao Daryl, ela tem suprimentos, armas, gasolina — explicou, apoiando-se na grade. Eu consigo ver o seu arrependimento, os olhos marejados e as olheiras acinzentadas. — Eu fiz isso para protegê-la; se o Tyreese descobrisse… ele quase me matou por nada!

— Nós íamos dar um jeito, ok? Não precisa deixar ela sozinha. E se o governador encontrar ela, Rick? E se ela morrer sozinha?

— Você sabe que ela não é fraca, Isobel!

— Todos aqui somos fracos; apenas ficamos mais fortes pela nossa união, porque cada um se complementa de alguma forma. — Deslizei as mãos pelos fios loiros; minha vontade é de puxá-los, arrancar fio a fio até descobrir o que fazer com essa nova informação.

O Dixon, que estava atrás de mim, andando de um lado para o outro, deu alguns passos até o parapeito, apoiando os cotovelos no ferro gélido, a cabeça curvada para frente enquanto balançava o pé incessantemente. Eu entendo o que ele está sentindo; Carol é a sua melhor amiga. Lembro-me vagamente de como a relação deles foi se construindo enquanto estávamos na fazenda. O homem nunca foi de confiar em muitas pessoas, mas ele abriu uma parte do seu coração para ela, confiou pensamentos e momentos. Sei que agora ele está um caco.

Rick não tinha o direito de expulsá-la sem uma conversa com os demais. Ele decidiu sair da liderança totalitária e agora precisa aprender que todos ali têm o direito de opinar. Tenho certeza de que Hershel, Glenn, Dianna, Michonne e eu não iríamos expulsar a mulher. Ela é uma de nós. Carol pode ter errado quando matou aqueles homens? Com certeza, também não apoio o que ela fez, mas Richard praticamente a abandonou no meio da estrada. E daí que ela tem suprimentos? Ainda há muitos desgraçados vivos nessa merda.

Eu espero, espero mesmo que Carol fique bem. Eu a amo como uma mãe. Ela é boa em conselhos e sempre está à disposição das pessoas.

— Não contei para o Tyreese ainda — Richard desceu o olhar para o chão, pousando as mãos na cintura. — Não sei como ele vai reagir!

— ‘Vamo’ lá descobrir!

Eu já sei que isso vai dar merda. Daryl e Rick à frente, tensos como sempre, cheios de "não me toques" e testosterona, brigando por espaço, bem patético. Homens são complicados, mas eu não tenho paciência para entender, e também não sou psicóloga para fazer consulta. Só estou indo atrás porque, se deixar, acabam se matando antes de encontrarem o Tyreese. Suspiro fundo, jogando a cabeça para trás enquanto caminho. Honestamente? Preferia estar na cela do Glenn e da Maggie, fofocando ou procurando a Ally, que desapareceu há horas. Mas não. Aqui estou eu, exausta, sentindo minhas pálpebras pesarem, querendo um coma voluntário para recuperar o que restou das minhas energias.

Uma grande bosta, já disse que em outra vida devo ter pintado o 7? Se não, eu falo agora. Meu Deus. Deve ser algum pagamento kármico, ou sei lá.

A cada corredor que passamos, a luz vai se esvaindo. Confesso que tenho um pouco de medo do escuro; talvez seja um trauma de infância, sei lá. Mas o fato é: odeio tudo que não receba um pingo de luz. Me sinto claustrofóbica, é horrível, sem contar que pode parecer algum animal muito feroz e me devorar, tipo a barata, aquela praga maldita. Pior ainda se for voadora; eu sairia correndo com as mãos para cima e pedindo por ajuda. Me traga um zumbi, mas não uma barata.

Sinto um tapinha leve na minha nuca. Virei o meu rosto para o lado, vendo o Dixon parado com os braços cruzados. Ele balançava a cabeça negativamente. Seus olhos falavam quase um: "acorda e para de ser boba, moça".

— Tyreese, você está aqui?

— Rick, é você? — Não, o papagaio; pensei, revirando os meus olhos. É cada pergunta que fico incrédula.

Bufo alto o suficiente para fazer os olhos masculinos caírem sobre o meu rosto, ergo a minha mão em rendição, dando alguns passos para frente. Eu não dormi nem três horas; não é legal julgar a impaciência do coleguinha. Estou morrendo de dor de cabeça e minhas costas ardem.

— Vocês precisam ver uma coisa! — murmurou, visivelmente preocupado.

— Espera, tem uma coisa de que precisamos conversar — sussurrou meu pai, mantendo a voz calma.

— Depois, venham!

O homem se vira, cortando Rick antes que ele possa concluir o que queria dizer. Reviro os olhos e passo na frente dos dois turrões que se encaram como se fossem resolver tudo na base do olhar. Ah, tenha santa paciência. Solto um rosnado baixo e sigo Tyreese com pressa. Se ele quer mostrar algo, deve ser importante. Entramos em uma sala apertada e, sério, por que diabos essa prisão tem uma iluminação tão baixa? Isso só aumenta minha irritação. Dou alguns passos para o lado, me afastando de Ty, e então meus olhos encontram aquele maldito desenho. Pisquei algumas vezes, tentando entender. Que coisa nojenta. Parece uma obra esculpida diretamente por Satanás. Mas, como ele não está aqui, deve ser só mais um maníaco idiota brincando com a nossa cara.

É como dizem: se o diabo não vem, manda o assistente. E, puta que pariu, o capeta está com mais assistentes do que os antigos empresários. Pensando em empresários, como será que esses riquinhos fodidos ficaram?

— Eu estava fazendo uma ronda e encontrei isso! — explicou, apontando a lanterna para o quadro. — Lembra dos ratos na cerca? Apareceram bem no dia em que ela morreu — a fúria brilhou em seus olhos.

— Tyreese!

— Tem um psicopata vivendo com a gente; temos que achar quem fez isso.

A ira de Tyreese era quase palpável, pesada no ar como um trovão prestes a cair. Conseguia sentir sua aura densa, a vontade de matar exalando de cada músculo tensionado de seu corpo. E, de alguma forma, eu compreendia Rick. Tyreese não estava em um estado racional o suficiente para enxergar que Carol fez o que fez por um bem maior. Não importava a lógica, não importava a necessidade — ele queria justiça, mas não a justiça justa. Ele queria vingança. Queria sentir o sangue do culpado escorrendo por seus dedos, e nada, absolutamente nada neste mundo o faria mudar de ideia.

— Ty — sibilei, pondo as mãos na cintura. — Quem fez essa merda não é a mesma pessoa; eu não acho que seja.

— Por quê?

Um calafrio cortante percorreu meu corpo, como se garras invisíveis me arrastassem para um abismo de puro terror. Cada fio de cabelo da minha nuca se eriçou, e minha respiração ficou presa na garganta. Eu ia responder ao homem, mas o mundo pareceu ruir ao meu redor. O chão tremeu violentamente, e pedaços do teto começaram a despencar, estalando ao atingir o solo. O pavor se enraizou no meu peito. Céus, o que está acontecendo?! Não esperei. Meu instinto gritou mais alto, e minhas pernas se moveram antes que eu pudesse pensar. Corri, me esquivando dos destroços, com o coração martelando contra minhas costelas. Sempre reclamo de que problemas me encontram, mas a verdade é que sou eu quem corre para eles. Eu preciso agir. Eu preciso saber.

Assim que cruzei a saída, meus olhos encontraram Maggie e Beth. Corri até elas, meu olhar implorando por respostas. O ar cheirava a poeira e tensão. Girei nos calcanhares, vendo Rick, Daryl e Tyreese avançarem rapidamente. Então, todos nós corremos para as grades—e foi ali que o choque me atingiu como um soco no estômago. O que vi me paralisou. Meu sangue gelou.

MALDITO GOVERNADOR.

Ele estava ali, imponente como sempre, com aquela maldita pose de invencível—mãos na cintura, olhar frio e um sorriso que me fazia ferver de ódio. De pé sobre um dos carros, ele se exibia como se fosse intocável. Minha mão encontrou o ombro de Dixon num gesto instintivo, quase um pedido mudo para que ele me segurasse. Porque, se não o fizesse, eu pegaria minha arma e acabaria com isso agora mesmo. Aquele desgraçado nos assombrou por meses, feito um rato esperto, se esgueirando nas sombras, sempre um passo à frente. Mas agora? Agora ele não tem para onde correr. Eu vou matá-lo.

E não vai haver piedade.

— Rick, venha até aqui, precisamos conversar!

— Não é comigo, temos um conselho agora; são eles quem mandam neste lugar — gritou em resposta ao desgraçado.

— Hershel está no conselho?

Uma mulher avança até um dos carros e arranca o homem de dentro com uma força brutal. Meu maxilar se contrai até doer, enquanto minhas unhas se cravam tão fundo na pele que sinto o sangue quente escorrer entre os dedos. O silêncio é quebrado por um grito – o nome de Michonne rasga o ar, e então ela surge, imponente, com o queixo erguido, os olhos afiados como lâminas, aguardando o momento exato para agir. Jensen e Eloide se movem instintivamente para a cerca, seus corpos tensos, prontos para qualquer coisa. O homem leva a mão ao coldre, mas antes que consiga sacar a arma, o governador solta uma risada seca, carregada de malícia, e seus olhos se cravam nos meus com uma intensidade perturbadora.

— Ah, temos essa garotinha, uma fofa.

Ally, minha garotinha, minha doce filha, surge diante de mim com metade do rosto manchado de sangue, um rastro vermelho escorrendo por sua bochecha. Sua blusa está completamente rasgada, expondo um dos seus tops, e meu coração aperta com uma fúria avassaladora. Se esse desgraçado ousou tocá-la, eu juro que vou arrancar cada fôlego de vida dele. O ódio pulsa em minhas veias como fogo líquido, queimando, consumindo, tornando impossível pensar em qualquer coisa além de vingança. Eu prometi a Alicent que ninguém a machucaria. E eu vou cumprir essa promessa, nem que para isso eu tenha que me afundar na minha própria ira.

— Eu não tomo mais as decisões!

— Mas hoje você terá que tomar, Rick. Desça até aqui para que tenhamos aquela conversa.

Essa foi a maratona, meus amores, espero que tenham gostado do capítulo.

••• meta: 100 comentarios •••

MARATONA: 4/4

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top