𝟓𝟓 - 𝐓𝐑𝐀𝐆𝐄𝐃𝐘 𝐀𝐍𝐃 𝐋𝐎𝐕𝐄

DIANNA ACKLES


Suguei os lábios de Rick em um beijo calmo. As mãos do homem passam pela minha cintura, dedilhando a minha pele exposta. Posso sentir a aspereza dos seus calos contra a tez macia. Um arrepio percorre meu corpo assim que o homem deposita um beijo em meu pescoço. Ótima forma de me acordar, Richard Grimes. Hoje, o querido decidiu me acordar chupando a minha intimidade. Tive que gemer baixinho, mesmo sendo escandalosa, e agora o homem está se enfiando em mim com força, enquanto seus dedos passeiam por toda a minha pele. Cravo os meus dentes em seu ombro, arrancando um urro contido. Em seguida, contraio a minha boceta, prendendo o Grimes entre as minhas pernas.

— Porra, Dianna. — arfou, se afundando com mais vigor em minha intimidade. Poderia sentir todo o meu corpo sucumbir aos poucos.

Minha respiração estava extremamente falha e mal conseguia piscar. Queria gemer alto, e o Rick também queria que eu fizesse isso. Ele gosta de me marcar de formas sutis, gosta de deixar claro que sou dele. Porém, não queremos causar traumas ao pobre Carl, que está no “quarto” ao lado, tendo o seu sonho de princesa.

— Quem é o seu dono?

— Não tenho dono — rosnei, enfiando as minhas unhas em suas costas. O homem estagna seus movimentos, começando a pincelar a ponta da sua glande por meu clitóris, ameaçando voltar a me preencher. — Qual é, Rick? Mete logo!

— Você não me respondeu, sua maldita.

— Rick — ronrono, ao sentir o mesmo enfiar apenas a cabecinha do seu membro, tirando-a e colocando apenas para me provocar. — Por favor…

— Fala.

— Você, Richard Grimes, é meu dono. — gemi manhosa, subindo um pouco mais o meu quadril para obter mais contato com o homem.

Prontamente, Richard me preencheu com o seu pau; podia sentir suas veias pulsando dentro de mim enquanto o homem controlava-se para não arfar alto. Ele é reservado, odeia quando transamos na prisão, prefere me levar até uma cabana no meio do mato, que virou o nosso motel particular e, graças a Deus, ninguém notava nossas escapadas no meio do dia. Rick, com toda a cara de bom moço, na verdade, é um tremendo viciado em sexo, ou na minha boceta, vai saber a interpretação. Já testamos diversas posições, mas ele adora me comer olhando nos olhos; fala que minhas orbes azuis ficam mais brilhantes. Além dos tapas, na minha cabeça, o xerife poderia gostar de tudo, menos de sexo selvagem, mas ele vem mostrando o contrário.

O Grimes segura meu maxilar com força, estapeando minha bochecha enquanto se afunda dentro de mim. Em resposta, dou outro tapa no homem, fazendo-o urrar de prazer. Sim, ele gosta de apanhar; não acham estranho? Eu não, eu amo. Já amarrei ele e sentei no pau gostoso até sentir minhas pernas falharem. E que pau! Acho que deveria estar nas sete maravilhas do mundo, porque é um senhor pau. A cabeça rosada, sempre com uma babinha deliciosa, tem um sabor meio agridoce; é uma delícia! A extensão repleta de veias me leva à loucura, e as bolas cheias me melecam toda vez com a sua porra.

Não há outro lugar para gozar. Ele gosta dos meus peitos; sempre que está perto, tira de dentro de mim e esporra nos meus seios. Depois, lambe meu corpo e mete de novo até as bolas doerem. Diria que é uma máquina imparável; eu amo. Se não tivesse obrigações na prisão, passaria meu tempo nesse apocalipse tomando água e sentando no pau dele.

— Dianna — sussurrou, entre gemidos sôfregos. Cruzei os meus braços ao redor do pescoço dele, abafando os nossos gemidos aflitos em um beijo avassalador. Não demorou muito para que entrássemos em colapso juntos; o mais velho se enfiou com força em mim, esporrando pela primeira vez em minha boceta. Rick parecia alheio ao que acabara de acontecer, estava focado em beijar o meu corpo, sugando a minha pele com cautela.

Ele desceu as mãos até as minhas nádegas, apertando-as com força, enquanto erguia levemente o meu quadril, forçando um pouco mais a sua entrada. Sentia a sua glande bater no colo do meu útero. Eu vou desmaiar se esse homem continuar; Rick está cedendo, parece que não transa há séculos. Rebolo lentamente contra sua virilha, roçando o meu clitóris contra sua pele; a beliche rangia alto e o meu líquido escorria por nossas peles.

— Por favor, não para… mais forte, Rick… por favor, me fode com força. — gemi, praticamente vendo estrelas. Esse foi o meu melhor café da manhã; no caso, café da manhã dele, quem está sendo a refeição sou eu. — Hummm, não sei o que deu em você, mas eu estou amando.

— Porra, L… Dianna! — ele se conteve ao gemer, parecia que estava pensando demais. Franzi o meu cenho, levando a minha mão até o cabelo do homem, puxando-o com força. — Aí, caralho!

— Sai, Rick! — rosnei, sentindo todo o meu tesão indo embora.

Não é possível que aquele corno desgraçado de uma figa estava pensando na morta. Ok, foram casados por anos, mas ela está na barriga de um zumbi agora. Sem contar na traição, que descobri porque a Isobel deixou escapar. Por que Richard ainda se prende a ela, mesmo com todos esses malditos vacilos? Não importa o que eu faça, ainda sinto que ele ama aquela maldita. E eu não nasci pra ser segunda opção; nem por um caralho vou aceitar migalhas.

— O que foi, Dianna? Te machuquei? — Rick suspirou, ajeitando-se no beliche. Virou o corpo para o lado e jogou uma camiseta em cima da minha barriga. — Veste isso, tá frio.

— O que você ia falar?

— Falar o quê, Dianna? — Ele soltou um suspiro cansado, escondendo o rosto entre os dedos.

— Não se faz de desentendido, Richard.

— Rick.

— Que foi? Richard não é o seu nome?

— Prefiro que me chame de Rick. — Ele lambeu os lábios, sua mão tocando meu joelho de leve, com uma calma que me desarmava e irritava ao mesmo tempo.

— Você ia me chamar de Lori. — Minha voz saiu embargada, e eu sabia que a máscara tinha caído. Ótimo, Dianna. Apaixonada por um homem que ainda ama a esposa morta. Que belo clichê patético. — Não ia, Rick?

— Foi sem querer.

— O que eu sou pra você? — perguntei, sentindo o peso da pergunta e o medo da resposta escorrendo pelo meu peito como gelo.

— Você é… legal. Uma ótima garota. Gosto do que fazemos. — Ele hesitou, e cada pausa era como uma faca cravando mais fundo. — Mas… eu não quero te machucar, Dianna.

— Seria menos doloroso se você falasse logo: você é só a garota com quem eu transo. Nunca vai ser mais que isso, porque eu amo a minha esposa morta, mesmo ela tendo me traído com o meu melhor amigo. — Minhas palavras saíram rápidas e afiadas, enquanto eu juntava minhas coisas. — É legal, Rick, mas acabou. Não vou mais brincar disso. Cansei de transar com você enquanto sua cabeça está em outro lugar.

— Dianna…

— O quê, Rick? Estou mentindo? Quando está comigo, você pensa nela? Ou foi só hoje? — Desafiei, minha voz ferida e cheia de veneno.

— Eu…

— Chega. — Fechei os botões da camiseta que ele jogou para mim. — Não vou mais viver à sombra de um fantasma. Não vou me destruir numa competição ridícula pelo coração de alguém que nunca vai ser meu. Que pena, porque eu entreguei o meu.

— Nunca te prometi amor. Me desculpe.

— Exatamente por isso. Eu vou organizar as minhas coisas. Te vejo depois, xerife.

•••

Limpo uma lágrima que insiste em correr pela minha bochecha. Apaixonar-se é uma maldição; pensei que, quando finalmente saísse da maldita adolescência, as borboletas iriam parar de se apaixonar por quem não devia, mas não, parece que piorou. Estou sentada no banco, olhando para o meu prato enquanto observo Isobel e Daryl juntos. Eles se completam, são um amor único. Admirável. Bel me encara com atenção, inclinando a cabeça para o lado. Ela deposita um beijo na bochecha do seu marido e vem em minha direção, um sorriso compreensivo nos lábios e as íris me examinando de cima a baixo. Pensei que eu fosse a psicóloga.

— O que aconteceu? — perguntou, sondando-me com aquele olhar analítico dos Grimes. Meu Deus, essa garota tinha que ter os mesmos olhos do maldito? — Diáh…

— Lori, aquela defunta desgraçada, que Deus me perdoe, mas tomara que ela esteja queimando no fogo do inferno e que o capeta esteja enfiando uma barra de ferro quente no rabo dessa mulher. — soltei um sussurro, fazendo a mais nova dar uma gargalhada alta. — Não ri de mim!

— O que o Rick fez?

— Seu pai, aquele corno, gemeu o nome dela enquanto… você sabe.

— Eca, que nojo! — a mais nova balançou os ombros, fazendo uma caretinha engraçada. — Pais não transam!

— Então você, e o senhor carrancudo, não deveria fazer mais, já são pais!

— Não é assim que funciona, queridinha.

Antes que eu pudesse responder à garota, um som selvagem e angustiado rompeu o silêncio, tão alto que parecia rasgar o ar. O som arrancou o ar dos meus pulmões, minhas mãos tremiam; uma sensação de impotência tomara o meu corpo com uma velocidade absurda. Não conseguia me mover; parecia que um presságio da morte se aproximava. O ar estava denso, como uma grande sombra que não poderia ser afastada com facilidade. Meu estômago se revirou; quase pus para fora o que nem havia comido ainda. Minhas íris voltaram-se para Isobel, que levou a destra automaticamente para o seu coldre. Pude sentir o suor escorrer por minhas têmporas enquanto me erguia lentamente. Engoli em seco, como se tivesse areia em minha garganta, incapaz de produzir uma única gota de saliva.

Acho que estamos muito ferrados — pensei, escutando cada grito de aflição; as paredes da prisão pareciam dar um eco perturbador.

Movi a minha cabeça para o lado; tudo parecia estar em câmera lenta, e os movimentos da Grimes foram contados. Ela virou-se para Daryl, jogando uma pistola para ele. Logo depois, virou-se na direção dos gritos, começando a correr até lá. De início, fiquei estática; meus pensamentos iam direto para Judith e Carl. Se algo acontecer com eles, como um instinto feroz, uma raiva descomunal tomou o meu corpo. O som dos gritos angustiados era como combustível para o meu corpo. Sem pensar, corri na direção do caos. Não posso ter espaço para o medo ou receio; devo ir atrás do que está acontecendo. O sangue que corria por minhas veias era como um veneno, o mais perigoso entre todos.

Ninguém mexe com Judith e Carl. Não são meus filhos de sangue, mas farei de tudo para proteger essas crianças. Lori, de onde quer que você esteja, não gosto de você; isso é claro, mas, por eles, farei de tudo.

Estagnado no lugar, o caos era absoluto. O bloco de celas parecia mais o inferno na Terra; os monstros se aglomeravam como uma onda implacável, engolindo os poucos sobreviventes. Minha garganta travava; o meu maior desejo era gritar, berrar tão alto pedindo para que esse pesadelo acabasse e tudo voltasse a ser como era antes, sem toda essa guerra e pessoas morrendo o tempo todo. Mentalmente, rezava para que Deus pudesse salvar todas essas almas. Tudo parecia um grande filme de terror; não poderia ser real, eu não consigo acreditar nisso. Estou cansada de ser fraca, de ter que ser protegida por Rick ou Isobel toda vez que algo dá errado; eu quero me salvar sozinha.

Está na hora de aprender da forma mais difícil, Dianna Ackles — me repreendi mentalmente, correndo na direção da destruição.

Retirei uma faca do meu coldre, ajustando-a em meu punho. Passo as minhas íris por todo o local, vendo os monstros devorando algumas pessoas. Uma daquelas coisas tentou me atacar; entretanto, de forma rápida, cravei a minha faca em seu crânio, fazendo os seus miolos pularem para cima de mim. O odor do sangue invadia minhas narinas, causando um reboliço em meu estômago; poderia morrer apenas com esse cheiro. Parece mais o fedor do chulé do Jensen: toda vez que ele tirava aquele sapato, era como se o ar fosse contaminado. Horrível! Que esse tempo nunca volte; não sei como Michonne aguenta aquele chulé. Balanço a minha cabeça negativamente, voltando a minha atenção para os mortos e enfiando a lâmina o mais fundo que podia dentro de seus crânios, fazendo-os espirrar sangue pela minha roupa. O tecido que antes era completamente branco estava totalmente vermelho.

De forma rápida, virei meu rosto para o lado, vendo Daryl resgatar um garotinho. Logo depois, o homem levou o pequeno até os braços de uma mulher. Não sabia onde Isobel estava; a última vez que a vi, ela estava atirando contra os zumbis. Tomara que ela esteja bem. Por um segundo, me desconcentrei; tudo parecia tranquilo. Inspirei e expirei, tentando relaxar os ombros. Foi tempo o suficiente para um zumbi aparecer na minha frente, seus dentes repletos de carne e o sangue escorrendo pelos cantos dos lábios. Ergui a minha faca, mas antes que pudesse reagir, o monstro caiu no chão como um pedaço de bosta. Richard, o idiota de carteirinha, se aproximou de mim, colocando sua mão em meu rosto. Não me importei de primeira por estar melando a minha pele com aquele maldito sangue; queria continuar com o carinho momentâneo dele.

— Sai daqui, Diáh. — rosnou, selando nossos lábios em um beijo rápido. Parece que ele nem havia notado o que acabara de fazer, como se aquilo fosse rotineiro entre nós. — Por favor, me espera lá fora. Se algo acontecer com você…

— Eu vou lutar, Rick. Não temos nada, e mesmo que tivéssemos, eu continuaria lutando. — rosnei, afastando-me do homem.

— Não.

Antes que pudesse intervir, Richard me pegou no colo, colocando-me sobre o seu ombro. Sua mão esquerda repousou contra a minha bunda enquanto ele caminhava para fora, desviando das pessoas desesperadas. Eu vou matar esse homem; ele não tem direito de fazer isso. Era para estar ajudando as pessoas e não me tirando de lá.

— ME PÕE NO CHÃO, RICHARD GRIMES. — gritei, batendo contra as costas do homem. — Me. Põe. No. Chão.

— Como quiser, madame. — Ele desliza o meu corpo até o chão, segura a minha bochecha e sela os nossos lábios. — Por favor, vá para fora e me espere lá. Eu sei que vacilei com você de manhã, mas não posso te deixar morrer, Dianna, então vai lá para fora.

— Eu te odeio.

— Pode odiar, estou fazendo isso para o seu bem.

— Ah, vai dar meia hora de cu e me deixa em paz, Rick. Já sei, que tal ir até lá e voltar a salvar as pessoas?

— Estressada.

Grosso
Corno
Chato
Velho
Rabugento
Certinho demais
Gostoso
Ridículo
Pau no cu
Delicioso
Desgraçado
Horrível
Meu amor…meu único amor desde…não, não pensa nele, Dianna. Não, eu não posso amar novamente, da última vez que eu amei…chega. – me repreendi mentalmente.

A minha cabeça latejava, como se alguém estivesse martelando com toda a força o meu crânio por dentro. O caos ao meu redor parecia piorar a dor latente; a cada grito, choro e a cada som de carne sendo rasgada. Levo a minha destra massageando as minhas têmporas. Aos poucos, flashes do meu passado começam a atingir minha mente como um furacão – os olhos brilhantes, a mão dele batucando no volante enquanto cantarolava uma daquelas músicas horríveis. Ele sabia que era horrível, mas fazia mesmo assim para me irritar; os beijos descontraídos. Tudo voltava em minha mente como uma lembrança do diabo, um recado escrito em negrito:

VOCÊ NUNCA VAI AMAR NOVAMENTE
VOCÊ MATOU ELE
VOCÊ DESTRUIU A VIDA DELE
VOCÊ É UMA VADIA DESGRAÇADA
VOCÊ MERECEU IR PARA A CADEIA
VOCÊ...
VOCÊ…
VOCÊ…

Pisquei com força, tentando afastar o turbilhão de pensamentos; a concentração escapa entre minhas mãos como a areia do deserto. Tento focar nas pessoas que passam por mim, nos semblantes abatidos, mas tudo parece um grande borrão. Minha mente insiste em me levar novamente para o maldito dia do acidente. A aflição queima em meu peito; cada segundo que permaneço parada aqui se torna uma grande tortura. Eu não posso falhar com essas pessoas; preciso ajudá-las de alguma forma, mesmo que, para isso, precise enfrentar todos os meus demônios. E que, por sinal, não são poucos.

Tentei manter os meus passos firmes, mesmo que estivesse cercada por uma destruição inesperada, mas não podemos desejar normalidade em um mundo onde as pessoas já não estão mais bem da cabeça. O cheiro metálico do sangue impregnava o ar como uma praga, misturando-se com os gemidos de alguns feridos. Tento pronunciar algo, mas a minha garganta está completamente seca; cada lufada de ar fazia com que eu sentisse como se raspasse minha garganta em ferro quente. Entretanto, não dei voz ao pânico. Passei os meus olhos atentamente por cada rosto ali, tentando encontrar familiaridade nas pessoas. Meus dentes pressionam o meu lábio inferior, um velho hábito que nunca deixei de fazer. Tentar manter a calma era impossível, mas eu tentava; preciso ficar no controle, alguém precisa, ou toda essa merda vai ficar feder pra caramba.

Vamos lá, Dianna, precisamos fazer isso; os outros estão ocupados demais agora. Em um longo suspiro, bati as minhas mãos uma contra a outra, atraindo a atenção de todos para mim.

— Vamos lá, pessoal, eu sei que todos estão assustados pra caramba; eu também estou — afirmei, pondo a minha mão na cintura. — Não sabemos ainda o que causou esse surto; entretanto, o Doutor S e o Hershel já estão lá dentro observando toda a situação. Enquanto isso, estou aqui para ajudar vocês com o que for necessário. Eu sou formada em psicologia e também fiz um curso de técnico de enfermagem. Não sou nenhuma médica, mas posso dar conta de pequenos ferimentos, então peço encarecidamente que formem uma fila para que eu possa avaliar os machucados de cada um!

Eles confiaram em mim; acho que há muito tempo não recebia tantos votos de confiança como neste momento. A fila se formou rapidamente à minha frente, com olhares perdidos e marejados de lágrimas. Um fio de esperança se rompeu aqui dentro; poucos conseguiram sobreviver, e isso me consome. Afinal, Rick tem lutado desde o início para que essa prisão se tornasse um lar. Esbocei um sorriso simpático para a primeira garota da fila. Seu rosto, tão angelical, estava marcado por pequenos arranhões; o semblante cansado e os ombros caídos revelam muito sobre seus sentimentos: exaustão, temor e pânico. Acho que todos sentiram isso naquele momento. Os arranhões não pareciam tão graves; apenas uma das pomadas que tenho no kit médico resolve. Falando nisso, preciso buscar antes de atender todo esse pessoal.

— Pessoal, vou buscar o kit de emergência. Permaneçam em ordem. — falei, um pouco mais alto do que o comum. Ali havia, em média, umas quinze pessoas; daria conta de tudo isso, eu acho.

Dei um breve aceno para que esperassem e, sem perder mais tempo, corri em direção ao depósito que havia montado dias atrás, o que parece meio macabro, já que usei a desculpa de que precisaríamos de um pequeno centro médico caso algo desse errado. Comecei a estocar coisas básicas como gazes, pomadas inflamatórias, bandagens, algodão, cotonetes, luvas descartáveis, entre outras. Naquele momento, parecia que eu era um pouco doida por estocar tantas coisas assim e, mesmo que os remédios mais pesados estivessem em falta, ainda tínhamos coisas básicas para esses momentos. Sinto uma pontada na canela por estar correndo tão rápido, estanco os meus movimentos assim que chego à porta metálica, empurro-a com toda a força e encontro as prateleiras cheias de produtos que posso utilizar. Então, rapidamente, pego uma caixa preta, começando a jogar todos os itens que poderiam ser úteis do meu ponto de vista.

Mais rápido, Dianna. – ordenei, terminando de juntar tudo que poderia utilizar naquele momento. Posteriormente, me virei para a saída, indo em direção à porta. Em passos largos, voltei a correr na direção das pessoas. Podia escutar alguns murmúrios de dor e outros xingamentos contra mim, por causa da demora, mas está tudo bem; eles estão com a cabeça cheia, não posso me importar com esse tipo de xingamento banal.

— Então, vamos lá? — sorri para a primeira garota. Em resposta, ela retribuiu com um singelo aceno de cabeça.

Posicionei a maleta ao meu lado, para que cada item ficasse ao meu alcance. Puxei um rolo de gaze, rasgando um pedaço com os meus dedos de forma ágil. Não posso demorar muito aqui; preciso terminar um e já partir para o outro. Virei o meu rosto para a maleta, observando o que tinha ali. Cerrei meus olhos ao notar um daqueles soros; essa merda tem que estar na validade. Sem me preocupar com qualquer coisa que pudesse dar errado, peguei o fresquinho e joguei o líquido contra o tecido fino. Posteriormente, levei a gaze em direção aos arranhões, limpando com total delicadeza, ou o que poderia proporcionar. A garota encolheu-se à minha frente, seus ombros curvados e os olhos atentos a cada movimento que eu fazia; parecia uma mini versão da Isobel, desconfiando de tudo até dar certo.

O sangue seco parecia uma pequena crosta na pele da garota. Foi necessário usar outra gaze para que finalmente saíssem todos os resíduos. A garota murmurava algumas coisas totalmente desconexas; eu apenas assenti, tentando manter a calma do ambiente, mesmo que os outros estivessem gemendo de dor ou apenas me ofendendo por nada. Era apenas eu ali; não tinha outra pessoa para me ajudar e, bem, precisava agir o mais rápido possível, e eu estava fazendo isso. Ao finalizar a limpeza, peguei uma pomada antisséptica e comecei a deslizar sobre cada um dos ferimentos superficiais. Assim que terminei, tentei ignorar o forte odor que impregnava a minha mão; é melhor colocar luvas.

Após a garota, a fila seguiu de forma rápida. Os ferimentos não eram graves o suficiente para que Hershel ou o doutor S precisassem se preocupar; eu estava dando conta daquilo. Minhas costas ardiam como um inferno; precisaria de uma boa massagem depois daqui, e também de um bom psicólogo, pois as pessoas podem ser maldosas. Algumas das garotas que atendi, em específico, um grupo de meninas entre dezoito e vinte anos, ficaram rindo baixinho de mim e falando alguma coisa sobre o Rick. Quando a loira sentou-se na minha frente, ela praticamente começou um monólogo sobre como o Grimes era um gostoso.

Sim, isso é banal; eu concordo com vocês. Nunca pensei em ver uma mulher se prestando ao papel de tal. Bom, é a vida. Naquela época, eu era inocente demais; se fosse agora, eu teria matado ela. Quem fala do meu… voltando à história…

༺ ••• ༻


Sinto uma pressão esmagadora em meus ombros; meu corpo está no limite e, de alguma forma, consigo entender como Richard se sentiu quando a guerra com aquele lunático estava acontecendo. Também consigo entender Isobel, a forma como se porta sempre em alerta, como se tivesse medo de que algo acontecesse, sempre prevendo as piores merdas possíveis. É até engraçado como os Grimes têm esse jeitinho, e falo isso por causa de Carl, que me confessou ter escutado uma conversa entre as crianças, onde elas estavam dando nomes aos zumbis. Falei para ele não se preocupar; afinal, tudo isso mexe com a nossa cabeça de uma forma impossível de se compreender.

Minha respiração é curta e ofegante, como se estivesse sendo sufocada por um travesseiro. Cada parte do meu corpo pulsa em dor, como se estivesse ardendo no fogo do inferno. Ainda assim, levanto o olhar, encontrando os de Carol, suas orbes azuis brilhando, mas a mente longe de tudo ali. A sala do conselho estava em um verdadeiro silêncio. Molhei os meus lábios, lambendo-os lentamente, escutando o raspar da garganta da Isobel.

— Como deixamos passar isso? — sibilou, batucando os dedos de forma incerta nos ombros do Dixon. — Hershel?

— O Patrick estava bem ontem e morreu durante a noite — murmurou Carol, mexendo suas mãos sobre a mesa. — Duas pessoas morrendo rápido assim… devemos separar quem foi exposto.

— São todos do bloco de celas, todos nós. — Daryl argumentou, sentado firme na cadeira. Isobel moveu os lábios lentamente, provavelmente querendo dizer algo, mas desistiu antes de pronunciar qualquer palavra. — Ou talvez mais.

— Sabemos que essa doença pode ser letal, mas não entendemos como ela se espalha. Alguém apresentou algum dos sintomas que conhecemos? — Hershel perguntou, mantendo os ombros firmes e o olhar aguçado.

— Não podemos ficar esperando!

— Concordo com a Carol, temos crianças e idosos para proteger. Ficar parado observando como tudo se desenrola pode ser um grande erro. — falei, cruzando os braços enquanto uma energia pesada atravessava o meu corpo como um choque. Não entendemos nada sobre essa doença. Se continuarmos esperando… todos vão acabar morrendo e se transformando nesses malditos zumbis. — Não é só a doença; se eles morrem, também se tornam uma ameaça para os outros.

— Quarentena. — simplificou Isobel, umedecendo os lábios. — Podemos colocá-los em um lugar afastado e vigiar cada um. Depois, verificamos a medicação… não sei.

— É uma boa ideia, mas onde ficariam eles? Não podemos arriscar deixá-los no D, muito menos tentar limpar tudo lá.

— Podemos usar o Bloco A — murmurou Carol em resposta a Hershel.

— Corredor da morte? — Glenn sussurrou, mordendo a ponta da unha. — Eu não sei bem se é uma boa ideia.

— É limpo! Tudo bem pro Doutor S com isso?

— Vou ajudar o Caleb com tudo. — o Greene mais velho afirmou, cruzando os dedos.

O som áspero de uma tosse rompeu o silêncio da sala, cortando o ar como uma lâmina afiada. Céus, quem será que está doente? Pensei, sentindo o pavor dominar cada parte daquela sala. Meu corpo enrijeceu no mesmo instante; um toque gelado subia por minha espinha lentamente. Eu odeio me sentir vulnerável, principalmente quando é algo que foge do meu controle. Ao passar minhas orbes azuis pelos demais na sala, encontrei o temor esboçado em seus olhares, os lábios comprimidos e os ombros tensionados. Todos aqui amam alguém; é óbvio que estão com medo; o amor nos deixa vulneráveis.

Levantei-me de súbito, antes que pudesse processar cada sentimento avassalador em meu peito. Minhas pernas moveram-se para perto da porta; a cada passo, uma motivação diferente me guiava. A vontade de tomar conta de tudo era a primeira entre elas. Ao atravessar a porta, meu coração se apertou ao ver Karen, uma das minhas novas amigas, nos braços de Tyreese. A mão dela estava posicionada contra os lábios enquanto tossia desesperadamente. Atrás de mim, pude sentir a presença do resto do grupo; percebi as mãos inquietas e os olhares conflitantes.

Oh, Karen, você não merecia passar por isso, minha amiga – pensei. Recuando um passo, olhei na direção de Isobel. A Grimes colocou a mão na cintura como se estivesse pensando em alguma coisa ou buscando uma solução rápida.

— Não parece muito bem…

— Estou levando-a para descansar em minha cela. — Tyreese respondeu a Carol de forma rápida, enquanto a mão esquerda do homem acariciava o ombro de Karen com ternura.

— Tyreese, acho que não é uma boa ideia…

— O que foi? O que aconteceu agora? — a morena perguntou, intercalando seu olhar entre nós e seu namorado.

— Estamos achando que é algum tipo de gripe; foi assim que o Patrick morreu.

— A Judith, a minha Judi, ela está naquele bloco de celas, então… ela está vulnerável… — murmurei, abraçando meus braços com força, sentindo meu ventre se revirar.

— Qualquer um que está exposto é melhor ficar afastado. — Isobel falou; no fundo, parecia um tom de ameaça, como se soubesse que Ty pudesse desobedecer e acabar levando Karen para lá.

— A gripe matou Patrick…

— Não… ela vai ficar bem! E agora que sabemos como o Patrick morreu, podemos tratar disso, não é? — disse, enquanto o pânico dominava o corpo do homem, suas íris pretas brilhando em um tipo de pavor. Karen movimenta seu corpo de um lado para o outro, a respiração pesada e o olhar distante.

— Sem pânico, iremos resolver. Mas, por ora, precisamos manter vocês afastados por enquanto. — Hershel falou, com as mãos segurando firmemente suas moletas. — Vou pedir para o Caleb te examinar e ver o que temos de medicamentos.

— O David, do grupo do Decatur, também tem tossido. — afirmou Karen, com os braços cruzados.

— Tá bom, eu vou buscá-lo. — Glenn se prontificou, com os ombros tensionados e os olhos aflitos. — Tem algumas celas limpas, não é?

— Sim, nós encontramos lá. — Sasha respondeu, olhando na direção do asiático. Em seguida, a mulher caminhou na direção do irmão, pousando sua destra contra as costas dele. — Venha, vamos levá-la até lá.

Assim que eles se afastaram, Hershel voltou seu olhar para nós, a aflição queimando em suas órbitas. Precisamos ter controle do que pode acontecer; se algo der errado e perdermos a prisão… sinto que isso será a destruição do grupo.

— Temos que fazer outra reunião depois.

— Tá legal. Agora, eu vou enterrar os mortos. — Daryl ajustou a crossbow em seu ombro, olhando fixamente para o senhor Greene.

— Use luvas e máscaras! — aconselhou o mais velho.

Daryl Dixon hesitou por um instante antes de se aproximar de Isobel. O seu olhar, como sempre, era tão frio e indecifrável – é impossível saber se ele está prestes a enfiar uma flecha na cabeça de alguém ou apenas a ser gentil. O homem inclinou o corpo para frente, selando os lábios aos de Grimes. Ela tentou parecer distante e indiferente, mas logo caiu no encanto do marido e passou os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o para mais perto de si. Então, sem dizer nada, assim como se aproximou, ele se afastou, carregando todo o peso dos seus pensamentos conturbados para si.

Permaneci ao lado da Grimes; ela permaneceu imóvel, com o olhar fixo no chão e o corpo enrijecido. Acho que já me acostumei a vê-la assim; talvez estivesse em mais um dos seus devaneios excessivos. Podia sentir que Bel estava prestes a explodir, e com certeza seria muito feio quando isso acontecesse. É visível a raiva que ela guarda em seu coração, criando a todo momento uma barreira para proteger seus sentimentos. O único momento em que podemos ver a verdadeira Isobel é quando ela está abraçada a Ally, Carl, Daryl e Rick; ela relaxa ao ponto de mostrar seu lado humano. A loira inclinou levemente a cabeça para o lado e, assim como Rick, tinha essa mesma mania: mover a cabeça para o lado quando está prestes a surtar de raiva. Agora, era evidente que o sentimento lutava para dominar o corpo da mulher; porém, ela se manteve estática.

Algo que aprendi com o tempo foi a analisar as pessoas. Minha profissão me deixou bastante analítica, e eu gosto disso. Aprendi algumas manias de Rick: quando ele mente, costuma estalar a língua três vezes; Carl, que quando quer pedir algo, batuca o dedo na coxa; Beth, que não fala, mas está em um limbo de sentimentos; e Maggie, que achava que estava grávida. E como aprendi a ler as pessoas? Gosto de observar; às vezes, o poder da percepção é maior do que bater em alguém.

— Quer conversar? — sibilei, a preocupação se espalhava como um nó apertado em minha garganta. Pousei a minha mão contra as costas dela, afagando-a suavemente. — Não está sozinha!

— Eu sei, Diáh — ela encostou a cabeça em meu ombro. — Posso confessar um negócio?

— Não sou padre, mas pode mandar!

— Eu tô com medo pra caralho. Se algo acontecer com Ally, Carl, Emília ou Lincoln… eu vou surtar. Eles são as minhas crianças. Como posso lutar contra essa doença? Se fosse uma pessoa, nossa, eu já teria matado e não deixado sorte para o azar… mas agora… agora eu me sinto imponente. Porra, pareço uma fracote falando assim — suspirou, frustrada.

— Ei, eu entendo o que você está sentindo. Também não quero que nada aconteça com as crianças. Hershel e Caleb vão dar um jeito! — abracei a loira com força e, sinceramente, já está na hora do cabelo preto voltar. Ela é foda, mas com cabelo preto fica ainda mais. — O que vai fazer agora?

— Ajudar a Maggie com os zumbis da cerca. Quer ir?

— Você sabe que prefiro a morte do que ver os miolos deles explodirem, mas como tem pouca gente na prisão, vou ajudar!

— Será uma honra ter a rainha conosco!

— Seu pai é o rei? — brinquei, mordendo o meu lábio inferior.

— Que nojo, Dianna! Deixa o meu pai quietinho, pais não transam!

Eu adoro deixar ela irritada, acho que é um dom que tenho, afinal, todos os Grimes perdem a paciência comigo mas mesmo assim gostam de mim.

•••

O ar pesado sai de minhas narinas com brutalidade; o odor de carne podre invade o meu sistema como um vírus mortal. Estou à beira de um colapso, vendo esses rostos deformados. É tão nojento como eles ficam esparramados contra a grade, a pele já apodrecida derretendo sobre o metal. Sob meus pés, há pedaços de rostos cortados e sangue seco grudado em minhas botas. Seguro o pé de cabra com firmeza, sentindo o peso familiar em minhas mãos. Estou há uma hora enfiando esse negócio no crânio dos zumbis, mas eles são como uma praga: para um que cai, logo depois nove aparecem. Respiro fundo, tentando ignorar o cheiro insuportável de decomposição. Ergo a arma e a balanço de um lado para o outro, ajustando minhas mãos no cabo. Em seguida, enfio contra mais um deles, fazendo-o cair; o sangue respinga por minha blusa branca.

— Eles são como uma praga. — rosnei, enfiando novamente a arma contra outro errante que se escora na grade.

— Estão fazendo muito peso, a grade vai cair! — murmurou Isobel, fincando uma de suas facas contra um daqueles monstros. — Eu te contei?

— Sobre?

— Uma loirinha sem sal estava se oferecendo para transar com o Daryl. Por acaso eu tô morta ou minha boceta tá podre? — rosnou, desferindo mais um golpe contra um zumbi, mas dessa vez pareceu ser um pouco mais pessoal. — Fala sério, não estou gostando dessas novas pessoas.

— O Daryl não iria te trair, então relaxa… — dei um soquinho de leve no ombro dela. — E você, Maggie?

— Eu… ah, negativo de novo — sibilou, os ombros curvando-se para frente e os olhos ficando um pouco mais distantes, como se estivesse se culpando pelo primeiro bebê. — Glenn disse que está tudo bem…

— Ei, não é sua culpa. Vocês terão o bebê mais fofinho no momento certo. Olha só, a prisão não está estabilizada; você passaria por muito estresse, e isso faria mal ao bebê. — pontuei, me distanciando um pouco da grade. — Você será uma ótima mãe; não se preocupe com isso agora!

— Você é tão equilibrada para uma ex-detenta. — Isobel ironizou, curvando o corpo para frente e apoiando seu peso nos joelhos. — Que calor infernal! E, para piorar, esses idiotas não param de aparecer!

— Realmen-

Antes que pudesse finalizar, o estrondo da grade se fez presente. O peso das dezenas de monstros acumulados fez-a ceder; tudo ao meu redor perdeu o total sentido quando vi Isobel tropeçar nos próprios pés, perdendo todo o equilíbrio. A mulher caiu com força contra o chão, erguendo uma fina camada de poeira. Os olhos esverdeados da loira estavam arregalados; o seu pavor era palpável. Os grunhidos dos zumbis eram como um coral infernal. Os dentes amarelados e repletos de restos de animais – ou até mesmo humanos – batiam um contra o outro, fazendo um ranger horrível. Minha garganta travou; não conseguia raciocinar ou sequer gritar. Tudo parecia ir rápido demais agora. Um daqueles desgraçados conseguiu pegar uma das pernas dela, fazendo-a começar a se desesperar.

— Maggie, chame-os. VÁ ATÉ LÁ!! — gritei, sentindo a adrenalina passar pelo meu corpo como um veneno.

— RICK, DARYL! — O grito de Maggie rompeu o maldito som daqueles monstros idiotas. A morena de cabelos curtos corria em direção ao portão. Minha atenção virou-se novamente para Isobel; a mulher rastejava pelo chão, mas, a cada movimento que ela fazia, a grade balançava ainda mais. Então, sem pensar direito, joguei o peso do meu corpo contra a grade metálica, sentindo um leve frio tomar minha espinha. Podia escutar um dos zumbis grunhindo bem no meu ouvido. Céus, se um deles me arranhar ou morrer… não pensa, Dianna, não pensa – ordenei a mim mesma, tentando manter a calma, mesmo que ela já tivesse ido embora há muito tempo.

— Dianna, sai daí!! — Isobel gritou, os olhos verdes da mulher brilhando devido às lágrimas. — Você vai morrer!

— Você também! Não vou deixar você morrer, Isobel… eu nunca vou te abandonar. Você foi a única que acreditou em mim quando me encontrou na prisão. — Sibilei com a voz embargada. Cada segundo ali parecia uma grande tortura. Cadê eles? — Tenta pegar uma das suas facas!

— Droga, não me faça chorar agora, ou te mato quando isso tudo terminar, Dianna. — reclamou, curvando o corpo um pouco para a frente, tentando alcançar uma das suas inúmeras facas. — DÁ UM TEMPO! — Gritou com um dos errantes que segurava sua perna. A loira, com a perna livre, chutou a mão do zumbi. — Me larga, me larga!!

De uma forma maluca, podia escutar meu coração batendo desenfreadamente. Sentia que, a qualquer momento, ele poderia sair do meu peito ou ser arrancado. Sinto uma pressão forte contra as minhas costas; eles estão desesperados. Consigo sentir a energia deles. Minha carne será a refeição deles, e não posso fazer nada. Fecho os meus olhos, me entregando para o que vier.

A morte não parece tão assustadora quando a aceitamos de bom grado – pensei, já me entregando ao que viria a seguir. Não tem como mais lutar contra isso; apenas tenho a certeza de que fiz tudo que estava ao meu alcance. Isobel, ah, ela sairá viva disso tudo. Ela é mais forte do que pensa. Os outros logo vão chegar e dar um jeito na cerca. E eu? Terei sido útil de alguma forma? Talvez esse seja o meu karma.

Meu corpo está no limite; sei que não vou resistir por muito tempo. Minhas pernas ardem como o fogo do inferno, e o suor escorria pelo meu rosto, misturando-se com o sangue dos monstros que matei e a poeira. Lambi os meus lábios, sentindo um gosto salgado, o que pode ser bem nojento se for parar para analisar, mas não é importante agora. Abri os meus olhos uma última vez e lancei meu olhar diretamente para Isobel. A mulher tentava se soltar das mãos grudentas daquele monstro; a sua calça jeans estava completamente rasgada e o coturno preto já havia sido jogado para longe. Ela virou seu olhar para mim e eu acenei. De alguma forma, ela sabia que estava me despedindo, pois uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha.

— Dianna!

— Tudo bem!

Fechei os meus olhos novamente, impulsionando o meu corpo contra aquela grade. As mãos daqueles malditos tocavam a minha pele como se eu fosse a melhor refeição que eles teriam, e, com certeza, serei a vadia mais gostosa que eles já experimentaram. Nunca pensei sobre a morte; tentei evitar esse assunto o máximo que pude durante toda a minha vida. Sempre fui a favor de que a vida é apenas uma, mas, depois que ele morreu, tudo que mais queria era a morte e, finalmente, eu iria encontrá-lo novamente. Poderia me desculpar e sentir o seu abraço apertado novamente. A morte será boa, eu acho.

Então, um disparo estourou bem ao meu lado.

O som explodiu em meus ouvidos, deixando um alto e penetrante eco. Todo o meu corpo se estremeceu e eu vacilei por um segundo. Um choque brutal me fez acordar desse pesadelo; meus pensamentos tornaram-se uma zona de guerra. Não entendia o que estava acontecendo; esperava uma dor latente, mas recebi uma paz absoluta. De repente, senti meu corpo ser puxado contra o peitoral forte de alguém. Não tinha coragem de abrir os olhos ainda e me encolhi contra aquele corpo como se eu fosse um ratinho assustado. As lágrimas escorriam por minhas bochechas de forma incessante. Eu não quero morrer, mas, se fosse necessário, assim faria. Inalei o aroma da roupa; o aroma tomou conta do meu nariz: madeira, maçã verde, whisky… tudo misturado…

Rick.

Abri os meus olhos em um sobressalto, erguendo o meu queixo. Minha visão ainda estava um pouco turva devido à pressão que fiz e às lágrimas que não paravam de cair. O homem pouco se importava com o que acontecia ao nosso redor; suas grandes orbes azuis estavam presas em mim. Ele levou um de seus dedos na direção da minha bochecha, limpando as lágrimas da minha pele. Virei o meu rosto um pouco para o lado, tendo a visão de Isobel nos braços de Dixon. Ele a abraçava como se quase tivesse perdido um tesouro, com as mãos postas sobre a cintura da Grimes e os olhos fechados. Estamos seguras.

O alívio bateu como um soco no estômago. Minhas pernas cederam, mas, por sorte, Rick segurou o meu corpo. Minha respiração era um turbilhão descontrolado, mas eu estou viva. E, por enquanto, isso é o suficiente.

— Você está querendo morrer mesmo, não é?

— Percebeu, xerife? — bati em seu ombro, me afastando do seu corpo. — Isobel…— Sibilei atraindo a atenção da loira.

— Sua idiota!

Os braços dela deslizaram pelo ombro do marido e, num instante, a loira disparou em minha direção em uma velocidade que até o Flash sentiria inveja. A cada passo que dava, seus cabelos se movimentavam, seus olhos estavam marejados e algumas lágrimas escorriam por sua bochecha. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, a mulher tomou o meu corpo para si em um abraço apertado. Retribuí sem pensar duas vezes, segurando-a firme, como se aquele abraço fosse a última coisa que nos mantivesse de pé.

E, de alguma forma, é isso, porque eu morreria por Isobel naquele momento, e Isobel também estava disposta a morrer por mim. A conclusão é que somos loucas, mas leais à nossa amizade.

— Se você tivesse morrido, droga, eu te mataria Dianna Ackles.

— Também te mataria se você tivesse morrido ali, Isobel Grimes.

— São malucas né? — Daryl sussurrou para Rick, que deu um sorriso de canto, maldito sorrisinho.

— Vocês viram isso? — Sasha gritou, atraindo nossa atenção para um ponto próximo à cerca. Ergui uma das sobrancelhas, caminhando na direção da mulher, seguida por Rick, Isobel e Daryl. Assim que me aproximei da mulher, deparei-me com diversos ratos dilacerados no chão. — Alguém está alimentando essas coisas!

— Por isso esse lado está com maior concentração — concluiu Isobel, pegando uma de suas facas.

Um estrondo alto atrai novamente nossa atenção; a cerca está vulnerável. Corremos em direção a ela novamente. E, como em um flashback, estava com as minhas costas contra aquele metal frígido, impulsionando meu corpo com toda a força que me restava. Pude ver um zumbi se desfazer na minha frente, o crânio sendo partido na cerca e o olho pulando para fora. Meu ventre se revirou por inteiro; quase vomitei ali mesmo.

— Daryl, vem comigo, tive uma ideia! — Richard falou, puxando o caçador para longe da cerca.

Boa sorte…— Sibilei mais para mim do que para eles.

[•••]


R

ick Grimes não hesitou, não titubeou, não demonstrou nenhuma fraqueza naquele momento. Ele foi lá e fez o que era necessário: juntou aqueles porquinhos e sacrificou-os em nome de um bem maior, da segurança da prisão. Ele apenas fez o que precisava ser feito, sem medo e sem arrependimento. Ele é foda, isso é um fato. E isso me enlouquece; já sou meio doidinha, mas quando se trata de Rick, as coisas mudam completamente. De manhã, desejei que ele sumisse por me fazer ter ciúmes de uma morta, mas agora cansei dessa briga inútil. A vida é muito curta para ficar me lamentando sobre isso. Se Richard Grimes quer algo comigo, ele vai ter que buscar.

Eu sou completamente obcecada por Rick, por seu instinto de liderança, a forma como toma decisões, como põe o peso do mundo sobre suas costas para que os outros não sintam tanto impacto, e eu sou viciada nisso, na forma como ele demonstra ser um HOMEM. Na verdade, ele não é apenas um homem, é um furacão, e eu fui arrastada por ele sem nenhuma forma de escapar.

— Não vai conversar com ele?

— Eu cansei de brigar com uma defunta, Isobel. E isso pode parecer errado, mas pelo menos é por essa morta que eu perco e não por uma viva. — dei de ombros, cruzando os braços.

— De alguma forma, a Lori foi o amor da vida dele, foram quatorze anos juntos, uma história inteira. Ele não vai esquecer facilmente disso, mesmo que ela o tenha traído; o caráter de Rick, bom, Richard tem um caráter inabalável.

— Eu sei, Isobel… — curvei os meus ombros, sentindo uma pontada na garganta. — Por isso me dói tanto; ele a ama, mas ainda assim me trata com um carinho idiota que mexe com meu coração. No ataque das celas, me beijou como se eu fosse sua, depois me salvou daqueles zumbis na cerca… Se ele não me quer, por que faz isso comigo? Por que brinca com meu coração? Eu tento ser forte, mas toda vez que olho para ele… meu coração acelera de novo, apenas ele…

— Você precisa dar um basta nisso. Você não é depósito de porra para que ele enfie a pica e depois finja que nada aconteceu. — A Grimes murmurou, apoiando as mãos na cintura. Eu gosto da forma desbocada dela. — Se ele não quer ter você como namorada, pula fora; não fica esquentando a cama dele enquanto o maldito pensa na ex.

— Tão carinhosa falando do pai. — ironizei, dando um sorriso de canto.

— É meu pai, mas não apoio esse tipo de atitude. Seu coração não é brinquedo, nem sua boceta. Então, vá até lá e diga umas boas verdades na cara dele.

Tomada por um turbilhão de coragem, dei os meus primeiros passos na direção do Grimes. Eu sabia que, talvez, não fosse o momento ideal, mas era agora ou nunca. Eu não sabia quando teria coragem de enfrentar meus sentimentos, e eu não quero viver na sombra de um relacionamento inexistente. Como Isobel falou: preciso falar umas boas verdades. Tudo dentro de mim gritava; precisava tomar as rédeas. A cada passo que dava, era uma pequena vitória sobre a minha hesitação, que juntei ao longo do dia. Não sou qualquer uma para ele transar enquanto pensa em outra. Ou ele é meu, ou não sou dele, sem espaço para indecisão.

Ao chegar perto do homem, vi-o tirar sua camiseta pouco a pouco, com o olhar distante, como se estivesse revivendo tudo o que vivenciou nesses últimos meses, o peso da liderança voltando para os seus ombros. Rick estava repleto de sangue dos pobres porquinhos, mas, mesmo assim, continuava belo; parece que essa pose o deixava ainda mais atrativo. Foco, não posso mudar meu foco aqui; ele é gostoso e você sabe, Dianna, agora continue o que veio fazer — me repreendi, caminhando na direção do homem e tocando em seu ombro com cautela.

— Rick.

— Você está bem? — ele tentou encostar em minha cintura, provavelmente para dar um beijo. Ele costuma fazer isso quando não tem os olhares das pessoas. É… de alguma forma, me acostumei com isso. — O que foi? Ainda o que fiz de manhã? Olha, me desculpa, eu estava meio…

— Você a ama, certo? Não posso falar nada disso. Mas você não pode brincar com os meus sentimentos. Você disse que nunca prometeu nada, mas as suas atitudes são diferentes do que sai da sua boca, Rick. Enquanto fala que não se importa, você me salvava. — Ele suspirou, coçando a sobrancelha. — Não sou uma boneca inflável que você beija longe dos outros. Você tem vergonha de mim por eu ser uma ex-detenta?

— Dianna.

— É isso, Rick? Vergonha por eu ter sido presa e você ser o xerife bonzinho? Qual é… não sou a Lori, nunca vou ser ela, ainda bem. Mas eu também não vou ser mais nada sua. Eu gosto de você, mas eu me amo muito mais e não vou ser o seu lanchinho da madrugada. — Joguei tudo de uma vez, com a voz embargada. — Se você não me ama ou não quer nada, nunca mais fala comigo, entendeu?

Rick não respondeu, apenas virou-se de costas, como se eu tivesse dado uma ordem e ele estivesse cumprindo. Eu esperava outra coisa; é claro que esperava. Queria que ele me beijasse e dissesse que superou a Lori, mas eu não sou ela, não sou o grande amor dele, não sou a mãe dos filhos dele. Fui apenas a boceta que ele comeu para se aliviar. E ter a confirmação disso… é doloroso.

Eu não deveria ter me aberto novamente; o amor quase me matou uma vez. Não posso deixar isso acontecer de novo.


❴ 🌶️ :: Oii Babies, sentiram saudades? Eu dei uma sumida mas já voltei com um capítulo fresquinho! Gostaram desse na visão da Dianna??

❴ 🌶️ :: E, sim, esse capítulo é uma confirmação do spin-off da fanfic do Rick e da Dianna, a fic deles começará na fase de Alexandria, ou seja, irá demorar um pouco para que eu publique, mas logo logo teremos os divos.

❴ 🌶️ :: E aí, estão ansiosos para a história deles?

@ AURZTWD 🌶️

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