𝟓𝟐 - 𝐏𝐄𝐀𝐂𝐄
O ódio ferve em minhas veias como um veneno, inflamando cada parte do meu corpo. O desejo de vingança consome minha alma, e cenas de como acabar com aquele desgraçado invadem minha mente como um filme macabro. Apoio as mãos no mármore frio da pia, respirando fundo. Chega. Essa guerra vai acabar aqui e agora. Ele provocou as pessoas erradas, e pouco me importa quem cairá ao lado dele. Eu vou matar sem hesitar. A ira explode dentro de mim, e meu punho se fecha com tanta força que as unhas cravam na pele. Em um ato impulsivo, acerto o espelho com força, estilhaçando meu reflexo em mil pedacinhos. Estou cansada de carregar a antiga Isobel – a Isobel submissa, assustada, sem direção. Ela não existe mais. Agora, sou eu quem está no controle.
Entre os cacos, pude ver o meu reflexo: os cabelos recém-tingidos de loiro, as órbitas verdes brilhando em fúria, as olheiras profundas.
Um anjo morreu para que um demônio pudesse nascer.
Ajustei a jaqueta de couro sobre os ombros e, inclinando o corpo ligeiramente para frente, alcancei meu fiel taco de beisebol. Caminhei pelos corredores da prisão, deixando meu olhar vagar por cada canto familiar. Esse lugar foi nosso lar por tanto tempo, e agora estamos prestes a perder parte dele. Mas, independentemente do que aconteça, não vamos recuar. Não importa quem fique no caminho, eu vou seguir em frente.
Ao chegar à parte externa, bati o taco com força contra a grade, o som ecoando e atraindo os olhares de todos ao redor. Daryl, que mantinha a cabeça baixa, demorou alguns segundos para levantar o olhar. Quando o fez, enxerguei um misto de confusão e orgulho em seus olhos — talvez por causa do cabelo loiro, talvez pela mudança que todos notavam em mim. As expressões dos outros oscilavam entre receio e cautela. Ali estava uma nova Isobel: diabólica, destemida, completamente transformada.
— Já foram?
— Sim — Emília respondeu, arrumando o arco e a flecha improvisados em seu ombro. — Hershel foi para um lado e Carol para o outro; caso tudo dê errado, há uma saída que será nossa rota de fuga.
— Vamos repassar o plano? — Rhee se apoiou em uma viga, cruzando os braços. Seus olhos estavam distantes, em busca de vingança.
— Emília...
A garota assentiu para Rick e, um pouco envergonhada, caminhou para o pequeno círculo que montamos. A respiração da garota estava rápida, como se faltasse ar. Ela levantou as mãos de forma brusca, mas logo as baixou, com movimentos sempre inquietantes, como se estivesse aos poucos se libertando de algo. Ela pôs a destra em um pequeno colar, direcionou o olhar para mim e eu assenti calmamente.
— O governador tem um modo operante simples: ele se faz de bonzinho; caso isso não funcione, o que é o nosso caso, ele parte para o ataque. — Ela lambeu os lábios, com as mãos apoiadas na cintura, jogou a cabeça para trás e suspirou. — Agora ele vai vir com toda força. Precisamos fingir ter recuado; vamos deixá-lo gastar balas e esforços. Deve estar pirando igual uma batata louca; vocês mexeram com o ego dele. — Pontuou, mordendo a parte interna da bochecha. — Ele vai destruir a parte da frente; temos que nos esconder na prisão e atacar com calma, usando aqueles monstros a nosso favor.
— Entendemos — disse Glenn, segurando a mão de Maggie. — Eu e Maggie ficaremos na parte de dentro; assim que eles entrarem, seguiremos para o corredor e vamos surpreendê-los com os tiros.
— Eu, Carol, Dianna, Michonne e Jensen soltaremos as bombas de fumaça.
— Não se preocupem, soltamos os zumbis. — Encosto levemente minha destra na mão do Dixon, fazendo um carinho suave. — Vamos lá?
— Só bora.
•••
Encosto-me a uma das pilastras, sentindo a raiva consumir cada fibra do meu corpo. De relance, observo Dixon cabisbaixo, os olhos perdidos e carregados de uma fúria silenciosa. Ele busca vingança, assim como todos nós. Desde a morte de Merle, Daryl se isolou, mergulhando em si mesmo. Parece o mesmo homem que conheci no início, mas quem sou eu para julgá-lo? Seu irmão se sacrificou para nos dar mais tempo. Mais uma chance, talvez.
O som dos disparos ecoa pelo ambiente, e o tremor das paredes me alerta sobre uma explosão próxima — provavelmente uma das torres foi pelos ares. Viro-me para Daryl e, sem pensar, o envolvo com força, buscando algum alívio em sua presença firme. Ele permanece imóvel, o olhar fixo nas paredes desgastadas, como se tentasse encontrar respostas nelas.
— Dix…
— Shh, Isobel.
Engulo em seco e apenas assinto, aninhando-me em seus braços. Odeio o som dos tiros; ainda posso ouvir o disparo que atravessou meu corpo como um eco distante. "Acorda, Isobel. Você não é mais aquela garota frágil." Solto Daryl, afastando-me com passos firmes em direção à minha posição inicial. Passo a língua pelos lábios, sentindo o calor da adrenalina correr em minhas veias.
Os disparos continuavam, ritmados como uma tempestade que se recusava a cessar. Respirei fundo, tentando acalmar o tumulto dentro de mim. Meus dedos tremiam, não de medo, mas de um desejo ardente de fazer algo, de lutar, de sobreviver. Ao longe, escuto Glenn gritar instruções, a voz dele abafada pelos sons do caos ao nosso redor.
Sinto Daryl se mover atrás de mim, seu corpo finalmente despertando da inércia. Ele caminha até a janela quebrada, espiando lá fora. Seu rosto endurece ainda mais, um misto de determinação e dor.
— Eles estão vindo — ele sussurra, como se falasse para si mesmo, mas sua voz atinge meus ouvidos como uma onda gelada.
Pego o meu taco de beisebol, sentindo o peso familiar em minhas mãos. Daryl se vira, o olhar feroz encontrando o meu. Por um momento, nenhum de nós diz nada. Não é preciso. Entendemos que essa batalha é mais do que apenas sobreviver; é sobre proteger o que restou de nós.
— Nós vamos conseguir?
— Sim, meu amor, vamos conseguir! — Daryl selou seus lábios aos meus, um beijo lento e saboroso. — Vejo você daqui a pouco?
— Sempre!
O homem saiu em passos rápidos; estávamos esperando os desgraçados entrarem, queremos fazer uma bela surpresa. Giro o taco de beisebol entre os meus dedos, lambo os meus lábios apreensivamente.
Vai dar tudo certo.
༺ ••• ༻
As balas comem soltas, os idiotas entraram na prisão e estão divididos em grupos, como imaginávamos. Em passos lentos, caminho pelos corredores e, então, paro em frente a uma porta, abrindo-a com cautela, evitando qualquer barulho que possa atrair a atenção deles para mim. Passei a pontinha da língua entre os lábios, sentindo uma pelinha solta; cravo os dentes e arranco-a com força, sentindo um gosto de sangue se formar em minha boca. Eu gosto de fazer isso quando estou nervosa; de alguma forma, alivia completamente.
Abri a porta de vez, liberando uma pequena horda de monstrengos, ao mesmo tempo em que os outros começaram a soltar as bombas de fumaça. Isso aqui vai se tornar um caos logo. Corri em uma direção oposta aos errantes, evitando fazer qualquer tipo de barulho para que não me seguissem. Logo, cheguei a uma pequena salinha, me escondendo ali; não sou maluca de ir para o meio do fogo cruzado. O eco da prisão me permite escutar com clareza os gritos regados de pavor e os tiros descontrolados; vão acabar se matando desse jeito.
O coração está desenfreado, minhas mãos soam como um inferno; provavelmente, minhas bochechas devem estar completamente avermelhadas.
O barulho encerrou; já está na hora de ir para a outra parte do plano.
Concluí, travando o meu maxilar. Pressionei os meus dedos com força em meu taco de baseball e caminhei para o lado de fora do pequeno quartinho de limpeza em que me escondi. A fumaça ainda é densa, deixando uma névoa de incerteza no ar. A cada passo que dou, sinto uma pressão se formar em meus ombros; essa porra pode dar errado, mas a minha filha está longe, isso é o que importa. Encontro um zumbi escorado na parede, com alguns tiros em seu peitoral. Empenho o meu taco para cima, acertando em cheio o seu crânio e espatifando os seus restos mortais pelo chão.
— Você melou a minha bota, seu verme nojento… Eu não acredito que ele melou a minha bota; isso aqui foi um achado em meio ao caos — balanço a minha cabeça em negação.
Inacreditável! Por isso não gosto das coisas. Já não basta eles ficarem com esses dentinhos querendo nos devorar, ainda soltam essa gosma melequenta que é horrível de sair.
Foco em Isobel Bertha Grimes Dixon. Inclusive, o Dixon fica tão gostoso com o meu nome… Isobel Dixon… uma delícia! Realmente, nasci para ter esse sobrenome. Imagina só: “Isobel Walsh”? Não tem molho, não tem vida, não tem açúcar. O que era para eu estar fazendo agora mesmo?
— Tia Isobel? — Virei o meu corpo rapidamente, completamente assustada. Apoiei a mão em meu coração devido ao susto e arregalei os meus olhos. — Você está bem? — sussurrou, guardando a pistola no coldre.
— Ai, meu Deus! Avisa quando estiver chegando…
— Como? — sibilou, curvando o corpo para frente.
— Sinal de fumaça, não sei — joguei as mãos para o alto, impaciente. — Vamos, só de olhar para esses… aí, vamos!
A garota deu de ombros e se pôs atrás de mim, buscando proteção. A Emy é uma fofa, supercuidadosa e respeita o espaço de todos. Às vezes, parece ficar com receio de conversar, principalmente com homens. Já reparei em alguns momentos a sua aversão a cada um deles, mesmo que não tenham feito nada para ela. Um trauma, talvez. Seguro o pulso da garota, tentando transmitir, de alguma forma, confiança. Continuamos a caminhar para fora, até encontrarmos os outros.
A parte externa está completamente destruída, com a fumaça saindo das torres ainda, as grades no chão e zumbis se amontoando. Mas, mesmo assim, acima de tudo isso, vencemos; conseguimos expulsá-los aos poucos. Desvencilhei-me de Emília e, antes de me afastar totalmente, dei um beijo em sua testa. Mas logo parti para os braços do meu caçador, pulando em seu colo. Daryl me segurou com força, girando-me no ar.
— VENCEMOS! — gritei, abrindo os meus braços. O caçador riu em resposta, me apertando ainda mais contra o seu corpo. — Rick — gritei para o meu irmão, que caminhava abraçado a Dianna.
Quando eles vão assumir?
— Vencemos… — repetiu o Grimes mais velho, analisando toda a destruição.
Valeu a pena; eles descobriram que não se pode mexer com a gente. Somos fodas. O meu marido me colocou no chão, mas ainda manteve o meu corpo junto ao seu. Suas orbes azuis buscavam qualquer atirador, como se estivesse esperando que algo de ruim acontecesse novamente, que uma bala atingisse um de nós.
— Ei, está tudo bem — sussurrei contra os seus lábios, acariciando seus fios castanhos. — Relaxa, vencemos.
— Expulsamos todos — Rick concluiu, desviando seu olhar para os outros.
— Deveríamos ir atrás deles…
— Acabar com isso! — Daryl rosnou, afastando o meu corpo para longe.
— Mas já acabou, não viram como eles saíram fugidos daqui? — Maggie respondeu, apavorada. Óbvio, gastamos uma boa quantidade de armamentos; não iríamos aguentar uma segunda. Os suprimentos estão acabando aos pouquinhos, o que é uma droga.
— Eu sei, Maggs… é assustador para todos, mas eles podem se reagrupar e vir com força total. Conseguimos usar alguns dos recursos, mas e depois? — Dianna tomou a frente, colocando a mão na cintura. — Mas também não podemos ser sedentos por vingança; eles têm armas ainda…
— Não podemos arriscar, ele não vai parar. — Glenn concluiu, olhando diretamente para Rick.
— Eles têm razão, não podemos continuar vivendo assim!
— Tá, vamos levar a luta até Woodbury… da última vez quase não deu para voltar! — murmurou, irritada.
— Isso é patético! — Jensen riu, movendo a ponta da língua entre os lábios.
— Preciso concordar com ele. — cruzei os braços, observando os outros. — Vamos usar a inteligência novamente; tá na cara que eles não usam tanto o cérebro. Querem briga? Vamos dar uma, mas usando o que temos de melhor. — Apontei com o dedo indicador para a minha cabeça. — A nossa inteligência.
— Quer saber? Não me interessa! — Daryl deu de ombros, caminhando em outra direção.
A bipolaridade desse homem é algo que me irrita um pouco… Um pouco não, me irrita para um caralho.
— Vamos ver os outros — sibilou Grimes, segurando a sua arma.
Caminho ao lado de Dianna, segurando a mão da mulher. Ela é linda, nível modelo: os cabelos pretos longos, os olhos azuis como o oceano, a pele sem nenhuma manchinha, nem cicatriz; os seios fartos deveriam ser um pecado pelo tamanho desses peitos, as coxas torneadas. Mesmo se vestisse um saco de batatas, essa mulher continuaria linda; ela é exuberante. Se eu gostasse de mulheres, com certeza Dianna e Maggie fariam o meu tipo; as duas são maravilhosas.
Maggie é como uma atriz, a mais bela de todas, com olhos hipnotizantes, como se fosse me afogar totalmente. O cabelo é mediano, na altura dos ombros, e a pele é perfeita. Será que elas fazem algum tipo de skincare ou coisa do tipo? A beleza dela é indescritível; não consigo mensurar o quão gata ela é. Eu não havia reparado em todos realmente, analisando a beleza de cada um, mas parece que todos saíram de um concurso de beleza. Michonne, Carol, Beth, Andrea e Lori são todas maravilhosas, cada uma com uma aparência de tirar o fôlego.
Estamos realmente em um apocalipse zumbi? Talvez isso seja uma realidade paralela. Não sei, tipo, nunca vi tanta gente bonita em um só lugar. Além do mais, às vezes parece que sou controlada, será que é uma realidade alternativa o que estamos vivendo?
— Você ‘tá brisando novamente, Isobel — Dianna falou, cutucando a minha cintura. — Está tudo bem?
— Han?
— Você estava no mundo das nuvens — Maggie sorriu para mim, ajustando o capacete em seus braços. — Às vezes, você fica parada, olhando para o nada e brisando, como se estivesse em outra realidade ou coisa do tipo.
— Deveria tomar cuidado com isso; às vezes, pode acontecer em algum momento sério.
— Eu só estava pensando em como todo mundo é bonito aqui. Tá bom que tem algumas pessoas não tão bonitas, mas as que têm parecem que saíram de uma revista de moda.
— Tá bom, deixa eu ver se entendi… você, em meio a uma guerra em um apocalipse zumbi, estava pensando em como tem pessoas que parecem que fugiram de uma revista?
Balanço a minha cabeça positivamente, batendo os meus pés no chão repetidamente.
— Talvez você possua déficit de atenção. Eu indicaria uma consulta, mas como estamos no fim do mundo... — Diah tocou os meus ombros, batucando os dedos em minha pele. — Agora vamos?
— Sim, senhora mamãe — sussurrei a última parte em seu ouvido. Dianna recuou um passo e balançou a cabeça negativamente.
— Você é terrível!
— Eu sei, mas quem está pegando o meu pai é você!
— Eu não estou pegando ninguém!
Maggie virou-se para nós duas e balançou a mão, chamando-nos em sua direção. Cruzei os meus braços ao de Dianna, caminhando até a prisão. A cada passo que dávamos, surgia um assunto novo, como se a nossa conversa não tivesse início, meio e fim, apenas assuntos intermináveis. Ao chegar na parte das celas, afastei-me da morena, deixando-a ir na direção do seu irmão gêmeo, o que é bem engraçado de se pensar, já que eles não têm nada de parecidos.
Em passos largos, me aproximei da mesa de ferro, jogando o meu taco de baseball em cima dela, pouco me importando com o barulho. Os outros andavam pelo local em busca de algum dos soldadinhos perdidos. Rick deu uma fungada alto o suficiente para atrair a minha atenção. Virei o meu rosto para o meu pai, vendo-o com um olhar cético e um pouco distante, desconfiando da paz que conseguimos. Logo, Beth entrou com a bebezinha Judith em seus braços; a menininha resmungava, balançando as mãos. Richard caminhou em direção às duas, deixando um pequeno beijinho em sua testa.
Ele ama Judith, mesmo que ela signifique o símbolo da traição de Lori e Shane. Ainda assim, Grimes a ama; seu coração e sua bondade vão muito além do que qualquer um pode especular. Mesmo que a garotinha não seja sua de sangue, ele ainda a ama intensamente, talvez por ser uma lembrança do que um dia aqueles dois foram. Eu gosto da pequena Judith; ela se acalma comigo. Não entendo exatamente o porquê, mas quando tem suas crises de choro, ela procura a mim. Sinto meu coração se despedaçar todas as vezes, mas eu também a amo; não posso negar isso.
Ela é inocente; os pecados que os pais cometeram não são culpa dela, e se eu puder, farei de tudo por essa garotinha.
Judi começou a choramingar, batendo suas mãozinhas nos braços de Beth. Antes que pudesse ir até ela, Dianna se apressou em pegar a garotinha em seus braços, começando a ninar Judi com todo amor possível.
Sinto duas mãos pequenas batendo em meus braços, virei para trás vendo Alicent com um sorrisinho brincalhão estampado em seus lábios. Toco a bochecha rosada da mais nova com cautela, observando seus olhinhos azuis vibrantes.
— Vocês vão atrás deles?
— Sim, você fica aqui, ok? — acaricio os cabelos cor de cobre da garota. Ela cerrou os olhos em reprovação. — Nem pense, vai ficar aqui!
— Qual é, mãe…
— Alicent, você tem treze anos. Não vou te deixar ir com a cara direto para o perigo… Eu não posso perder você, filha!
— O que está acontecendo?
O Dixon surgiu atrás de nós duas como um fantasma. Às vezes consigo escutar quando ele se aproxima, mas ele sabe ser sorrateiro e, mesmo treinando meus ouvidos para saber quando é ele, o homem parece um fantasma perambulando pela prisão.
— Alicent quer ir com a gente.
— Ah, nem a pau! Pode sentar sua bunda nessas cadeiras e ficar quietinha, sem falar um piu.
A garota cerrou os olhos novamente e andou na direção de um dos bancos, sentando-se de qualquer forma. Virou o rosto para Daryl e murmurou: “piu piu”.
— Olha, não vou atrás das suas revistas ou das coisas que você gosta na próxima busca, entendeu?
— Tô brincando, já até sumiu quem falou, viu? Tô quietinha, papai… nem quero ir nessas coisas, eu juro!
— Tão sonsa — ralhei, cruzando os braços.
— Igualzinha a você!
Virei o meu rosto para o homem lentamente, abri os lábios, pronta para refutá-lo, mas apenas ergui a minha destra, mostrando o meu dedo do meio para ele. Esse caipira abusado vai dormir no chão da prisão, não… vai dormir lá fora com os zumbis, vai brincar de acampar com eles.
— Vish, se ferrou.
— Olha a boca — falamos em conjunto para a ruiva atrevida.
Essa garota está ficando uma verdadeira cópia minha, e eu já sou insuportável, imagina duas de mim? O mundo não aguentaria tanta perfeição.
•••
Acelero o motor da minha Ducati; caramba, faz tempo que não ando com o meu monstrinho. Acho que desde que escapamos da fazenda. Acabei deixando as duas rodas de lado, mas ela está aqui, guerreira. Lembro-me de quando se reuniram para trazê-la até mim; fiquei feliz pra caramba. Sempre gostei de motos, era uma boa lembrança do meu… pai. Ajusto meu corpo no banco de couro, lambendo os lábios. Dou a primeira acelerada, parando ao lado do Daryl. O homem sorriu de ladinho, me observando em cima da moto.
— Você nunca me contou como achou essa belezinha! — o homem saiu da moto.
— Encontrei enquanto fazia uma das buscas; as chaves estavam na ignição e eu pensei: “por que não?” Dei uma de mão leve e peguei pra mim. Foi assim que me apaixonei por essa belezinha.
— É uma Ducati, não é?
— Sim, a 1198… uma verdadeira máquina. Ela tem um motor bicilíndrico em L, 1.198 cc, capaz de entregar 170 cavalos de pura potência. E o torque? Dá 131,4 Nm. Essa belezinha é rápida demais.
— Rápida quanto? — cruzou os braços, passando suas orbes sobre mim, como se estivesse me analisando, testando para saber se realmente entendia sobre motos.
— Ela chega perto dos 300 km/h e faz de 0 a 100 em menos de 3 segundos. Sabe, é como montar em um foguete. — ri nasalmente, jogando a minha cabeça para trás.
— E a suspensão?
— Garfo invertido na frente, monobraço atrás, ambos ajustáveis. — expliquei, escorando o meu corpo na moto. — O chassi é uma treliça em aço, então a estabilidade é absurda. E os freios? Brembo, claro. Dois discos enormes na frente e um atrás, pra parar no instante que eu quiser.
— Nada mal pra uma moto encontrada por aí.
— Foi amor à primeira vista. — Sibilei, passando a pontinha da língua entre os lábios.
— Pensei que eu tivesse sido seu amor à primeira vista, gatinha!
— Não se ache tanto, Daryl Gatinho Dixon.
O homem sorriu de canto, colocando as mãos dentro do bolso da calça. Ele tombou a cabeça para o lado e caminhou na direção do Rick. Passei a minha perna pela moto, saindo de cima dela; em seguida, sigo os passos do meu marido com cautela, escutando vagamente a conversa entre eles. Ergo a sobrancelha, jogando o peso do meu corpo para a perna esquerda, cruzando os meus braços. Tá de sacanagem, eles vão realmente fazer isso…
— Rick, a gente vai ficar — Glenn murmurou, mexendo a arma com cautela. O meu irmão inclinou a cabeça para o lado, assentindo positivamente. — A gente vai ficar, não sabemos onde o governador tá; se ele voltar… vamos segurá-los.
— Só nós quatro? Ótimo! — ironizou Daryl, virando-se de costas para os outros. Meu marido caminhou na direção da sua moto, ignorando a existência dos demais.
Esse homem consegue ser temperamental.
— Agradeço por ficarem!
Apoio a minha mão na cintura, suspirando pesadamente. Tombo a minha cabeça para o lado, lambendo os meus lábios. Essa porra vai custar vidas; é melhor que seja a minha do que a da minha filha. Vou fazer de tudo para que minhas filhas e sobrinhos fiquem bem. Dou alguns passos na direção de Maggie, puxando-a para um abraço apertado. Logo, sussurro em seu ouvido, alto o suficiente para que apenas ela escutasse:
— Se eu não sobreviver, por favor, cuide da Ally e da Emília. Elas merecem tudo.
Me afastei da morena; suas orbes verdes se arregalaram em pavor. Ela tentou falar algo, mas balancei a cabeça negativamente, impedindo-a de dizer mais alguma coisa. Não precisam saber que estou disposta a morrer para que aquele desgraçado vá diretamente para o inferno.
Em passos largos, vou até a minha moto, subindo nela sem nenhuma dificuldade. Movi a mão no acelerador, fazendo o motor rugir alto. Cerrei os olhos, observando a movimentação dos outros. Margaret, Beth, Dianna e Carol acertam zumbis com pedaços de ferro, fazendo-os cair no chão como pequenos pedaços de merda, o que realmente são. Enquanto isso, Glenn abria o portão de metal, nos dando passagem. Sem esperar pelos outros, dei partida na moto, acelerando o mais rápido que podia. Em meus olhos, a fúria brilhava como um lembrete de tudo que aquele maldito tirou de nós em tão pouco tempo, a dor que causou.
Eu vou fazer ele sofrer lentamente; ele irá pagar por cada vida que ceifou deste mundo, tornando-se apenas uma memória de merda.
Nem que eu tenha que morrer para que isso aconteça.
O vento bate em meus cabelos recém-tingidos. Eu não deveria ter ficado tanto tempo longe do meu pequeno monstrinho. A sensação de liberdade a cada segundo que acelero minha moto faz minha alma ficar mais solta, em paz. De soslaio, pude ver Daryl acelerar, tentando se igualar a mim. Não pude deixar de soltar um sorriso sacana para o meu marido. Começo, então, a movimentar a minha moto em zig-zag, impedindo sua passagem. Escuto-o soltar um palavrão alto.
Ah, queridinho, nem com toda a sua idade jurássica irá conseguir me ultrapassar. Antes de dar meus primeiros passos, já estava em racha, sendo fodona. Já ganhei muito dinheiro com isso; bons tempos.
Apertei os meus olhos ao ver carros parados no meio da estrada e ergui a minha mão, mandando-os embora. Estacionei a minha moto, derrapando o meu peso para a perna esquerda. Balancei o meu cabelo de um lado para o outro, observando a cena apocalíptica. Aquele maldito acabou com o seu próprio povo. Os carros estavam parados de qualquer jeito, enquanto o resto dos seus soldados, os que não morreram na hora, comiam uns aos outros.
Desci da minha moto, sentindo o meu estômago se revirar com essa cena monstruosa. Ele é tão desgraçado que matou a sua própria comunidade. Que maníaco do caralho faz isso? As pessoas que confiaram nele estão aqui jogadas nesse chão como vermes, como se não merecessem mais a vida do que ele. Talvez isso seja o seu castigo por terem abandonado a prisão, mas que merda! Giro o cabo do meu taco de baseball entre os dedos, ajustando-o de forma confortável. Em seguida, bati com força contra um dos crânios do zumbi, fazendo-o se estraçalhar no chão. Suspirei, balançando a minha cabeça negativamente, continuando a matar cada um dos que restaram de vez.
O som de mãos batendo em vidro atrai a nossa atenção. Dixon é o primeiro a caminhar até um caminhão. Antes de tomar uma atitude, ele olhou diretamente para Richard, que ergueu sua arma na direção do automóvel. Então, meu marido abriu a porta, e uma mulher alta e de corpo esguio saiu de lá com os olhos arregalados em pavor. Suas mãos tremiam incessantemente; ela tentava formular palavras, mas estava totalmente travada.
— Ele matou a todos, não foi? — perguntei. A mulher ergueu o rosto como um ratinho amedrontado, balançou a cabeça rapidamente e olhou em nossa direção.
— O que fazemos?
— Vamos até Woodbury! — respondeu Michonne, dando de ombros. Seu olhar se direcionou para Rick, esperando uma resposta.
— Peguem o que for útil e partimos.
Movimentei meus dedos até a testa, fazendo continência a Rick. Era uma brincadeira nossa quando éramos crianças; ele sempre foi o meu líder, e as brincadeiras bobas que criamos quando éramos mais novos. Eu confio cegamente em Rick; portanto, sem olhar para aqueles malditos, segui até a minha moto, subindo nela sem me importar com nada. Se for para morrer lutando, que seja.
•••
Miro o rifle para o portão, dando o primeiro tiro. Subo um pouco a minha arma, pronta para acertar uma das pessoas com a arma, mas meu corpo é puxado para trás do carro. Virei o meu rosto para o Dixon, maldito do caramba; eu estava com um deles na mira. A troca de tiros continua, com Rick mirando no portão, até que a mulher que encontramos sai de trás do carro com as mãos erguidas em rendição.
— Tyreese! — gritou, com a voz trêmula. — Sou eu, não…
— Fica abaixada, porra! — gritei para a mulher. Paciência é para poucos; se tivesse um potinho de paciência à venda, com certeza eu compraria.
— Karen?
— Eu tô bem!!
— Cadê o governador? — o homem perguntou, em um grito cortante.
— Ele atirou em todos, matou todos…
— Por que está com eles?
— Eles…eles me salvaram! — gritou novamente, mãos ainda erguidas para cima, suas pernas tremiam acompanhando a sua voz trêmula.
— Vamos sair!
— Não — ralhou Daryl enfurecido. — Não, cara.
— Vamos sair. — reafirmou Rick.
O meu irmão se levantou primeiro; ele pôs suas mãos acima da cabeça, dando alguns passos receosos. Logo atrás dele estava o Dixon, que inicialmente estava com a sua besta em punho, mas logo ergueu as mãos. Por fim, eu e Michonne trocamos olhares cúmplices e nos erguemos, segurando nossas armas: ela com sua katana e eu com o meu taco. Demos passos sincronizados. Minhas íris verdes captaram o momento em que o portão se abriu, revelando um pequeno vislumbre da cidade.
Woodbury é bela; não havia reparado na primeira vez, até porque estava sendo torturada. As casas são bem organizadas e pareciam ser uma boa comunidade. Mas, assim como a vida, nem tudo é perfeito. Do que adianta ter muros altos e um governador tirano? Uma pessoa que, dependendo do humor, irá atirar bem na sua cabecinha e estourar os seus miolos? Vale a pena entregar sua vida a uma pessoa em quem não se confia cem por cento? A minha resposta é não. Desde que o vi com aquele ar de super-herói, sabia que não deveria confiar. Os mais filhos da puta se escondem atrás de máscaras; aqueles desgraçados que podem acabar com sua sanidade… Ele se faz de bonzinho e, depois, você se fode totalmente.
Todos temos uma máscara, aquela que a sociedade precisa ver, aquela que mostramos para quem amamos… mas, em algum momento, a máscara cai, deixamos vacilar e o nosso verdadeiro “eu” aparece. Então, seria uma pessoa leal ou um maníaco do caralho? Nossa mente vai a milhão em situações de risco.
Eu sou a mocinha ou a vilã? Afinal, o vilão só é vilão quando é mostrado pelo ponto de vista do mocinho. Eu sou uma vadia desgraçada que mataria o mundo para salvar quem amo, mas nunca trairia a pessoa que depositou sua confiança em mim. Isso me torna uma vilã? Uma mocinha? Ou um anti-herói?
Foda-se, o mundo já está fodido pra caralho. Quem vai me julgar se eu levar algumas almas para Lúcifer? Afinal, todos vão morrer em algum momento. E se entrar no meu caminho e no da minha família, vou matar, torturar… farei o que for possível e impossível.
— Foco — Michonne sussurrou, batendo de leve em meu ombro. Sorri para a mulher com cautela, voltando o meu olhar para Rick e Daryl.
— O que estão fazendo aqui? — O homem ralhou. Sua voz ríspida e sem paciência era nítida; suas orbes pretas passaram por cada um de nós. A mulher ao seu lado não abaixou a arma; seu olhar matador fixou-se em mim e se manteve.
Ah, que tal da meia hora de cu? Pensei, sabendo que, se falasse, levaria um tiro na testa ou uma puxada de orelha do Daryl ou de Rick, esses velhos sem humor nenhum.
— A gente vinha terminar tudo isso, até vermos o que o governador fez.
— É, ele matou todo mundo…
— É… — meu pai confirmou positivamente com a cabeça, desviando suas íris azuis para o chão. — A Karen falou que a Andréa pulou o muro e foi até a prisão… ela não chegou lá! Ela ainda pode estar aqui.
— Sabemos onde ela pode estar. Vocês dão a honra ou vamos ganhar um enfeite na testa? Olha que já tenho dois chifres; acho que um furo não vai combinar. — Sibilei, sinalizando com o dedo indicador para a testa. Em resposta, eles me olharam com incredulidade. — Ah, perdão… quando estou nervosa, acabo falando besteirinhas.
Sem obter respostas dos demais, dei os primeiros passos à frente. Assim que passei para a outra parte do portão, senti meu coração arder; as memórias daquela maldita salinha voltam como um inferno para minha mente. Recuo um passo; era como se toda a dor tivesse voltado pouco a pouco, não só o que o maldito Philip Black fez comigo, mas como aqueles malditos homens. Ainda carrego em minha mente e corpo os efeitos do que se passou. Isso nunca vai morrer dentro de mim, não mesmo, mas eu vou seguir em frente e, se encontrar esses abusadores de merda, vou acabar um por um.
— Então vamos?
Caminhamos até uma das casas em um silêncio ensurdecedor; dava para escutar apenas o barulho das botinas batendo contra o chão e das armas se remexendo. Entramos em um pequeno corredor, o mesmo em que eu, Maggie e Glenn lutamos juntos, o mesmo local em que fomos torturados. Bati meus dedos contra a calça jeans. "Não seja fraca, Isobel, não é o momento", me repreendi mentalmente, forçando o meu corpo a dar mais um passo. Sem precisar falar, o Dixon se aproximou, tocando a minha cintura com cautela, me ajudando a cada passo. Então, ele sussurrou em meu ouvido:
— Um passo de cada vez, eu estou ao seu lado, meu amor.
Assenti positivamente, voltando o meu olhar para os outros e observando a conversa atentamente.
— Foi aqui que ele prendeu o meu pessoal.
— O governador prendia pessoas aqui? — Ty falou aflito.
— Você não acredita no que ele fazia aqui, queridinho. — simplifiquei, colocando a minha máscara de indiferença.
Paramos diante de uma porta; cruzei os meus braços, observando cada um deles. Rick observou atentamente enquanto Daryl apontou a arma para o portão.
— Vai abrir? — Mich murmurou, observando os homens.
O meu pai abriu a porta com cautela, revelando novamente uma cena de horror. Com certeza, estamos em um filme de terror ou sei lá o que. O nerd que havia visto dias atrás estava morto; parece que ele não vai mais poder documentar nada. Virando um pouco o meu rosto para o lado, tive a visão de Andrea escorada na parede, repleta de sangue. Mich, que estava ao meu lado, saiu correndo em direção à sua amiga.
Isso é triste pra caramba. Não vou ser hipócrita e dizer que gostava dela, mas ela não merecia essa morte. Ela depositou sua confiança em quem não merecia; a mulher tentou mudar nos seus últimos dias, mas o destino pregou uma peça nela. A loira levanta seu olhar até mim. Dou um sorriso de canto para ela, balançando a cabeça positivamente, e me afastei daquela porta. Não há por que velar seus últimos momentos; desejo uma boa passagem para ela.
Saio de perto do portão e vou na direção de um dos caixotes, sentando-me de qualquer forma e apoiando os cotovelos em minhas coxas. Escondo meu rosto entre as mãos, sentindo o peso em meus ombros. Não aguento mais tanta morte, mas agora é assim: temos que viver, mas a morte nos persegue a cada esquina. Não é como se antes do apocalipse não fosse assim, mas não acontecia a cada esquina que passávamos.
O meu marido se afastou do portão e veio até mim, ajoelhando-se à minha frente. Ele tocou o meu joelho com cautela, deslizando o seu polegar por minha pele vagarosamente. Encarei os seus olhos azuis, tão belos… Eu amo esse homem; ele é a minha âncora, meu alicerce.
Somos perfeitos juntos: uma maluca e um caçador rabugento. Irônico?
Richard saiu da sala, fechando a porta vagarosamente. Ele desceu o olhar até mim e negou com a cabeça, suspirando firme. Deslizei a ponta da minha língua entre os lábios, tombando a minha cabeça para frente e, então, o som do tiro cortou o ar como uma lâmina afiada. Uma lágrima caiu pela minha bochecha; ainda resta empatia em meu coração. Posso não ter sido a maior fã dessa mulher, mas Daryl, Rick, Michonne e os outros a conheciam há mais tempo e conviveram bastante.
— Vamos juntar os suprimentos que restam aqui.
— Temos pessoas e um ônibus, podemos ir com vocês? — sibilou Tyreese, abaixando a cabeça.
— Novos ciclos.
Acelero a minha Ducati, fazendo o motor roncar cada vez mais alto. Ao meu lado, Daryl fazia o mesmo, anunciando para os que estavam na prisão a nossa chegada. Estávamos em uma formação, caso houvesse um ataque surpresa. Eu e o Dixon íamos à frente, no meio um ônibus sendo conduzido, trazendo alguns suprimentos e nossos novos moradores e, por fim, Rick e Michonne em uma caminhonete.
Ao atravessarmos o portão, estacionei minha motocicleta, descendo dela com pressa. Vi, pouco a pouco, os outros saindo da prisão. Alicent, minha doce ruivinha, correu até mim com um ursinho em suas mãos; provavelmente, ela estava brincando com Judith. A garotinha abraçou minha cintura com força. Com cuidado, peguei-a em meus braços, girando-a no ar. O Dixon se aproximou de nós duas, pondo a mão em minha cintura e depositando um beijo suave na testa da nossa filha. Ohana significa família…
O ônibus rangeu ao parar, levantando uma leve nuvem de poeira. Tyreese começou a ajudar os idosos a descer, com cuidado e paciência. Cada rosto marcado pelo tempo que se juntava a nós trazia uma fagulha de esperança, como se, por um momento, o peso da guerra tivesse diminuído. Era uma lembrança de que, mesmo em meio ao caos, ainda éramos capazes de cuidar uns dos outros.
Então, uma garota de cabelos cacheados desceu apressada, os pés mal tocando o chão. Seus olhos castanhos, intensos como brasas vivas, vasculhavam o grupo com urgência, até se fixarem em Emília. O mundo ao redor pareceu desaparecer enquanto ambas corriam na direção uma da outra, as lágrimas escorrendo sem qualquer esforço para contê-las. Quando se encontraram, o impacto do abraço foi tão forte que parecia que nunca mais iriam se soltar. Elas entrelaçaram os braços, os corpos se encaixando como peças perdidas de um quebra-cabeça, até que, num momento de pura emoção, seus lábios se encontraram em um beijo cheio de saudade e amor reprimido.
De relance, vi meu marido observando-me com um sorriso sereno e orgulhoso. Encostei minha cabeça em seu peito, sentindo o ritmo constante de seu coração. Por um instante, tudo parecia suportável. Havia amor, havia reencontros. E isso, no meio de tanta escuridão, era uma luz que valia a pena seguir.
A fúria, a raiva, a vontade de destruir todos foi-se esvaindo do meu corpo pouco a pouco. Ao lado da minha família, encontro a paz que sempre busquei. Em toda a minha vida, senti que faltava algo em mim, mas agora, em meio à destruição, encontrei a mais pura e bela felicidade: um marido e filhas ótimos.
A última pessoa saiu. Era uma garotinha de cabelos loiros, tão dourados quanto o ouro, brilhando como se o próprio sol a tivesse abençoado. Ela usava um vestidinho florido, e seus olhos azuis, límpidos como o céu após a chuva, vasculharam o ambiente até pararem em Carol. Por um momento, o tempo pareceu congelar. Ambas se encararam, sem piscar, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido. Carol levou as mãos trêmulas aos lábios, os olhos marejados pela avalanche de emoções que mal conseguia conter.
— Não… pode ser? — ela sussurrou, incrédula, enquanto uma lágrima escorria pelo rosto marcado pelo tempo e pela dor.
Então, algo se quebrou dentro dela, como uma represa cedendo à força das águas.
— SOPHIA! — O grito rasgou o silêncio como um trovão.
Carol correu, tropeçando em seus próprios pés, e envolveu a menina em um abraço desesperado, como se, ao soltá-la, ela pudesse desaparecer novamente. Eu senti um nó apertar minha garganta enquanto observava. Era a filha dela, a menininha que todos procurávamos quando chegamos à fazenda. Meu coração parecia preso em um aperto doloroso, uma mistura de alívio e tristeza.
Os soluços de Carol ecoaram pelo lugar, enchendo-o de uma melancolia quase palpável. Finalmente, seu coração havia encontrado um fragmento de paz. Todos nós sentimos isso. Não sabíamos por quanto tempo essa trégua duraria, mas, naquele instante, compartilhávamos o mesmo suspiro de alívio. Um segundo de paz em meio ao caos.
— Vamos lutar?
— Todos os dias, pequena — depositei um beijo na testa da minha garotinha — mas vamos aproveitar a paz enquanto ela durar.
FELIZ 2025
embora eu tenha demorado para aparecer, quis curtir um pouquinho uma semana de férias com a minha família, mas já estou de volta com calouros quentinhos. E como é ano novo, veio esse super tranquilo, nada de lágrimas ou sofrimento.
Que esse novo ano seja muito abençoado para todos✨ 2025 É NOSSO.
200k Rapaziada, como assim vocês estão gostando do meu delírio??? AAA, eu amo cada um de vocês que está me ajudando com esse Lirou sonho, estou totalmente realizada com tudo isso, cada meta que batemos o meu coração se enche de felicidade.
Preparem os corações.
@ AURZTWD 🌶️
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