𝟎𝟎𝟏. 𝐑𝐔𝐍
001. RUN
Balanço os meus pés de um lado para o outro, ao mesmo tempo em que remexia meus ombros dançando no ritmo da música que tocava em meu fone, batuco os meus dedos contra o colchão da cama cantarolando a melodia de Alejandro, a música favorita de Rick, é engraçado ver um policial gostar desse tipo de coisa, na minha cabeça era impossível. Mas o gosto do Rick era esquisito…
Era…é…o gosto dele é esquisito, até porque o meu irmão não morreu.
Me levanto rapidamente da posição que estava retirando os fones do meu ouvido, minhas íris passeiam pelo quarto que o mesmo me ajudou a montar, Richard sempre esteve presente na minha vida, mesmos quando estava do outro lado do mundo, é incrível como tudo pode desmoronar…eu só queria o meu irmão de volta, sem toda essa merda de tiro.
Todas as noites, estou sendo assombrada pelo meu irmão, é quase como um mantra, já decorei todo o pesadelo. Primeiro o vejo parado na porta do meu quarto tentando entrar, gritando – mas sem sair nenhum tipo de som, de repente, o som alto ecoa e ele leva um tiro na cabeça morrendo bem na minha frente. Cacete, todas as noites é sempre a mesma coisa, nem quando durmo na casa do meu namorado passada, parece que piora essa sensação…
A sensação do vazio, da incerteza, do medo…
Estalo a minha língua curvando o meu corpo levemente para frente sentindo a bile subir pela minha garganta queimando-a com força, junto com o enjoo, sinto uma vontade incontrolável desejo chorar…chorar até toda essa maldita dor sumir, ou eu sumir.
Um estrondo ensurdecedor no andar de baixo atrai a minha atenção, viro o meu rosto na direção da porta sentindo um calafrio tomar o meu corpo. Me levanto da cama apreensiva, sentindo as minhas mãos tremerem, posteriormente, virei o meu corpo indo em direção até a minha cômoda, pegando um taco de baseball que Rick havia comprado para mim, em seguida, caminhei até a porta em passos suaves tentando não fazer barulho nenhum. Ao chegar na escadaria, dou meu primeiro passo escutando a madeira ranger, viro o meu rosto para baixo murmurando:
— Droga de escada…shh, caladinha, fique caladinha…
Sou doida por ta falando com uma escada? Com certeza sim, ainda mais doida em ir na direção do barulho com um taco de baseball e uma benção de Deus?? Provavelmente sim. Deveria fugir pela janela ou ligar para o Shane, que é policial, mas não, decide bancar a mulher gato, ou seria a mulher maravilha? Também tem supergirl…hum difícil de decidir…
— Foco Isobel Bertha Grimes — relinchei, apertando no cabo do taco com um pouco mais de força. Arrumo a minha postura, pronta para dar mais um passo, mas então eu recuei me abaixando levemente. — E se me matarem?? Bom pior do que já tá…coragem!!!
Afirmei erguendo a minha cabeça, fingindo estar tudo bem, em um longo suspiro tomo a coragem e começo a descer as escadas totalmente apreensiva. A cada passo que dava, uma onda de força e medo dominava meu corpo, lutando dentro de mim para me dominar por completo, minha mão estava inteiramente suada lambuzando a madeira deixando-a completamente oleosa. Por fim, chego na cozinha, me deparando com a minha mãe atordoada
Inclino a minha cabeça para o lado vendo-a tentar esconder algo, cerrei os meus olhos na tentativa de identificar o que estava acontecendo. Abaixo o meu taco de baseball imediatamente, e dou alguns passos na direção da mais velha. Lauren se vira de imediato ao notar minha presença, sua mão tapava um ferimento no braço, a loira tenta esconder a dor que sente lançando um sorriso, e então murmura baixinho:
— Filha…precisamos conversar!
— É precisamos, com certeza precisamos de uma boa conversa. — disse, olhando o seu estado completamente caótico. Puta que pariu, o que diabos aconteceu com ela? — O que diabos aconteceu, mãe?? Você está horrível…com todo respeito, e que droga de tanto sangue é esse??? Isso aqui tá parecendo um filme de terror
— Bel…me escuta, você precisa focar em mim agora!!
— E eu tô focada em você mãe — respondi vagamente tocando o seu braço com cautela vendo o ferimento, parece uma mordida, pensei tocando levemente nos arredores. — Mãe, que tipo de bicho te mordeu? Dependendo, pode ficar doente…vamos pro hospital, podemos aproveitar para ver o Rick, que tal?
— Isobel, presta atenção em mim!
A mulher tentou me segurar, mas eu desviei rapidamente, indo na direção do armário de cima onde guardamos os kits médicos, ao virar a ilha da cozinha vi uma das piores cenas da minha vida, digna de filmes de terror. O carteiro Bobby jogado no chão com uma faca cravada na cabeça, a boca repleta de sangue que escorria, entre seus dentes pedaços de carne, o homem bonzinho parecia um maldito monstro asqueroso. Engoli em seco girando o meu corpo para minha mãe, minhas pupilas queimam devido as lágrimas que prendia em meus olhos.
— Mãe, você matou o Bobby?? — perguntei hesitante, mordendo a ponta da língua. — Mãe!
— Sim, Isobel. Agora você pode me escutar ou vai ficar falando igual uma maritaca ??? — praguejou, se apoiando na bancada com o corpo trêmulo. — Presta atenção em tudo que vou falar, entendeu?
— Tá… — murmurei apreensiva.
Minha mãe matou um homem, tá bom que ele tava mais parecendo um monstro, mas mesmo assim ela matou um homem, isso é errado pra caramba. Meu deus, eu vou ter que contar ao Shane, não…não posso, senão minha mãe vai ser presa, mas se não contar eu vou ser cúmplice…O QUE CARALHOS FAÇO???
— ISOBEL!
— Droga…tô aqui! — disse baixinho, com a voz trêmula.
Lauren Grimes se aproxima em passos ameaçadores, seu olhar semi cerrado e a mandíbula travada como se tentasse conter algum tipo de instinto predatório. Ela pôs suas mãos em meus ombros, tentei recuar alguns passos, sentindo medo…medo da minha própria mãe!
— A doença se espalhou, pensávamos que não era nada demais, mas ela tá se espalhando, tem canibais caminhando por toda a cidade, o Bobby se tornou um deles mas ele me mordeu…entendeu? — Afirmei positivamente, assimilando a enxurrada de informações que saia dos lábios rosados da mais velha — Presta atenção, o Shane foi ao hospital buscar o Richard , marquei com ele de nos encontrarmos na estação três, aquela mais afastada próxima, lá você vai encontrar ele, a Lori, o Carl e Rick.
— E você? Precisamos te ajudar, te levar ao médico — o pânico invade o meu sistema como um maldito vírus fazendo minhas mãos tremerem.
— Eu já estou infectada, mas você não, você tem uma chance, eu daria minha vida mil vezes para você ter essa chance. Então, me ajude a pegar suprimentos, e corra, corra até sentir suas pernas arderem, até seu coração doer, até estar em segurança.
— Não…não posso te abandonar aqui!! Não mãe… — disse entre as lágrimas, curvando o meu tronco para frente.
— Ei querida, tá tudo bem? Eu aceito isso, eu vou encontrar o seu pai, vamos ficar juntos… — sussurrou entre as lágrimas, puxando o meu corpo para perto de si, me aconchegando em seus braços. — Antes de você ir…preciso te contar uma coisa!
— Ok…
— Vai arrumar as coisas primeiro, eu só preciso pegar a foto para te mostrar! — me soltou, segurando o meu rosto com cuidado acariciando minha bochecha com o polegar. — Você se parece tanto com ele!
Meus pulmões pareciam paralisados, o ar se recusava a entrar. Era como se meu corpo estivesse se desligando, tentando processar informações tão absurdas, tão inacreditáveis. Nada disso podia ser real, era como se eu tivesse sido jogada em um episódio bizarro de um seriado distorcido ou em um daqueles filmes insanos que nunca fazem sentido. Mas não, isso era minha vida agora — e não havia como fugir desse pesadelo. Rodei meus olhos por todo o cômodo pegando uma bolsa rosa da Barbie que usava quando criança, e que Rick fez questão de guardar, em seguida, vou em direção aos armários abrindo-os pegando todos os enlatados possíveis, minha mãe ordenava onde podia buscar as coisas certas.
Que droga…
— Mãe, acho que já podemos ir…talvez possamos passar em um hospital antes, vai que você não ficou 100% infectada…
— Eu vou ficar bem querida, vai enquanto há tempo. E lembre-se, você é forte pra caramba! VOCÊ É UMA GRIMES!
— Mas mãe — tentei protestar, mas a única coisa que a mais velha fez foi colocar a mochila em meus ombros.
— Corre, Isobel…fuja de todos esses monstros, sobreviva até onde der, mas nunca perca sua humanidade e quem você é!
As palavras dela tomaram a minha cabeça como um mantra, eu ergui a minha cabeça e andei para o outro lado da cozinha pegando o taco de baseball, segurei-o firme encarando a minha mãe que me olhava com um semblante tranquilo, como se tivesse completado uma missão. Mandei um beijo para ela, e, me virei na direção da saída começando a correr para o lado de fora, assim que pus os meus pés para fora de casa uma visão horrível tomou os meus olhos, pessoas gritando desesperadamente enquanto suas carnes são arrancadas, as buzinas incontroláveis e uma fila de carros desesperados para ir embora.
Eu tô sozinha no meio do caos…
Sem ninguém, apenas eu e eu…
Engolindo em seco, movi minha cabeça para o lado vendo uma mulher loira totalmente apavorada, seus olhos arregalados e o choro evidente descendo por sua bochecha. Três zumbis a cercaram começando a devorar o seu corpo, mordendo sua carne e a arrancando com toda ferocidade. Ela aceitou a morte, aceitou que não tinha saída e apenas foi devorada.
༺ ••• ༻
Caio de cara no chão sentindo meus joelhos e mãos falarem contra o asfalto quente, estou correndo a mais ou menos umas duas horas? Não sei, eu perdi a noção do tempo, tentei ir o mais rápido possível para não perder Shane e Lori, falta pouco para chegar a estação. Respiro fundo tentando devolver o ar que perdi durante essa maratona, encolhi o meu corpo no chão puxando o taco de baseball para mais perto de mim. Sinto uma ardência em meu braço e desço minhas íris na direção de um pequeno corte no braço.
Droga de cidade, no meio do caminho tive que atravessar uma cerca repleta de arame farpado, isso porque a calçada estava totalmente lotada daquelas coisas, então era um corte ou uma mordida no meio do rabo, e pensando direitinho…a mordida seria trezentas vezes melhor do que sentir essa droga de ardência do caralho.
Eu tô morrendo de raiva, só quero encontrar a minha família, mas o universo parece insistir em complicar as coisas.
Um grunhido rompe o silêncio que estava o local, subi o meu olhar na direção de uma garotinha, os longos cabelos pretos estavam uma verdadeira bagunça, a roupinha rosa desgastada como se tivesse rasgado-a com faca, os braços com hematomas aparentes e uma bonequinha nas mãos, a menininha aos poucos vai se virando para mim mostrando um rosto completamente desfigurado, a boca rasgada e os olhos furados por uma caneta rosa.
A menina começa a correr na minha direção totalmente faminta, a boca aberta mostrando os dentes repletos de sangue e carne. Então, ela abriu os seus braços, totalmente pronta para me puxar para si e demorar o meu corpo. Com agilidade, me afasto daquele monstro, inclinando levemente o meu corpo para o lado, pegando o taco de baseball, encarava o seu rosto mortificado atentamente.
É só uma garotinha…
Não, não é mais nada ali, mata logo!
É sim…
Minha mente brigava entre o certo e o errado, se ali realmente existia algum ser humano. Sem hesitar mais, ergui aquele pedaço de madeira e acertei bem no meio da cabeça dela, começando a bater em seu crânio repetidamente até seus miolos começarem a cair para fora como um maldito filme de terror. O seu sangue respinga em meu rosto a cada batida que dou em sua cabeça, ao terminar de matar ela, cai de joelhos no chão sentindo o meu coração se quebrar e um arrepio atravessar o meu corpo.
Levo as mãos até a boca, a garotinha estirada no chão com a cabeça completamente estourada, o seu vestido manchado com o seu próprio sangue. As lágrimas tomam os meus olhos caindo incessantemente. Acabo soluçando algumas vezes tentando recuperar o ar, mas ele havia fugido de mim, junto com a minha sanidade. Uma dor forte toma a minha garganta e acabo dando um grito alto, não só pela menina, mas por meu irmão, por minha mãe e por toda essa merda.
E se eu desistir?? Talvez eu encontre meus pais em um paraíso, sei lá…eu não vou aguentar, não vou conseguir lidar com tudo isso…
•••
Parei de frente a estação de trem, rodei os meus olhos por todo o lugar buscando algum sinal de Shane ou Lori, mas não havia nada ali além dos corpos mortos daqueles monstrengos. Tento engolir toda a vontade de chorar, mas a vontade de vomitar domina o meu corpo novamente, levo minha destra até a barriga tentando reunir forças, me sinto impotente, como se tivesse sido abandonada.
Talvez eles só tenham chegado antes e não me viram aqui…é, com certeza deve ter sido isso…
Solto uma risada baixinha totalmente nervosa, passando as mãos na minha cintura tremendo de frio. Logo a noite vai cair, não posso ficar sozinha no meio do nada. Faço um biquinho balançando o meu corpo de um lado para o outro, avisto do outro lado um casebre de madeira, geralmente quem mora ali são os seguranças, talvez o dono ainda esteja…
Giro o taco de baseball entre os meus dedos com cuidado, fala sério, preciso colocar um nome nesse treco…Lauren? Edward? Ou Rick? Muitas opções até. Mordisquei o meu lábio inferior rodando os meus olhos pelo bastão em minha mão…
— Rick é um bom nome…é, Rick vai ser o teu nome! — caminho na direção da casa abandonada. — Vamos lá desbravar os mistérios, queridão!
Ao chegar na casa abandonada, escuto alguns grunhidos vindo de dentro acompanhado de um barulho de corrente batendo, o cheiro de carne podre invade minhas narinas com força. Encosto a minha mão na maçaneta girando-a para o lado destrancando, a visão de dentro era horrível, o sangue espalhado no chão misturado com vômito, nunca senti tanto nojo em toda minha vida, meu estômago completamente embrulhado.
— Parece que vamos passar uma noite juntos, não acha romântico, querido? — Brinquei com o zumbi, que tentava se soltar da maldita corrente. — Oh merda, você quer me comer??? Hummm, acho que não vai dar hein
Encosto o meu taco de baseball na parede, em seguida, giro o meu corpo na direção de uma cadeira velha, caminho na direção dela e a pego com facilidade, em seguida, levei-a na direção da porta colocando ela contra a maçaneta impedindo que a porta fosse aberta. É melhor prevenir do que remediar, pensei pegando uma correndo que estava jogado do lado da porta amarrando a maçaneta nas vigas da cadeira.
Em todo filme que vi essas coisas tem um cheiro único, talvez se ele ficar vivo possa disfarçar o meu aroma…é uma teoria, sei lá.
— É uma merda não é? — sussurrei para o zumbi, o grunhindo dele era doloroso. — Eu corri…corri até cansar, mas sabe o que aconteceu? Meu namorado me abandonou, ele não foi na estação e agora estou sozinha em um mundo ferrado.
Ri de forma sarcástica, amo o Shane? Não, mas ele disse que cuidaria de mim que iria me proteger e eu me entreguei, entreguei as suas mentiras, agora estou sozinha nessa droga, cinco anos ao lado de um cara e ele me abandona? Fala sério…
Limpo uma lágrima e me sento no canto observando o monstrengo que batia os fazendo o barulho da corrente dominar o ambiente, olho para a plaquinha que havia em seu nome, seu nome era Jerry, sinto muito por isso cara. Mordo meu lábio inferior observando o ambiente hostil. É melhor passar a noite nessa droga do que ficar o dia todo no relento…
•••
O sol invadiu o casebre, esquentando as paredes quentes e a minha pele gélida. Durante a madrugada, Jerry havia se alimentado de um rato que passou, e foi uma cena nojenta, vomitei logo em seguida, desmanchando tudo que havia me alimentado no dia, o odor ficou insuportável mas aguentei o máximo que pude, era aquilo ou nada. E agora está no meu momento de ir, aqui é um bom lugar mas é muito exposto, talvez deva encontrar um lugar um pouco mais tranquilo.
Aproveito para juntar algumas coisas que achei na casa de Jerry, consegui encontrar coisas boas como: lanternas, algumas facas e o melhor uma pistola e algumas balas, com isso irei conseguir passar um bom tempo sobrevivendo. Antes de partir deixei minhas iniciais gravadas na porta de madeira, é uma boa deixar meu rastro por onde passar. Estava quase saindo, mas escutei ele murmurar algo, dei um suspiro profundo, preciso fazer isso… andei em direção do monstrengo pegando o facão que havia achado ali.
— Descanse em paz, amigo! — ralhei, acertando o seu crânio com força, fazendo o sangue espirrar na parede e os seus miolos caírem na cama. — Porra…
Sai de dentro da cabana, indo na direção da floresta, continuando meu caminho pela mata, em Londres o meu pai costumava me ensinar algumas coisas de sobrevivência já que vivíamos em uma parte afastada da civilização, mamãe chamava-o de Rambo era engraçadinho até, quando cheguei em King County meu irmão começou uma nova rotina comigo, Carl e Shane nos levando todos os sábados até a floresta para a acampar, apenas para manter a rotina que eu tinha antes, Rick fez de tudo para eu me adaptar…até quando eu decepcionei ele.
Sinto uma dor em meu peito ao lembrar de Carl — esteja bem meu garotinho — pensei, batendo meus dedos contra a coxa.
Depois de umas três horas caminhando, no meio da floresta acabei encontrando uma pequena caverna no meio da mata, bati uma vez esperando sair um daqueles comedores de carne, mas nenhum deles saiu, então assim que vi que não tinha nada, adentrei o lugar pequeno, sinto o ar praticamente sumir de meus pulmões, odeio claustrofobia. Ainda tinha suprimentos mas logo iria acabar, principalmente a água, talvez em uma ou duas semanas, então aproveitei para começar a anotar todos os alimentos que tinha, é importante manter uma lista.
Apoio minha cabeça na pedra observando o lugar com calma, aqui é um lugar isolado, bastante vantajoso, não sei o quanto me enfiei dentro do mato, mas aqui posso tentar montar uma base, tentar criar armadilhas para zumbis, se eu preciso sobreviver preciso ser mais esperta que os zumbis…e não precisa ser um gênio para tal ato.
Oii pimentinhas
Como estão?
@ AURZTWD 🌶️
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