Capítulo 18 - Traidorzinho
Longos minutos dirigindo, Seokjin recortou as ruas de Seul até chegar na rua da residência de Taehyung e Yoongi. Lá ele deixou o furgão estacionado na esquina e saiu procurando pelo consultório e a casa, que não foram nem um pouco difíceis de achar.
Era uma casa azul, sem jardim e sem muro, a luz da frente estava ligada e haviam vozes vindo de dentro. Seokjin olhou ao redor, ninguém estava passando pela rua e nem havia ninguém da vizinhança fora de casa, e com isso ele se aproximou sorrateiramente e se escondeu debaixo de uma janela, se mantendo quieto para escutar o que os residentes estavam falando.
Nisso, ele ouviu uma voz conhecida, era a voz de Taehyung, falando:
– ... e você não tem casa? Tá passando tanto tempo aqui que parece que se mudou pra cá!
– Eu passo tempo onde eu quiser – disse outra voz. – Os incomodados que se mudem, o Yoongi hyung não reclama.
– É claro, ele é caidinho por você!
Seokjin ouviu sons de passos se afastando e houve um momento de silêncio antes dos passos voltarem, até que o dono da outra voz voltou a dizer:
– E você não vai logo ver o seu namoradinho?
– Eu só estou esperando ele chegar. E por que tá tão preocupado? Você e Yoongi hyung têm alguma coisa pra fazer quando eu sair, por acaso?
– Ei! Que afirmação é essa?! – bradou uma terceira voz em algum lugar dentro da casa.
– Não é uma afirmação! É uma pergunta! – exclamou Taehyung de volta.
– E a resposta é não! – disse o dono da voz mais próxima. – Só quero saber quando você vai embora pra deixar de encher o meu saco.
Seokjin ouviu Taehyung dar uma risada eloquente.
– Não acredito! Você quem está na minha casa sem motivo e sou eu quem estou enchendo o seu saco? – ele riu outra vez. – Não é possível! Esse é o problema de deixar um vampiro entrar na sua casa, acha que é tudo dele e que tem o direito de mandar e desmandar...
O caçador escondido do lado de fora não conseguiu mais ouvir o resto da fala de Taehyung pois seus pensamentos começaram a falar mais alto e a adrenalina inibiu todos os sons ao seu redor. "Vampiro", ele havia ouvido certo, "vampiro". Não fazia sentido acreditar que Taehyung tinha falado aquela palavra de maneira arbitrária, metafórica, não era possível, não quando ele já tinha trocentas suspeitas a respeito daquelas pessoas, suspeitas essas que estavam se provando verdade, bem na sua frente.
Alguns segundos depois, após o choque da informação ter passado um pouco, ele ouviu a voz do "vampiro" – Jungkook – dizer:
– Ah, conta outra, tigrão. Ou melhor, como é que o Jimin te chama mesmo? Ah! Gatinho! – ele pronunciou a última palavra com uma voz fina e um tom exagerado.
Seokjin apenas se ocupou em ouvir uma pequena parte da briga física que claramente aconteceu entre eles depois dessa fala, antes de começar a refletir por alguns segundos, afinal, o que Jungkook quis dizer com "tigrão"? Bom, não foi preciso muito tempo para Seokjin deduzir o que aquilo significava.
Ele permaneceu em silêncio, sentado debaixo daquela janela como se estivesse paralizado, sua mente trabalhava de uma maneira tão introspectiva que ele mal viu o tempo se passar lá fora, não prestou mais atenção nas vozes de dentro da casa, vozes de bestas, agora ele sabia que eram. Em seus pensamentos, ele conseguiu concluir.
Um vampiro e, provavelmente, dois homens-tigre, Taehyung e seu companheiro Min Yoongi.
Mas o pior daquela conclusão não era aquela informação, não era saber que eles eram bestas, Seokjin sempre foi rodeado delas. O pior de tudo era pensar em Jimin, envolvido com eles, sabendo o que eles eram. Aquilo era possível? Era real mesmo? Não era um sonho?
Ou, no fundo, no fundo, ele estava tirando apenas conclusões precipitadas mesmo e enlouquecendo? Se deixando levar pelos ciúmes que já passavam dos limites?
Ele achou que estava sendo mais lúcido ao pensar desse jeito, mal sabendo que na verdade estava entrando em negação por sua descoberta. De repente, a luz de um farol o fez voltar a olhar para o mundo material onde ele estava, temendo ser descoberto por alguém, ele se pôs mais para o lado da casa e olhou para a rua, notando a aproximação de uma moto a qual ele conhecia muito bem. A Hyosung de Jimin.
O caçador observou seu assistente, seu amigo, o homem que ele amava, descendo do veículo que ele havia ajudado a comprar, estava bem arrumado, usando roupas pretas, uma jaqueta de couro e diversos acessórios prateados, sempre em seu estilo de garoto mau. Ele andou até a porta da casa e tocou a campainha, os barulhos da "briga" dentro da casa se aquietaram e logo a porta se abriu, Seokjin soube pois viu a luz de dentro invadir o lado de fora. Em seguida, ele ouviu a voz de Taehyung falar:
– Oi, amor! Como vai?
– Bem, e... o que aconteceu com você? – perguntou Jimin, sua voz fez uma ansiedade crescer no peito de Seokjin.
– Ah, nada de mais! Só estava tentando matar o Jungkook – quando ele disse isso, Jimin riu.
– De novo? – perguntou o tatuado.
– Jimin-ssi – a voz de Jungkook se aproximou da deles. – Vê se diz pro seu gatinho aí parar de ser tão birrento e de encher o meu saco, não faço nada pra ele e ele vem querer me provocar, então eu só devolvo.
– Eu não me meto em briga de bestas – Jimin disse, e o coração de Seokjin pulou mais uma vez. – Mas saiba, Jungkook, que apesar de não ser um caçador, eu já matei vampiros.
Uma espécie de "Uhh" foi ouvida por Seokjin de onde estava. Taehyung riu.
– Ha! Está vendo? Ele é o meu namorado, é lógico que iria me defender!
– Pois então vão pro inferno vocês dois! – exclamou Jungkook, Jimin e Taehyung riram, e o vampiro acabou não resistindo e rindo também. – Olha, vão logo pro encontro de vocês e tenham uma boa noite!
– É pra já! – falou Taehyung. – Deixaremos você à vontade com o Yoongi hyung.
Ele e Jimin saíram dando risadinhas travessas, se dirigiram até a moto e Seokjin assistiu Taehyung esfregar o pescoço no pescoço de Jimin depois que ambos subiram na Hyosung, tal como o comportamento de um felino. Agora ele sabia que, no fundo, sua desconfiança sobre a conduta daquele indivíduo nunca foi apenas uma paranóia, no fundo ele sabia.
Assim, ele continuou abaixado no lugar onde estava enquanto observava a besta felina abraçar a cintura de Jimin, o traidorzinho.
Como ele pôde?
A dúvida, o choque, a decepção e o ódio começaram a consumí-lo, aos poucos. Aquilo não podia ser real, não devia ser real, mas era. Depois de todos esses anos, depois de tudo o que se passou, depois de tudo o que ele fez por Jimin, ele simplesmente foi lá e o traiu, traiu toda a equipe, toda a família de caçadores que havia acolhido ele quando virou um órfão. Que tamanha ousadia!
Todas as emoções que se apoderaram dele naquele momento o cegaram a ponto dele quase não perceber que já estava correndo pela rua, em direção ao furgão da floricultura. Quando chegou, não fez nenhuma pausa antes de decidir ligar o veículo e dar partida.
No caminho, ele retomou aos pensamentos anteriores sobre Jimin e sua traição. O que faria a respeito? Mataria todos? E quanto a Jimin? O que faria dele?
Só mais alguns minutos pensando e seu olhar começou a se tornar enevoado, distante, sombrio. Só mais alguns minutos para ele sentir seu sangue ferver e seu peito se encher de ódio. Só mais alguns minutos e ele já havia concluído o que iria fazer.
Ele dirigiu o mais rápido que pôde de volta para casa, quando chegou, apenas desligou o motor do veículo, tirou as chaves, entrou dentro de casa e foi até o quarto onde guardavam as armas. Hoseok estava no banho e Namjoon estava no quarto.
Este último, porém, ouviu a movimentação, desceu até o patamar de baixo e quando chegou à sala, deu de cara com o líder, já de saída.
– Hyung? O que houve? – perguntou.
O mais velho não o respondeu de imediato, apenas ajustou sua roupa para encobrir a arma que estava debaixo de sua camisa. Após isso, ele olhou na direção da porta da casa e foi até ela, mas antes que abrisse, Namjoon segurou seu braço, o forçando a olhar para ele, e assim foi feito.
– Hyung, me conte o que está acontecendo, por favor.
– Eu só vou resolver uma coisa séria e importante, não se preocupe, posso fazer isso sozinho, mas não me espere voltar cedo.
– Mas você poderia por favor me dizer do que se trata essa coisa importante?
Seokjin não respondeu de imediato, gradualmente, um sorriso lúgubre com os lábios unidos se formou em seu rosto acompanhado de um olhar de mesma intensidade, então ele disse:
– É um assunto que se trata de bestas e uma traição.
Namjoon não conseguiu compreender sobre o que ele estava falando, também não questionou mais nada, tudo o que sabia é que a expressão que se formou no rosto do hyung o despertava perturbação. Após isso, Seokjin abriu a porta, se despediu dele e foi embora.
Entrando no furgão novamente, ele abriu o porta-luvas do carro e lá procurou por chaves que sempre deixava guardadas até achar o molho que estava procurando. Antes de partir, ele agradeceu mentalmente por ter uma cópia da chave de entrada do apartamento de Jimin, que havia resolvido tirar e deixar consigo para casos de emergência.
* * *
– Então vai mesmo passar a noite comigo? – Jimin perguntou a Taehyung quando chegaram no estacionamento do prédio em que ele morava.
– É lógico que vou – Taehyung respondeu enquanto o namorado estacionava a moto. – Já avisei ao Yoongi hyung que só vou aparecer em casa amanhã depois do trabalho.
Jimin soltou uma leve risada – Tá bem, gatinho.
Após isso, ele se aproximou e depositou um selinho nos lábios do mais alto. Eles saíram do estacionamento e, quando estavam prestes a entrar no edifício, Jimin se lembrou de algo.
– Ah! Tae – ele virou de frente para Taehyung. – O que acha de comprar aquele vinho outra vez pra nós bebermos hoje?
– Claro, vamos – o outro respondeu e então viu Jimin fazer uma expressão manhosa, como se quisesse pedir algo.
– Dava pra só você ir na conveniência mais perto e comprar? – ele perguntou e fez beicinho, Taehyung não resistiu em rir com aquilo.
– Mas não seria mais fácil irmos de moto, amor?
– Não fale como se fosse um grande desafio pra você! Você pode ir bem rápido e voltar bem rápido sem se cansar! – quando ele disse isso, o outro riu mais uma vez. – Além do mais, eu tô com preguiça de tirar a moto do estacionamento.
Taehyung balançou a cabeça negativamente enquanto ainda ria, depois soltou a mão dele.
– O que eu não faço por você... você é bem mimado pra um órfão, sabia?
Jimin deu de ombros, rindo – Se eu tiver quem me mime...
– Pois é, eu deveria parar – mas assim que disse isso, Taehyung procurou por sua carteira no bolso da calça e conferiu o dinheiro que tinha. – Certo, pode ir subindo, não demoro pra chegar.
– Esperarei, gatinho – disse Jimin, antes de se virar e adentrar a recepção do prédio.
Ele pegou o elevador e subiu até o andar onde morava, depois que chegou, andou pelo corredor até chegar em seu apartamento, quando então notou uma coisa estranha, havia um par de sapatos na frente da entrada.
Jimin não entendeu, estranhou, ficou vacilante, e algo dentro dele começou a lhe dar a impressão de que havia alguma coisa muito errada acontecendo, mas ainda assim ele pegou suas chaves para abrir a porta do apartamento, até que percebeu que ela não estava fazendo efeito pois a fechadura já estava aberta, estava fechada apenas com a maçaneta.
Começando a temer o que estava acontecendo, ou melhor, quem havia invadido sua casa, Jimin se pôs na defensiva enquanto abria a maçaneta. Seria um ladrão? Mas ao olhar para dentro da sala, ele não notou nada bagunçado ou fora do lugar, na verdade, a única anormalidade era a lâmpada de um abajur aceso, sem contar que a porta não apresentava nenhum sinal de violação, era como se alguém tivesse entrado normalmente, com chaves, mas como? Ninguém possuía a chave de sua casa senão ele mesmo.
Quando ele havia decidido entrar na residência, assim que colocou os pés para dentro, ouviu a voz de seu pai dizer distante, no fundo de sua mente:
– ...Jimin-ah...
– Appa? – ele indagou, sussurrando. – O que foi?
O ancestral demorou alguns segundos para se manifestar, dizendo:
– ...Corra...
– Correr? Mas, por quê? Tem alguém na minha casa...
– ...Corra...! – a voz de seu pai disse novamente.
– Mas eu não posso deixar a minha casa sozinha com um invasor...
Jimin não tornou a ouvir a voz do seu pai, após essa situação, ele caminhou mais para dentro da sala para averiguar o que estava acontecendo de fato, até que quase teve um sobressalto quando uma presença se manifestou, saindo da escuridão da entrada da cozinha e aparecendo sob a luz do abajur. Era Seokjin, vestido em roupas pretas e encarando ele de maneira cortante.
Esboçando uma expressão confusa, Jimin tombou a cabeça para o lado e perguntou:
– ... Jin hyung?
– Olá, Jimin – disse o mais velho enquanto repousava as costas na parede. – Boa noite.
– Boa noite... o que... o que está fazendo aqui? – de repente, ele se lembrou que Seokjin possuía uma cópia da chave de seu apartamento e por isso conseguiu entrar. – Houve alguma emergência?
– Sim, houve – ele posicionou a própria mão esquerda na frente do corpo apenas para olhá-la, Jimin percebeu que ele usava luvas.
– Bom... e qual é?
O caçador olhou para ele novamente, se desencostou da parede, respirou e disse:
– Eu vim aqui resolver essa história sobre você e a besta com quem você anda transando.
Jimin sentiu seu estômago congelar quando ouviu aquilo. "A besta com quem você anda transando", então ele havia descoberto a verdade sobre Taehyung?
Não podia ser possível.
– Do que... você tá falando, hyung? – ele tentou esboçar uma expressão confusa, mesmo que no fundo soubesse que já não adiantava.
– Jimin, não vamos atrasar as coisas, vamos adiantar, ir direto ao ponto, à verdade. Você sabe do que eu estou falando, estou falando do seu namorado e da raça dele – Seokjin andava de um lado para o outro de forma calma, com as mãos enfiadas nos bolsos, mas então parou e o encarou. – Jimin, eu já sei que o Taehyung não é um ser humano, eu já descobri que ele é uma besta.
Jimin já conseguia ouvir seu coração batendo aceleradamente e bombeando sangue até seu cérebro, um pavor se instalou entre seu peito e seu estômago.
– ... Como? – ele indagou em um tom de voz baixo e falho, quase como um sussurro.
Seokjin deu uma risada para dentro - Jimin, eu sou um caçador, mais que isso, sou um caçador líder. Acha que em nenhum momento eu iria desconfiar de algo? E quando desconfiasse não iria atrás? Nem descobriria?
O mais novo se encontrava petrificado, sentia que não conseguia ir para trás nem para frente. Sua visão parecia que iria embaçar e no fundo de sua cabeça iniciava-se um zumbido. O que ele mais temia estava acontecendo.
Seokjin por sua vez olhou para baixo, balançou a cabeça negativamente e soltou ar pelo nariz como se achasse graça, antes de dizer:
– Sabe, eu achava que você era inteligente... na verdade, ainda acredito que você é, mas teve preguiça de usar a inteligência que tem – ele voltou a fitá-lo. – Eu nem sei dizer onde você foi mais tolo, se foi em manter um caso com um monstro debaixo do meu nariz achando que eu não iria descobrir, ou em fazer esse caso existir, pra começo de conversa – ele deu um passo à frente, Jimin não se moveu. – Como pôde, Park Jimin? O que deu na sua cabeça?
Jimin abriu a boca, procurou pela própria voz, mas ela não apareceu, em meio a isso, Seokjin respirou fundo e continuou a falar:
– Tudo bem, a sua vida é sua, você tem o direito de fazer o que quiser estando nela – ele deu um passo para trás. – Mas com isso você também tem o direito de sofrer as consequências dos seus atos.
– Hyung... – Jimin finalmente falou, apresentando um tom nítido de nervosismo, mas não continuou a fala pois o mais velho o interrompeu.
– É realmente uma pena que, depois de tudo o que aconteceu na sua vida, depois de ter perdido a sua família inteira por causa das bestas, depois de ter passado todos os anos de sua vida aprendendo sobre elas e lutando contra elas, você tenha se entregado ao mundo delas sem mais nem menos, por causa de um homem-tigre bonitão – Seokjin gargalhou. – Isso só pode ser uma piada, Park Jimin.
– Hyung, as coisas não são do jeito que você pensa – Jimin arriscou, gastando toda a coragem que possuía. –, nem todas as bestas são monstros sem alma, o Taehyung nunca fez mal a ninguém, outras bestas que eu conheci também não são más. Eles são como nós, humanos, muitos têm maldade dentro de si, mas outros são apenas pessoas boas vivendo suas vidas normalmente, assim como existem humanos bons e ruins...
– Isso é ridículo Jimin! – Seokjin exclamou. – Que discurso mais tolo! Será que os desenhos animados que você assiste afetaram a sua visão de mundo? Monstros são monstros! São seres amaldiçoados que levam maldição a todos ao seu redor, ou vai me dizer que as bestas com quem você ficou de amizade não sentem fome? Não sentem sede? Não sentem vontade de matar quando os instintos pedem?
Se sentindo acanhado, Jimin permaneceu um tempo em silêncio e quando ia responder, o caçador continuou a falar:
– Está vendo? Seu silêncio já diz tudo.
– Não é como se eles tivessem escolha, hyung, eles são vítimas de maldições. Lógico, alguns gostam disso, mas há outros que simplesmente não têm o que fazer, eles não querem, mas precisam agir como os instintos mandam, são reféns disso.
– Então eles são mais vítimas que as vítimas que eles fazem? – Seokjin perguntou, e Jimin se calou outra vez, então o mais velho balançou a cabeça negativamente. – É, realmente, você está passando para o lado deles, está se tornando um deles, não seu corpo físico, mas a sua mente e a sua alma – ele olhou para as mãos, ajustando suas luvas. – Mas antes que você mude de vez para o lado deles, Jimin, você bem sabe que eu sou um caçador, minha missão é caçar e matar bestas...
Jimin voltou a respirar pesadamente e o pânico tornou a reinar em seu interior enquanto ele ouvia Seokjin, mas ainda não saía do lugar onde estava.
– ... E já que perder sua família para uma matilha de lobisomens não foi o suficiente para lhe convencer de não ser como eles, então não acho que exista nada mais justo do que você ter o mesmo fim que um deles teria...
E foi dizendo isso que ele levantou parte de sua camisa e revelou o revólver que guardava por ali, Jimin engoliu seco, quase sentindo seus pés e suas mãos ficarem dormentes do pânico que estava sentindo, ele ainda deu um passo para trás enquanto o caçador pegava a arma e apontava para ele, dizendo com um olhar tenebroso e um tom de voz grave e pesado:
– Morra como um monstro, Park Jimin, seu traidorzinho de merda!
– NÃO! – Jimin gritou quando ouviu o barulho do gatilho, automaticamente se afastando para trás e colocando as mãos na frente do corpo, como um reflexo.
Ao se afastar abruptamente, ele acabou pendendo e caindo no chão, sentando. Não sentiu nenhum tiro lhe atingir e nem ouviu a explosão do disparo propriamente dito, a única coisa que sentiu foi como se uma energia tivesse saído de dentro dele, provavelmente a adrenalina causada pela situação. No entanto, quando se deu conta de que já haviam se passado alguns segundos e nada mais tinha acontecido, ele tirou as mãos de frente da face e olhou para a frente, notando um Seokjin caído no chão, encostado na parede, com uma mão sobre a própria nuca.
O mais novo se levantou para observar melhor o que havia acontecido, seu hyung apresentava uma expressão de dor que, aos poucos, foi se desfazendo e se transformando em uma expressão totalmente neutra. Seokjin não se moveu mais, ficou deitado, largado, como se dormisse, e Jimin sentiu um gelo no estômago. O que havia acontecido?
Ele logo soube quando seu sexto sentido o mandou olhar para as próprias mãos e então sentiu que elas estavam quentes, foi quando se lembrou do que era, que era um bruxo e estava despertando seus poderes, havia atingido Seokjin com eles e o jogado para a parede, por isso sentiu aquela energia saindo de dentro de si.
Mas quanto ao caçador? Havia matado ele com a pancada? Pensar nisso fez Jimin se apavorar, todavia, ele arriscou se aproximar, se abaixar perto do outro e checar seu pulso esticado, estava batendo, ele não estava morto e sim desmaiado.
Com isso o Park se levantou e se afastou lentamente, sem tirar os olhos de Seokjin, mas, em seguida, se pôs a procurar pelo revólver que o mais velho havia trazido, não demorou para ver que estava ao lado dele. Jimin chegou perto outra vez, se abaixou e pegou a arma, mas antes que se levantasse, tomou um susto quando viu Seokjin voltar a mexer o rosto, com isso, ele se levantou e se pôs na frente dele, apontando a arma.
Seokjin finalmente havia aberto os olhos, mas não havia recobrado a consciência, de qualquer forma, Jimin continuou a apontar o revólver na direção dele, tenso. Foi quando ouviu uma voz conhecida falar com ele, voz essa que o fez olhar para trás imediatamente enquanto seu coração pulava no peito.
– Jimin?
Quando ele olhou, viu Taehyung o observando assustado na entrada da casa, o homem-tigre olhava de Jimin para Seokjin, sem entender nada do que estava se passando. O mais baixo não resistiu em andar na direção do namorado, porém sempre tentando manter o olhar em Seokjin para que ele não escapasse.
– Tae...
– O que tá acontecendo? – Taehyung perguntou em um tom que fez Jimin suspirar e se virar completamente para ele, ignorando o caçador morimbundo.
– O Jin hyung ele... ele sabe de tudo.
– O-O quê?
– Ele sabe de tudo sobre nós, sobre você, quem você é, ele descobriu.
Ele assistiu Taehyung engolir em seco e depois olhar na direção do mais velho, que ainda estava largado no chão, tentando assimilar tudo. Depois que o felino voltou a olhar para ele, ele continuou:
– Ele veio até aqui e... – Jimin levantou um pouco a mão onde segurava o revólver para que Taehyung visse. – Ele tentou me matar, mas por sorte eu usei os meus poderes pra afastar ele e peguei a arma dele, eu... eu juro que não queria fazer mais nada, só estava pensando em como me defender.
Sua voz foi se tornando mais fina e embargada à medida que ele falava até não conseguir falar mas nada, todo o pânico de quase ter sido assassinado por uma das pessoas mais importantes da sua vida estava começando a cair sobre ele. Seu nariz se tornou vermelho, lágrimas vieram-lhe aos olhos e ele não conseguiu evitar o choro, instantaneamente Taehyung o envolveu com os braços, tentando acalmá-lo, nunca havia visto ele chorar e isso o deixava mais nervoso do que já estava. Enquanto o abraçava, ele levou os lábios para perto do ouvido dele e começou a dizer:
– Tudo bem, amor, eu tô aqui com você, fica calmo, você não está só...
Os dois haviam até se esquecido de Seokjin naquele momento, só lembraram quando o barulho de passos fortes chamou a atenção de ambos para o ambiente ao redor, então notaram que o caçador já não estava mais entre eles e os passos estavam na direção do quarto.
Jimin engoliu o choro e os dois foram até o cômodo para ir atrás do outro, Jimin com o revólver em mãos e Taehyung apresentando olhos felinos e ferozes, pronto para se transformar caso fosse preciso, mas quando eles chegaram no quarto encontraram-o vazio e com a janela aberta.
Foram imediatamente até a janela, onde havia a escada de incêndio, e então viram Seokjin descendo-a. Ele parou na metade e olhou para cima quando notou que eles estavam o observando, Taehyung o lançou o olhar mais mortal que já havia feito em sua vida, e ele, de início, sentiu medo, porém logo em seguida o fitou quase na mesma intensidade, como se fizesse uma ameaça, então continuou descendo.
– Eu consigo alcançá-lo – disse o felino a Jimin. – Quer que eu vá atrás dele?
– Não... – Jimin respondeu em um tom de voz baixo e quase falho, fazendo Taehyung olhar para ele e notar que sua expressão tornava-se de choro novamente. – Não me deixe sozinho...
O de olhos claros abraçou-o imediatamente, apertando-o contra seu corpo, deslizando os dedos sobre os cabelos dele, sentindo a parte de sua camisa que estava sobre o ombro ficar molhada e os soluços do namorado vibrarem no lugar. Ele ficou repetindo para ele que estava ali por perto e que o perigo já havia passado mesmo que, no fundo, soubesse que aquilo era só o começo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top