Capítulo 03 - Flores, aromas e kimchi
Eram oito e vinte e cinco da manhã quando Jimin chegou em sua moto à floricultura The Kim's no dia seguinte, era um lugarzinho modesto, com grandes vitrines e uma fachada branca com a logo minimalista na cor verde, bastante simples até por dentro e possuindo duas finalidades.
A primeira era bem óbvia, cultivar e vender flores e outras plantas até para o próprio sustento da "família" de caçadores, já a segunda era mais incógnita. Assim como qualquer loja, a floricultura possuía um estoque, que além de armazenar sementes de plantas e flores também era usado para guardar armas e utensílios de caça, esses que em poucas vezes eram retirados quando a inspeção resolvia fazer uma visita e colocados no furgão, mas nada muito complicado, afinal, quem iria desconfiar de simples floristas retirando "mercadorias" encaixotadas de dentro do estoque, não é mesmo?
Jimin estava usando uma camisa sem mangas branca, revelando quase todas suas tatuagens, também uma bermuda jeans rasgada e folgada e coturno. Ele deixou a Hyosung estacionada, retirou o capacete e correu seus dedos pelos cabelos, logo depois se dirigiu à porta do estabelecimento para abrí-lo, ele sempre era o primeiro a chegar para abrir e ir organizando as atividades do dia, pois além de funcionário ele também era gerente.
Aos poucos foram chegando os outros, era um lugar pequeno, portanto só ele, Namjoon, Hoseok e uma prima de Seokjin chamada Yongsun (que não era caçadora, mas apoiava o trabalho da família) eram o suficiente para dar conta de tudo, depois de um bom tempo as coisas já andava nos devidos conformes.
Enquanto isso Jimin aproveitava para ouvir um pouco de música enquanto podava roseiras, ele não considerava seu trabalho cansativo, pelo contrário, a única coisa que ele tinha por trabalho sério e com exigências eram as caçadas noturnas, lidar com a floricultura era mais como um momento de relaxar, o ambiente colorido e os perfumes eram para ele como uma terapia e por isso ele sempre atendia a todos os tipos de pessoas que apareciam por lá com um sorriso no rosto.
Só que naquela manhã não, ele até estava tentando ser dedicado e produtivo como sempre, porém se sentia um pouco molenga, sonolento e até impaciente, isso devido ao fato de ter passado a noite em claro depois de deixar o bar na noite anterior. Não havia conseguido dormir, por mais que tentasse, ele não conseguia deixar de sentir o calor das mãos de Taehyung segurando seu rosto e dos seus lábios e sua língua beijando ele como se não houvesse amanhã e, logo depois, sentir o gosto terrível da culpa nela, como Seokjin reagiria se descobrisse que ele havia beijado uma besta e gostado - e demais? E o pior de tudo, havia dito a ele o endereço de onde trabalhava e o horário que largava, dando-o liberdade para encontrá-lo outra vez.
Mas já cansado desses pensamentos que o perturbaram durante a noite e tiraram seu sono, ele tentou ignorar e jogá-los de lado, pelo menos enquanto estivesse trabalhando, depois das flores, ele se encostou do lado de uma prateleira de cactos, apontou um pequeno espelho para o seu rosto que continha uma leve maquiagem para disfarçar a cara de sono, pegou um lip balm de frutas vermelhas e começou a passar em seus lábios fartos.
Até então o sino da entrada da loja tocar e ele sentir um arrepio misterioso percorrer sua espinha, ele costumava ter esses arrepios somente diante de uma situação. Antes mesmo que ele pudesse terminar de passar seu lip balm e procurar a pessoa, ou melhor, a criatura que havia entrado na loja, ouviu uma voz grave dizer bem na sua frente:
– Bom dia, gracinha.
Jimin elevou seus olhos do espelho para a frente, já dando de cara com um certo rapaz alto, de cabelos escuros repartidos no meio e olhos verdes e felinos que os encaravam profundamente.
Não é possível...
Mas mesmo que uma ponta de irritação tivesse o atingido, ao mesmo tempo uma sensação de felicidade brotou em seu peito, só que ele a detestava, como poderia estar sentindo aquilo por ele? Por que Taehyung o deixava tão confuso até sobre suas próprias ações?
Por sorte, ele possuía um grande controle delas, não conseguia deixar as emoções de lado, mas a vontade que seu corpo tinha de agir de acordo com elas sim, ele o olhou, estudou-o de cima a baixo involuntariamente, vendo que vestia uma camisa preta e uma calça bege e folgada, abaixou o espelho, respirou e respondeu enquanto tampava o lip balm:
– Bom dia, chegou cedo – o mais baixo passou por ele e andou em direção ao caixa. – Eu disse que o meu horário de saída eram às cinco e meia.
– Sim, e eu me lembro disso, eu só vim pra te desejar bom dia – afirmou o mais alto, acompanhando-o e o observando rodear o caixa e se sentar em sua cadeira.
– Hmm, quanta gentileza – Jimin comentou guardando seus pertences, evitava contato visual com o felino pois sabia que dificultaria em sua atuação.
Taehyung precisou dar espaço a uma moça de cabelos curtos e de óculos que trazia consigo duas suculentas em dois vasos até o caixa passar para pagar pelas plantas.
– Só essas duas mesmo? – perguntou o moreno tatuado contando o dinheiro.
– Sim – respondeu a mulher. – Ah, e não tem problema em pôr elas na janela do meu quarto?
– Nem um problema – ele respondeu pondo o dinheiro no caixa e procurando o troco, por alguns segundos a moça lançou um olhar desconfiado para a sua tatuagem de adaga. – O sol é importante pra elas que são plantas desérticas, só tenha cuidado com a chuva, umidade demais acaba com elas...
Se Jimin arriscasse desviar os olhos do troco e olhasse à esquerda da moça, encontraria um Taehyung com pupilas redondas e um olhar de total admiração ao vê-lo explicando sobre as plantas, como ele conseguia ser tão atraente apenas falando sobre aquilo?
– Está bem, obrigada – a mulher disse enquanto recebia o troco, mesmo que permanecesse com um olhar de julgamento para a tatuagem de flor de lótus na mão do Park.
– Eu que agradeço – Jimin sorriu e ela também deu um sorriso falso antes de sair com as plantas.
Ele relaxou seus músculos e ousou estalar o pescoço, estava meio tenso por não ter dormido, logo depois finalmente olhou no rosto de Taehyung e deu um sorriso de canto.
– Rosas vermelhas? – perguntou-o, pegando uma dessas flores que se encontravam em um jarro no balcão, próximo de si. – Eu costumo dizer que o vermelho delas é capaz de transmitir muito bem as vibrações e o calor veranil, e já que o verão está acabando, o que acha de levar um pedacinho dele pra casa? – depois de perguntar, Jimin pôs o caule da rosa entre seus dentes e se debruçou no balcão.
Se Taehyung também não fosse um bom controlador de seus impulsos físicos, ele com certeza deixaria um suspiro de desejo escapar entre seus lábios com aquilo, mas uma vez estando sob controle, sob controle permaneceu, inclinou-se para frente, apoiou suas mãos no balcão e disse olhando nos olhos dele:
– Pra ser mais exato, eu tô afim de outra coisa calorosa, que tal essa rosa passar da sua boca pra minha?
Ele até aproximou o rosto do dele um pouco mais, mas Jimin afastou o seu rindo e pôs sua mão no peitoral do moço enquanto tirava a rosa da boca.
– Nada disso gatinho, eu tô trabalhando agora – além desse motivo, Jimin também não queria em hipótese alguma deixá-lo o beijar, isso iria pôr tudo por água a baixo.
Taehyung riu baixo com voz grave (mais que o lhe era de costume) e se afastou novamente.
– Está bem, nesse caso eu fico só com as rosas.
– Vai mesmo? – Jimin apoiou um cotovelo no balcão e encostou seu rosto sobre a mão enquanto Taehyung assentia. – Quantas? – perguntou voltando a se afastar para mais perto das rosas.
– Umas cinco, só pra colocar na minha janela.
Enquanto Jimin separava as outras quatro, Taehyung pegou a primeira que ele havia pegado, cheirou e logo depois comentou:
– Não dizem que o vermelho dessas rosas significa paixão ou amor intenso?
Jimin voltou seu rosto e seu olhar para ele, deu uma olhada na flor que segurava e respondeu com tranquilidade, continuando com o trabalho:
– Na verdade, rosas vermelhas na linguagem das flores da era vitoriana significam beleza, mas essa outra definição também serve... aqui – ele entregou as rosas ao Kim.
– Obrigado gracinha – disse.
– Eu que agradeço – Jimin sorriu simplista.
Taehyung pagou pelas flores, depois aspirou o cheiro delas novamente, umideceu os lábios e olhou para ele.
– É um perfume maravilhoso, mas se eu pudesse eu levava um melhor pra casa – cantou-o, levando seu dedo indicador ao queixo do mesmo, que riu.
– Eu costumo usar de frutas cítricas ou frutas vermelhas... – comentou Jimin em tom ingênuo.
– Não é desse tipo de perfume que eu tô falando gracinha – Taehyung sorriu, Jimin não podia evitar de sorrir quando ele o fazia. – Cada pessoa tem um cheiro único e diferente.
– E você sente o meu? – perguntou o Park, depois riu com certo deboche quando ele assentiu e correu uma mão pelos cabelos, olhando para o lado pois Namjoon saía do estoque. – Que olfato avançado o seu...
– Eu tenho umas habilidades meio especiais – comentou o Kim, Jimin entendeu a referência e deu um sorriso de canto.
– É claro que tem...
– Muito bem, eu vou indo agora – anunciou Taehyung antes de segurar a mão dele com a tatuagem de flor de lótus. – Às cinco e meia?
– É... às cinco e meia... – respondeu-o, mesmo com certo receio, acontece que era difícil pensar em alguma desculpa olhando para aquela infinidade verde dos olhos do Kim.
Taehyung elevou a mão dele, beijou seu dorso como despedida e saiu, Jimin não conseguia tirar seus olhos dele enquanto esse não passava pela porta e sumia pelo lado esquerdo da calçada envolto em sua energia verde esmeralda, depois olhou para a própria mão, ainda sentindo como se aqueles lábios macios estivessem selados nela e ficou a observá-la por instantes com um olhar brilhante.
– Admirando a própria tatuagem, Jimin? – questionou uma voz feminina, Jimin olhou para a esquerda e avistou a moça loira usando blazer e calça social que era Yongsun.
– Solar noona! – ele a chamou pelo seu apelido, motivo de seus cabelos serem tingidos de loiro, e se levantou.
– Me desculpe o atraso, eu esqueci de colocar o despertador pra tocar – ela olhou ao redor. – Seokjin não está? Então vamos fingir que nada aconteceu!
– Trouxe kimchi? – perguntou o rapaz imediatamente, olhando para a bolsa da mais velha.
– Trouxe... mas não vou dividir com você.
– Por quê? – fez beicinho, Yongsun riu.
– Porque você quase não deixa nada pra mim, bebezão tatuado – a moça, que era mais baixa, se pôs na ponta dos pés para agitar os cabelos dele.
– Tudo bem – Jimin deu de ombros e se sentou novamente, Namjoon voltou de onde havia ido e nesse momento o Park resolveu se aproveitar. – Hmm, será que eu devia falar pro Seokjin hyung sobre o atraso da noona, hyung? – perguntou ao mais velho.
Namjoon parou onde estava, ele usava uma calça folgada com um casaco amarrado na cintura e uma camisa marrom, olhou de um para o outro em revezamento com o olhar um tanto perdido e indagou:
– Atraso? Eu... eu não sei...
Yongsun fuzilou Jimin com os olhos, e Jimin, despreocupado, relaxou os músculos na cadeira e continuou:
– Deixa pra lá. Aah, mudando de assunto, um kimchi me cairia tão bem agora...
Logo em seguida a moça, entendendo do que se tratava, fechou os olhos, respirou fundo, abriu a bolsa, pegou uma caixinha de isopor e a pôs em cima do balcão, logo depois apontou com o dedo indicador no rosto do moço, dizendo:
– Não vai ficar assim, Park, o karma há de vir.
– Não se preocupe noona, eu deixo um pouquinho pra você – provocou-a e riu, Yongsun preferiu apenas se virar e dizer antes de sair para seu serviço:
– Não precisa, pode comer tudo... tomara tenha uma indigestão – falou a última frase em tom baixo, porém Jimin escutou e se pôs a rir, Namjoon não resistiu em fazer o mesmo.
* * *
Cinco e meia da tarde e a floricultura já fechava suas portas, certamente o motivo de fecharem cedo se dava por conta das caçadas, os caçadores e Jimin se davam um tempo para descansar, jantar e se preparar para mais uma noite, que começava às oito e só terminava quando tudo já parecia mais calmo na região ou bairro que escolhiam para rondar, porém naquela noite estavam de folga.
O moreno tatuado deixou o estabelecimento com satisfação e tranquilidade como era costume, despediu-se dos companheiros (lançando um tom desdenhoso para Yongsun pelo episódio do kimchi) e andou até sua moto, por alguns segundos, antes de montar nela, se lembrou de Taehyung e do que ele disse mais cedo, resolveu olhar ao redor, mas nada foi avistado, então, aliviado, continuou com o que pretendia fazer.
Sendo que assim que se sentou no banco da moto, sentiu novamente aquele arrepio, nesse momento rolou os olhos para cima e deu com a testa no dorso da própria mão, que estava no guidão, antes mesmo de ouvir aquela voz falar atrás de si:
– ... Achei que eu ia me atrasar mas acertei a hora...
Ainda com o rosto sobre a mão, enquanto sua consciência se alarmava mais uma vez de que tudo estava saindo errado, um pequeno sorriso sem mostrar dentes acabou desabrochando no seu rosto quando ele ouviu a voz de Taehyung, depois mordeu seu lábio inferior e finalmente olhou para o lado sem deixar de se debruçar no guidão, visualizando a besta.
– Olha, ele veio mesmo – disse com um olhar e um sorriso pacífico.
– Não me esperava? – perguntou o mais alto com um sorriso de canto.
– Não... – ele respondeu de forma curta, estava tentando seguir sua consciência.
– Nossa – disse Taehyung surpreso e logo depois se aproximou. – E por que eu iria descumprir com a palavra de vir?
– Não disse que você descumpriria, só não tinha certeza se você iria poder vir – Jimin respondeu se posicionando da forma correta.
– É, mas eu pude – o felino se pôs na frente da moto e dele e apoiou o cotovelo no guidon. – E então, pra onde pretende ir?
– Hmm... – Jimin fingiu pensar. – Casa!
– Hum, casa? – Taehyung lançou uma expressão intrigada e riu soprado, Jimin fez que sim com a cabeça. – Tão cedo? Não me diga que eu vim até aqui só olhar pro seu rosto, por mais que só isso já seja gratificante.
Às vezes, Jimin sentia vontade de rir com certos gracejos da parte de Taehyung.
– Oh – fez ele com falsa inocência e deu de ombros. – Como eu iria advinhar, não é mesmo?
Estava prestes a ligar a moto, até do nada sentir as mãos grandes do felino envolverem novamente a sua na qual se encontrava a flor de lótus, se vendo obrigado a olhar para ele e logo sendo pêgo de surpresa por um par de olhos grandes e melancólicos, acompanhados de um beicinho nos lábios do rosto no qual se encontravam.
Ele... tá imitando o Gato de Botas do Shrek?
– O que foi que eu fiz de errado? – perguntou Taehyung.
– O-O que? – Jimin se sentia embaraçado olhando para os olhos dele daquele jeito. – Não, você não fez nada...
– Então por que você tá tão frio? Me diga, você... é você mesmo? Você por acaso não tem um gêmeo e está me enganando, não é? – quando ele perguntou isso, Jimin fez menção de rir.
– Não, não, eu te garanto que não existe nenhuma cópia de mim por aí, eu sou eu mesmo.
– Hum, eu só acredito que é você mesmo com a prova.
– E qual seria essa prova? – Jimin perguntou enquanto tomava o capacete em mãos.
Taehyung olhou para os dois lados, viu que mesmo em uma rua geralmente movimentada, naquele momento não havia muita gente, então deu de ombros, dizendo:
– Se me permite.
Jimin nem teve chance de pelo menos advinhar o que ele queria dizer, quando menos percebeu, seus lábios já haviam sido juntados e agora já era tarde, Taehyung havia feito a única coisa que o deixava entregue, beijou ele. E lá ele estava, derretido como manteiga no calor da língua do mais alto, o beijo durou pouco tempo por estarem em público, mas foi o suficiente para despertar aquelas sensações de outrora, sensações essas que fizeram Jimin relembrar do motivo pelo qual queria reencontrar Taehyung e por isso não o entregou aos caçadores na noite passada. Ao término do ato, Taehyung voltou à sua posição inicial, deslizou o polegar no lábio inferior como se o limpasse e sorrindo, disse:
– Sim, é você mesmo.
Na verdade, ele nunca desconfiou de que Jimin fosse uma farsa ou coisa do tipo, sabia que era ele mesmo por conta do seu cheiro e havia o beijado somente para saber se ele continuava a mesma pessoa da noite anterior, concluindo logo depois que sim.
– ... De qualquer jeito, me desculpe, vou parar de encher o seu saco, você deve tá cansado né?
Mas do que adiantava ele dizer aquilo, falar que iria embora se já havia conseguido fazer o rapaz mudar de idéia? Jimin se perguntou se Taehyung sabia o poder que aquele beijo tinha sobre ele e se estava dizendo aquelas palavras por pura cara de pau mesmo.
– ... Quem sabe se eu voltar aqui outro dia nós podemos sair juntos – continuava ele, ainda segurado na mão do Park, depois a elevou como mais cedo, mais uma vez beijou ela para se despedir e se virou, começando a andar.
Tigre maldito...
Jimin suspirou vendo ele caminhar para longe, correu a mão nos cabelos novamente, encaixou o capacete na cabeça, ligou a moto e deu um soco na sua consciência quando ao invés de ir para casa, dirigiu na direção de Taehyung, igualou-se com ele, que o olhou, e então disse:
– Ei gatinho, sobe aí – apontou os olhos para o espaço livre do banco atrás de si.
Taehyung sorriu com satisfação e sem pensar duas vezes, subiu na garupa, abraçando a cintura do Park.
– Pra onde vamos? – esse o perguntou.
– Pra onde você quiser – Taehyung respondeu.
Jimin pensou por alguns bons segundos, depois ajustou-se na posição de pilotar a moto e deu partida, sem revelar nada a ele, deixando novamente o mistério no ar aguçar sua curiosidade.
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