8 | "Foi um rebuliço"



"Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro". (Fernando Sabino - O Encontro Marcado)

<><><><><>

A tempestade se aproximava enquanto eu fitava o horizonte além do abismo aos meus pés. Eu não sabia como tinha chegado ali, de onde tinha vindo ou para onde estava indo, mas fui impedido de seguir pela enorme e profunda ravina que me separava do outro lado. As nuvens, carregadas de eletricidade, estavam expressando toda sua raiva através dos raios e trovões, a ventania começava a soprar com muita intensidade. Em umas das rajadas de vento eu caí no precipício, achei que toda a minha esperança tinha acabado e não havia mais jeito, até que senti a mão de Henry me alcançar e segurar-me pelo braço. Ele tentava me puxar, gritando de desespero para que eu não caísse, e eu me segurava com tanta força que meus dedos estavam começando a adormecer.

Olhei para baixo e vi o abismo se tornar mais profundo, perdendo o fundo de vista, o que me deu a sensação de que eu iria cair eternamente sem alcançar nenhuma superfície. Henry já estava ficando sem forças, mas numa última tentativa ele começou a me puxar enquanto as veias de seu braço saltavam, indicando a força sem medida que ele estava usando. Eu já havia conseguido me apoiar em uma pedra firme na parede de terra, eu estava conseguindo subir, eu ia conseguir me salvar.

Mas num instante um bando de pássaros de penas azul-escuro, quase preto, começaram a nos rondar, eu jurava que dava para escutá-los sussurrando palavras confusas e soltas. As criaturas voavam baixo e começaram a passar em nossa frente, meu maior ponto de segurança ainda era a mão de Henry me segurando, que foi bicada por um dos pássaros furiosos. Porém, Henry aguentou e não me soltou, mesmo com a sua mão esvaindo sangue. Eu sentia o líquido vermelho escorrer pelo meu braço, quente e viscoso, passando pelo meu ombro e encharcando meu peito.

As criaturas aladas estavam se revoltando cada vez mais, arrancando pedaços meus e de Henry sem piedade, mas nós resistíamos e nos mantínhamos firmes, tirando forças sem saber de onde, apenas suportando. Banhado em sangue, eu não enxergava mais nada, só sentia aquela mão me segurando, o bolo na garganta parecia me sufocar, a tempestade continuava a se aproximar, o caos me consumindo. Até que uma das aves deu o último golpe, arrancando um dos dedos de Henry, fazendo com que ele me soltasse e gritasse de dor física e emocional.

E eu caí, aceitando o meu destino, despencando sem saber quando iria ser parado, o vento secando todo o sangue que estava grudado na minha pele. O chão não me deixava senti-lo, ia se abrindo para a minha passagem e a agonia da queda com a ansiedade presa na garganta, as feridas abertas sangrando, a dor de nunca mais ver Henry, tudo isso culminou no meu despertar. A fronha do travesseiro estava embebida de suor, eu levantei de repente, assustado, e respirei fundo, me certificando de que eu realmente estaria no meu quarto.

Pisquei os olhos algumas vezes e as cenas ainda estavam muito presentes. Meu coração batia como um cavalo galopante, num ritmo acelerado que estava me incomodando. Henry dormia sereno ao meu lado, continuou com a sua respiração leve e tranquila. Levantei da cama e desci as escadas para tomar um copo com água na cozinha. Como eu já morava na casa há muito tempo, conseguia andar sem nenhuma luz, pois já havia decorado os caminhos, somente a luz da lua fazia algumas sombras dentro dos cômodos.

Ao fechar a geladeira, o copo de água na mão, senti um frio na espinha, a nuca arrepiou. Eu olhei ao redor, mas não enxergava muita coisa no escuro. "Henry?" indaguei para o nada, sem obter resposta, mas eu sabia que tinha alguém ali, eu conseguia ouvir sua respiração, mesmo que bem baixinho. Peguei uma das facas dispostas no suporte em cima do balcão e a estendi na minha frente. Resolvi abrir a geladeira para ter qualquer luz, já que o interruptor estava longe, mas não enxerguei ninguém, mesmo ainda sentindo uma presença.

A faca tremia junto com a minha mão, mas fui andando devagar, até alcançar o interruptor e ligar a luz. Rapidamente golpeei a figura que estava na minha frente, sem sucesso, visto sua esquiva.

— HEY! Sou eu! — Henry estava pálido e sem entender o que estava acontecendo.

— Me desculpe, achei que fosse um ladrão, a luz embaralhou minhas vistas — suspirei aliviado e me sentei na banqueta. Mesmo sem ver meu reflexo, tenho certeza que meus olhos estavam arregalados.

— O que houve? Acordei com o barulho aqui embaixo, quando passei pela porta do quarto ouvi você chamar meu nome, mas estava tudo escuro.

— Tive um sonho muito estranho e desci pra tomar uma água, essa coisa de ficar sem trabalho está me deixando maluco — desabafei.

— Eu também estou preocupado. Espero que encontremos uma solução, mas seria o caso de pensar em outras carreiras?

— Como assim?

— Poderíamos entrar para os bastidores. Tem produção, direção, muitas outras coisas que não seja estar na frente das câmeras. Ou poderíamos jogar tudo pro alto e ir morar num país desconhecido, no qual também seríamos desconhecidos, o que acha? — Ele se divertiu com a possibilidade.

— Eu acho que vou voltar pra cama, me acompanha?

— Sempre! — Galante, mordeu o lábio e me puxou até o quarto.

Passaram-se meses desde o jantar com Josh, o fim do ano já se aproximava, a sua promessa não nos dava mais esperança, e o clima tenso não nos deixava de lado. As imagens daquele pesadelo ainda pairavam no ar, às vezes me pegava sofrendo enquanto revivia algumas cenas. E ainda tinha o jantar com os pais de Henry. Eu já estava preocupado com isso também pois, mesmo sendo um homem adulto, é sempre estranho conhecer a família da pessoa que você ama. Sempre fica aquela situação constrangedora de não revelar intimidades bobas ou de não querer responder perguntas estranhas. Obviamente tudo isso iria acontecer e, mesmo tendo certeza disso, eu não me sentia preparado.

Os pais de Henry chegaram numa sexta-feira e o jantar em sua casa foi no sábado. Experimentei várias camisas, gravatas, sapatos e todo tipo de sentimento que pude. Fiquei ansioso com o tempo que não passava e parecia me torturar a cada segundo. Fiquei preocupado com soltar alguma frase que me envergonhasse. Ri da maneira ridícula que eu estava agindo por querer parecer menos formal e mais descontraído e espontâneo.

A minha vida toda eu tentei ser outra pessoa, eu aprendi a me esconder sem perceber, então ser eu mesmo ainda era novidade para mim. O que as pessoas pensariam do verdadeiro Ben Summers? Me coloquei a pensar nisso, olhando para o homem no reflexo do espelho, quem eu sou de verdade? Ao mesmo tempo em que mudei, continuei o mesmo, continuo esse paspalho que se sente inseguro até para conhecer os pais do amado.

A aflição já me consumia quase por completo quando vi que já estava na hora. Peguei o carro e passei numa floricultura, comprei um lindo buquê de margaridas e juntei com o vinho branco preferido de Henry. O apartamento dele era um pouco distante da minha casa, então ainda deu tempo de sofrer mais um pouco e, a cada sinal vermelho, eu começava a bater os dedos no volante impacientemente. Não conseguia deixar uma música tocar inteira. Xingava mentalmente vários motoristas à minha volta, além dos pedestres e ciclistas. Por que essa cidade tem tanta gente?

Finalmente cheguei ao apartamento. As coisas pareciam implicar comigo, pois o elevador demorou três vezes mais do que o de costume. Provavelmente era aquela criança encapetada do 202 apertando mil botões. Pobre criança, nem ela escapou do meu nervosismo. Pronto, não haveria mais atrasos, eu estava em frente a porta do 901. Fui recebido por um senhor que, pelo rosto bem desenhado, deveria ser o pai de Henry.

— Você deve ser o Ben, entre, o Henry está na cozinha — apertei sua mão num cumprimento desajeitado. Dava pra entender o motivo do filho ser tão bonito, Gail tinha um sorriso perfeito e a maldita educação polida que eu já conhecia muito bem.

— E você é o... — perguntei baixo demais, recebendo um "o que?", daqueles que a gente fala no automático, mas logo depois já entende o que a outra pessoa perguntou. Eu nem sei o motivo de ter indagado seus nomes, Henry já havia falado umas mil vezes.

— Meu nome é Gail e essa é a Claire — ele disse se virando para uma mulher deslumbrante sentada no sofá vermelho.

— É um prazer conhecê-los, a senhora é muito bonita, digo... com todo respeito, claro — corei e os dois riram.

Depois de ver a mãe e o pai de Henry lado a lado, pude entender de onde saiu tanta beleza naquele homem. Fiquei abismado com a jovialidade de ambos, que pareciam ter uns trinta e cinco anos no máximo, mas descobri que tinham cinquenta e três. Eu engolia seco, mesmo tomando várias taças de água, meu nervosismo não passava e isso já estava me incomodando. Henry, muito gentil, me deixou sozinho com Gail e Claire durante uns quarenta minutos, enquanto terminava o jantar, minha vontade era de esganar aquele lindo pescoço.

Finalmente o jantar saiu e nos sentamos à mesa de tampo de vidro, que estava com um lindo forro lilás. Aliás, todo o apartamento estava diferente, bem arrumado e com umas coisas diferentes da última vez que tinha ido lá. Os móveis estavam alinhados perfeitamente com os quadros da parede, que estavam de cores novas, menos tristes do que eram. Até a mesa estava alinhada com o balcão da cozinha. O que uma visita dos pais faz com uma pessoa? Ri mentalmente.

— E então, quando vocês vão se casar? — Claire perguntou, tão fina e tranquila, sua expressão nem mudou. Se eu estivesse num filme, o clichê seria cuspir a bebida em minha boca, mas eu engoli o vinho com certa dificuldade enquanto meus olhos gritavam socorro para Henry.

— Mãe, nós ainda não pensamos nisso, pega leve — o filho sorriu e eu entendi que era algo comum que a mulher fazia.

— Eu estou pegando leve, querido, mas tem outro assunto que está me deixando sem jeito e eu preciso perguntar — pronto, meu coração acelerou, eu queria sair correndo dali, com certeza eu já estava todo suado e com cara de "me levem daqui". Eu não fazia a menor ideia do que seria, mas poderia jurar que seria algo bem constrangedor — Essa história do trabalho de vocês é verdade ou só marketing?

— É verdade, infelizmente — falei e soltei o ar aliviado por não ser nada embaraçoso. Apesar de que o ar ficou tenso, o assunto era pesado para o momento.

— É verdade, sim. Estamos sem nenhum trabalho em vista — Henry respondeu pousando o garfo no prato, mostrando uma leve impaciência com o interrogatório.

— Mas não é como se vocês fossem ficar pobres, né? Com o dinheiro que já ganharam, nem precisam mais de trabalho — Gail falou quase pausadamente, como se estivéssemos sendo muito mais dramáticos do que a situação pedia — Poderiam ir morar numa ilha, ficar de férias para sempre.

— Não é sobre dinheiro, gostamos do que fazemos. Além disso, ficamos chateados por sermos rejeitados pela sexualidade, o que não faz nenhum sentido. Ou você acha que devemos aceitar e nos sujeitar a essa palhaçada?  — Henry demonstrou estar um pouco nervoso e a mesa se calou.

O jantar continuou e, após alguns minutos, o clima pesado já tinha nos abandonado, minha timidez passou e já estávamos sorrindo e contando histórias divertidas. Após a sobremesa, fomos para os sofás e tomávamos drinques de Martini. Os pais de Henry contaram como se conheceram: numa linda cena romântica, Claire tropeçou e caiu em cima de Gail, que estava tomando um café num bistrô, em Paris. Depois de contar a história, eles deram um beijinho para selar a recordação.

Num ato impensado, entrei no clima e contei sobre como Henry iria despencar naquele dia no set e eu o agarrei firmemente, sendo que ele adorou, culminando na nossa manhã no hotel, em que eu cheirei as roupas de Henry e enlouqueci. Quando olhei em direção de Gail, seu rosto estava ficando vermelho e ele não conseguia respirar, estava engasgado com uma azeitona, tamanho constrangimento com a minha história. Foi um rebuliço, levantei correndo e o abracei por trás para tentar aquele movimento que ajuda a desengasgar a pessoa.

A cena foi constrangedora ao extremo, seria cômica se não fosse trágica: o namorado de seu filho estava o agarrando por trás, fazendo movimentos de vai e vem, empurrando o corpo contra o dele, para ajudar uma azeitona achar o seu caminho, logo após relatar ser um pervertido. Depois de algumas tentativas, o homem já estava roxo, Claire gritava histericamente dispensando toda a sua fineza e elegância, Henry estava de olhos arregalados tentando não demonstrar desespero, até que a azeitona resolveu tomar impulso e voar para o chão.

Gail puxava o ar e me olhava com um semblante que poderia ser traduzido em "achei que você não iria conseguir, mas muito obrigado". Limpei o suor da testa pensando que, se tivesse um jeito de ser mais constrangedor, eu não queria saber qual era. A esposa foi cuidar do marido e eu fui pedir desculpas para o Henry e avisei que iria embora, mas ele me impediu veementemente, disse que não havia nada pelo que se desculpar. Acabei cedendo e ficando mais um pouco.

Para ajudar o constrangimento a sumir, fui organizar mais umas taças, mudando a bebida e, claro, sem nenhuma azeitona. Meus pensamentos queriam me matar e jurei não dizer mais nenhuma palavra durante o tempo que ainda ficaria ali. Henry veio até mim e percebeu o quanto minhas mãos tremiam cortando um limão e a tocou, me fazendo parar. Ele me olhou e não conseguiu conter uma risada gostosa. Ri junto, não havia muito o que fazer e, quando percebi, Gail e Claire estavam rindo também, com certeza essa história seria contada aos nossos netos.

Netos? Para se ter netos é necessário ter filhos. Henry e eu queríamos filhos? Claro que eu tinha que pensar nisso, eu não conseguia ficar sem uma aflição martelando minha cabeça. A cada dia eu conseguia uma ansiedade a mais, parecia até que eu estava num desafio "Tenha uma ansiedade diferente por 365 dias". Fechei os olhos e respirei fundo, voltando para socializar com os sogros.

Graças a uma força maior, o restante do desastroso encontro foi até legal. O susto serviu para Gail e Claire saírem daquela pose pitoresca, educada e formal, me deixando mais a vontade. Meu cérebro entendeu que não precisaria me passar mais nenhuma vergonha e, quando fui embora, Henry me acompanhou até a garagem.

— Fica tranquilo, eles gostaram de você, não estou mentindo — Henry me falou com doçura, só me restava acreditar em suas palavras.

— Mas o que foi aquele engasgo? Eu nunca vou me esquecer disso — rimos novamente da cena e Henry me abraçou, nem precisou usar palavras para expressar seu agradecimento.

— Sabe o que eu nunca vou esquecer? — Ele posicionou suas mãos em minha cintura — Dessa sua risada gostosa e dessa boca vermelhinha.

O maldito me encostou no carro e me deu uma amasso tão quente que saí de lá todo arrepiado e amarrotado. Eu já falei o quanto aquele homem me fascinava? Mais uma etapa da vida vencida: conhecer e agradar os sogros. Isso é fundamental para qualquer relacionamento e agradeci em pensamento por Henry não ter irmãos, diminuindo a quantidade de pessoas para eu cativar. Eu era dessas pessoas que não gostam muito de socializar e ser simpático, parecia que eu sempre vivia na minha concha, afastando todo mundo, mas, estar com Henry, me fazia querer mudar isso e eu fui mudando, pouco a pouco.

Íamos nessas reuniões sociais com pessoas do meio cinematográfico com certa frequência e encontrávamos e conhecíamos muita gente, além de ignorar muitos que torciam o nariz para o nosso relacionamento. E foi na casa de um desses famosos que conhecemos Lili, uma produtora de TV e diretora de uma série chamada "Casual", um drama familiar. A moça tinha um estilo diferente de se vestir, parecia não se importar com a aparência que diziam que mulheres deveriam ter, ela ignorava os padrões sociais, transgredindo a regra da magreza e usando o cabelo "do jeito que estiver, está bom".

Lili se tornou uma amiga bem próxima, em poucas semanas já nos sentíamos como se fôssemos amigos de infância, trocando intimidades e segredos. Ela sempre levava a namorada Beatriz, uma atriz brasileira, para os nossos encontros no apartamento de Henry ou na minha casa. Bea era mais dentro das normas, magra e alta, mas mantinha um cabelo curtinho, do qual se orgulhava muito. Num desses encontros regados a vinho branco e aperitivos surgiu o assunto de trabalho.

— Já está tudo certo para a participação de vocês na minha série? — Lili perguntou como se já estivéssemos sabendo.

— O quê? Como assim? — perguntei, atento.

— Eu me esqueci de falar com vocês? Consegui com a emissora um extra para colocar vocês na série. Não é o melhor trabalho do mundo, farão poucos episódios no início, mas se o público gostar, temos muita história já preparada pra vocês — ela terminou sua frase tomando um gole de vinho, enquanto a olhávamos atônitos — e, olha, não é um convite, vocês vão fazer isso!

— Eu não estou entendendo muito bem, como isso surgiu? — Henry indagou confuso.

— Tive a ideia há alguns dias, estava só esperando a confirmação da emissora. Henry será um par romântico da personagem principal, representada pela Bea. Ben fará parte do triângulo amoroso, entre Henry e Bea.

— Acho que tenho que... pensar sobre isso — eu não consegui dar uma resposta imediata.

— Pensar? Olha aqui, minha série tá com um índice muito bom, claro que não está a altura de vocês, mas a suas participações seriam maravilhosas, tanto para a série quanto pro desenvolvimento da personagem — Lili estava muito animada com a ideia.

— Quer dizer que não está fazendo isso por... — olhei para Henry com medo de soar estranho — pena?

— Pena? — ela deu uma risada — Gente, cadê a autoestima de vocês?

Claro que eu tinha ficado com um pé atrás, naquele momento da vida, Henry e eu estávamos muito fragilizados com todo o preconceito que estávamos sofrendo em relação ao trabalho. A notícia da série veio como uma flecha nessa fragilidade e Lili foi um anjo ao jogar em nossa cara que estávamos sendo muito pessimistas. Realmente, no mundo do cinema, e na vida, nada é constante, sempre existirão altos e baixos. Estávamos numa fase baixa, mas estava na hora de dar a volta por cima.

Foi péssimo como lidamos com o fato de nos negarem trabalho, além de um post em redes sociais o que mais fizemos? Nada! Ficamos parados esperando o mundo girar ao nosso redor, aguardando uma chuva de ofertas de trabalho caírem no nosso colo. Quando parei para pensar nisso senti um pouco de raiva de mim mesmo, pois nunca fui de ficar sentado olhando o tempo passar. Deixei meu orgulho falar mais alto, achei que seria humilhante pedir trabalho, sendo que isso é mais normal do que se imagina.

Quando Lili nos ofereceu os papeis em sua série, cheguei a pensar que seria uma caridade de sua parte, ou seja, eu estava completamente afastado dos meus valores pessoais. Afinal, eu era um ótimo ator, com ótimos trabalhos no portfólio. Contudo, ainda havia um sufoco: em Hollywood, atores de cinema que vão para séries são considerados rebaixados, como se tivesse sofrido um declínio na carreira. Teríamos que lidar com isso interna e externamente, eu já conseguia enxergar as manchetes.

Apesar de tudo, eu estava animado com a ideia, uma série de drama, do tipo que eu gostava. Henry e eu nos veríamos bastante e trabalharíamos com as nossas melhores amigas. Parecia tudo perfeito. Nossos novos agentes acertaram tudo, inclusive o salário, que não seria o que estávamos acostumados, mas era uma bela remuneração, a emissora estava apostando muito nas nossas participações. Uma semana depois os roteiros chegaram e eu corri para ler e estudar as falas, haveria uma reunião para discutir se estava tudo certo.

Finalmente as imagens daquele pesadelo se desfaziam na minha mente, eu estava libertando os meus demônios, que estavam presos por minha própria vontade. Eu já sentia que poderia respirar aliviado e até meu humor melhorou. Henry e eu passávamos dias mais claros, mais cheios de cores e sabores, visitávamos sorveterias, lanchonetes, cafés e a academia, para queimar isso tudo. Estávamos de volta à ativa, precisávamos do corpo saudável.

As filmagens começariam em janeiro do próximo ano e já estávamos em novembro, não daria tempo de fazer muita coisa e, mesmo assim, Henry e eu decidimos passar o Ano Novo em outro lugar, longe dali. Queríamos um lugar novo, uma ilha, rodeada de águas lindas e tranquilas, com muita cultura e variedades. Eu ainda não sabia, mas aquele ano novo seria inesquecível, o ano de 2018 estava guardando muitas novidades.

<><><><><>

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top