5 | "Eu te amo"/"Precisamos terminar tudo"

"Eu estava perseguindo alturas/ então eu encontrei você/ estamos fazendo isso em câmera lenta" (ALMA - Chasing Highs)

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Acordamos juntos, já com pressa, pois era tarde. Henry foi ao seu quarto para pegar uma roupa e voltaria para tomarmos café da manhã. Levantei-me para lavar o rosto e escovar os dentes, depois de tomar um copo de água bem gelada, a minha ressaca era do álcool ou de tudo o que aconteceu na noite anterior? Reviver memórias estava se tornando comum para mim e isso era muito exaustivo, encontrar partes de você que, por algum motivo, estavam ocultas me deixava cansado. Ao voltar de seu quarto, algum tempo depois, Henry me encontrou sentado na cama, com a cabeça baixa, olhos tristes e sem palavras.

- Você está bem? - Não respondi, empurrei o notebook para que ele visse o que estava escrito.

- "Querido filho" - Henry me olhou procurando aprovação para continuar lendo, sinalizei que sim - "Sabemos que essa vida de ator tem tomado muito do seu tempo e isso pode estar lhe causando estresse a ponto de você não saber mais o que faz. Seja o adulto que você é, não está mais na hora de brincar de adolescente, você nunca fez essas coisas, ficando com rapazes, não foi pra isso que te criamos. Você foi educado para crescer e ser um homem de verdade, de família, ter filhos, nos dar netos, agora vem com essa palhaçada ao vivo para o mundo inteiro ver? Você já tem trinta anos, Ben, está na hora de levar sua vida a sério. Seu pai e eu nunca quisemos que entrasse nessa carreira de cinema, é isso que essa vida tem te trazido? Com o que mais você está envolvido? Esse tipo de gente só traz coisa ruim e desastres para qualquer família de bem. Sinto muito, mas você está nos desapontando profundamente, esperamos que entre nos eixos ou, do contrário, não saberemos como te receber em nossa casa. Susan e George".

As lágrimas já rolavam em meu rosto quando o e-mail terminou de ser lido. Eu sentia vários socos no estômago, um bolo na garganta. Nem tiveram a coragem de ligar. Henry sentou ao meu lado, eu nem conseguia olhar em seu rosto, mas sei que estava perplexo com aquele texto. Ele segurou a minha mão, estava tremendo um pouco, passou o braço pelo meu ombro e me abraçou. Aquele gesto foi tão acolhedor que não resisti e me deitei junto com ele, enquanto chorava como uma criança, tentando falar alguma coisa, mas nenhuma palavra saía.

- Pode chorar, eu estou aqui com você - meu desabafo não cessava, meu pranto não se calava, eu apertava os olhos e não conseguia imaginar que foram meus pais que escreveram aquilo.

- Eles nem me ligaram... não quiseram conversar - gaguejei em meio a soluços. Que eu me lembre, nunca chorei daquele jeito antes.

- As pessoas têm medo de encarar a verdade, Ben, não é culpa sua - Henry falava baixinho, tão gentil.

- A culpa é toda minha, eu sou o desgosto da minha família.

- Você pode ser o desgosto da sua família, mas pelo menos estará bem consigo, não há nada mais recompensador, se você se sente feliz do jeito que você é, não há motivos para ser do jeito que os outros querem.

- Você fala isso porque sua família não sabe, você não tem ideia do que estou sentindo nesse momento.

- Não, eu não sei, mas eu estou aqui, não estou? Como eu disse lá no Brasil, se você quiser, eu estarei sempre que precisar.

O diálogo acabou, eu não queria conversar, só queria sentir o calor daquele abraço tão afável. Passamos um bom tempo ali, parece que o mundo não existia, só havia ele, eu e aquela cama, nem tomamos café da manhã. Após um tempo eu já me sentia um pouco melhor, impossível não me sentir bem com a companhia de uma pessoa tão compreensiva.

- Ben, vamos lá, você precisa parecer bem, pelo menos, não pode deixar eles saberem que isso te afetou - me deu um beijo na maçã do rosto e alisou meus cabelos com suas mãos amáveis.

- Eu sei, mas eu não consigo disfarçar - me olhei no espelho e estava com uma cara horrível, olhos vermelhos e inchados, olheiras, barba por fazer, um verdadeiro desastre.

- Você é um ator ou não?! Vem, eu vou te ajudar.

Fui puxado para o banheiro, tive meu rosto molhado e lambuzado com creme de barbear. Henry passou a lâmina com carinho e medo de me machucar, falava besteiras enquanto me tratava como se estivesse num spa. Passou creme de barbear no meu nariz e se divertiu com isso, eu não estava muito bem para brincadeiras, sorri sem graça e fui me animando aos poucos. Ele me levou para o chuveiro e me deu banho, usou sabonete líquido e fez muita espuma e bagunça, parecia uma criança. Embaixo da água nos abraçamos e nos beijamos, fizemos gracinhas, eu chorei de novo, mas após estar vestido e com boa aparência, me senti melhor e fomos almoçar.

Nosso compromisso da tarde era uma entrevista coletiva com parte do elenco do filme. Henry me olhava de longe e gesticulava com a boca "eu estou com você", eu fingia não ver, era um dos nossos joguinhos preferidos. Um provocava o outro e não podíamos demonstrar reação, mas naquele dia não eram provocações, eram palavras de consolação e empatia, eu apenas ria e balançava a cabeça, não acreditava que uma pessoa daquela existia de verdade. A coletiva seria na frente de algumas dezenas de pessoas, estávamos em um evento sobre filmes e jogos e seríamos um dos destaques.

Entramos para o palco sob muitas palmas e gritos, éramos seis pessoas e a mesa era bem pequena, mas Henry fez questão de se sentar na cadeira ao lado da minha. A plateia se acalmou e a entrevistadora, uma jovem bem bonita chamada Andrea, começou a apresentar cada pessoa que estava ali para, depois, mostrar um trailer estendido do nosso filme, com cinco minutos de duração. As luzes se apagaram para que o vídeo fosse melhor aproveitado, no telão atrás de nós, e fez-se um silêncio mortal.

O trailer começou e, de repente, senti uma mão me acariciando entre as coxas e quase dei um pulo com o susto, mas me contive. Cochichei para Henry perguntando se ele estava louco, mas ele fingiu não escutar e continuou a brincadeira. Subiu sua mão, a posicionou no volume entre as minhas virilhas, por cima da calça, e começou a massagear o que já demonstrava sinais vitais.

Eu comecei a me remexer discretamente na cadeira, aquilo estava bom e perigoso, desabotoei um botão da camisa, que calor era aquele? Quando Henry apressou o movimento, as luzes se acenderam, o trailer acabou e eu nem percebi. A mão intrusa sumiu rapidamente e eu fiquei com aquela cara de assustado e quase morrendo de vergonha, todo suado e sem entender nada. Henry riu, mas minha vontade era de socá-lo no rosto, bati minha perna contra a dele tentando fazê-lo parar de rir.

- WOW! Isso sim é um trailer de respeito - Andrea animou a plateia e começou a fazer perguntas para as pessoas da mesa, que a respondiam rapidamente, pois o tempo era curto, logo a minha vez chegou.

- Ben, você está maravilhoso no filme, parabéns! Maaaaas, o que todos queremos saber é: quem é o rapaz misterioso na sua vida? - Não acredito. Isso não estava acontecendo, eu estava quase esquecendo essa história. Fiquei um tempinho olhando para a Andrea, para a plateia, não sabia o que responder, pensei em dizer grosserias sobre as pessoas não terem nada a ver com a minha vida e coisas do tipo, mas preferi me acalmar.

- Muito obrigado pelo elogio, Andrea, mas essa questão eu não posso te responder, sabe como são as coisas, cada um é dono de sua própria vida, não posso sair expondo as pessoas - minhas mãos tremiam muito e era visível o desconforto no meu rosto. Henry estava do meu lado, minha vontade era de gritar para todo mundo saber que era ele o dono das minhas noites desde o Brasil, mas não poderia fazer isso, qual seria a reação da família dele? Seria como a minha? Meu coração disparou, lembrei do maldito e-mail, lembrei dos meus pais não me reconhecendo como filho. Congelei e não sabia mais o que fazer.

- Você não pode, mas eu posso, o rapaz misterioso na vida de Ben está bem aqui - Henry começou a falar e eu tremi mais. A plateia vibrou, Andrea não sabia o que fazer, apenas olhava para Henry, implorando para que ele contasse quem era. Eu senti uma mão no meu queixo, virando o meu rosto e senti lábios tocando os meus. Sim, Henry estava me beijando ali na frente de todas aquelas pessoas, pensei em me desvencilhar, mas sua mão trêmula segurou a minha, demonstrando uma quase certeza, então eu continuei, senti que fiquei vermelho como se tivesse ficado no sol o dia todo. Um sentimento misto tomou conta de mim, ora eu estava feliz, ora o flash das câmeras pareciam socos na minha cara. Já devo estar por toda a internet.

A plateia vibrou, gritou, aplaudiu e Andrea manejou a situação como pôde, tentando passar uma expressão de tranquilidade, mas ela sabia que aquela notícia iria ser um estouro na mídia. Dois atores masculinos, totalmente masculinizados, sem nenhuma pontinha de indícios sobre envolvimento com outros homens em toda a carreira, relacionamentos com mulheres, tinham acabado de se beijar ali. Andrea terminou as entrevistas rapidamente, faltavam apenas dois colegas a serem apresentados. Henry e eu tentamos sair discretamente, mas, do lado de fora uma legião de repórteres nos aguardava com centenas de perguntas clichês e invasivas.

Tentávamos passar por eles, mas era impossível, pareciam urubus na carniça. Voltamos para o evento e pedimos alguns seguranças que nos ajudassem a sair dali. Três homens vestidos de terno preto nos rodearam e conseguiram nos fazer sair daquele inferno. Entramos no carro e o motorista arrancou, buzinando para as pessoas saírem da frente. Pedimos que nos levasse para outro hotel, já sabíamos que o nosso estaria infestado de repórteres também.

Já dentro do carro, Henry e eu nos entreolhamos e suspiramos de alívio, eu não pude conter o meu desejo e lhe dei um beijo demorado em agradecimento ao que ele tinha feito momentos atrás. Ele retribuiu o beijo e, pela sua respiração descompassada, eu sentia sua euforia, estava incrédulo no que tinha acabado de fazer.

- Você... não sei como agradecer - continuávamos nos olhando, a felicidade estampada em nossos rostos.

- Não sei o que me deu! Mas não posso deixar você passar por isso sozinho - nos abraçamos longamente.

- Você não precisava, agora estamos no mesmo barco, mas como sua família vai reagir?

- Quer saber? Não tenho a mínima ideia, mas não me importa, se você estiver comigo, tudo vai ficar bem.

- Claro que estarei aqui, do seu lado, porque eu... eu te amo - declarei e, dessa vez, não foi sem querer ou por impulso, pois era o que eu estava sentindo. Henry se afastou de mim, seus olhos brilhando com a minhas últimas palavras.

- Eu achei que você nunca ia dizer! EU TE AMO BEN SUMMERS! - Sua empolgação fez o motorista nos olhar pelo retrovisor com um sorriso simpático, até ele parecia estar feliz.

Estávamos fascinados um pelo outro naquele momento, dizer "eu te amo" é um passo grande, será que estaríamos atropelando o tempo? Aquele dia estava sendo uma mistura de emoções, aliás, as últimas semanas, desde quando conheci Henry, estavam sendo bem agitadas. E o assunto da minha família me deixava cada vez mais apreensivo. Meus pais já estavam irritados por uma entrevista, eles ficariam enfurecidos pelo beijo que demos em frente as câmeras.

Os repórteres demoraram a descobrir o hotel para onde fomos, nos deixando passar o resto do dia mais tranquilos, refletindo sobre o que tinha acontecido na entrevista coletiva. Apesar da felicidade que eu sentia por todos saberem que Henry e eu estávamos juntos, isso também gerou um pouco de ansiedade, os pontos positivos eram enormes, mas os negativos eram bem pesados. Escutei Henry falando com a sua mãe e, aparentemente, foi bem mais tranquilo do que o e-mail que recebi dos meus pais.

- Me desculpe - ele tentava conversar com calma, andando de uma lado para o outro, somente de cueca - eu não te contei antes porque achei que vocês reagiriam diferente... Mas, mãe... Eu não sabia que vocês não se importam com isso... O que? Esse final de semana? Não podemos, estamos no meio da turnê de divulgação do filme... Tá bom, o.k., assim que possível. Te amo também.

- Uau, parece que as coisas foram tranquilas - falei com uma pontinha de inveja.

- Mais do que eu imaginava, juro que não achei que essa seria a reação deles. Brigaram comigo por eu não ter contado antes - a confusão estampava sua face - parando pra pensar, não entendo o motivo de nunca ter falado com eles. Acho que fiquei receoso, foi muito difícil pra mim mesmo, então eu não quis contar pra eles, achando que seria afastado...

- Provavelmente meus pais nunca vão querer me ver de novo.

- Não fica assim, vamos descobrir uma forma de fazê-los entender. O que estamos vivendo é felicidade, Ben, não se esqueça disso - Henry tentou me confortar, porém a situação era mais complicada do que aparentava, pelo menos para mim.

Pedimos pizza pelo telefone, Henry se chamou de Carl para despistar o atendente, qualquer precaução era necessária. Não queríamos fotógrafos ou repórteres incomodando e bisbilhotando, queríamos paz e tranquilidade. Enquanto comíamos, falamos sobre alguns assuntos, inclusive sobre quando ele me viu pela primeira vez.

- Eu te vi, pessoalmente, pela primeira vez, na reunião de pré-produção do filme na casa do Josh, aposto que você nem se lembra - confirmei envergonhado - sabia! Eu estava querendo sair de lá o mais rápido possível, até ver você chegar, foi como se o mundo tivesse parado.

- Lembro que nós conversamos rapidamente... - tentei me lembrar, mas minha memória é péssima.

- Ah, sim, bem rapidamente, porque logo você recebeu uma ligação, deveria ser alguma de suas amiguinhas - ironizou e fez aspas com os dedos - não vou nem comentar sobre Lenna Chesmont.

- Ciúmes não combina com você, senhor "vamos ficar com a mexicana". Além disso, eu nem imaginava que você tinha interesse em mim - me defendi. Senti que essa conversa não estava indo para um bom final e resolvi mudar de assunto - o que faremos agora?

Expus tudo o que eu pensava e isso incluía a minha dúvida sobre estarmos indo rápido demais. Esse era o meu sentimento naquele momento. Ficamos no hotel no Brasil e, após uns dias, já estávamos declarando nosso amor. Naquele momento eu não tinha noção do que estava acontecendo, do que eu estava vivendo, já que eu nunca tinha experienciado uma paixão, um amor, tão forte. Nós tínhamos voltado à adolescência, imprudentes e sem medos, sem pensar no futuro, principalmente no futuro da nossa carreira profissional.

Reconhecemos, naquele momento, que não estávamos incomodados com a rapidez de como nossa relação estava se desenvolvendo. Porém, se algo incomodasse, teríamos a liberdade de falar abertamente, concluímos que conversar é sempre a melhor opção. Outra coisa que me incomodou bastante foi o fato de eu estar muito em evidência na mídia.

É difícil ser uma pessoa pública, principalmente para mim que sempre tentei ser mais reservado, e isso estava contradizendo o modo de como eu estava agindo nos últimos dias. Resolvemos que iríamos deixar as coisas acontecerem naturalmente, evitando dar entrevistas ou falar demais. Consequentemente só saíamos para ir aos eventos obrigatórios, não falamos mais nada sobre nós dois estarmos juntos e isso gerou uma movimentação nos sites de notícias e fofocas. Algumas manchetes se destacavam como "Benry estão quietos, o que está acontecendo na vida desse casal improvável?", "Após o beijo na frente das câmeras, Ben Summers e Henry Scott evitam falar sobre o assunto, será que já acabou?" e "Atores enfrentam preconceito dos fãs ao se revelarem com um beijo".

Essa última foi uma pancada, pois não entendemos a chuva de comentários preconceituosos e até violentos em nossas redes sociais. As pessoas acham que tem poder sobre a vida das outras, mas se mostrarmos que temos certeza de quem somos, não damos oportunidade para que tomem o controle. Respondemos a vários comentários que nos desejavam felicidades e os ofensivos nós apenas ignoramos, isso era tudo o que eles mereciam.

Nossa última parada da turnê de marketing foi em Los Angeles, pelo menos lá eu me sentia melhor com tudo, num lugar conhecido, na minha casa. Convidei Henry para se hospedar no quarto de hóspedes, eu havia me mudado para uma grande casa, com vários quartos. No entanto, ele recusou o convite, dizendo que ficaria melhor num hotel. Confesso que gostei de sua decisão, pois não sei se seria uma boa ideia, daria a impressão de que já estaríamos morando juntos e eu tremi só de pensar nisso.

Em Los Angeles era mais fácil de nos vermos, pois os fotógrafos e repórteres tinham outras celebridades para tomar conta e, com o passar dos dias, "Benry" foi deixando de ser notícia. Passávamos vários momentos aconchegantes e felizes, era intenso quando estávamos juntos, pois nos deixávamos livres para fazer tudo o que estivéssemos com vontade, ou quase tudo.

- Opa, calminha, esse negócio de algemas não é comigo! - Interferi quando ele veio com aquelas argolas prateadas para o meu lado.

- Ah, vamos brincar um pouquinho...

- Nem pensar! Uma coisa que nunca tive vontade é de usar esses brinquedinhos - Henry, que já estava nu e pronto para ação, pulou em cima de mim e me deu um beijo quente e sedento, jogou as algemas para o canto, tirou minhas roupas num piscar de olhos e nos amamos tão intensamente como não o fazíamos há dias, visto a rotina cansativa.

- Nesse sábado você é só meu, Ben Summers.

Henry tinha esse jeito de falar meu nome, era completamente diferente de qualquer pessoa. Na verdade, isso poderia estar ligado ao meu modo de enxergar a situação, já que ele me deixava louco de desejo. Nós estávamos muito apaixonados, nos amando, parecia que nada poderia dar errado, que éramos invulneráveis. Essa sensação acabou me dando segurança para ser menos fechado e tímido, principalmente em relação à minha sexualidade, me permitir ser mais solto, com menos medo, eu sabia que Henry estaria do meu lado para o que fosse necessário.

Finalmente chegou o dia da estreia mundial do filme, um evento gigantesco num local que funcionava como teatro e cinema, de longe se avistava o letreiro enorme "Hollywood". Esses eventos sempre contam com toda a pompa possível, tapetes vermelhos, mural para fotos, a mídia em peso, uma decoração linda e muitos fãs. Henry e eu decidimos ir juntos, afinal, todos já sabiam do nosso relacionamento, não havia mais o que esconder. Chegamos de limusine, como de costume, e descemos ao som de palmas, gritos e pessoas chamando nossos nomes, uma recepção muito calorosa, em contrapartida da que estávamos tendo nas redes sociais ultimamente. Logo que saímos do carro fomos abordados por alguns repórteres.

- Ben e Henry, os astros desse filme, qual a expectativa de vocês para a estreia?

- Estou muito feliz, espero que o filme faça muito sucesso! - Respondi primeiro.

- Faço das palavras de Ben, as minhas. Queremos que o filme seja bem recebido pelos fãs, eles merecem sempre o melhor.

- E vocês já têm projetos em andamento? Qual será a próxima produção?

- Bem, estou com um projeto ambicioso, mas não posso revelar nada - Henry riu passando um zíper imaginário na boca.

- Eu também tenho vários projetos em vista, mas ainda não sei exatamente qual vai sair do papel.

Na verdade, eu não tinha parado para pensar nisso, meu agente não havia me falado de nenhum projeto, aliás, eu não o via há algum tempo. Isso me deu uma pontinha de preocupação, que logo sumiu do pensamento, devido ao ritmo frenético do evento. Fomos para o enorme painel com o pôster do filme e tiramos muitas fotos, depois fomos até os fãs, dar autógrafos e fazer selfies.

Depois de muito tumulto, entramos e nos sentamos, prontos para o início do filme. Henry segurou minha mão e fomos fotografados sob uma chuva de flashs, mas dessa vez eu não me preocupei, eu estava muito feliz, com uma pessoa que amava, não havia motivos para esconder, apesar da lembrança daquele e-mail sempre me incomodar. Houve uma salva de palmas quando o filme terminou e eu despertei dos meus pensamentos, meus pais não saíam das minhas lembranças.

- Olha só se não são os pombinhos de Hollywood! - Josh veio ao nosso encontro, com um largo sorriso e nos deu um abraço.

- Josh! Meu amigo, que filme sensacional, meus parabéns! - Henry, ainda o abraçando, também demonstrava estar muito satisfeito.

- Meus parabéns, você fez mais um trabalho incrível, fico muit... - fui interrompido por um forte abraço, fiquei meio sem graça, pois não éramos tão amigos assim. Percebi que Henry foi chamado por um fotógrafo, me deixando a sós com Josh.

- Olha, Ben, eu estou muito feliz por você estar com o Henry, você não sabe o quanto ele esperou por isso - fiquei surpreso com o assunto, nunca falamos sobre isso - ele está muito feliz, de verdade.

- Ah... é... Sim, estamos muitos felizes - abri um sorriso, apesar de inesperado, eu gostei, senti que poderíamos ser bons amigos também.

- Isso aí! Saiba que também podemos ser amigos, Henry não tem exclusividade sobre mim - rimos juntos.

Talvez uma amizade estivesse surgindo ali, Josh era um cara legal, muito atencioso, um profissional único, eu nunca havia trabalhado com diretores como ele. Henry não falava muito sobre ele, mas, sempre que tocávamos no assunto, eu sentia que eles eram muito amigos. No início, até fiquei com um pouco de ciúmes, uma besteira de minha parte, visivelmente era só amizade. O evento foi maravilhoso, finalmente a turnê acabou e poderíamos descansar um pouco.

Os dias foram se passando e eu estava tão feliz, vivendo intensamente, parecendo alguém que estava descobrindo a vida. Provavelmente, eu realmente estava descobrindo a vida, a verdadeira, sem mentiras ou memórias apagadas. Henry me fez sair do casulo, revelou meu verdadeiro eu. O medo de que as pessoas soubessem da minha sexualidade, desde criança, me tornou um adulto problemático, tímido, reservado, que não queria se mostrar, se exibir. Tudo estava se encaixando. Me tornei ator para viver outros personagens, já que eu nunca pude ser eu mesmo.

Minha felicidade ultrapassava os limites, mas eu sempre ficava com um pé atrás, felicidade demais é sinal de que algo ruim poderá acontecer a qualquer momento. Passado alguns dias da estreia, eu estava em casa, tinha acabado de tomar banho. Enquanto me secava, a verdade bateu forte e eu cai sentado na cama. A turnê de marketing acabou, a estreia já havia acontecido, finalmente a hora tinha chegado. Henry voltaria para sua casa em Londres, eu ficaria em Los Angeles, seria o fim? Tudo o que passamos juntos, se tornaria passado?

O que eu estava esperando? Eu precisava acabar com aquilo tudo antes que nos tornássemos estranhos à distância. Eu não suportava a ideia de nos ver tentando fazer dar certo, sendo que, nunca iria funcionar. Foi isso que pensei, talvez pelas experências passadas. A decisão já havia sido tomada. Meu coração começou a bater forte quando escutei a campainha tocar, eu sabia que era ele. Abri a porta e o dono daquele par de olhos sedutores entrou, me deu um abraço e perguntou como eu estava.

- Estou ótimo, e você? - Fechei o cenho e sentei no sofá ligando a televisão.

- O que aconteceu? - Óbvio que Henry percebeu minha preocupação, ele me conhecia da cabeça aos pés.

- Chegou o momento que eu temia, Henry, precisamos terminar tudo - meus olhos se encheram de lágrimas, elas queriam cair, mas eu segurava, com a voz embargada.

- Do que você está falando? - Ele desligou a televisão, deixou a sacola que trazia em suas mãos na mesa de centro e sentou-se ao meu lado.

- Acabou tudo. Nossos dias juntos... a estreia... chegou a hora de você voltar pra sua casa - não consegui segurar, as lágrimas encontravam o chão, permaneci de cabeça baixa.

- Eu realmente queria conversar com você, preciso voltar para Londres o quanto antes - sua voz trêmula fez meu coração acelerar mais. Ele nem se preocupou em saber como eu me sentia, estava decidido, estava voltando para Londres e me deixaria sozinho.

- Eu entendo, não quero atrasar sua vida - menti, por mais que fosse inevitável, eu não queria que ele fosse embora. Virei meu rosto para o lado oposto do que Henry estava, não queria olhar para ele, eu queria sair dali magicamente, sumir, nunca ter existido.

- Preciso ir o quanto antes - ele fez uma pausa, suspirou e pegou minha mão. Eu tive vontade de soltar, mas ele me puxou para um abraço apertado, sussurrando em meu ouvido - preciso buscar algumas coisas para o apartamento que comprei aqui em Los Angeles.

Me afastei do abraço e olhei em seu rosto. Maldito! Fez esse suspense todo, mesmo vendo minhas lágrimas rolarem, só para dizer depois que tinha comprado um apartamento em Los Angeles? Eu nem conseguia sentir raiva, ele me olhava com ternura, passou sua mão em meu rosto e, me puxando pelo queixo, selou nossos lábios. Claramente não resisti, quando percebi já estávamos nús e suando no carpete azul da minha sala-de-estar.

Seus pelos roçando no meu peito, com movimentos suaves, sua barba por fazer arranhando meu pescoço, nossas pernas se entrelaçando, nossos volumes se esfregando. Eu queria sentir seu corpo no meu para sempre, não desgrudar seus lábios dos meus nunca mais. Entre gemidos e sorrisos sacanas, Henry segurou as minhas mãos, me olhou nos olhos, suas bochechas estavam vermelhas do calor e, suspirando "eu te amo" no meu ouvido, me algemou sem que eu visse que ele tinha pegado as algemas.

Meu corpo se arrepiou todo quando senti o metal frio, eu nunca tinha experimentado esses brinquedos eróticos, sempre fui o cara normal, careta. Porém, aquele homem tinha muito poder sobre mim e, secretamente, eu queria experimentar mais do que algemas. Ele sabia que eu queria, Henry já me decifrava como se fizessem anos que nos conhecêssemos. Tive uma experiência bem diferente, seria um modo de dizer que estávamos presos um ao outro? Talvez, mas só o tempo poderia responder.

Henry viajou para Londres e eu tomei a decisão de ir até Seattle visitar meus pais, desde que eu recebi o e-mail que nunca mais nos falamos. Eu tentava ignorar essa parte da minha vida, queria encobrir com a minha felicidade, não queria bater de frente com isso. Porém, eu atingi o limite, cheguei naquele momento que não dá mais, eu precisava confrontá-los e isso me deixou muito tenso, apreensivo, receoso e aflito, mas era necessário. Comprei as passagens e, dois dias depois, estava embarcando para a cidade em que eu nasci.

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Notas do Autor
Se eu fiquei passado escrevendo esse capítulo? Com certeza! Eu não canso de repetir: essa história me emociona demais.

Henry só faltou gritar "pegadinha do malandro"... Meu filho, não brinque assim com o sentimento das pessoas.

Eu estou começando a achar que o Ben é doido, terminar com o Henry??? Quase infartei!

Eles falaram eu te amo pela primeira vez <3

Estou muito ansioso para o próximo capítulo, no qual Ben irá descobrir umas verdades nada legais, de cortar o coração. O que vocês esperam que aconteça quando ele visitar os pais?

Só tenho a agradecer pelos meus leitores: Majubaboni, LucasNSantana, Estrela_Sol, opsharry, BeatrizAmarns, Little_Krad, thedansmile (que fez o desenho da capa), Mateus_Brief, Anterodequintal, FilipeSaraiva e muitos outros que não estou lembrando (deixem um comentário aqui me xingando por não lembrar). Obrigado pelos votos e comentários, vocês são demais! <3 <3 <3

Obrigado também aos mais tímidos que leem na surdina, vocês também são essenciais para que eu continue escrevendo esta história <3 <3 <3

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