4 | "Fui pego de surpresa"
"Eu posso ver a sua dor/ eu já passei pela mesma coisa/ baby, não se preocupe/ eu entendo você" (Bebe Rexha - I Got You)
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A divulgação no Brasil acabou e saí de lá com uma sensação de deixar uma parte da minha vida. Apesar de poucos dias que passei lá, foram dias muito significativos no que tange a conhecer a mim mesmo. Pelo sonho que tive, eu soube que sempre fui diferente, mas reprimi essa parte de mim com medo de sofrer. Fomos embora do Brasil direto para o México. Passamos algumas boas horas dentro do avião particular da distribuidora do filme, o que deu margem para conversar sobre um assunto que ainda martelava na minha cabeça, mesmo após vários dias.
- Henry, você e Josh Hutk, são... amigos? Como ele sabia que você queria ficar comigo? - Fiz cara de jornalista investigativo, eu não queria soar rude.
- Certo - após uma breve pausa e uma sobrancelha erguida, Henry continuou - Josh e eu temos uma amizade que já dura vários anos, somos confidentes e ele sabe, basicamente, tudo o que acontece na minha vida, assim como eu sei da dele.
- Ok... Por que, na banheira, você disse que nunca tinha feito sexo com homens - ao perceber que falei isso um pouco alto, olhei ao redor para ver se não tinha ninguém muito perto, fiquei surpreso ao descobrir que havia apenas duas pessoas naquela cabine e que elas estavam dormindo.
- Ben, eu disse aquilo pra você ficar mais a vontade, eu percebi que você estava tão nervoso a ponto de ter um colapso, imaginei que se você achasse que seria a minha primeira vez também, poderia relaxar um pouco mais. Pense se eu tivesse dito que já tinha ficado com outros homens, acho que você desmaiaria - rimos imaginando a possibilidade.
- "Oh, Ben, eu nunca fiquei com um homem" - eu o imitei com voz infantil e fazendo gestos de que estava lambendo algo na minha mão, ri mais um pouco.
- "Oh, Henry, eu estou com muito medo" - retrucou ele, cavalgando na poltrona do avião.
- Você sabe... - mudei o tom da voz, olhando em seus olhos, falando um pouco sério - eu me entreguei totalmente a você naquela manhã.
- Eu agradeço a você por ter confiado em mim, saiba que eu também me entreguei ao máximo para te dar prazer - pegou a minha mão e fez carinho enquanto nos olhamos fixamente - Sabe, senhor olhos castanhos magníficos, você tem um jeito que me tira do sério, eu já estou ligado aqui, é mais forte do que eu.
Ele subiu na mesinha que estava entre nós e eu arregalei os olhos me preocupando com as pessoas ali. Sentado na mesinha, abriu as pernas em minha direção, deixando visível o seu volume rígido, que procurava um jeito de se libertar. Isso me fez lembrar de uma cena parecida que fiz com uma atriz em um dos meus primeiros filmes. No entanto, de dentro daquela calça não saiu nada parecido com o que uma mulher tem.
- Você está louco? - susurrei tentando colocar aquilo de volta na calça e fechar o botão.
- Eu quero ver você chupando esse p... - fomos interrompidos por alguém abrindo a porta e entrando na cabine.
Já estávamos prontos para começar algo divertido ali, mas, como crianças fazendo bagunça quando a mãe chega, nos sentamos e fingimos que nada havia acontecido ou estaria prestes a acontecer. Bastaria olhar em nossos rostos para perceber que algo não estava certo, rimos da situação. Levantamos os nossos olhos e Henry balbuciou que aquilo ainda não havia acabado. Decidimos dormir um pouco para descansar já que seria um dia muito exaustivo, tínhamos compromisso agendado para logo quando chegássemos no México.
Ao descer do avião, avistamos um aglomerado de pessoas, bem menos animadas que as do Brasil, nos aguardando para autografar camisetas com a estampa do filme, bonés e outros itens. Eles até que estavam animados, mas acho que a viagem foi tão cansativa, que era eu quem não estava muito afim. Apesar do meu cansaço, seguimos para a nossa programação, eu faria uma entrevista ao vivo em um programa de TV, enquanto meu parceiro iria divulgar o filme num programa de rádio.
Ao chegar no local da gravação percebi que era uma emissora grande e meu agente confirmou dizendo que eles tinham a maior audiência do país, que eu seria visto por quase todo o México naquele dia. Engoli seco, pensei bem nas respostas ensaiadas e resolvi ler o roteiro mais uma vez. Eram perguntas normais sobre a carreira, o filme, a rotina de divulgação, nada demais ou que eu já não tivesse respondido mil vezes, me tranquilizei. O programa começaria em quinze minutos, foi o prazo que tiveram para passar uma maquiagem leve para tirar o brilho do meu rosto e ajeitarem o microfone.
O estúdio era bem colorido, com vários telões atrás que ficariam passando cenas do trailer do filme, o ar-condicionado estava forte, mas meu terno bloqueava o frio me deixando bem confortável. Haviam duas poltronas brancas bem espaçosas e em uma delas estava Hernando, o apresentador do talkshow. Hernando era uma cara alto e muito simpático, bronzeado, muito bem-vestido. Ao receber o sinal, ele se levantou da poltrona e me anunciou.
- Seja bem-vindo... Ben Summers! - Adentrei o estúdio sendo ovacionado pela plateia, me lembrei dos Pinguins de Madagascar, "sorria e acene" e dei uma leve risada antes de me sentar - Olá, eu sou o Hernando Santana, seja bem-vindo ao México, o que você está achando do nosso país?
- Muito obrigado pelas boas-vindas. Olha, ainda não tive tempo de dar uma boa olhada, acabamos de chegar do aeroporto e vim direto pra cá - eu não gosto muito de entrevistas, sempre acho que vou dar a resposta errada.
- Agenda lotada, pelo visto. E então, como está a sua expectativa para a estreia do filme "Espiões de Elite"?
- Estamos com uma ótima expectativa, é um filme futurista repleto de ação e suspense, ficamos muito satisfeitos com a qualidade do corte final e dos efeitos especiais, Josh Hutk é um excelente diretor e fez mais um maravilhoso trabalho. Também não posso esquecer da atuação brilhante do meu... - travei, minha língua não se mexia, se eu falasse que ele era um colega, Henry poderia achar ruim, se eu falasse que era um amigo, não adiantaria muito, namorado? Jamais! Preciso responder alguma coisa - da atuação brilhante de Henry Scott, ele foi fantástico.
- Excelente, estamos ansiosos por este filme, vai ser uma estreia e tanto para o cinema em 2017. Me conta um pouco sobre o seu papel no filme? - de repente me senti ansioso, eu já estava suando, a temperatura confortável virou verão na Flórida e Hernando estava começando a perceber. As luzes do estúdio pareciam estranhamente fortes, dificultando enxergar a plateia com clareza, só enxergava o Hernando e algumas câmeras.
- Bem, faço um espião que, juntamente com o espião vivido pelo Henry, precisa encontrar o segredo pra acabar com a guerra no ano de 2059. É um papel complexo, pois ele não é tão experiente quanto o seu colega, tendo que se espelhar nele pra conseguir se sair bem em algumas situações - quem fez esse roteiro previu o futuro? Parecia que o roteirista teve um vislumbre do que seria a minha vida, isso soou muito irônico.
- Parece ser um personagem e tanto! O.k., agora vamos para a parte que realmente importa, como está o seu coração? Está em algum relacionamento? Solteiro? - Ele terminou a frase com um grande sorriso, assustador, parece que ele já sabia. O estúdio se calou como se não tivesse ninguém ali dentro, por que saber disso é tão importante para as pessoas?
- Eu estou saindo com um cara que... - NÃO. Sim, eu fiz aquilo, eu falei, ao vivo, para todo o México, que estava saindo com outro homem, não consegui acreditar que tinha falado aquilo de forma tão natural, eu nem pensei antes de responder. Logo eu, tão reservado, odeio estar sob os holofotes, não gosto de estar em evidência. Por que eu tenho que ser tão impulsivo? A plateia começou a fazer barulho e, de longe, percebi que várias pessoas estavam cochichando, pelo menos não precisei terminar a frase.
- Como assim, você está saindo com um... rapaz? Parece que temos um furo de reportagem aqui, produção... - Hernando deu uma risada satisfatória, já sabendo que seu programa seria notícia em boa parte do mundo. Um pequeno filme passou pela minha cabeça, todos os momentos felizes que eu tive com Henry, todos os momentos tristes que tive negando a mim mesmo quem eu realmente era. Enquanto eu sorria amarelo e fingia que não tinha dito nada demais, me enchi de coragem, pensei em tudo o que passei, me censurando por medo de ser quem eu era, não, eu não poderia segurar mais.
- Ah, Hernando, você sabe como é a vida, sempre nos reservando surpresas. Encontrei uma pessoa diferente, mas espero que ninguém me crucifique por isso - soltei uma risada, realmente achei engraçado, mas o sorriso amarelo logo voltou quando percebi que ninguém mais sorriu, eu não estava conseguindo lidar com aquela situação - mas, é como dizem, ninguém tem nada a ver com isso, não é mesmo? Cada um com a sua própria caixinha de surpresas.
- Mas é claro, com quem você sai ou deixa de sair não é problema de ninguém - aquele apresentador imbecil não acreditou em nenhuma palavra do que ele mesmo disse, sabia que isso importava para todo mundo, as pessoas têm uma curiosidade inexplicável e bizarra sobre a sexualidade alheia.
Terminamos a entrevista em clima forçado de simpatia, Hernando percebeu meu desconforto e eu fiquei muito nervoso com sua atitude, foi a minha pior entrevista. Ele veio me cumprimentar nos bastidores e eu disse que foi errado fazer uma pergunta que estava fora do roteiro, não fui grosseiro, mas não fui simpático. Na verdade, Hernando não estava errado, entrevistadores fazem isso o tempo todo, mas a resposta que dei foi o que me tirou do sério, apenas descontei a raiva nele. Ao mesmo tempo que eu gostei de ter me revelado, fiquei apreensivo sobre o meu futuro. Eu só queria sair dali o mais rápido possível antes que outro jornalista me encontrasse.
- Ben, você não vai acreditar nisso - disse meu agente, Jhon, entregando-me o tablet, já dentro do carro - você já está em todos os lugares, revistas eletrônicas, blogs, sites de notícia, vídeos no youtube!
- Não me importo com estar em todos os lugares, me importo com o conteúdo do que estão falando de mim - mesmo receoso, comecei a ler uma das notícias - "Ben Summers, famoso ator do filme que ainda vai estrear, 'Espiões de Elite', contou hoje no talkshow 'Conversando com Hernando Santana', que está saindo com um rapaz. De forma inteligente, Ben respondeu que a vida lhe reservou essa surpresa e que ninguém tem nada a ver com isso. Ben não teve medo de falar sobre sua sexualidade, tratando o assunto de forma natural, assim como deveria acontecer com todo mundo que ainda se sente repreendido".
- Viu só? Várias matérias estão assim, de forma positiva, falando de você.
- Mas e quanto as negativas, Jhon?! Não quero nem ver, por favor, não agende com ninguém para falar sobre isso - ordenei enquanto procurava outras notícias.
Senti meu celular vibrar e meu coração congelou por um instante, eu sabia que era Henry, o que ele acharia do recente episódio? Eu estava sem coragem de olhar a mensagem, mas não tinha outra maneira. "Obrigado por ter sido sincero com você mesmo, mal espero pra te encontrar e te dar um beijo -H". Maldito homem apaixonante! Tudo o que ele fazia me deixava sem graça, como se fosse anos-luz melhor do que eu, mais evoluído, mais centrado, mais vivido, sendo que ele era apenas dois anos mais velho.
Quando nos encontramos, mais tarde, ele me deu um longo beijo e me convidou para celebrarmos a notícia. Questionei sua ideia, todos naquela cidade nos seguiriam, seria um inferno. Mas ele argumentou que já tinha organizado tudo, que iríamos para uma cidadezinha a uns quarenta quilômetros de onde estávamos, lá ninguém iria nos reconhecer e poderíamos comemorar sem nos preocupar. Alugamos um carro e seguimos para o tal lugar, demoramos cerca de vinte minutos para chegar e achar a primeira espelunca.
O lugar era bem aconchegante, à meia-luz com uma música animada e envolvente de fundo tocando. Havia algumas mesas, mas nos sentamos nos banquinhos do balcão, onde quase ninguém nos via. O atendente era bem charmoso, aparentava ter uns trinta anos e usava uma calça jeans muito justa. Não havia muitas pessoas ali, mas todos falavam espanhol, precisamos falar baixo para que ninguém visse que éramos turistas e não levantar suspeita. Pedimos duas doses de tequila e brindamos.
- Sabe que fiquei muito orgulhoso de você hoje? - Henry me falou enquanto uma gota de tequila caia pelo canto da boca, a qual limpei com o dedo e passei na minha boca.
- Eu sei, você já me disse isso mil vezes, para de me fazer ficar sem graça, você é sempre tão doce e gentil, às vezes tenho vontade de te ver com raiva - rimos e tomamos mais uma dose.
- Como você se sentiu quando disse aquilo?
- Eu não sei, apenas disse, saiu sem precedentes, fui pego de surpresa por mim mesmo. Pensei em você quando disse sobre a caixinha de surpresas que é a vida, pensei em você e no quanto você acharia isso um clichê - rimos novamente - apesar de receoso, estou feliz, com certeza não me arrependi.
- Tão feliz que poderia me dar um beijo agora?
- Agora? Aqui? Tá louco? Você não tem juízo, já deve estar bêbado!
- Ah, eu espero mesmo que ele esteja bêbado... - ouvimos uma voz feminina, a qual pertencia a uma mulher com traços tipicamente latinos, lábios carnudos e cabelo preto ondulado. Eu não diria que era o exemplo de corpo em forma e ela era linda daquele jeito mesmo - Quais são os nomes desses americanos muy guapos na minha frente?
- Meu nome é Drake e o meu amigo bonitão aqui é o Carl - respondeu, Henry, parecendo bem interessado na moça mexicana.
- Holla, Drake e Carl, meu nome é Alicia. Que tal irmos dar uma volta, mi chico? - A mulher falou diretamente com Henry e eu me virei para o balcão, como se já não estivesse mais fazendo parte da conversa, tomei mais uma dose e essa ardeu na garganta mais do que as outras, Henry estava flertando com uma pessoa, bem na minha frente, eu não sabia como reagir.
- Eu não posso ir dar uma volta sem o meu parceiro aqui, fizemos uma promessa e, tudo o que acontecer hoje, teremos que fazer juntos.
- Entiendo, acho que essa foi a melhor ideia que você teve hoje, mi cariño - Alicia parecia animada, ela me virou de volta para a conversa e segurou meu queixo e o do Henry ao mesmo tempo - Hum, acho que vou gostar mucho desta noite. Estou esperando ali de fora.
- Henry, você não tem noção do perigo? Estamos numa cidade no meio do nada, o que faremos se acontecer alguma coisa? - falei após a moça sair, tentando dissuadi-lo daquela ideia estapafúrdia. Me lembrei da boate no Brasil, foi bom ficar com mais uma pessoa, mas a situação ali era completamente diferente.
- Fica calmo, o.k.? - Colocou sua mão sobre meu ombro, ele sabe como me acalmar - O que acha de ser um pouquinho mais flexível? Hoje foi um grande dia pra você, vamos comemorar, por favor, prometo que será inesquecível.
Aquele homem conseguia me convencer a fazer qualquer coisa, bastava me olhar com aqueles olhos azuis sedentos e morder o lábio inferior. No meu íntimo, eu também queria muito aquilo, mas, como sempre, algo me puxava para trás e eu ficava com medo. Pedi um minuto para ir ao banheiro e refleti sobre a ideia. Nós tínhamos tomado algumas doses e eu já não estava pensando direito, foi assim que decidi a ir, mesmo pensando que era uma péssima ideia, aceitei imprudentemente.
No caminho para um motel qualquer, passamos em uma farmácia e compramos lubrificantes e preservativos, além da garrafa de tequila que compramos no bar. Alicia parecia ser uma mulher ávida por experiências diferentes, aparentava estar muito animada com a ideia de ter dois homens como nós em suas mãos. Eu estava receoso, algo me dizia que alguma coisa ruim iria acontecer.
Chegamos no motel que ficava num lugar mais afastado, admito meu receio de ficar ali, eu já estava muito nervoso. O quarto era pequeno e abafado, não tinha ar-condicionado, apenas um ventilador girando lentamente. Havia uma janela na parede do fundo, mas seria melhor deixá-la fechada, isso também se aplicou à persiana um pouco empoeirada.
Ao adentrarmos aquele lugar, a dúvida preencheu meus pensamentos. Por que eu estou apressando as coisas? Eu nem quero estar aqui. Henry veio me beijar, mas eu me esquivei e, ao ver que Alicia já tirava sua roupa, pedi que ela parasse. Os dois me olharam sem entender, saí dizendo que eu precisava de um pouco de ar. Henry fez menção de falar algo, mas eu não quis ouvir, apenas saí do quarto.
Me encostei num pilar que segurava o telhado da pequena varanda, senti o vento bater em meu rosto e pensei em como eu era uma pessoa de sorte. Henry traz à tona o melhor de mim, me fazendo refletir sobre a pessoa que eu era e a que quero me tornar, uma pessoa melhor, mais livre. Contudo, há algum tempo eu não me imaginaria num quarto de motel, numa cidadezinha no meio do nada, fazendo loucuras com outro homem e uma mulher. O senti me abraçando por trás e me beijando a nuca como sempre faz, mas eu não arrepiei dessa vez.
- O que aconteceu? Não está mais a fim?
- Acho que não estou pronto pra isso.
- Como assim? Já fizemos isso na boate antes, ela é uma mulher linda, pare de bobeira, vem logo - ele estava nervoso ou excitado?
- Não, Henry, eu não quero e não vou fazer - minha voz estava um pouco alterada - talvez eu não seja tão livre quanto você, não foi você quem disse que tudo deve ser consentido? Eu não quero! Mas se você quer tanto assim, fique a vontade - fui saindo, olhando a rua, eu queria que um táxi brotasse ali onde eu estava.
- Ben, calma, voc...
- Não me peça calma, eu já estou cansado, você está me sugando desde que nos conhecemos, me fez mudar completamente e... - eu não entendia o motivo de estar tão nervoso, de verdade, mas as palavras iam saindo da minha boca, como se aquilo estive preso em algum lugar.
- Não seja injusto comigo, por favor... - Henry tentava me acompanhar, eu estava andando apressado, não queria olhar para trás.
- Injusto? Eu estou sendo injusto? Você me chama pra um muquifo, saindo escondido, nossos agentes nem sabem que estamos aqui. E se acontecer alguma coisa? Além do mais... HEY! - Ele me agarrou pelo braço, seu rosto implorando que eu lhe escutasse.
- Ben, por favor, não faz isso, eu não te mudei, você sempre foi assim - como ele sabia do meu sonho? Será que conversei enquanto eu estava dormindo?
- O que você quer dizer com isso? - Indaguei, seu semblante escondia alguma coisa, eu precisava descobrir o que era.
- Não posso te contar, eu prometi a mim mesmo... - lágrimas começaram a cair de seus olhos, ele se virou tentando esconder a emoção.
Após eu insistir, Henry me contou sobre uma noite em que fiquei bêbado demais e o agarrei antes de apagar completamente. Eu me lembrava da manhã em que acordei e ele já estava saindo, mas nunca me lembrei do que tinha acontecido naquela noite. Ao que parece, meu eu interior adorava esconder certas memórias de mim. Houveram outras vezes em que eu fiz coisas parecidas? Quantas vezes eu já demonstrei gostar de homens, mesmo sem perceber? Fiquei tonto e não era por causa da tequila, só não caí no chão porque Henry me segurou. Repentinamente eu lembrei de tudo, de nós no carro, chegando no meu apartamento, eu segurando em sua mão e o abraçando, sentindo seu cheiro.
- Eu cansei de ser assim, Henry, mas eu não consigo! Olha o que eu fiz hoje, contei pra todo mundo que gosto de homens, minha vida... vai acabar! - fui enlaçado entre dois braços carinhosos.
- Shhh, calma, vai ficar tudo bem, por favor, não fica assim, você me destrói por dentro - senti algumas gotas caindo no meu cabelo.
Fomos embora após deixar Alicia, visivelmente constrangida, em sua casa. Expliquei que não tinha nada a ver com ela, que o problema era eu mesmo. Henry nos dirigiu de volta para o hotel e eu fiquei calado durante todo o trajeto. Aquelas memórias turvas, fazendo uma tempestade na minha mente, meu coração acelerando, entendendo exatamente o motivo de eu ter ficado tão excitado com o cheiro de Henry naquele dia. Com certeza eu reprimi muita coisa da minha vida, a qual eu sempre sonhei de acordo com os desejos dos meus pais, casar com uma mulher, ter dois filhos e repetir a mesma educação com eles. Reprisando o ciclo de deixar todos sem opções, ditar as regras de uma vida inteira, ignorando que as pessoas podem escolher seus caminhos.
Eu me sentia exausto, muito mais do que quando temos gravações um dia inteiro ou treino intenso na academia. Emoções não são fáceis de lidar e, metaforicamente, elas doem muito mais que qualquer soco ou chute. Ao chegar no hotel, fomos direto para o quarto, Henry entrou comigo na banheira e ali ficamos abraçados durante uns bons minutos. Me deitei sobre ele, de modo que minhas costas sentiam seu abdômen e seu queixo ficava apoiado nos meus cabelos.
- Me desculpe pelas coisas que te disse mais cedo, você não me suga - fiz uma pausa breve, agora eu entendia - quem me suga sou eu mesmo, com todas as minhas inseguranças, incertezas, tudo isso está sendo demais pra mim, não sei se consigo aguentar.
- Não há nada pelo que se desculpar. Você está num momento de transição, eu entendo isso, passei pelo mesmo que você. A mudança é difícil, a gente tenta resistir, acha que é possível não pensar nisso. Também foi difícil pra mim, eu tinha uns quinze anos quando desejei um garoto pela primeira vez. Foi muito complicado entender, pois a minha família sempre foi conservadora, até hoje escondo essa parte de mim.
- Eu fico imaginando a reação da minha família, mas quero não pensar nisso. Se seus pais são conservadores, os meus são o dobro, principalmente minha mãe - algumas lembranças amargas pipocavam em meus pensamentos.
- Sei que já te disse isso umas mil vezes, mas eu estou aqui do seu lado, prometi a mim mesmo que estaria sempre te apoiando, para que não precise sofrer o que eu sofri. Muitas pessoas acham que é fácil aceitar a mudança, mas isso muda tudo em nossas vidas. Eu queria que fosse mais fácil - Henry suspirou e nos calamos com um beijo de carinho e compreensão.
Em meio a beijos e carinhos, ficamos ali até que minha preocupação foi diminuindo, minha ansiedade foi passando. Eu não sei se merecia aquele homem que me envolvia em seus braços, sempre me ajudando a superar minhas dificuldades e eu sendo o completo idiota que sempre fui. A água morna tocava nossas peles e Henry me acariciava sutilmente, parecia um sonho, eu havia esquecido de tudo naquele momento, mas a manhã seguinte não seria tão agradável.
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Notas do Autor:
Eu estou muito, muito, MUITO feliz com todas as visualizações, votos e comentários! Escrever esta história está sendo uma experiência reveladora para mim, cada capítulo é uma emoção diferente, quero tentar passar tudo para vocês.
Me digam se estão gostando, é muito importante esse feedback. Aguardo os comentários e votos!
O que acharam do Ben ter se revelado ao vivo?
O próximo capítulo tem mais uma surpresa, o que vocês acham que é?
Muito obrigado <3
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