3 | "Olá, Ben Summers"
"Abra-me a tua janela/ mostra-me o teu mundo/ quero a ti fora da cela/ quero o teu voar em tudo." (FCrv - Pensamentos e Reticências)
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Olhei para o relógio impaciente, cadê todo mundo? Cheguei mais cedo à casa de Josh Hutk, ele tinha chamado alguns convidados para conversar sobre seu novo projeto para o cinema. Aos poucos as pessoas foram chegando e, dentro de uns quarenta minutos, a casa já estava com gente o bastante para darmos início à reunião. Lenna Chesmont, uma atriz bem jovem, puxou assunto comigo, mas eu parecia estar voando longe, aquela reunião não me interessava muito ou será que eram as pessoas que estavam ali?
- Henry, para de besteira, você é o ator mais bem-sucedido desse ano, seu papel em "Quase Nada" foi sensacional! - Elogiou, Lenna, tentando me agradar e eu sorri amarelo. Gostaria que as pessoas se tocassem quando eu não estou a fim de conversar.
- Imagina, você é uma atriz fantástica também - respondi genericamente, percebendo seu sorriso malicioso. Essa aí quer meu corpo nu. Sim, eu ganhei alguns prêmios em 2015, mas nada para se gabar demais.
- O que você acha de sair um dia... só nós dois? - O que eu disse? Isso vai direto para a caixinha da autoestima.
- Claro, vamos marcar, eu te ligo - mas eu nem tenho seu número e não estou muito interessado - com licença.
Saí daquela conversa, já estava me entediando, fui até Josh e perguntei o motivo da demora para começar a reunião e ele respondeu que estava esperando mais alguém chegar. Passei em frente a um espelho e percebi que eu estava muito bonito, usando um terno vinho bem escuro de corte moderno, meu sapato caramelo foi presente da última namorada, barba feita e cabelo arrumado. Eu estava bem desejável e conseguia perceber alguns olhares me seguindo.
Eu me admirava no espelho quando, através do reflexo, o vi chegar. Foi como se a reunião toda tivesse sumido quando Ben Summers passou pela porta de vidro e parou embaixo do lustre dourado, meu coração deu uma saltada, me olhei no espelho de novo. Tá ótimo! Ele era mais bonito ainda pessoalmente, afinal, eu só o tinha visto nos filmes ou sites e revistas, nunca olho no olho. Todo despojado, usando uma camisa azul com dois botões abertos, ele me viu de longe, forçou seus olhos castanhos para me reconhecer, mas foi interrompido por Josh, que o chamou para o início da reunião.
Foi uma falação sem fim sobre a ideia central do filme, como seria a trama, falou um pouco dos personagens principais e sobre como Ben e eu teríamos que trabalhar juntos na maioria das cenas. O QUE? Comecei a transpirar pensando em trabalhar todos os dias durante um bom tempo com aquele... rapaz elegante que estava bem ali na minha frente. Não sei se teria compostura para não o atacar assim que ele fizesse sua primeira cara de galã para as câmeras. Aquilo é uma pinta? Sim, do lado esquerdo, na bochecha, um charme. Fechei os olhos tentando me concentrar.
Josh terminou sua apresentação e todos bateram palmas, com certeza iria ser mais um sucesso, já que esse homem tem um dedo de ouro para os seus projetos, ele sempre sabe escolher a produção e os atores certos para seus personagens. As pessoas se levantaram e começaram a conversar, o coquetel foi servido e, do outro lado da ampla sala bem iluminada, vi Ben aos sorrisos com Lenna. Nesse momento percebi o quanto ela estava linda, sua pele negra em contraste com um vestido vermelho e um decote bem aberto. A moça elegante já havia ido se jogar nos braços dele, bateu uma pontinha de insegurança. Ele gosta só de mulher, não vai te dar moral, se manca. Meus pensamentos me traíram e, quando dei por mim, já estava me aproximando de Ben assim que Lenna lhe deu uma folga.
- Olá, como vai? - Apesar da voz quase não ter saído, falhando misteriosamente, ele entendeu.
- Oi, estou muito bem e você? - Ele sorriu, muito simpático e educado.
- Estou óti...
- Rapazes! - Josh nos interrompeu - Ben Summers conheça Henry Scott. Adoro isso, adoro fazer as pessoas se conhecerem! - Ele nos cumprimentou, muito animado, apertando nossas mãos. Conheço Josh há anos, somos amigos confidentes, ele sorriu de um jeito que eu já conhecia. - Acho bom vocês se conhecerem melhor, já que vão trabalhar muito tempo juntos.
- É o que estamos tentando fazer - Ben sorriu discretamente. Como pode ter um queixo tão bonito? Ele apertou minha mão e eu devolvi o aperto firmemente, queria demonstrar confiança. - Olá. De novo.
- Olá, Ben Summers.
Conversamos durante um tempo tomando alguns martínis, mas ele não parecia estar tão ligado no nosso bate-papo, olhava em seu celular o tempo todo. Falávamos sobre os nossos futuros papeis de espiões, aparentemente não era um assunto muito chamativo naquele momento. Ele pediu licença ao receber uma ligação e, com um sorriso no rosto, foi atender num canto mais sossegado. Só podia ser alguma moça, já que ele desceu a mão e deu uma ajeitada nas coisas, achou que ninguém viu. Eu vi. Josh veio falar comigo e, quando percebi, Ben já tinha ido embora. Suspirei frustrado, aquela reunião poderia ter terminado bem diferente, mas foi com a Lenna que fui embora. Naquela mesma noite Josh me ligou para saber o que tinha acontecido.
- Ficou com a Lenna?
- Não quero falar sobre isso - murmurei.
- Agora tô curioso, conta logo.
- Fomos pro hotel, mas chegando lá eu não consegui nem começar nada - revirei os olhos enquanto trocava o celular de orelha.
- O que? Você tá me dizendo que não conseguiu nem beijar? - Josh pareceu preocupado.
- Nem isso, acredita? - suspirei.
- Tô chocado, Scott, você tá se apaixonando de novo?
- Tá louco?
- Então vai se enganando - riu alto e se despediu.
Obviamente Josh não acreditou em uma palavra, aquele lá me conhece tão bem que sabia o que "nem conseguir beijar alguém" significava. Eu poderia ser o dono da postura perfeita e digno de prêmio de pessoa mais educada por fora, mas, por dentro, era outra pessoa. Totalmente sexual, para mim, o prazer sempre vinha antes de tudo, tinha os meus princípios, mas não costumava ser impedido por outras pessoas nos meus pensamentos. Continuava enganando a mim mesmo, ignorando o fato de que eu estava muito a fim do Ben, muito mesmo. Foi um sofrimento encontrá-lo todos os dias, mas são ossos do ofício, era necessário e eu não recuei.
Alguns meses de pré-produção se passaram antes do início das gravações, então demorei para vê-lo novamente, apesar de que ele insistia em ficar nos meus pensamentos e nas minhas "homenagens" durante o banho. Eu acompanhava seu Instagram, sempre discreto, nunca tirava fotos mais sexys ou sem camiseta, era o tipo "comida, paisagem, natureza", haviam poucas fotos dele mesmo. Pelo que pude perceber, ele era um cara mais reservado e não gostava de ter a sua vida exposta, uma escolha difícil para um ator americano que morava em Los Angeles.
Finalmente as filmagens começaram e nós dois nos encontrávamos todos os dias. Como a capacidade de atuar dele era fantástica, às vezes eu me pegava o admirando, porém, quando acabava o dia ele ia embora quase que sem se despedir ou se trancava dentro do trailer-camarim, não me deixando brecha para aproximação. Se eu suspirava fundo quando ele passava? Com certeza! Mas era desejo sexual, não passava disso, eu repetia esse mantra várias vezes.
O tempo foi passando e aquele fogo foi se apagando, eu não tinha como me aproximar, toda semana ele estava com uma mulher diferente. Após passar quase um ano desse jeito eu fui desistindo, fui me afastando mais, sendo mais profissional e menos "adolescente na seca". Obviamente o destino não quis assim e fez tudo mudar no dia em que gravamos uma cena arriscada, era a penúltima antes de começar a pós-produção.
Para começar, deveríamos gravar sem camisa, sendo que era uma cena num contexto em que fazia muito calor. Fiquei estupefato com o corpo do Ben, mas ele nem olhou para mim. Poxa, e esse meu peitoral peludo aqui? Nossos personagens teriam que fugir por alguns telhados e, em determinada cena, tivemos que pular entre um bloco verde e outro, ali estariam os telhados na pós-produção e edição. Não usaríamos dublês, porque os nossos rostos eram a parte principal da cena e, além disso, julgamos ser bem fácil, já que nós tínhamos feito aquilo várias vezes no treinamento, queríamos gravar nós mesmos.
Após os aparatos de segurança serem colocados com todo o rigoroso controle da equipe, Ben e eu nos preparamos para a ação. Josh gritou no megafone e começamos a correr, bem sincronizados, para pegar impulso, mas eu tropecei bem no final do bloco e ficamos pendurados pelo cabo de aço. Tudo tranquilo. Porém, algum equipamento tinha sido mal ajustado, soltando-se de um dos cabos. Eu comecei a cair, mas Ben me segurou, me abraçando forte para que eu não escorregasse.
Pode parecer bobeira minha, mas eu adorei aquilo. Seus braços eram fortes e seu cheiro era incrível e eu conseguia sentir seu corpo suado contra o meu, confesso que arrepiei a espinha. Levantei a cabeça e vi, em seu rosto, que estava fazendo muita força para me segurar, em vão, já que outro cabo arrebentou e caímos de três metros de altura, seu corpo pesado caiu sobre mim. A queda não foi nada bonita, nem consegui sexualizar a cena, meu tornozelo torceu e estava doendo muito.
- Henry, você está bem? - Perguntou, um pouco assustado, enquanto se levantava e saia de cima de mim.
- Caral... tá doendo muito isso aqui - e realmente estava.
- Vem cá - ele inspecionou o inchaço vermelho enquanto a equipe de primeiros-socorros não chegava - foi só uma torção, vamos colocar um gelo aí.
Ofereceu-me a mão e me ajudou a levantar do chão. Me apoiei em seus ombros enquanto ele me abraçou pela cintura e, mesmo mancando um pouco, consegui chegar numa cadeira. Uma equipe de paramédicos veio, sob os berros de Josh, analisar o meu tornozelo, chegando à mesma conclusão que Ben. Era apenas uma entorse, recomendaram gelo e bota ortopédica até a dor desaparecer, o que levaria uns quinze dias.
- Falei que era só colocar gelo, fica tranquilo - Ben se aproximou e deu um tapinha no meu ombro tentando me animar. Onde mais gosta de dar tapinhas, Ben Summers? Agradeci a dica e fechei o rosto
- O que foi? - ele perguntou sentando-se ao meu lado.
- Ah, cara, vai ser difícil ficar quinze dias parado, vai atrasar tudo por aqui - confessei minha frustração.
- Não fica assim, rapaz... O pessoal pode aproveitar para dar andamento em cenas secundárias - soltei o ar pesadamente - vamos fazer assim, vamos sair hoje, a gente toma uns drinques, aí você relaxa, pode ser?
- Claro! - Nota mental, comprar preservativos. Fiquei muito animado com o convite, eu queria aquilo há muito tempo.
Combinamos que ele passaria mais tarde no hotel em que eu estava e assim aconteceu. Ele fez questão de subir até o meu quarto para ver se eu conseguiria andar. Mas é um cavalheiro mesmo. Meio que dei uma forçada para parecer muito dolorido, me diverti muito com a situação. Se o meu fogo já tinha voltado? Agora era incêndio. Eu estava ficando sem graça de tanto que prestava atenção nele, não tirava os olhos de todos os seus detalhes.
Fomos a um lugar chamado "The Hottest", um pub para pessoas famosas, em Los Angeles. Vários atores e atrizes, cantores e divas do pop sempre dão as caras por lá, já que o lugar é muito rígido e não deixa nenhum paparazzo se aproximar. Cumprimentamos alguns conhecidos como Gal Gadot e Scarlett Johansson, avistei Ezra Miller de longe, mas ele não me viu. Aquele lugar estava bem cheio, ainda bem que tinha dois ambientes, sendo que Ben revelou não gostar de ficar no meio da multidão.
Fomos para a área mais calma, nos sentamos em um sofá de couro que fazia uma curva em volta da mesa. Já estávamos conversando quando os drinques chegaram ao som de Demi Lovato, que tinha acabado de subir no palco. Contudo, eu só conseguia admirar aquele sorriso, aquelas mãos gesticulando, o jeito como Ben ajeitava o cabelo exibindo seu pulso. Por baixo da mesa, senti algo insistindo para sair de dentro da minha cueca, a cada momento eu ficava mais excitado. Calminha aí, fica tranquilo.
Eu estava achando ótimo aquele tempo que estávamos passando juntos, mas ele não retribuía, não me encarava, apenas conversava e fazia piadas, talvez até um pouco forçadas. Claro que não demonstrei nada, sou educado demais para ser grosseiro com alguém. Falamos de assuntos genéricos e nada de ele me dar abertura para uma aproximação mais... íntima. Ele não me notava, parecia que estava ali de favor, eu não queria que alguém estivesse comigo só para aumentar seu ego de "cidadão de bem". Confesso que com a frustração eu fui ficando um pouco nervoso, meio irritado.
Foi então que entendi tudo, assim que Lenna Chesmont chegou e sentou-se ao lado dele. Eu a cumprimentei e sorri. Modéstia à parte, sou ótimo ator, então continuei conversando com os dois tranquilamente, mesmo estando quase explodindo por dentro. Poxa, Ben, eu quero você e você querendo ela. Decidi que não iria me aborrecer, Lenna era uma mulher simpática e carismática, ela não era a responsável pela minha decepção, eu não poderia tratá-la mal. Nem o Ben, pois, tirando o fato de ele ser um dos homens mais lindos que já vi, ele não tinha culpa do meu desejo, era heterossexual, nunca iria me notar como eu queria. O que eu esperava?
- Eu tive poucos relacionamentos duradouros - confessei quando o assunto surgiu, após algum tempo da chegada da moça.
- Eu também, mas estou procurando algo mais sério, cansei de ficar de bobeira - ela olhou diretamente para Ben, que já se encontrava um pouco alcoolizado.
- Eu nem quero saber de namorar - declarou Ben, tomando outro gole da margarita - cansei de desilusões, quero diversão e mais nada.
- Então, talvez, eu esteja procurando algo na pessoa errada - quase ofendida, Lenna levantou-se para ir embora. Imagino que aquela conversa já havia acontecido antes entre eles.
- Não... Lenna... eu não quis...
- Me desculpe Ben, estou tentando há três meses, mas obviamente não estamos na mesma sintonia, não adianta nada eu ficar aqui me desgastando por algo que não vai pra frente. Eu não preciso disso, não preciso ficar me humilhando pra ninguém, se você só quer saber de tomar os seus drinques, fique à vontade - ela se soltou da mão que a segurava pelo pulso e saiu sem hesitar. Uma pessoa decidida como ela, com certeza, poderia ter quem quiser.
- Uau! Você precisa ter mais tato com as pessoas, meu caro - ri da falta de sensatez de Ben, mesmo me sentindo mal por Lenna.
- Ela já estava me enchendo mesmo, não aguentava mais. O que nos resta é um porre bem tomado! - Ben pediu mais bebidas a um garçom que passou próximo a nós.
- Talvez seria melhor a gente ir com calma, você já está ficando alterado - contestei.
- Nada disso! Vamos nos divertir! - Visivelmente descompensado por Lenna ter ido embora, tentou fingir que não tinha dado importância, mas o efeito da bebida não o ajudou na atuação.
Se eu não tivesse caráter, poderia ter investido no Ben enquanto ele estava bêbado, mas eu nunca teria coragem de fazer algo assim, me aproveitar de uma pessoa num momento em que ela está vulnerável ou suscetível. Eu podia ser tarado por dentro, devasso e outras coisas, mas meus princípios sempre vieram em primeiro lugar. Em certo momento, Ben foi ao banheiro e, quando retornou, percebi que ele já estava bem embriagado. Insisti para irmos embora até receber uma resposta positiva e, quando ele foi se levantar, perdeu a firmeza das pernas e caiu em mim, mas consegui segurá-lo e pedi ajuda a um segurança do pub. Apesar do meu tornozelo estar dolorido, a bota ortopédica me dava certa confiança para andar, agora era o Ben que estava apoiado em meus ombros.
Uma situação constrangedora, posso afirmar, percebi vários rostos reparando na cena. Porém, eu estava cuidando de um amigo que foi cuidadoso comigo mais cedo, naquele momento eu não tinha intenção nenhuma de fazer nada a mais com ele, queria apenas que cada um de nós seguíssemos nossos rumos. Eu já não mantinha nenhuma esperança de que fosse acontecer algo entre nós, já havia desistido ao ver como ele ficou quando Lenna foi embora.
Obviamente ele não daria conta de voltar sozinho para casa, muito menos dirigindo, então chamei um táxi. Eu o levaria até o seu apartamento e depois iria para o hotel, já havia planejado tudo mentalmente. Durante o caminho Henry se encostou em mim, se apoiando para não ficar à deriva dentro do carro. Eu já nem estava mais alterado pela pouca quantidade de bebida que ingeri, então posso dizer com certeza o que aconteceu, nunca irei esquecer.
Ben posicionou seu rosto próximo ao meu ombro e aspirou profundamente, demonstrando não estar satisfeito, ele se aproximou mais, encostou o nariz no meu pescoço e o esfregou levemente abaixo da minha orelha, sugando o ar outra vez. Eu tremi, eu arrepiei, eu fiquei sem saber o que fazer, eu queria beijá-lo, mas me controlei, jamais faria nada com ele naquele estado. Não obstante, sua mão se guiou até o meu peitoral e o acariciou indelicadamente, buscando meu mamilo, por cima da minha camisa e foi descendo, sua respiração se intensificou junto com a minha. Não!
Ele se encostou na janela oposta à minha quando o afastei de mim, não insistiu, mas vi que estava excitado quando ele passou sua mão e a apertou contra seu notório e firme volume na calça. Nesse momento, havia uma possibilidade muito grande de eu estar desidratado de tanto suar, pedi ao taxista que aumentasse o ar-condicionado, mas ele replicou que já estava no máximo. Abri mais um botão da camisa, abri um pouco da janela para sentir o vento, abri minha boca para chamar Ben de volta ao meu colo, mas não tive coragem.
Nunca tinha sentido nada parecido, com nenhum rapaz ou moça, era muito forte e diferente. Aquele homem encostado na janela, ali, do meu lado, exercia uma força muito grande sobre mim. Senti minhas orelhas arderem e coloquei a mão no rosto, segurando meu queixo, incrédulo no que tinha acabado de acontecer e minha cabeça começou a girar milhões de pensamentos, todos confusos, eu não estava raciocinando direito. Finalmente chegamos ao apartamento dele e o porteiro me ajudou a colocá-lo para dentro.
Peguei a chave da porta no bolso do paletó, ele já estava quase dormindo, faltava muito pouco para que ele desmaiasse completamente e só acordasse no outro dia. Entrei num apartamento muito bem mobiliado e decorado com paredes de madeira e um bar sofisticado. Com dificuldade e mancando, achei o quarto e consegui fazê-lo deitar na cama. Ele resmungou algo e eu passei a mão em seus cabelos, se ele soubesse o que eu sentia, como ele estava quebrando meu coração ao saber que nunca conseguiria se aceitar, para que pudesse aceitar a mim. Tirei seus sapatos e me virei para sair.
- Você... dorme comigo hoje - Ben segurou meu antebraço, falando arrastado, claramente fora de si.
- Não, Ben, eu não posso - tentei me desvencilhar, mas ele foi mais forte. Como ele ainda tinha forças estando naquelas condições?
- Eu... preciso... cheiro... - me puxou com força me fazendo cair na cama, me abraçou apertado colando seu peito em minhas costas, enterrou seu nariz na minha nuca farejando-a, por fim, apagou após suspirar meu nome - Henry...
Ali, naqueles braços, me dei conta dos meus sentimentos. Estava fortemente apaixonado, agora eu não tinha mais como ignorar e esconder. O universo, mais uma vez, me pregou uma peça. Eu tinha que gostar justamente do cara reprimido? Do cara que não conseguia se aceitar ao ponto de ter que ficar quase inconsciente para realizar seus desejos? Daquele que não se lembraria que dormiu abraçado comigo, implorando meu cheiro? Evidentemente não consegui segurar algumas lágrimas, o sentimento de ser correspondido por alguém que não me aceitaria quando voltasse a si, era dilacerante.
Esperei um tempo, eu queria sentir aquele enlace mais um pouco e, quando percebi que não haveria chances de Ben acordar, a contragosto, saí de seus braços e me levantei. Segui até a cozinha e tomei um copo com água, minha cabeça latejava com as últimas cenas, me sentei no grande sofá de veludo preto. Apoiando meu rosto nas mãos e os cotovelos nos joelhos, comecei a focar meus pensamentos, tentar encontrar uma solução para o meu desejo de derramar todas as palavras que expressassem meus sentimentos.
Acordei assustado, o sol já tinha nascido, ao sentir o veludo do sofá percebi que tudo tinha sido real, mesmo eu querendo muito que tivesse sido apenas um sonho ruim. Olhei ao redor e notei que Ben ainda não tinha acordado e eu fui diretamente para a porta de entrada. Preciso sair daqui o mais rápido...
- Hey, você já está indo? - Meu coração doeu ao ouvir aquela voz. Sério, universo?
- Sim, preciso... é... aconteceu algo, preciso ir embora - gaguejei sem olhar para trás.
- Cara, eu não lembro de nada de ontem, nem como vim parar aqui em casa - ele riu sem graça - eu esperava que você me contasse - contar que você me agarrou e sentiu meu cheiro até dormir?
- Ah, não foi nada demais, você exagerou na bebida e acabou precisando de ajuda pra chegar aqui - com a porta aberta eu já fui saindo.
- O.k., obrigado, então. Acho que preciso ligar pra Lenna...
- Não precisa agradecer - fechei a porta atrás de mim e andei até o elevador. Lenna? Não posso acreditar... ele não se lembra mesmo.
Resolvi descer pelas escadas, a espera do elevador poderia me fazer mudar de ideia e entrar naquele apartamento de novo. Minha vontade era de voltar e contar tudo o que aconteceu, com todos os detalhes e finalizar a história com um beijo. Desci o mais rápido que pude, sem titubear, eu precisava ir embora dali. Não dava mais, era impossível esconder o que eu sentia, eu temia ver o Ben de novo e não conseguir me segurar. Como essa paixão cresceu tão forte? Eu queria parar no meio da rua e gritar até meus pulmões não aguentarem, mas só havia um lugar em que eu poderia me sentir melhor.
- O que aconteceu contigo, Scott, que cara é essa? - Josh percebeu minha cara de zumbi ao abrir a porta de sua casa. Ele era um como irmão para mim, nos conhecemos quando eu ainda era ator secundário e ele produtor. Escutou toda a minha história, incrédulo, ainda jogou na minha cara que ele já tinha falado que eu estava apaixonado.
- Eu sei que você já tinha me falado, mas eu não queria acreditar, você não sabe o quanto foi difícil admitir isso. Eu, o rei do sexo casual, apaix... - meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não queria chorar de novo, me calei.
- Vem cá - me abraçou e me confortou - meu deus, você precisa de um banho e um café.
- Só você pra me fazer rir no meio da minha desgraça existencial.
- Henry Scott falando palavrão? Realmente a coisa é séria! - Rimos.
Evitei me encontrar com o Ben o máximo que pude, quando as gravações retornaram eu já estava mais tranquilo com aquilo tudo, mesmo que meu coração palpitasse em todas as vezes que eu o vi. Prometi a mim mesmo que nunca contaria o que aconteceu naquela noite e, na mesma promessa, que descobriria um jeito de perfurar a parede do Ben, ajudá-lo a se aceitar. Somente assim, ele poderia me aceitar em sua vida como um par, alguém para estar ao seu lado, dividindo emoções e sentimentos, bons ou ruins, eu queria estar ao lado dele para o que fosse necessário. Minha empatia foi maior, eu não poderia deixar Ben sofrer como eu sofri ao passar pelo mesmo que ele. Tudo se ajeitaria e seria no Brasil, um lugar especial para mim, que se tornaria um lugar especial para ele também.
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