Capítulo 29
Quando o Fred chegou, a Bia estava terminando de virar o café na garrafa térmica.
Foi com muito pesar e força de vontade que ela conseguiu se desenroscar do homem gostoso e sem roupa na cama com ela, mas se o irmão nunca tinha ido lhe procurar nas raras vezes em que chegou antes de ela descer para tomar café, a possibilidade existia. Imagina o drama se ele a encontrasse na cama com o Lourenço?
— Bom dia, maninha — ele cumprimentou a Bia com um beijo e levantou a mão com algumas sacolinhas de plástico. — Eu fui na padaria.
— Bom dia! Você passou na padaria voltando pra casa? — Ela fez a pergunta não olhando para ele de propósito, como se não fosse nada de mais.
Ele ficou alguns segundos em silêncio, até cair na risada.
— Casamenteira e fofoqueira? Você não era assim, Biatriz.
— O quê? — Ela fez cara de ingênua. — Foi uma pergunta totalmente inocente.
— Ah tá! — ele disse tirando os pães de dentro da sacola. — Ao invés de cuidar da minha vida, você devia me agradecer por ter feito o favor de não deixar as visitas passando fome.
— Awww! Que irmão bonzinho que eu tenho! — A Bia colocou a garrafa na mesa da cozinha, onde eles costumavam tomar café aos domingos. — Quer dizer que a carona da Naiara foi só uma carona?
— Meu Deus, você não desiste? Não que seja da sua conta, mas eu dormi e acordei sozinho na minha cama. Que nem você.
Ainda bem que ela estava de costas, jogando o resto da água fervente na xícara com o saquinho do seu chá, e teve tempo de se recompor antes de voltar para a mesa. Além do mais, tecnicamente, a cama do quarto de hóspedes era sua. E não tinha acontecido nada com o Lourenço. Foi igual a dormir sozinha.
— E é só o que eu vou dizer. — O Fred puxou a cadeira para ela sentar. — A Naiara é uma moça linda e superbacana e em outras circunstâncias podia até rolar algo mais, mas eu acabei de me divorciar.
— Tá certo. Eu vou parar de me meter nos seus casos. É só vontade da irmã chata de te ver feliz.
— Você não é chata. — Ele deu um sorriso de lado. — Não muito. E eu não tô com pressa. Quando a gente convive de perto com um casamento como o do papai e da mamãe, é impossível não querer a mesma coisa. Eu errei da primeira vez. Eu não quero errar de novo.
— Eu entendo. — Os olhos da Bia se encheram de lágrimas. — Eles colocaram o nível lá no alto, né?
— Nada de choro. — O Fred deu um aperto de leve na mão dela. — Mudando de assunto, a Mariana passou muito mal ontem?
— Não, ela veio quietinha no carro. — A Bia limpou os olhos. — O Lourenço ajudou ela a deitar e os dois estão dormindo ainda. Deve estar tudo bem.
— Tá tudo bem — a própria Mariana respondeu entrando na cozinha.
A Bia não saberia dizer quantos porres tinha tomado na vida. O mais memorável, sem dúvida, o da noite em que ela tinha transado com o Lourenço pela primeira vez, e alguns outros poucos. Mas de uma coisa ela tinha certeza, em nenhuma das suas ressacas, ela acordou parecendo uma modelo prestes a entrar na passarela. Tirando um leve ar de cansaço, que só quem olhava com muita atenção ia detectar, a Mariana estava com a mesma aparência perfeita de sempre. Vampira, confirmado.
— Eu trouxe pra você. — O Fred remexeu numa das sacolinhas da padaria e entregou duas garrafas de Gatorade, um laranja e um vermelho, para a Mariana, que tinha se sentado na frente dele.
— Obrigada — ela agradeceu com um ar de surpresa no rosto.
— E você devia comer alguma coisa também. — A Bia colocou um pratinho com torradas do lado dos Gatorades.
— A vantagem de ficar de ressaca na casa de dois médicos. — A Mariana deu um dos seus raros sorrisos e despejou o Gatorade laranja num copo. — Eu queria pedir desculpas pra vocês, principalmente pra você, Biatriz, que teve quer vir embora mais cedo por minha causa.
— Problema nenhum. — A Bia deu de ombros e pegou uma torrada. — Eu já estava cansada e pronta pra vir.
— Eu não sei o aconteceu. — A Mariana passou requeijão numa torrada, sem coragem de encontrar os olhos de ninguém. O Lourenço estava certo. Ela estava envergonhada. — Eu sempre percebo quando eu tô chegando no meu limite e paro, mas o Elias me recomendou um drinque docinho e quase não dava pra sentir o álcool. Eu tomei um, e outro, e no terceiro, a tontura veio de uma vez. Eu peço desculpas se eu dei trabalho.
— Trabalho nenhum. — A Bia usou um tom de voz que ela esperava que fosse deixar a Mariana mais à vontade.
— E não se preocupa com o resto dos documentos. — O Fred usou o mesmo tom e se inclinou na direção da Mariana. — Ficou pouca coisa, eu termino sozinho.
— Não, eu não me importo de ajudar, mas pode ser de tarde? Eu tenho que ir no shopping.
— Quem diria que você gosta de viver perigosamente, Mariana — a Bia se meteu na conversa com uma risada incrédula. — Shopping no último domingo antes do Natal?
— Eu sei. — Ela massageou uma das têmporas. Talvez ela não fosse tão imune à ressaca como aparentava. — Mas quando o Lourenço disse que a gente vinha pro Rio, eu não tinha terminado minhas compras e eu enrolei. O Tio Rodolfo e a Alexa chegam amanhã, e eu não vou ter tempo. Eu tô indo agora, mais cedo, porque eu acho que vai ser menos pior.
— Pode ser de tarde. Os documentos — o Fred respondeu à Mariana. — É até melhor. Eu aproveito pra dar uma chegadinha na clínica. Eu preciso checar o paciente que eu operei ontem.
— Vocês me dão licença? — A Mariana levantou e pegou a outra garrafa de Gatorade para levar com ela. — Biatriz, você avisa o Lourenço pra mim? E não precisa me esperar pro almoço, eu como alguma coisa por lá mesmo.
— Eu falo com ele.
— Obrigada.
Com um aceno para o Fred, ela foi embora, e ele se virou para a Bia.
— Você não se importa de eu te deixar sozinha o dia inteiro com o Lourenço, outra vez?
— Você não vem almoçar com a gente?
— Se der tempo eu te aviso, mas também não precisa me esperar. Só, por favor, se comporta. — Ele apontou o dedo para ela. — Vê se não me aparece com um piercing.
— Sabe que não é má ideia? — A Bia escondeu o sorriso por trás da xícara de chá.
— Biatriz!
— Tô brincando, Fred. A gente provavelmente vai passar o dia na cama, tirando o atraso.
O Fred arregalou os olhos por um segundo, de queixo caído, e caiu na gargalhada.
— Palhaça! — Ele levantou e deu um beijo na cabeça dela. — Se fosse outro, eu incentivava, mas considerando a sua história com o cara, melhor não, né?
Vide seu pedido para o Lourenço manter tudo em segredo. E ainda bem que o Fred saiu sem esperar resposta. Mentir para o irmão, ou distorcer fatos para aplacar sua consciência, eram os tipos de complicações que ela queria evitar, mas como tinha prometido ao Lourenço, a Bia não iria se preocupar com a reação do Fred, ainda. Um dia de cada vez.
E foi por estar empenhada em manter a promessa, que ela não pensou muito ao arrumar uma bandeja de café para o Lourenço. Uma xícara de café puro com três gotinhas de adoçante, um pão com queijo e presunto, metade de um mamão pequeno e um copo de água. Não que ela tivesse prestado atenção ao que ele comia todo dia de manhã, nem nada.
No meio da subida da escada, ela deu meia volta. Aquela não era uma boa ideia. Desde a noite anterior, a Bia só conseguia pensar naquilo, mas o que ele tinha proposto não tinha necessariamente que envolver sexo. Afinal, ele quis só dormir com ela. Levar o café podia dar a ideia que ela era pegajosa. Melhor esperar o Lourenço descer e ver como ele agiria para ela poder reagir de acordo.
Ela parou depois de descer dois degraus. Ele era homem, claro que ele estava pensando em sexo!
Por que não lutar contra uma coisa que ela queria que acontecesse, era tão difícil?
Respirando fundo e endireitando os ombros, ela voltou a subir as escadas. Era só uma bandeja de café. Se ele não gostasse da surpresa, ela deixava ele tomando café sozinho.
Com o coração parecendo que ia pular do peito de tão forte que batia, ela abaixou a maçaneta com o cotovelo, empurrou a porta com o ombro e deu de cara com a cama vazia.
— Não! — a exclamação escapou da Bia, fazendo o Lourenço aparecer na porta do banheiro com uma expressão de alarme.
— O que foi? — Ele terminou de limpar o rosto com uma toalha, brindando a Bia com a melhor visão do mundo, os braços tatuados, o peito definido, a barriga de tanquinho com aquele V indecente como uma seta apontada para a tentação que estava escondida por uma cueca apertadinha, azul escura, e as pernas grossas.
Ela se obrigou a olhar para o rosto dele antes que a bandeja fosse parar no chão.
— Eu trouxe café pra você tomar na cama. E você não tá na cama.
— Você trouxe café pra mim? — Ele pendurou a toalha na maçaneta do banheiro com o sorriso de uma raposa que acabou de encurralar o carneirinho que pretendia comer. — Não seja por isso. Quem sou eu pra recusar atendimento cinco estrelas?
Ele sentou encostado na cabeceira com as pernas esticadas e fez um sinal para ela se aproximar. Como as pernas funcionaram, ela não saberia dizer, mas ela conseguiu andar até a cama e colocar a bandeja no colo dele.
— Cadê o seu chá? — ele perguntou com a testa franzida depois de examinar o conteúdo da bandeja.
— Eu já tomei. — Ela deu um passo para trás, sem saber se ia ou ficava.
— Me faz companhia? — Ele bateu a mão no colchão do lado dele, facilitando a decisão da Bia.
Ela sentou com as pernas dobradas para o lado, não muito perto, dando espaço a ele para comer e beber confortavelmente. Assim que ela terminou de se ajeitar, ele segurou seu queixo e se aproximou.
— Obrigado.
Os lábios dele buscaram os seus num beijo doce e calmo. A Bia não sabia como estava precisando daquele beijo até sentir a pressão da boca macia encostada na sua.
Todas as incertezas e indecisões que tinham rondado sua cabeça naquela manhã, foram embora. Foi um beijo de confirmação de tudo o que ele tinha dito na noite anterior, que ele estava ali para ajudá-la, apoiá-la, ser seu amigo, mas também ser mais que seu amigo. E ela retribuiu do mesmo jeito, mostrando a ele que não estava lutando contra.
— Eu achei que você ia estar aqui quando eu acordasse — o Lourenço reclamou com a voz rouca, se recostando na cabeceira e pegando a xícara.
— Eu tive que levantar. Por causa do Fred, mas ele já tomou café e saiu.
Ele assentiu, tomando um gole da xícara dele, e soltando um gemido que foi lá dentro da Bia e acendeu cada pedacinho do corpo dela.
— Do jeito que eu gosto. — Ele pousou a xícara de volta na bandeja e pegou o sanduíche. — E a Mari, acordou?
Enquanto ele comia, segurando o pratinho embaixo do queixo pra não espalhar farelo de pão pela cama (pontos para ele), a Bia repetiu a conversa da mesa do café, com ênfase na explicação da Mariana sobre como tinha sido um acidente ter ficado bêbada. Aquilo pareceu acalmá-lo um pouco, mas não por completo. E ele devia estar com fome, porque devorou o pão no tempo em que ela levou para contar tudo.
— E as meninas, chegam que horas? — Ele bebeu o resto do café.
— Normalmente elas chegam à noite, mas nas férias, quando o Diego também tá de folga, elas ficam até segunda. Ele deve trazer elas amanhã de manhã.
— Então, o dia é todo nosso? — O Lourenço tirou as sementinhas do mamão com uma colher, pegou um pedaço da fruta e levantou até a frente da Bia.
Ela aceitou o oferecimento, se arrepiando com a maneira quente do Lourenço grudar os olhos nos seus lábios. Ele puxou a colher, bem devagar, e quando a Bia passou a língua pelo cantinho da boca, pegando um pedacinho de mamão que tinha ficado ali, o olhar dele pegou fogo, o marrom se tornando quase preto.
— A manhã inteira, com certeza — a Bia respondeu depois de engolir. — O Fred disse que eles estavam acabando com os documentos. Eles não vão precisar da tarde toda, eu acho.
— E o que você faz no domingo? — O esforço do Lourenço de desviar o olhar dos seus lábios pareceu enorme, mas ele o fez, pegando uma colherada de mamão para ele.
— Nada de mais. Depois do café, eu e o Fred damos uma caminhada na praia, ou quando ele tem que ir na clínica, como hoje, eu vou sozinha. Ou fico arrumando alguma coisa aqui em casa. A gente sai pra almoçar e depois vai no cinema ou dá um passeio... — A voz da Bia foi morrendo aos poucos. Não é que ela não soubesse que a vida dela era chata, desanimada e monótona, mas falando em voz alta, parecia pior. — E você? O que você costuma fazer no domingo?
Ele mastigou e engoliu, antes de responder.
— Domingo é meu dia de folga. Às vezes, eu vou pra fazenda da tia Marinês, perto de Gramado, passar o dia com eles. Às vezes, eles que vão pra Porto, e a gente almoça na casa da Alexa.
— Gramado não é longe de Porto Alegre? — a Bia perguntou, imaginando uma mesa grande, a família colocando os assuntos da semana em dia, rindo e brincando uns com os outros.
Pelo lado do Lourenço, eram só ele, as irmãs e o tio, mas ele tinha contado, que juntando a família da segunda esposa do seu Rodolfo com a do marido da Alexa, era tanta gente que ele mesmo não tinha aprendido o nome de todo mundo. Uma pontinha de inveja e nostalgia se desenrolou dentro da Bia. Tinha uma época que seus domingos eram parecidos com aquele. Não mais.
— Umas duas horas e meia de Porto até a fazenda. — O Lourenço a puxou de volta para a realidade. Que ali do lado dele, naquela cama, nem era tão ruim. — Você tem que levar as meninas lá, um dia. Elas vão adorar a fazenda.
— Eu sempre tive vontade de levar elas em Gramado no Natal. Dizem que é lindo.
— Um caos, mas vale a pena. É lindo mesmo. Quem sabe, o ano que vem?
— Quem sabe? — ela respondeu, com um sorriso. Tudo bem, não era para fazer planos, mas imaginar o Natal do ano seguinte com o Lourenço deixou as borboletas do seu estômago todas alegrinhas.
— E então, o que você quer fazer? — Ele ofereceu outro pedaço de mamão para ela, comendo ele mesmo depois que ela recusou.
— O que você quer fazer? — ela devolveu a pergunta.
Uma coisa era iniciar um beijo reagindo às provocações dele, outra era tomar iniciativa e fazer o que ela estava querendo, que era transformar a piadinha que ela tinha feito com o Fred, em realidade.
— O que eu quero fazer... — Ele colocou o mamão inacabado e a colher na bandeja, que foi empurrada para cima da mesinha de cabeceira, e se virou para a Bia. — Tem muita coisa que eu quero fazer, mas a gente pode começar assim...
Segurando seu queixo, ele cobriu sua boca com a dele. Nada parecido com o beijo calmo de poucos minutos antes. Os lábios eram exigentes, a língua com gosto de café com mamão se esfregando na sua. Pode ter sido o Lourenço que passou o braço pela sua cintura e a puxou, ou pode ter sido ela mesma que pulou no colo dele, o fato é que ela estava lá, o tecido fino do mesmo short de elástico que ela tinha usado no outro dia, deixando que ela sentisse cada centímetro maravilhoso da ereção debaixo dela.
Agarrando seu quadril com uma mão de cada lado, o Lourenço a fez escorregar por cima dele. Indo. Devagar. Vindo. Lentamente. E de novo. Seu corpo se incendiou. Ela enterrou os dedos nos ombros fortes quando ele sugou sua língua, não querendo se perder no redemoinho louco que fazia tudo rodar dentro e fora dela, tanto que ela mal sentiu a barra da sua blusa sendo levantada. Ele se afastou, levando seu lábio inferior preso entre os dentes, até soltá-lo com um gemido.
— Levanta os braços — a ordem saiu num tom de voz profundo, que não admitiria ser contrariado. Não que ela quisesse, ou tivesse forças, para recusar, e ela obedeceu como na noite anterior, com arrepios enfeitando a pele.
Ele franziu a testa quando a viu de sutiã. Ela tinha cogitado dispensar a peça de roupa ao se vestir, mas se era para deixar as coisas acontecerem naturalmente, o Lourenço ia precisar se acostumar com o fato de que ela não era mais uma menina que se sentia à vontade sem sutiã. E não era como se ela não tivesse vários sutiãs bem bonitos, como o que ela estava usando, o bojo preto envolvido por renda cor-de-rosa.
Pela maneira que ele inspirou fundo ao contornar a renda com a ponta do indicador, não parecia estar se incomodando tanto assim. Ele continuou a mover o dedo, subindo pela alça preta, pescoço e maxilar, chegando ao seu lábio inferior, que parecia prender o olhar fascinado. Ela abriu a boca e sugou o dedo para dentro, rodeando a ponta com a língua.
— Gulosa! — Ele empurrou o dedo mais fundo. — É isso que você quer?
A Bia balançou a cabeça numa afirmativa, olhando para ele, que nem piscava, fixado no próprio dedo dentro da sua boca.
— Eu primeiro. — Ele puxou o dedo que foi perseguido por um gemido de contrariedade fugindo dos lábios dela. — Ontem você gozou na minha mão, hoje você vai gozar na minha boca.
Sua visão se escureceu por alguns segundos, e ela quase implorou para ele desistir. Não que ela não quisesse, mas ela não ia sobreviver. Ela era muito nova para morrer! Ela tinha duas filhas para criar e um futuro que, pela primeira vez em muito tempo, a fazia ter vontade de viver.
Ele a inclinou para trás e a deitou com cuidado no colchão, se ajoelhando entre as suas pernas e apoiando os braços do lado dos seus ombros, pairando sobre ela, e sob aquele olhar queimando de tantas promessas, as suas objeções sumiram. Se fosse para morrer, tesão não era das piores maneiras de se ir.
— Relaxa — o Lourenço sussurrou, deslizando a ponta do nariz pelo rosto dela. — Vai ser melhor que ontem.
Era exatamente o que ela temia, mas antes que pudesse dizer aquilo em voz alta, o Lourenço salpicou pequenos beijos pela sua boca, descendo pelo pescoço, colo e vão entre os seios. Ele parou no seu umbigo, rodeando com a língua, mordiscando como fazia quando ela tinha o piercing, e continuou por uma eternidade até chegar ao elástico do seu short, que ele puxou para baixo, bem devagar, junto com a calcinha. A Bia encolheu as pernas e ajudou, e antes mesmo que ele jogasse o bolo de tecido de lado com uma das mãos, já estava afastando os joelhos dela com a outra.
Ele a segurou toda aberta e exposta, os joelhos pressionados contra o colchão, em silêncio, só olhando, o peito subindo e descendo com a respiração arfante.
— Lourenço? — A Bia tentou fechar as pernas, mesmo sabendo que não conseguiria. Por mais que estivesse tudo certinho ali embaixo e ela não tivesse motivos para se envergonhar, não naquele sentido, era quase que insuportável ficar ali, submissa ao olhar dele.
— Quietinha. Deixa eu apreciar a vista — ele implicou, mas se moveu, colando os lábios perto do seu joelho direito, beijando a parte interna da sua coxa, raspando o queixo e a bochecha de propósito pela pele sensível.
— Você não fez a barba — a afirmação da Bia saiu com um grunhido.
— Eu sei que você gosta.
Estar com a boca apertada contra sua perna não a impediu de ver o sorriso que entortou aqueles lábios safados.
— Você sabia que isso ia acontecer?
— Digamos que eu tinha esperanças — ele murmurou entre os beijos.
A risada da Bia sumiu com o hálito quente chegando perto de onde ela precisava dele, mas para seu desespero, ele pulou para a outra perna, mordiscando perto do joelho, repetindo a doce tortura do outro lado, deixando uma trilha áspera de fogo por onde passava.
— Lourenço! — ela repetiu o nome numa súplica.
— Calma, gata. Antecipação é metade da festa. Eu já chego lá.
A Bia quase gozou quando ouviu a palavra 'gata'. De todas as maneiras que ele a chamava, aquela era tão ele, tão como eles eram, jovens e apaixonados, que foi por muito pouco que a festa não acabou antes de começar. E no seu desespero, ela fez uma coisa que não podia antes, enfiou os dedos pelos cabelos macios, mais compridos que na época em que namoraram, e agarrando um punhado, puxou a cabeça dele até onde ela queria.
— Mulher impaciente — ele murmurou com um sorriso devasso antes de se render à vontade dela.
O primeiro contato da boca do Lourenço a fez dar um grito que ecoou pelas paredes do quarto.
Aquela boca!
Aquela língua!
Ainda bem que eles estavam sozinhos e tomara que os vizinhos não estranhassem o som anormal e pedissem ao segurança do condomínio para ir checar. Porque não havia nada no mundo que a faria interromper o Lourenço. Terremoto, tsunami ou apocalipse zumbi. Só o que ela era capaz naquele momento, era de fechar os olhos e aceitar beijos, mordidas, chupões e a língua que brincava com ela. Atiçando. Queimando. A levando às alturas.
Ela continuava com os dedos enfiados no cabelo dele e, provavelmente, depois, quando se lembrasse daquele momento, se envergonharia pela maneira que ela rebolava, sem controle, se esfregando na boca que a atacava sem piedade. Ou por causa dos gemidos que saíam por vontade própria da sua garganta. Gemidos, grunhidos, miados. Ela nunca tinha sido tão alta e despudorada durante o sexo. Levando a mão até o lado, ela conseguiu puxar o travesseiro para cima do seu rosto, tentando abafar o escândalo.
— Biatriz... — Ele se separou dela e ela tentou puxá-lo de volta para baixo, em vão. — Olha pra mim.
A Bia levantou o travesseiro o suficiente para que pudesse vê-lo por uma pequena fresta. Ele estava com o queixo apoiado no seu ventre, os cabelos bagunçados entre seus dedos, a boca melada com um sorriso de lado e ela quase morreu, de tão lindo que ele era.
— Você vai sufocar.
— Se eu morrer, não vai ser por falta de ar — ela resmungou e deixou o travesseiro cair de volta no rosto, esperando que ele entendesse como um sinal para voltar a fazer o que estava fazendo.
Com uma gargalhada, ele agarrou o travesseiro e o jogou do outro lado do quarto.
— Eu quero ouvir você. Eu quero você gritando o meu nome — ele mandou, abaixando a cabeça e a lambendo de baixo até em cima.
— Ai, meu Deus! — ela gritou.
— O meu nome, não o meu apelido — ele falou antes de voltar a chupá-la com força.
— Idiota! — A Bia riu e gemeu e choramingou ao mesmo tempo.
— Esse também não. Lourenço, por favor.
Ele a rodeou com a língua e enfiou dois dedos nela.
— Lourenço!
Ela sentiu a pequena risada contra o seu centro antes que ele voltasse a se concentrar em matá-la aos poucos. Como na noite anterior, ela quis prolongar o momento, aproveitar ao máximo, mas foi impossível. De uma vez, o orgasmo veio e ela gozou e gozou e gozou, gritando o nome dele até sua garganta doer, arranhada.
Quando foi demais, num último esforço, ela puxou a cabeça dele para longe. Ela era uma massa inútil de ossos e músculos, acabada da melhor maneira possível, sentindo o Lourenço subindo pelo seu corpo do mesmo jeito que tinha descido, espalhando pequenos beijos e lambidas pelo caminho, até o colchão afundar do seu lado.
— Você morreu? — ele perguntou com um sorriso na voz.
— Eu não sei ainda. — A Bia achou forças para responder.
— Tão bom, hã?
Com muito esforço, ela abriu os olhos. O Lourenço estava deitado de lado, a cabeça apoiada na mão, com a expressão exata que ela sabia que ia encontrar no rosto dele, convencimento puro.
— Deu pro gasto. Da próxima vez você se esforça mais. — A Bia tentou soar indiferente, mas foi impossível não rir com a gargalhada que ele soltou.
— Pode ser agora, se você quiser.
— Não! — A Bia segurou o ombro dele quando ele ameaçou descer pelo colchão. Ela não ia aguentar outro ataque naquele momento. — Talvez, no ano que vem.
— Antes do ano que vem, com certeza — ele disse como se o ano seguinte não estivesse apenas a oito dias de distância. — Mas tudo bem, se eu tô lembrado, tinha uma coisa que você também queria fazer.
Ele encostou o indicador no seu lábio inferior, como tinha feito antes e, novamente, a Bia não hesitou em abrir a boca e sugá-lo para dentro. Ele a surpreendeu empurrando o dedo médio junto. Seu próprio gosto explodiu na sua língua e ela gemeu ao perceber que aqueles eram os mesmos dois dedos que estiveram dentro dela.
— Uma delícia, né? — O Lourenço perguntou com a voz rouca, os olhos grudados nos dedos que ela chupava com vontade e foi só aquilo que ela precisava, vê-lo com tanto tesão por ela, e seu corpo se acendeu de novo.
Sem uma palavra, porque ela não tinha nenhuma, a Bia segurou o pulso dele e puxou para trás, removendo os dedos da sua boca, bem devagar. Ele também respondeu em silêncio, simplesmente tirando a cueca e colocando os braços atrás da cabeça, se pondo à sua disposição, lhe dando total controle.
A Bia se ajoelhou do lado do quadril dele, entendo ele ter precisado de alguns segundos para 'apreciar a vista'. Ele era maravilhoso de qualquer jeito, mas ali, sem roupas e, ao contrário dela, nem um pouco constrangido em exibir sua excitação, era de tirar o fôlego. Perfeito em todos os sentidos. Ela aproveitou e refez o rabo de cavalo, respirando fundo e umedecendo os lábios. Mais do que ela queria tê-lo em sua boca, ela queria fazer tão gostoso para ele quanto ele tinha feito para ela.
O pênis dele deu um pulo quando ela estendeu a mão, e o Lourenço gemeu longo e rouco ao sentir sua carícia. Como ele podia ser macio e duro ao mesmo tempo? E quente. E pulsante. E irresistível.
Ele tinha dito que antecipação era metade da festa, e a Bia queria poder ser provocante e sedutora como ele tinha sido com ela, mas ele estava certo. Ela era impaciente e gulosa demais para perder tempo com provocações. Numa outra oportunidade ela ia mais devagar. Se esforçava mais. Naquele momento, ela só conseguia pensar que estava esperando por aquilo desde a noite anterior. Ou dez anos.
Num único movimento, ela se curvou e engoliu o máximo dele que conseguiu.
— Puta que pariu! — ele urrou, jogando o quadril para cima, se enterrando na sua boca.
No reflexo do engasgo, a Bia começou a se retrair, mas ele não deixou. Enrolando a mão no seu rabo de cavalo, ele a segurou firme. Encostado no fundo da sua garganta. E foi impossível não sorrir internamente, já que seus lábios se encontravam tão ocupados e esticados. Não tinha demorado para ele reassumir o controle, e ela não se importava nem um pouco. Havia uma sensação inebriante de poder e orgulho em vê-lo tomando dela uma coisa que ela daria a ele de qualquer maneira. Se colocando de joelhos entre as pernas dele e apoiando os dois punhos fechados no colchão, ela deixou que ele usasse a sua boca como quisesse.
O esforço do Lourenço para prolongar o momento estava na maneira que os todos os músculos dele estavam retesados, em como ele tentava ir devagar num segundo, só para acelerar desgovernado logo depois, e igual tinha acontecido com ela, ele parecia estar perdendo a batalha.
— Biatriz... — Ele afastou a mão do rabo de cavalo, sem precisar falar mais nada.
Ela sabia. Ela também se lembrava. Envolvendo com a mão o que não cabia dentro da sua boca, ela o massageou e lambeu e chupou até ele perder o controle.
— Biatriz! — ele grunhiu novamente. — Eu vou gozar!
Ele esperou um segundo, para ela se afastar se ela quisesse. Ah, mas ela não queria. Nem um pouco. E se concentrou em respirar e não engasgar enquanto bebia tudo o que ele tinha para lhe dar.
Foi tão natural, porque eles tinham feito aquilo tantas vezes. De olhos fechados, ainda perdido no seu orgasmo, o Lourenço abriu os braços e ela se deitou do lado dele, a cabeça apoiada no peito que era o seu lugar preferido no mundo.
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