Capítulo 27
Aquilo o calou. Ah, se o calou! Mas não o deixou em silêncio. O grunhido que ele deu ao abraçá-la com força, foi animalesco. E ecoou dentro dela com a mesma fome e saudade. Desespero e alívio.
Ele tinha sim, o mesmo gosto! Por baixo de um leve amargo de cerveja, ele tinha o mesmo gosto que sempre a deixava querendo mais. E não era só daquilo que ela se lembrava. Suas línguas se enroscaram uma na outra em sintonia, como se em algum cantinho do seu cérebro, ela tivesse uma gavetinha com a memória dos movimentos e ritmos dele.
Ela só tinha esquecido como era bom. Como era mais incrível que qualquer lembrança sua, estar nos braços do Lourenço.
— Biatriz... — Ele se afastou por um segundo e a olhou, como que para ter certeza que era ela, antes de voltar a beijá-la.
Virando os dois, ele a espremeu contra a parede de ladrilhos frios, as mãos passeando por ela. Ela nunca tinha se encaixado tão bem em outro homem. Nunca tinha recebido carícia mais deliciosa. Ele estava em todos os lugares, pescoço, seios, cintura, quadril, coxas. E como ela sobreviveu dez anos sem respirar o mesmo ar que ele?
— Eu nunca pensei... — Ele moveu os lábios pelo maxilar e pescoço dela, mordiscando e beijando por entre as palavras. — Que podia acontecer... de novo. Só nos meus sonhos...
O sentimento encontrou um irmão gêmeo dentro dela. Ela também nunca pensou que um dia poderia voltar a estar entre o Lourenço e uma parede, sendo beijada, adorada, sentido a prova do desejo dele contra a sua barriga. Ele que era tão lindo e gostoso e que tinha a mulher que quisesse...
As outras...
A Bia colocou as duas mãos no peito dele e nem precisou empurrar. Ele sentiu que tinha algo errado e se afastou.
— O que foi?
— As outras...
— Foda-se as outras! Esquece! — ele ordenou, emoldurando o rosto dela com as mãos, roçando os lábios nos dela. — O que elas são perto de você? Nada! Só com você, Bia... Só com você eu me sinto vivo. Aceso. Inteiro.
Ela se jogou para frente e o beijou, de novo. Ele e aquele jeito de falar três palavras e consertar tudo. E quem era ela para recriminar o que ele tinha feito no tempo em que estiveram separados? Ela não tinha se casado? A filha deles não chamava outro homem de pai por causa das suas ações?
Importante era só o que estava acontecendo ali, naquele momento. Ela embolou as mãos no tecido da camisa dele e puxou até senti-la fora da calça. Os músculos do abdômen firme se contraíram com o seu toque, e ela se deu liberdade para explorá-lo. Ela tinha passado os últimos dias olhando, sem poder tocar, mas agora ele estava ali inteirinho à sua disposição. Peito e costas de pele macia e músculos de aço. Tanta pele! Tanto fogo!
Seguindo sua deixa, ele a desencostou da parede e desceu o zíper atrás do seu vestido. Ela o soltou por alguns segundos, deixando que ele passasse as alças pelos seus braços e empurrasse o tecido até sua cintura.
— Eu estava doido pra te dizer isso. — Ele respirou fundo, olhando para baixo. — Eu odeio como você usa sutiã o tempo todo.
Então, ele ainda reparava! Sua risada se transformou num gemido quando ele deslizou as costas dos dedos por cima da renda negra. Ela podia jurar que sentia o toque em cada buraquinho minúsculo de pele exposta.
— Eu não tenho mais dezoito anos. E amamentei duas crianças.
— Você diz como se fossem coisas ruins. — Ele abaixou as taças do sutiã expondo os seios ao ar quente e abafado do banheiro, os mamilos endurecendo mais sob o peso do olhar guloso. — Mas você não percebe? Isso faz de você quem você é. Ainda mais bonita que com dezoito anos. A mulher mais linda que eu já vi.
Ele passou a ponta do indicador por uma estria, contornou a auréola e continuou até o bico. A Bia deixou a cabeça cair com um baque no azulejo atrás dela, tentando não perder o foco da conversa.
— Isso não é verdade. — Ela puxou o ar com força quando ele beliscou os dois seios ao mesmo tempo. — Eu vi as suas fotos na internet.
— Você viu? — Ele levantou o olhar para ela, por um segundo, com um sorriso satisfeito, antes de voltar a encarar a mágica que os dedos dele estavam causando. — Eu tive muitas mulheres bonitas, mas, pra mim, nenhuma chega aos seus pés.
— Lourenço... — a Bia meio gemeu, meio suplicou, fincando as unhas nos braços dele. — Por favor, não mente pra mim.
— Não é mentira! — ele rosnou com brusquidão. — É a minha opinião. Que eu sei que está a quilômetros de distância da sua opinião sobre você mesma. Você pensa que eu não percebo como você se esconde nas suas roupas largas? Como você vira o rosto pro outro lado cada vez que passa na frente de um espelho? Mas olha pra você, Bia.
Ele a desencostou dos azulejos e a virou de frente para o espelho que tomava quase que a parede inteira por cima da pia, segurando seus braços dobrados atrás das costas.
— Olha pra você! — ele mandou.
A luz fria da lâmpada florescente não perdoava nada. O rabo de cavalo torto e várias mexas soltas emoldurando o rosto de olhos brilhantes, lábios sem batom, avermelhados e inchados pelos beijos dele, o rubor das bochechas descendo e se espalhando pelo pescoço, colo e seios que pareciam implorar por mais atenção. Exposta da cintura para cima, coberta e recatada da cintura para baixo, ela não se chamaria de linda, mas, com certeza, não se parecia com a mulher que a recepcionava no espelho do seu banheiro todos os dias de manhã.
Mas era, não era?
Duas metades da mesma pessoa, acabada e excitada, criança e adulta, insegura e corajosa, porque ninguém era só um sentimento o tempo todo.
Toda flor é feita de bem-me-quer e malmequer.
Ela sentiu cada linha tatuada no braço que o Lourenço segurava nas suas costas, as palavras da mãe ecoando claras e límpidas na sua cabeça. Só alguém que tinha conhecido a tristeza profunda, sabia apreciar plenamente cada minuto de felicidade. Sem a escuridão da noite, não se podia apreciar a maravilha do nascer do sol. E um fruto precisava cumprir o seu destino de morrer, para virar semente e brotar, de novo.
Seus olhos encontram os do Lourenço pelo espelho. Pacientes. Firmes. Cheios de orgulho e admiração.
— Pra mim, não tem ninguém mais perfeita no mundo — ele disse com tanta certeza, que a Bia não teve outra opção a não ser acreditar. — E eu sei que eu te desapontei muitas vezes, mas a única coisa que eu te peço é que você me veja agora. Quem eu sou, hoje.
— Eu vejo — ela sussurrou.
E ela via. Mas ao contrário dele, ela não via perfeição. Não que ele não fosse lindo no exterior e extraordinário por dentro, mas todo o fascínio e magnetismo do Lourenço vinham de também ser feito de metades. Fraco para errar e forte para carregar o peso da culpa. Vulnerável para sentir e corajoso ao expressar esses sentimentos. Perigo e segurança. Sua perdição e sua salvação.
A admissão arrancou um sorriso lindo dele, a deixando de pernas ainda mais bambas.
— Obrigado, minha linda. — Ele depositou um beijo na base do pescoço dela. — E sabe quando eu me lembro de ver você mais linda que nunca? Quando você gozava pra mim.
— Ai, meu Deus!
A cabeça da Bia caiu contra o ombro dele.
— Lembra? Lembra como eu sei fazer gostoso pra você? — Ele raspou o queixo áspero no mesmo lugar que tinha acabado de beijar.
Ele queria acabar com ela? Fazer ela virar uma poça derretida aos pés dele? Porque ela estava a meio caminho de provar que um ser humano podia virar líquido.
— E eu vou te mostrar, Bia. Eu vou te mostrar agora. Segura aqui. — Ele posicionou os braços dela atrás do pescoço dele e a obrigou a olhar para a frente, segurando o queixo dela. E naquele momento, na imagem dos dois refletida no espelho, ela não se incomodou com sua magreza, com suas quinas e falta de curvas. Ele a fazia se sentir bonita. Desejada. — Não para de olhar, entendeu?
Ela respondeu com um aceno de cabeça. Usar palavras significaria que ela teria também que usar o cérebro para pensá-las, e ela não queria lembrar que existiam coisas como razão e bom senso no mundo. Porque aí, talvez, ela tivesse que interromper aquela loucura, e nem toda a loucura era errada. Às vezes, ela precisava simplesmente ser vivida.
Ao receber seu consentimento, ele desceu a outra mão pelo seu corpo, as pontas dos dedos deixando uma trilha de arrepios ao deslizar pela lateral dos seus seios e cintura. Sem desviar o olhar do seu pelo espelho, ele foi embolando o tecido da sua saia, a barra subindo e subindo, até conseguir enfiar a mão por baixo e encontrar a renda entre as suas pernas.
— Sempre tão molhadinha pra mim.
O eco do seu gemido ressoou pelas paredes do banheiro, seguido por outro e outro quando os dedos ágeis se esgueiraram pelo elástico da lateral da calcinha. O Lourenço realmente sabia como ela gostava. A pressão exata para tocá-la. Quando ir rápido e quando ela precisava que ele fosse devagar. E ela saboreava, reencontrava e reaprendia um tesão que ela só sentia quando estava com ele. Por ele.
A saia do vestido caída por cima da mão dele impedia uma imagem explícita no espelho, mas o movimento sutil, a sugestão do carinho, era, de alguma maneira, mais erótica. E ela não precisava ver. Ela estava sentindo. Há quanto tempo ela não se permitia sentir?
Quando ele escorregou um dedo dentro dela, foi demais e seus olhos se fecharam. Na mesma hora, ele parou tudo.
— Continua olhando, senão eu também paro.
Ela quis protestar, dizer que não se lembrava de ele ser mandão, mas a verdade é que não seria um protesto. Aquela maneira autoritária de falar, de dar ordens, era um tempero extra, uma pimenta ardente e quente no caldeirão de sensações borbulhando por dentro. E como uma boa menina, ela obedeceu e foi recompensada com outro dedo se juntando ao primeiro que recomeçou a deslizar dentro dela.
— Tá gostoso, minha linda? — A voz grave como um sacrilégio soprou no seu ouvido. Ele estava tão dono de si! Os únicos sinais de como aquilo também o atingia, eram os olhos elétricos queimando nos seus pelo reflexo e a ereção quente encostada nas suas costas. — Mas você precisa de mais, não é? Eu sei. Eu lembro. Eu me lembro de tudo.
Com o polegar, ele rodeou exatamente onde ela parecia ter um segundo coração batendo, pulsando. O lugar onde todo seu prazer estava concentrado, o movimento em perfeita harmonia com o ritmo dos dedos dentro dela. Os tremores começaram quase que de imediato. Ela quis muito poder fazer aquele momento durar. Pelo resto da vida, não seria má ideia. E deveria ter sido vergonhoso, a facilidade e rapidez com que ela se desmanchou e explodiu, mas tinha tanto tempo... Tanto tempo em que ela não se sentia viva e inteira também, e ela se deixou ir.
E foi tão maravilhoso, tão melhor que qualquer lembrança, que ela acabou fechando os olhos, viajando para outro mundo, outro universo, outra dimensão.
O Lourenço a virou nos braços dele e a abraçou com força, bebendo seus últimos gemidos com os lábios famintos.
— Você não olhou. — A recriminação veio de longe e a resposta da Bia foi uma risada abafada contra a boca dele, ela ainda não estava completamente ali. — Você não sabe o que perdeu.
Com muito esforço, ela conseguiu abrir os olhos e encará-lo.
— Então eu acho que a gente vai ter que fazer de novo, né?
— De novo? — ele perguntou, com um cantinho da boca levantado num sorriso safado.
Ele era tão lindo! Ela já tinha dito como poderia passar uma eternidade olhando para ele e não se cansar?
— Mas não agora. — Ela deu um passo para trás.
Sua pele estava supersensível ao toque, os nervos implorando por alguns minutos para se recuperarem da sobrecarga que tinham acabado de receber. Além do mais, era hora de retribuição.
Seus olhos desceram pelo peito dele, subindo e descendo com a respiração rápida, pelo volume esticando o tecido da calça, até chegarem ao chão imundo. Surpresa nenhuma, afinal, eles estavam num banheiro público. Mas nem saber que ela não poderia se ajoelhar e teria que ficar agachada desconfortavelmente nos saltos altos, seria impedimento.
— Você viu se a Bia tá aí no banheiro? — A voz do Fred passando abafada pela porta, no entanto, foi o suficiente para fazê-la esquecer de todas as suas más intenções.
Ela ficou tensa nos braços do Lourenço, e o olhar de pânico que ela lançou para ele deve ter sido aviso suficiente para ele entender que eles não podiam fazer nenhum barulhinho. Nem respirar, se fosse possível.
Uma voz feminina respondeu algo que a Bia não entendeu.
Tudo bem, o irmão estava procurando por ela. Claro que ele estava. E ele perguntou a alguém se ela estava no banheiro feminino. Não no banheiro em que ela realmente se encontrava, porque não tinha como ele saber que ela estava ali. Com o Lourenço.
Meu Deus! Ela estava seminua com o Lourenço num banheiro público! Seus olhos pularam para a tranca e ela respirou um pouco mais fácil ao se certificar que ela estava fechada. Só para quase morrer com as palavras seguintes do irmão:
— Eu sei. Eu vou ligar pra ela.
Os olhos dela e do Lourenço voaram juntos para seu celular esquecido em cima do balcão. Ela se soltou e nem parecia que ela tinha acabado de ser atacada pelo orgasmo mais arrasador da sua vida, tamanha a firmeza e precisão dos seus movimentos ao pegar o celular, apertar o botão e deslizar a tela para desligá-lo. Ela o segurou contra o peito para abafar a campainha, caso não tivesse sido rápida o suficiente, mas felizmente, o silêncio continuou reinando no banheiro.
— Bia... — O Lourenço tocou o ombro dela.
— Shss! Fala baixo! — ela murmurou, enquanto ajeitava o sutiã e o vestido.
— Tá certo. — Ele a ajudou, subindo o zíper para ela. — Eu vou deixar você fugir. Por enquanto.
— Eu não tô fugindo — ela se defendeu para as costas do Lourenço, que tinha se virado e estava lavando as mãos na pia. — Mas ninguém pode saber o que acabou de acontecer.
— E isso não é fugir? — Ele puxou uma toalha do porta-papel com tanta força, que a parte da frente se abriu, e uma sanfona de papéis desabou por cima da pia.
— Claro que não!
— Depois a gente conversa. — Ele abriu o cinto e o zíper, e a Bia quase esqueceu de tudo e caiu de joelhos ali mesmo no chão sujo, ao vê-lo com a mão enfiada dentro da cueca branca listrada de azul, se ajeitando, mas antes que ela cedesse à tentação, ele empurrou a camisa dentro da calça e terminou de se vestir com gestos bruscos. — Agora, eu vou lá fora distrair o seu irmão pra você sair daqui sem ele te ver.
— Obrigada. — O alívio da Bia foi tão grande, que o agradecimento saiu num sussurro.
— Mas depois a gente vai conversar — ele repetiu com a voz firme, porém com um olhar mais suave. — Você espera uns minutos depois que eu sair, pra dar tempo de levar ele pra longe daqui.
Ele destravou a porta e olhou por cima do ombro.
— E nada de dançar com o doutorzinho.
Ela colocou as mãos na cintura e virou a cabeça de lado. Ele achava que só porque ela tinha obedecido às ordens dele dentro daquele banheiro que ele podia mandar nela do lado de fora também? Ah, mas ele estava muito enganado!
— Eu danço com que eu quiser.
— Só não esquece uma coisa. Seu — ele falou com o indicador encostado no próprio peito e virou o dedo para ela. — Minha.
A Bia abriu a boca para repetir que ela não era de ninguém, mas não deu tempo. Ele virou e saiu, e ela correu para se trancar antes que alguém entrasse no banheiro.
Ela voltou ao espelho, guardou o celular na bolsa e soltou o cabelo, penteando com os dedos para refazer o rabo de cavalo.
— Você queria se divertir, né? Queria aventura? — As perguntas foram dirigidas à mulher de bochechas avermelhadas a olhando de volta. — Lembra da tal história de cuidado com o que você deseja porque você pode conseguir?
Mas, como sempre era o caso com o Lourenço, a Bia não conseguiu se arrepender pelo que tinha acabado de acontecer na frente daquele espelho.
Não, ela não se arrependia. O motivo do peso no estômago e do frio na alma era que, ao contrário do que ela tinha dito sob o efeito do orgasmo, aquilo não poderia se repetir.
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