Capítulo 23

— Tatuagem? Você quer que eu faça uma tatuagem? — A voz da Bia expressou toda a incredulidade borbulhando dentro si mesma. A respiração começou a falhar e ela repuxou o decote da camiseta que ela tinha vestido com um dos shorts jeans largos demais, impedido de cair por um cinto do Diego esquecido no fundo do armário.

Aliás, péssima escolha de roupa.

Quando ela subiu na garupa do Lourenço procurando onde se segurar, sem hesitação, ele pegou seus braços e os envolveu na cintura dele, a inclinação do banco a jogando para a frente, não deixando nem um milímetro de espaço entre eles.

Por que ela não tinha colocado um macacão bem grosso ao invés de deixar tanta pele exposta para ficar em contato com ele? Sentindo cada centímetro dos músculos rígidos debaixo das suas mãos? Aquelas costas largas esquentando seu peito?

E ao invés de aproveitar o passeio, o tempo todo ela amaldiçoou quem tinha inventado a porcaria da motocicleta e não tinha pensado numa maneira mais apropriada de duas pessoas viajarem juntas. Você não precisava necessariamente estar com alguém com quem quisesse se grudar da cabeça aos pés.

Mas o pior foi tentar ignorar como seria bom se eles estivessem indo para o Japão e, ainda assim, a viagem seria curta demais.

Infelizmente, eles foram só até Copacabana e estavam parados no meio da calçada, o Lourenço tentando convencê-la que era uma boa ideia entrar no estúdio na frente deles.

— Você não tem que fazer nada que não quiser. — Ele levou a mão que não estava segurando os dois capacetes até atrás do pescoço e massageou a nuca. — O Renê é meu único amigo no Rio. Se eu não desse uma passada aqui, ele me matava.

— Então, a gente veio visitar o seu amigo e mais nada?

— Quer dizer, eu tive que prometer meu rim direito pra ele arrumar uma horinha livre de um dia pro outro, e eu te devo uma tatuagem de aniversário. Se você quiser aproveitar a visita...

— O seu amigo precisa de um transplante de rim?

— Para de me enrolar, Bia, você sabe que foi modo de falar. Nós vamos ficar parados aqui a manhã inteira, discutindo?

— Claro que não! Essa é a melhor maneira de alguém decidir se quer uma tatuagem, sem pressão nenhuma. E por que isso, hoje? Foi porque a gente falou de Grumari e você lembrou?

— Exatamente.

— Então, era com o seu amigo que você estava trocando mensagens ontem de tarde?

— Era, Biatriz. Mais alguma pergunta, ou a gente pode entrar? — Ele abriu a porta e fez sinal para ela ir na frente, e ela só obedeceu porque poucas vezes tinha visto o Lourenço a ponto de perder a paciência, e entrar não significava que ela ia fazer tatuagem nenhuma.

— Eu achei que você estava no Tinder.

— Nada contra o Tinder, mas eu não preciso dele pra arrumar companhia — ele falou enquanto ela passava.

— Eu tenho certeza que não — ela respondeu por cima do ombro. — Eu sempre soube que era só você estalar os dedos e aparecia um monte de mulher pra se jogar nos seus braços.

A Bia mal acabou de falar e a mulher que estava atrás de uma mesa no pequeno vestíbulo, se levantou com o rosto aberto num sorriso enorme.

— Lôro! — Ela correu e ele quase não teve tempo de pegá-la num abraço de um braço só, tomando cuidado para não acertá-la com os capacetes.

A Bia olhou a cena de boca aberta. Ela tinha falado hipoteticamente. O Ser Supremo que controla tudo no universo não precisava ter se dado ao trabalho de esfregar um exemplo de verdade bem na sua cara. E o Lourenço nem tinha estalado os dedos!

Depois de alguns segundos, eles se separaram, o Lourenço apertando os lábios, prendendo um sorriso de pura metidez. A mulher também se virou para a Bia, não escondendo a curiosidade.

A Bia devolveu o correr de olhos especulativo. Ela era loura, o cabelo raspado de um lado e chegando aos ombros, do outro. O piercing de argola no canto do lábio inferior deveria estar fora de lugar no rosto de traços delicados e olhos azuis enormes, mas aqueles detalhes contrastavam e se balanceavam com perfeição. Ela não era alta, e os braços e pernas finos que escapavam do vestido preto sem mangas e bem curto estavam, claro, cobertos de tatuagens.

Que ela e o Lourenço ainda estivessem com os braços passados pela cintura um do outro fez com que a Bia cravasse as unhas nas palmas das mãos para não acabar pulando no pescoço da oferecida. E como ela tinha esquecido tão rápido sua lista de razões para se manter longe dele? Se ele tivesse uma distração e a deixasse em paz, ela só teria a ganhar.

E Papai Noel e coelhinho da Páscoa também existiam.

— Biatriz, essa aqui é a...

A Bia estendeu a palma levantada e interrompeu a apresentação do Lourenço.

— Escuta, eu não quero tatuagem nenhuma. É melhor eu ir embora. Deixar vocês dois mais à vontade pra matar as saudades.

— Marrenta essa sua namorada, hein? — A mulher deu uma cotovelada de lado no Lourenço.

— Eu? Namorada dele? — A Bia usou o tom mais debochado que conseguiu. — Nada disso, meu bem, pode ficar pra você.

A gargalhada dela fez o sangue da Bia ferver e deve ter sido aparente porque o Lourenço deu um passo à frente, se colocando entre as duas.

— Biatriz, essa é a Iza. Esposa do Renê, meu amigo — ele falou pausado, para que ela não ficasse com nenhuma dúvida.

— Esposa? Do seu amigo? — Todo aquele sangue que tinha começado a ferver há dois segundos foi parar no rosto da Bia, que queimou de vergonha. — Meu Deus! Me desculpa, eu...

— Não precisa se desculpar. — A Iza deu uma piscadinha de olho, o que só fez aumentar o desejo na Bia de que um buraco se abrisse no chão e ela sumisse nele. — Você não sabia quem eu era, e eu fui mesmo muito entusiasmada, mas é que a gente vê o Lôro tão pouco. Além do mais, eu já gostava de você antes de te conhecer. A minha irmã só falou coisas boas de você e das suas filhas.

— A sua irmã?

— A Iza é irmã da Chiara — o Lourenço esclareceu para a Bia. — Foi o Renê que arranjou a nossa aula de pintura, ontem.

— Ah. — A Bia balançou a cabeça. — Nós também adoramos a sua irmã. Ela vai dar aula pras minhas filhas.

— Suas filhas estão em ótimas mãos. Se tem uma coisa que a Chiara leva a sério, é arte. — A Iza se virou para o Lourenço, e apontou uma mesa comprida encostada numa das paredes. — Deixa os capacetes ali. Eu vou avisar o Renê...

— Me diz que aquele viado chegou! — Uma voz grave e profunda interrompeu a Iza, que rolou os olhos.

— Meu marido — ela anunciou a chegada do homem que se juntou a eles na recepção, dois segundos depois.

Sem brincadeira, os bebês daqueles dois poderiam monopolizar as propagandas de fraldas!

O Renê era a personificação do bad boy, cabelos compridos presos num rabo de cavalo, com alguns fios escapando, o olhar perigoso coroado pelas sobrancelhas grossas cheias de piercings, a barba bem-feita emoldurando um sorriso de bambear as pernas das mais fracas, e a Bia se sentiu excluída do time dos que tinham os braços cobertos de tatuagens.

— Até que enfim. Já era hora de você parar com essa porra de nunca mais pisar em Copacabana. — O Renê andou direto até o Lourenço, que tinha acabado de seguir a sugestão da Iza e colocado os capacetes em cima da mesa.

— Pra você ver os sacrifícios que eu faço pra te visitar, seu mané — o Lourenço disse antes de os dois trocarem um abraço que incluiu vários socos nas costas.

— Sacrifício, por mim? Eu sei muito bem por quem você veio aqui hoje. — O Renê terminou o abraço com o Lourenço e se virou para a Bia. — De nome eu te conheço muito, é um prazer te conhecer pessoalmente, Biatriz.

— O prazer é meu. — Ela aceitou os dois beijinhos dele.

— Então, pronta pra tatuagem? — Ele esfregou as mãos.

Ela repuxou a gola da camisa de novo. Por alguns minutos, ela tinha esquecido o presente de grego.

— Eu não sei se eu vou fazer a tatuagem — a Bia explicou, e o Renê a olhou como se ela estivesse cometendo a pior ofensa do mundo ao se recusar ser tatuada por ele. — É que o Lourenço só me avisou da tatuagem há quinze minutos. Eu passei anos tentando decidir o que fazer na minha primeira tatuagem e não consegui, como é que eu vou decidir de sopetão?

— Você é virgem? — Os piercings do Renê subiram junto com as sobrancelhas.

— Não! — a Bia respondeu, sem entender o que a sua vida sexual tinha a ver com a tatuagem.

— É — o Lourenço a corrigiu, com uma risada. — De tatuagem. Ele quer dizer que você é virgem de tatuagem.

— Ah, bom. — Ela colocou uma mecha que tinha escapulido do seu rabo de cavalo, atrás da orelha. — De tatuagem, eu sou virgem.

— Mas ela tem um piercing — o Lourenço acrescentou.

— Eu tinha um piercing — a Bia esclareceu e foi a vez do Lourenço parecer mortalmente ofendido. — Eu tirei quando a minha barriga começou a crescer, na gravidez da Alícia, e eu não coloquei de volta.

— Eu também coloco piercing, se você preferir — o Renê ofereceu.

— Não! — O Lourenço cruzou os braços. — O meu presente é a tatuagem.

— Eu não sei se eu quero o seu presente! — A Bia imitou a posição dele.

— Você tá com medo? — Ele se inclinou para a frente. — Não dói tanto assim.

— Eu passei por dois partos normais. — Ela levantou dois dedos na altura do rosto do Lourenço. — Dois! Você acha que eu vou ter medo de fazer uma tatuagem?

A porta de entrada se abrindo calou a resposta do Lourenço. A Iza, que espertamente não tinha se metido na discussão, deu um passo em direção ao cliente entrando.

— Dá licença. Depois a gente conversa mais. Eu tô doida para saber quem vai ganhar essa parada. — Ela apontou do Lourenço para a Bia antes de se afastar.

— Por que a gente não conversa lá dentro? — O Renê apoiou a mão nas costas da Bia a guiando em direção da porta de onde ele tinha vindo. — Eu não vou te forçar a nada, claro, mas fica sabendo que eu sou fodástico pra convencer as virgens a me deixar ser o primeiro delas.

— Eu não sou muito difícil. — A Bia não se apertou com a brincadeira. — Ainda mais se você tiver uma garrafa de vodca por aí.

A gargalhada do Lourenço, vindo atrás deles, se misturou ao rock alto e ao zumbido das máquinas de tatuar da sala onde a mágica acontecia. Tudo era imaculadamente limpo, apesar da aparência bagunçada por conta dos desenhos colados com fita adesiva nas paredes. As cadeiras estavam ocupadas por dois rapazes, um tatuando o braço e o outro, as costas, e uma moça recebendo o que parecia ser uma revoada de passarinhos na nuca. Os tatuadores, concentrados no trabalho, nem levantaram os olhos com a passagem deles. A Bia gostaria de ter tido a chance de ir dar uma espiada mais de perto no que eles estavam fazendo, mas o Renê continuou a levando com firmeza até uma porta no fundo.

Depois que o Lourenço também passou, o Renê fechou a porta, isolando os três do burburinho do resto do estúdio.

Piercing, ali. — Ele apontou uma maca que a Bia estava acostumada a ver nos consultórios médicos e depois virou o dedo para uma cadeira estofada e confortável do outro lado da pequena sala. — Tatuagem, ali. Você que manda.

Com um suspiro, a Bia foi para a cadeira.

— Isso não quer dizer que eu me decidi.

O Lourenço foi sentar numa das quatro cadeiras de uma mesinha redonda no canto, perto de uma geladeirinha, com uma garrafa térmica, algumas xícaras e copos em cima.

— Esquece o babaca ali. — O Renê fez um gesto com a cabeça para o lado do Lourenço e puxou um banquinho para a frente da Bia, girando a cadeira dela para que ela perdesse o contato visual com o 'babaca'. — Vamos trocar uma ideia, só nós dois. Agora me conta, se você passou anos querendo uma tatoo, por que você ainda não tem uma?

O Renê cravou o olhar interessado nela como se não existisse mais nada no mundo além dos dois. Se ao invés de tatuador, ele fosse psicólogo, os clientes dele iam cuspir todos os segredos mais íntimos nos primeiros cinco minutos de sessão. Não que a história da Bia fosse segredo, mas ele fazia com que ela quisesse contar tudo para ele.

— Quando eu tinha dezesseis anos, eu pedi pro meu pai assinar uma autorização pra eu fazer uma tatuagem. Ele se negou, dizendo que era uma decisão que eu ia ter que assumir sozinha depois que eu fizesse dezoito anos. E que eu devia usar aquele tempo pra pensar bem numa coisa que fosse muito importante pra mim, porque era uma marca que eu ia carregar pro resto da vida. Eu sei que ele queria ajudar, mas depois que ele disse isso, todo desenho que eu pensava em fazer, me parecia idiota, indigno de ficar em mim pra sempre. Quer dizer... — A Bia fez um gesto mostrando os braços do Renê. — Como é que você consegue decidir?

— É verdade que a maioria das pessoas escolhe alguma parada com um significado especial, mas, às vezes, é só estético. Essa aqui, por exemplo. — Ele virou o braço e levantou a manga da camiseta preta, expondo o desenho de um dragão que tomava todo o bíceps. — Eu fiz porque eu achei maneira.

— É bonita mesmo. — A Bia se segurou para não passar a ponta do dedo pelos olhos vermelhos do dragão, tão bem feitos que pareciam de verdade. — Mas você não tem medo de enjoar?

— Eu não enjoei ainda. — Ele riu e estendeu a mão para o lado da cadeira da Bia, pegando um caderno de capa plástica preta com a espiral deformada pelo uso. — O nosso chegado ali também não me avisou com muita antecedência, senão eu tinha deixado um horário maior pra você. Daqui à meia hora, eu tenho um cliente. Meia hora dá pra uma tatuagem pequena. Dá uma olhada e vê se tem alguma coisa que te chama a atenção. A gente pode tatuar num lugar que você não vê sempre, na parte de trás do ombro, por exemplo.

A Bia abriu a pasta cheia de desenhos pequenos, não muito diferentes do que ela tinha passado horas olhando na internet quando era mais nova. Eles continuavam genéricos como antes, nada gritando que merecia virar uma tatuagem na sua pele.

— Hoje, a gente faz um desenho que você acha bonito e da próxima vez, você pensa melhor, vem com calma e faz alguma coisa que você acha especial, que tal?

— Da próxima vez? — A Bia levantou o olhar para o Renê. — Você acha que vai ter próxima vez?

— Um segredo? — Ele chegou bem perto da Bia, com um sorriso de lado. — Eu não uso a palavra 'virgem' pra alguém que não tem tatuagem, à toa. É igual sexo. Depois que você faz a primeira vez, não consegue mais ficar sem fazer.

— Eu tô aqui, viu? — A voz do Lourenço fez o Renê se afastar, rindo. — E pelo que eu sei, viado, você é casado.

— A Iza sabe que não precisa se preocupar comigo — ele respondeu ao Lourenço sem tirar os olhos da Bia. — Eu vou te dizer o que eu sempre digo pros indecisos. Pra sua próxima vez, o que você pode fazer é, quando você encontrar um desenho que você acha que vai gostar de tatuar, coloca de papel de parede no seu celular. Se você conseguir olhar pra ele um mês sem ter vontade de trocar, a chance de você enjoar da tatuagem é pequena.

As palavras do Renê fizeram a Bia se congelar no meio de uma passada de página.

— Papel de parede? — ela murmurou mais para si mesma que para o Renê, e empurrou o caderno de volta para ele. — Peraí. Só um minutinho. Peraí.

Entre os poucos pertences que ela tinha espremido na bolsinha atravessada pelo peito para não atrapalhar o passeio de moto, foi fácil encontrar o celular. Ela o ligou e observou seu papel de parede por longos segundos.

— Eu já sei. — Ela engoliu duas vezes por sobre o nó que apertou sua garganta. — Eu já sei o que eu quero fazer.

Ela voltou a encarar o celular até a tela se apagar. O Renê e o Lourenço não tentaram apressá-la e ela só continuou ao sentir que não ia engasgar.

— Tinha uma frase que a minha mãe sempre repetia quando queria lembrar pra gente que nenhuma situação era só boa ou só ruim: toda flor é feita de bem-me-quer e malmequer. No meu aniversário, depois que o Lourenço... — Ela mordeu o lábio e virou a cadeira, consultando a reação do ex-namorado.

Ele entendeu sem que ela precisasse explicar.

— O Renê sabe da parada toda entre a gente. Você não se importa, né?

— Claro que eu não me importo.

Ela até ficava feliz. Na época em que eles namoraram, apesar de conhecer meio Rio de Janeiro, o Lourenço era muito solitário. Era ótimo que ele tivesse alguém com quem pudesse conversar.

— No meu aniversário, depois que o Lourenço foi preso — ela recomeçou e parou uma segunda vez, com uma risada. — No aniversário que era pra você ter me dado essa tatuagem, coincidência, né? — E outro sinal que ela estava tomando a decisão certa. — O meu pai me mandou flores e, no cartão, ele escreveu a frase da minha mãe.

A Bia ligou o telefone e o virou para os dois homens. O Lourenço se inclinou para a frente para ver melhor a foto na tela:



— Isso tem dez anos — ela continuou. — Eu perdi a conta de quantos celulares eu tive nesse tempo, mas essa foto sempre foi o meu papel de parede e se eu não enjoei até hoje, eu acho que eu não enjoo mais. Você consegue tatuar a primeira frase igualzinha, com a letra do meu pai?

— Moleza. Deixa eu adicionar meu contato no seu telefone e me mandar a foto. Onde você vai querer tatuar? Pra eu saber o tamanho?

Enquanto o Renê se ocupava com o seu celular, a Bia olhou para baixo, para si mesma. Aquela era outra escolha importante, mas agora que tinha se decidido, ela não queria se demorar e correr o risco de perder minutos preciosos que o Renê não tinha.

— Posso dar minha sugestão? Ou eu ainda tô excluído da conversa? — o Lourenço perguntou.

— Sua sugestão é sempre bem-vinda. — Foi a resposta da Bia.

— É quando você quer mandar nela, que ela vira uma fera — o Renê contribuiu.

Ignorando a implicância do amigo, o Lourenço esticou o braço esquerdo da Bia e passou a ponta do indicador acima da dobra.

— Já que você não corre o risco de enjoar, aqui é um lugar bacana. E é só usar manga comprida se por acaso você precisar esconder.

— Pode ser — ela concordou.

O Renê encostou uma régua no braço da Bia e ficou de pé.

— Eu vou preparar o estêncil. Relaxa, Bia. — Ele parou com a mão na maçaneta. — Vai doer só no comecinho, depois você acostuma. E aposto que eu consigo fazer você gemer.

— Alguém já te disse que você é muito mané? — O Lourenço olhou para o amigo entre divertido e irritado.

Respondendo com uma gargalhada, o Renê saiu e fechou a porta.

— Eu vou fazer uma tatuagem! — Ela soltou um risinho alto demais, o estômago lotado de borboletas fazendo a festa.

— Você tem certeza? — O Lourenço sentou no banquinho que o Renê tinha acabado de desocupar.

— Sério que você vai querer me fazer desistir agora?

— Claro que não. — Ele estendeu o braço e colocou a mecha de cabelo que tinha se soltado, atrás da orelha dela. — Até porque se tem uma coisa que ficou provada aqui, hoje, é que eu não te faço fazer nada. É tudo você, Bia. Eu posso dar um empurrãozinho aqui e ali, mas não esquece, é tudo você.

Seu olhar se perdeu dentro do dele. E aquele fio que a segurava por cima do abismo? Ficou perigosamente mais fino.


***

Nota: Eu não sei se vocês perceberam, mas a palavra malmequer apareceu escrita de duas maneiras no capítulo de hoje. A maneira correta, depois do acordo ortográfico, é sem o uso do hífen, enquanto bem-me-quer continuou com o hífen. (Também não faz sentido pra mim, mas o que eu sei de português? Eu sou formada em matemática!)

Como eu achei que a tatuagem da Bia ia ficar mais bonita se as duas palavras fossem visualmente parecidas, eu fiz, de propósito, o pai da Bia ter escrito errado no cartão (coitado levou a culpa).

Eu achei importante fazer essa observação, porque vai que o tema da redação do ENEM esse ano tem alguma coisa a ver com flores e alguém escreve errado por minha culpa. Então, fica aí o aviso.

Terça tem outro capítulo, e a Bia vai aprontar uma difícil de acreditar. Nada ruim. Ninguém precisa deixar a unha no sabugo. Espero vocês semana que vem. Bjs.

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