Capítulo 17

O Lourenço estacionou, e a Bia desmontou de pernas bambas.

— E aí, gostou? — ele perguntou, os olhos brilhantes por dentro do capacete.

— Adorei! E ainda tem a volta.

Ela sempre tinha achado Grumari longe, mas aquele não parecia ser o consenso geral porque a praia estava lotada. O Lourenço desceu da moto e parou do seu lado.

— Ainda bem que a gente veio preparado pra nadar. Tá calor pra cacete!

A Bia olhou para o lado e deu de cara com a tatuagem do seu quadro no braço cheio de músculos. Como ele tinha trocado de roupa tão rápido? Ela escorregou o olhar pelo corpo que a deixava sem fôlego, coberto só pelo short colorido.

E ela também? A Bia percebeu que estava com sua saída de praia. Ela não tinha vindo de calça jeans por causa da moto?

Mas aquilo não era importante. O sol estava castigando e um mergulho seria o paraíso. Ela puxou a barra da saída de praia para cima, mas a renda ficou presa no seu piercing.

— Deixa que eu tiro. — O Lourenço ajoelhou na sua frente e começou a movimentar o tecido para soltá-lo.

Quando ela tinha refeito o piercing? Ela não tinha tirado, por algum motivo?

Mas ela também não ia perder tempo pensando naquilo. Ela sempre gostou do seu piercing e o Lourenço estava olhando seu corpo cheio de curvas daquela maneira que a fazia ter vontade de se grudar nele e não soltar nunca mais.

— Vamos.

Ele segurou a mão da Bia e os dois se embrenharam por entre os guarda-sóis, cadeiras e cangas estendidas na areia, até chegarem na beirada da água. Ele não parou e continuou entrando no mar, que estava uma delícia, nem muito quente, nem muito frio, e calminho, parecendo uma piscina. Quando a água chegou na altura do seu peito, a Bia se afundou e molhou a cabeça, sendo imitada pelo Lourenço, que mal voltou a superfície e continuou andando.

— Peraí! Aqui não dá pé pra mim. — Ela tentou soltar a mão e nadar, mas ele passou o braço pela sua cintura a carregando até finalmente parar com a água na altura dos ombros dele.

— Aqui tá maneiro.

— Maneiro pra quê?

A resposta do Lourenço foi um beijo cheio de fome. A língua dele se enroscou na sua e a Bia se agarrou no pescoço dele retribuindo da mesma maneira porquê... Meu Deus! As sensações que aquele cara acendia nela!

— Porra, gata! Eu estava morrendo de saudade de te beijar. — A voz dele saiu áspera e rouca.

— Saudade? — A Bia riu. — Você me beijou na hora que eu cheguei no seu prédio.

— E não tem uma porrada de tempo, isso?

— Verdade. — Ela observou uma gotícula de água escorrendo pelo pescoço dele e a recolheu com a língua. — Humm, você tá salgado...

— E você é sempre tão doce. — Ele voltou a grudar os lábios nos dela, mais devagar, como se estivesse saboreando sua comida preferida.

Alguns casais, com o tempo, passavam a se beijar no automático, mas a Bia nunca deixaria de apreciar e reverenciar o simples ato de poder beijar o Lourenço porque as coisas mudavam num estalar de dedos. De repente, do nada, ela foi tomada por um aperto estranho no peito e aprofundou o beijo, querendo mais, querendo que fosse para sempre.

Ele escorregou as mãos pela sua cintura, bunda e coxas até chegar aos joelhos, que ele puxou para cima. A Bia cruzou os tornozelos atrás dele, sentindo a ereção firme exatamente no lugar em que ela pulsava como louca. Aproveitando a posição privilegiada ela se friccionou contra ele, fazendo os dois gemerem juntos. Largando sua boca, ele mordiscou seu maxilar e abaixou a frente da parte de cima do seu biquíni. O roçar da água fresca nos seios nus foi maravilhoso, mas não mais maravilhoso que o toque dele, acariciando, beliscando, puxando.

Ela se inclinou para trás se oferecendo para ele, querendo os lábios dele ali também, beijando, sugando, mas eles estavam em público.

— Lourenço, a gente não pode fazer isso aqui. Alguém pode tirar uma foto nossa.

— Vai ser rápido. — Ele a segurou com mais firmeza, não permitindo que ela se afastasse. — E não tem ninguém prestando atenção.

Uma passada de olhos em volta deles foi o suficiente para a Bia se tranquilizar. As poucas pessoas ao redor não pareciam perceber que eles estavam lá, como se eles fossem invisíveis. Se eles fossem cuidadosos e discretos, poderiam fingir que a situação abaixo da superfície não estava mais incendiária que o sol queimando no céu. Ela enfiou a mão no short dele e o puxou para fora. Ele estava quente. Duro. Perfeito.

— Minha linda... — ele grunhiu, afastando a calcinha do biquíni dela para o lado.

Ele não precisava dizer mais nada para ela entender o que ele queria. Ela se posicionou e se abaixou nele, num movimento só. Foi impossível segurar o gritinho, mas que se dane se alguém ouvisse, ou os visse. A única coisa que importava era que ela estava inteira, completa, novamente. Eles eram um só e iam passar juntos por todas as dificuldades. Nada, nunca ia separar os dois.

— Minha linda, eu vou te fazer gozar tão gostoso... — Ele puxou o quadril para trás, quase saindo dela por completo, e o empurrou com força para a frente, arrancando outro gritinho dela.

Aquilo era tão bom, tão bom. Tão bom!

Ele se preparou para repetir o movimento e...

A Bia sentou na cama com um pulo. Suada, o coração batendo a mil e desorientada. Aos poucos, o contorno dos móveis do seu quarto foi entrando em foco e ela se lembrou. Ela tinha ido deitar com dor de cabeça e... tinha dormido?

Impossível. Ela nem se lembrava da última vez que tinha dormido de dia, mas sua noite tinha mesmo sido mais inquieta que o normal, se revirando na cama pensando no 'convite' do Lourenço.

Lourenço!

Seu corpo pulsando insatisfeito trouxe de volta cada detalhe do sonho louco. Ela nunca tinha tido um sonho tão explícito e realista. Seus lábios formigavam, seus seios estavam pesados e ela sentia o vazio entre as pernas, onde o Lourenço deveria estar.

No sonho, claro! Só no sonho!

Ela se deixou cair nos travesseiros, chutando o lençol para longe e puxando a barra do vestido para cima. Também tinha muito tempo que ela não cuidava dela mesma, mas ela estava por um fio, o corpo em curto-circuito, implorando por alívio.

— Não! — Ela afastou as mãos do elástico da calcinha e jogou as pernas para fora da cama.

Se ela fosse em frente, aquele orgasmo pertenceria ao Lourenço, e significava transpor uma barreira que ela precisava manter firmemente no lugar. Como ela iria encará-lo, conviver com ele dentro de casa, sabendo que o primeiro orgasmo que ela tinha em sei lá quanto tempo, era dele?

Droga! Mais alguns minutinhos! Tudo o que ela precisava era ter continuado a sonhar por mais alguns minutos, e ela poderia ter gozado sem se sentir culpada pela traição do seu subconsciente, mas nem seus sonhos queriam colaborar com ela.

Com passos firmes, a Bia entrou no banheiro, tirou a roupa e abriu a torneira de água fria. Sua pele estava sensível e a água desceu como uma carícia, mas ela continuou a ignorar o desejo que fervia dentro dela e lavou os cabelos e se ensaboou com movimentos curtos e precisos, se enxugando da mesma maneira.

Ela atravessou o quarto, enrolada na toalha, e entrou no closet, dando as costas para o espelho na hora de vestir a calcinha e o sutiã. Com a mão segurando o cabide de um dos vestidos compridos e largos que ela sempre usava, a Bia hesitou. Ela nunca tinha sido uma daquelas pessoas que se preocupavam em demasia com a aparência. Um pouco de vaidade feminina, sim, normal, mas o nível de exigência tinha aumentado depois do seu casamento. Se vestir tinha passado a ser um jogo de equilíbrio entre estar sempre bem arrumada para não fazer o marido passar vergonha, mas não a ponto de chamar atenção demais para si mesma e ofuscá-lo.

Se esconder nas roupas largas para se misturar, não se sobressair, ainda era um dos tentáculos da influência do Diego na sua vida, quando ela não devia mais nada a ele, quando ela não precisava mais se preocupar em como sua aparência refletiria na do seu ex-marido.

Ela estava mais magra que gostaria, estava longe de ter o corpo do seu sonho, e daí? Era o seu corpo. O único que ela tinha e ela precisava dele para viver. Por que impor a si mesma se encaixar num padrão de beleza quando ela não exigia o mesmo das outras pessoas?

Os dois primeiros shorts que ela experimentou caíram direto perna abaixo quando ela os soltou depois de fechar o botão. Revirando a gaveta, ela achou um short de tecido florido, com o elástico apertado o suficiente para não passar do quadril. Uma camiseta amarela, um par de rasteirinhas, um rabo de cavalo e pronto.

Ela virou e se obrigou a se olhar no espelho, encontrando o esperado, quinas pontudas e protuberantes, mas ela não podia se esquecer que aquilo era temporário. Um dia, seu apetite voltaria ao normal e ela também voltaria... não a ter o corpo dos dezoito anos, nem era o que ela esperava. Ela ficaria satisfeita com, pelo menos, saudável.

Aqueles que colocavam aparência na frente de personalidade e caráter na maneira de avaliar os outros? Bom, esses a Bia podia manter na sua lista de meros conhecidos. Aquilo incluía o Lourenço e as mulheres estonteantes com quem ele costumava sair. E ver como ele não a olhava mais como no seu sonho, não seria tão ruim. Poderia ajudá-la a evitar outros futuros sonhos inconvenientes.

A sala estava vazia, mas descendo as escadas os gritos e risadas vindo da piscina chegaram até ela. Então, o Lourenço não quis voltar a carregar uma mudança para a praia, ela sorriu por um segundo até se lembrar que o mais certo foi que o Fred não quis arriscar a sair em público e colocar a Alícia e o Lourenço na mira de outra câmera.

A Berê levantou a cabeça das panelas fumegantes ao ver a Bia entrando na cozinha.

— A senhora melhorou? — Ela largou a colher de pau e limpou as mãos no avental. — Quer que eu faça um chá?

— Não, Berê, obrigada. Foi uma dor de cabeça de nada. Já passou.

— Daqui a uns quinze minutinhos o almoço tá pronto. É só mandar servir.

— Não tem pressa. Eu ainda tenho que tirar as meninas de dentro da água.

A Berê sorriu, sabendo a luta que esperava pela Bia. A Amanda não gostava do mar, mas, do mesmo modo que a irmã, virava um peixinho nas águas sem ondas da piscina.

— Boa sorte.

— Eu vou precisar.

Ela passou pela porta da cozinha, cruzou a pequena varanda onde ficavam as espreguiçadeiras que lhe serviam de refúgio à noite e atravessou o curto caminho até a piscina. A Amanda foi a primeira a vê-la.

— Mamãe! A gente tá ganhando!

Eles tinham colocado uma cadeira de cada lado da piscina, enrolando a mangueira do jardim nos braços delas, improvisando uma 'rede' de vôlei. O Fred e a Amanda estavam de um lado, a Alícia e a Mariana do outro e o Lourenço, sentado na beirada.

— Só por um ponto! — a Alícia acrescentou.

— Oi. — O Fred passou as mãos pelos cabelos, os empurrando para trás. — Melhorou?

— Melhorei. — Ela sentia o olhar do Lourenço nela, mas não fixou o foco em ninguém e deu um aceno geral. — Bom dia pra todo mundo. Ou quase boa tarde.

— Fica olhando, mamãe! — a Alícia pediu. — A gente vai ganhar.

— Não! Eu vou ganhar! — a Amanda se indignou.

O Lourenço assoviou, e a Mariana sacou com a bola de plástico cor de rosa. Então, ele era o juiz.

O Fred pegou o saque fraquinho com facilidade e quase carregou a bola até a Amanda que deu um soco e a mandou de lado, para fora da piscina. A Alícia e a Mariana comemoraram o ponto gritando e levantando os braços.

— Empatado! — o Lourenço anunciou e assoviou de novo. — Fim de jogo!

— Tio Lôro! — A Alícia deu um tapa na água. — Você sempre acaba o jogo quando tá empate.

— Eu não tenho culpa se vocês empatam na hora de acabar o jogo.

— E tá na hora de acabar mesmo. Não tá nem mais sol — a Bia se meteu na discussão apontando para o céu cheio de nuvens, embora o calor estivesse o mesmo. — E o almoço tá pronto.

— Ah, não, mãe!

— Por favor, só mais um pouquinho!

— Tudo bem. Só mais um pouquinho — a Bia concordou, mas só porque ela precisava ter uma conversa que ela preferia evitar se pudesse, mas não podia. Ela respirou fundo e baixou os olhos para o Lourenço, que a estudava com atenção. — Será que a gente pode conversar?

— Claro. — Ele pulou dentro da água e se afundou, antes de se virar e apoiar as mãos na borda para sair da piscina, os músculos dos braços ficando em relevo com o esforço.

Ele estava com o mesmo short da praia do dia anterior. Quase igual ao do seu sonho.

Droga!

Aquela porcaria de sonho ia ficar pulando na sua cabeça o dia inteiro, não ia?

A Bia deu as costas e andou até a varandinha, se afastando dos ouvidos das meninas. O Lourenço se juntou a ela alguns segundos depois, secando o rosto e a cabeça com uma toalha pendurada no pescoço. Uma gota escorreu por entre os vales dos músculos do peitoral, e o mundo podia explodir, mas a Bia não seria capaz de desviar os olhos daquela gotícula sortuda deslizando por tanta pele exposta.

Será que era salgada?

Não, porque ele estava na piscina e não no mar.

Mas podia ser, se estivesse misturada com o suor dele. Suor que a Bia conhecia bem o gosto, das vezes em que...

— Bia?

Com muito esforço, ela levantou o olhar e encontrou o Lourenço a observando com atenção.

— Oi? — Ela se perdeu na intensidade daqueles olhos cor de chocolate.

— Tá tudo certo com você mesmo? Você parece meio tonta?

— Tá tudo sexy... certo! Tá tudo certo!

Ela passou a mão pela testa. Talvez a dor de cabeça fosse sintoma de uma virose? Alguma coisa de errado tinha com ela. Não era normal alguém se alterar tanto por causa de um sonhozinho de nada.

— Você queria conversar comigo? — ele perguntou com o cantinho do lábio se curvando num ensaio de sorriso.

— Eu queria. Conversar com você. — Ela balançou a cabeça algumas vezes, mordendo a ponta da unha do polegar.

E era um assunto importantíssimo. Ela só precisava de um minutinho para se lembrar qual era.

Com um suspiro, o rosto do Lourenço ficou sério.

— O seu irmão disse que o seu marido veio aqui. E a visita não deve ter sido boa, se te deixou com dor de cabeça.

Ah! O Diego e a foto. O assunto importante. Ela se obrigou a se concentrar na conversa.

— Ex-marido — a Bia o corrigiu. — E a visita não foi o problema, eu já sabia que ele não ia gostar de saber que você estava aqui e eu não me importo com a opinião dele. O problema foi o que ele me mostrou.

— O seu irmão me mostrou a foto, também.

— Desculpa, Lourenço. — Ela apertou a barriga com as duas mãos, como se fosse ajudar a desmanchar o nó no estômago. — Se eu soubesse... se eu achasse que alguém podia tirar uma foto nossa e colocar num site de fofoca, eu não...

— Ei? — ele a interrompeu. — Você tá preocupada comigo?

— Você não entende como eles são. Eles sabem quem você é. Seu nome e sobrenome. Isso pode nem ir pra frente. Um escândalo maior acontece, e fica tudo esquecido, mas se for pra frente... Você não entende como eles são... — ela repetiu, retorcendo as mãos. — Eles escavam tudo o que podem do passado da pessoa. Eles distorcem, eles maldam, eles inventam...

— Foda-se o que eles falam de mim! Eu não tô nem aí. Não se preocupa comigo. Eu aguento. Eu que tô preocupado com você. Com você e a Alícia. Respira, Bia!

Ela inspirou e expirou fundo várias vezes, até seu coração se desacelerar um pouco.

— A Alícia. Você tá certo. É com ela que a gente tem que se preocupar. — Ela desviou o olhar para a menininha que já tinha sofrido tantos baques na vida e que não merecia mais. Tudo o que a Bia queria era que ela pudesse brincar e rir e ser criança, como estava fazendo naquele momento, numa guerra de espadas com os espaguetes de piscina e o Fred. A Bia voltou a encarar o Lourenço. — Por enquanto, tá tudo sob controle. Eu monitoro o tempo das meninas na internet, e não é como se elas tivessem o hábito de visitar os sites de fofoca. E ajuda que elas estão de férias. Fica mais fácil filtrar com quem elas tem contato. O pior vai ser quando as aulas voltarem.

— Os coleguinhas — ele entendeu sem que ela precisasse explicar.

Todas as vezes que as meninas tinham sido atingidas negativamente pela fama do Diego foi culpa de algum comentário maldoso dos companheiros de escola.

— Eles só repetem o que os pais falam em casa. E como eu disse, pode ser que até as aulas voltarem, o assunto tenha morrido.

— Mas tem a foto que já saiu e... ela é bem parecida comigo. — Ele tentou continuar sério, como o assunto exigia, mas não conseguiu segurar o sorriso orgulhoso.

— Ela é bem parecida com você. — A Bia sorriu de volta, apesar do calafrio que desceu pela sua coluna, não de uma maneira agradável. — É verdade, alguém pode notar. Então, pra evitar qualquer problema, a gente, agora, tem um prazo pra contar pra ela. Depois da audiência, e antes da volta às aulas.

O Lourenço se apoiou na mureta da varanda, e por causa da pele morena, não foi difícil ver como ele empalideceu.

— Você mudou de ideia? — ela tocou o ombro por cima da toalha.

— Não, não! De jeito nenhum. — Ele esfregou o polegar na cicatriz. — É só que ter uma filha, antes, era um conceito distante, meio abstrato, mas agora... eu já amo ela tanto, Bia. O que eu vou fazer se ela não me aceitar?

A vulnerabilidade e o medo na expressão do Lourenço partiram seu coração. Ele projetava uma imagem exterior tão forte e poderosa que era fácil esquecer como por dentro ele se debatia com os mesmos sentimentos que todo mundo.

— Lourenço, eu não vou mentir pra você. Desde o acidente dos meus pais, a Alícia tem dificuldades pra lidar com mudanças. Ela não vai pular de felicidade e começar a te chamar de pai de uma hora pra outra. E você não pode esquecer que, quando se fala a palavra pai, é no Diego que ela pensa.

— Não, Bia! Eu sei! Eu não tô querendo tomar o lugar dele. Não ia ser bom pra ninguém se eu tentasse. Eu só quero poder conviver com ela num clima descontraído, como o que a gente tem agora.

— Ela também já gosta tanto de você, Lourenço — a Bia afirmou, recebendo um olhar esperançoso de volta. — Lembra como ela te recebeu quando você chegou? Que ela não quis nem apertar a sua mão? Eu achei que ia ser daquele jeito a semana toda, mas olha como ela tá à vontade. Pergunta pro Fred. Ele é outro que tá surpreso com a facilidade que ela aceitou você e a sua irmã. E tudo vai depender de como a gente vai contar pra ela. Não esquece o conselho da psicóloga, sempre com a verdade, mas em pequenas doses, pra ela ter tempo de ir se acostumando com a ideia, devagar.

— Você conhece ela melhor que ninguém, Bia. Se você diz que é assim que vai ser, então, eu confio em você.

— Pode confiar. — Com um sorriso, ela deu um passo na direção da piscina. — Agora, deixa eu tirar aquelas duas de dentro da água pra almoçar.

— Espera um pouco. — Ele tocou o braço dela, que se virou para ele, de novo. — Primeiro, eu queria dizer que eu aprovo a mudança no figurino. Não que você não fique bem de vestido, mas, assim, você fica mais parecida com a Bia que eu conheci.

Ele só podia estar de brincadeira. Ela procurou no rosto dele por algum sinal de deboche porque ela tinha quase nada da Bia que ele tinha conhecido. Mas ele a olhava, se sua memória não lhe falhava, com admiração?

Não podia ser. Ela ainda estava sob o efeito do sonho. Nós e essa nossa mania irritante de ver o que queríamos ver. O Lourenço não estava olhando para ela com admiração. Podia ser insolação. Ou fome. Ou...

— Em segundo lugar, eu queria ter certeza que você melhorou? — ele interrompeu a trilha sem nexo e inútil de pensamentos da Bia e ela se obrigou a prestar atenção nele. — Eu tinha preparado uma surpresa pra vocês, hoje à tarde. É num lugar discreto. Não tem risco de outra foto, mas se você não quiser ir, eu cancelo.

A Bia poderia ter argumentado que não existe lugar discreto quando os urubus queriam carniça, mas preferiu se focar na parte mais importante do que ele disse.

— Uma surpresa?

— Não é nada de mais. Só um presente de Natal.

— Eu achei que o seu presente tinha sido a árvore? — Ela o encarou, colocando as mãos na cintura.

— Isso foi ontem. Hoje é outro dia.

— Tudo bem, a gente pode ir. — A curiosidade a venceu. — A dor de cabeça passou.

— Você vai adorar! — Ele sorriu grande, os olhos brilhantes.

A Bia concordou com um aceno de cabeça.

Se era na companhia dele, não tinha como ser de outra maneira.

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