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Anelise Evans

A palestra estava sendo legal, eu gostava de ouvir cada palavra. De problematizar. De entender. De sentir as informações entrando na minha cabeça.

A única coisa que me incomodava era Charles Sampaio.

Charles Sampaio que não tirava os olhos de mim por um segundo.

Charles Sampaio que me observava com um sorrisinho de lado.

Charles Sampaio que claramente não fazia idéia que agora eu namorava e não tinha nem sequer hipótese de dar bola pra ele.

Minha intenção assim que a palestra chegasse ao fim era dizer a ele que estou namorando e que não rolaria absolutamente nada entre nós.

Mas no segundo que a palestra terminou ele foi o primeiro a sair da sala e do prédio. Com a multidão de pessoas saindo na frente eu não podia nem pensar em alcança-lo.

Eu arrumei meus materiais com calma e desci degrau por degrau. Quando sai do predio e o ar frio me pegou eu estremeci, mas isso não era capaz de me impedir de continuar andando.

Meu celular vibra, pego e vejo o nome.

Mãe.

Respiro fundo antes atender, mas ao invés de fazer isso eu simplesmente desliguei o celular.

Nunca havia pensado por esse lado. Mas Connor tem razão. Eles não ligam pra mim, eles só me fazem mal.

E eu não mereço isso. Ninguém merece.

Então sem a menor culpa na consciência eu guardo de volta meu celular. Antes que eu pudesse voltar a caminhar pelo campus cheio de neve, alguém bem vestido para na minha frente.

- Charles - digo surpresa

- Está rolando um boato por toda a Universidade que alguém chamada Anelise está namorando um tal de James - Disse e estreitou os olhos - e eu torço para que tenha mais de uma Anelise nessa universidade.

Sorrio sem mostrar os dentes

- Sim, essa é eu.

Ele assente, devagar, assimilando a informação

- Então quer dizer que não devo criar esperanças? - Pergunta

- Sim. Não deve.

Ele concorda e solta uma risada

- Você é incrível, Anelise. Não me admira alguém perceber isso.

- Obrigada, Charles.

- Me diz, é aquele cara que nos interrompeu na lanchonete? - Perguntou de sobrancelha erguida

Concordei

- Ele tem cara de bravo.

- Ele é, e muito - sorri ao pensar

- Bom - Ele colocou as mãos no bolso da calça social - Foi um prazer te conhecer, Anelise. Até uma próxima.

- Até uma próxima. - Eu digo, e ele abre os braços pra mim, me abraçando rapidamente.

Charles sai andando em direção oposta da minha. E eu observo.

Quando o conheci realmente uma parte de mim ficou super interessada, mas é engraçado que essa parte agora está 100% interessada em outra pessoa.

Essa é a prova do que alguém pode fazer conosco.

Volto a caminhar pensando unicamente nos últimos dias. Na minha família. Nos James. No meu James.

Só quero saber quando essa Anelise boba vai sumir, pois toda vez que penso que estamos namorando eu sinto as malditas borboletas.

Deus, isso é novo pra mim.

- Evans - Connor surge do meu lado, me assustando de repente

- Quer me matar do coração, James? - rosno

- Não - ele aproxima o rosto da minha orelha e diz: - Quem sabe de orgasmos?

- É possível morrer assim?

- Não faço idéia.

Eu sorrio e estendo a mão pra ele.

Mas ele não aceita.

Ao invés disso. Seu rosto está indecifrável, e suas mãos paradas nos bolsos.

- O que foi? - Pergunto sentindo a mudança de humor

- Nada demais.

- Estou vendo sua expressão, James. O que está te incomodando?

Ele respira fundo, posso sentir seu sangue quente de longe.

- Eu vi você abraçando aquele cara.

- Quem? O Charles? - Pergunto como quem pergunta se ele está falando sério

- É, Evans.

Cruzo os braços, não gosto da maneira que ele fala comigo quando está bravo com algo. Mesmo que não esteja falando nada demais, eu simplesmente não gosto. E já sinto dor de cabeça só de pensar em começar uma discussão

- Charles sabe que estamos namorando, Connor.

- Sabe mesmo? - sinto a ironia

Calma, Anelise. Você não se estressa fácil. Eu sei que não, então calma!!!!!

Pensa nos vestidos que você quer. Isso vai te acalmar.

- Anelise - ele diz sério

- Connor, eu vou te falar uma coisa, eu simplesmente não consigo lidar com alguém me pressionando, em cima de mim achando que estou escondendo algo! - exclamo

- Então me fala, Evans. Que porra ele queria?

Respiro, frustrada

- Ele veio me perguntar se eu era a Anelise que a Universidade inteira está comentando que começou a namorar um James!

- E você disse o quê?

- Confirmei, Connor. Eu confirmei!

- E então?

- E então o quê?

- Mais alguma coisa?

- Está desconfiando de quê?

- Eu só quero saber mais, Evans.

- Anelise, me chame de Anelise se você está querendo entrar numa discussão!

- Eu não estou querendo discutir! - exclamou

- Não é o que parece!

Ele me encarou irritado, respirou fundo e disse:

- Desculpa, Evans.

Mordi a bochecha por dentro, demorei de concordar, mas concordei

- Tá bom.

- Tá bom. - respondeu ele segundos depois

- Eu tenho que ir pro dormitório.

- Te levo.

- Não precisa, posso ir andando.

- Anelise - ele segura meu braço - Desculpa.

- Só quero que entenda uma coisa, pra gente dar certo você tem que entender quando falo as coisas.

- Eu sei, eu só fiquei muito incomodado quando o vi te abraçando, logo ele que dias atrás estava sentado com você num encontro.

- Não era um encontro.

Deu de ombros

- Você me entendeu.

Joguei meu cabelo para trás e respirei fundo. Então eu comecei a rir. Que raiva desse idiota que me faz ficar brava de repente.

- Brigar com você é tão fácil que quando vejo já estamos fazendo.

Ele sorriu, ligeiro.

- Digo o mesmo

Então seu celular toca, o nome "pai" aparece na tela. Connor recusa e dá de ombros

- Depois eu falo com ele, agora vou te levar.

- Tá bom.

Ele estende a mão pra mim, eu aceito e vamos de mãos dadas em direção a sua moto. E é então que eu pergunto algo:

- Quando vou conhecer seu pai?

Ele me oferece um capacete e segura o outro na mão

- Logo.

Assenti e continuei:

- E quando vai me contar?

- Contar o quê?

- Contar seus medos.

- Como é?

- Como Connor James ficou tão furioso?

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