Capítulo 44

AMÁLIA

Não acredito que isso estava acontecendo! A que ponto cheguei, meu Deus? 

Sentei-me na ponta da cama, apoiando meu rosto em minhas mãos. Estava frustrada. Tudo começou a desandar quando senti ciúmes ao saber que Alex tinha namorada. Sim, eu havia sentido ciúmes naquele dia. Depois disso, comecei a sentir coisas estranhas quando estava perto dele e, por isso, tentei ao máximo não estar. Eu não queria sentir essas coisas. 

Sempre quis me apaixonar um dia, mas não dessa forma. Por um homem comprometido e, ainda mais, por meu patrão. 

— Deus! Estou perdida... 

Não sei como me apaixonei, então como saberia me desapaixonar? E logo agora que ele age como alguém amável? Justo agora? Tudo isso estava confundindo ainda mais meu coração.

[...]

Entrei na cozinha e fiz meu trabalho corretamente. Talvez, fosse um aviso para sair da mansão, mas para onde eu iria? Se ao menos tivesse mais dinheiro, poderia usar para alugar um apartamento. Mas eu precisava não pensar muito nessas coisas.

Olhei pela janela e, então, suspirei, vendo a neve cair com mais intensidade lá fora. 

— Vejo que talvez esteja arrependida por negar meu convite. — Disse Alex, entrando na cozinha. 

— Está enganado. 

— A forma que olha pela janela me diz que estou certo. Por que não aceita? 

— Não insista. 

— Por quê? Eu só quero o motivo. — Respirei fundo para não abrir a boca, mas se não falasse, ele não desistiria.

— Sua namorada não iria gostar. — Observei suas sobrancelhas se juntarem.

— Namorada? — Assenti. — A quem se refere?

— A mulher que estava em sua festa, Kate. Ela me disse que eram namorados. 

Então, ele apertou o maxilar e fechou os olhos, como se tentasse se controlar. Além disso, suas mãos estavam fechadas com força. O que falei de errado? Por fim, ele respirou profundamente e me olhou.

— Não tenho namorada. A Kate e eu não temos mais nada. 

— Então, por que...

— Ela é apaixonada por mim e não aceita que nossa relação tenha chegado ao fim. 

Abri minha boca para falar, mas a verdade era que não tinha o que dizer. Estava me sentindo culpada por fazê-lo se irritar. 

— Desculpe. 

— Se… Se esse era o impasse, aceite meu convite, agora que sabe a verdade. — Então, pensei um pouco. 

Era certo que eu deveria me manter distante dele, mas também era verdade que eu queria sentir a neve, sem contar que seria bom sair um pouco pela cidade, a qual deve estar linda nessa época do ano. Quando morava no orfanato, limitava-me a apenas sentir o jardim se encher da neve branquinha. 

Portanto, subi para o meu quarto e me agasalhei bem com uma touca, um par de botas e um casaco mais quentinho. Não vou mentir, dizendo que não me sentia animada por saber que ele não namorava, mas ainda era estranho, errado e assustador o que eu sentia pelo Alex. 

[...]

A brisa gelada ia de encontro ao meu rosto conforme caminhávamos. Estávamos um ao lado do outro em completo silêncio. Meus pés, cobertos pelas botas, afundavam a cada passo dentro da neve. A rua estaria deserta se não fosse pelos carros que passavam na pista e por algumas pessoas que se atreveram a sair de casa assim como nós. Sorri ao ver algumas criancinhas brincando de guerra de bola de neve e algumas se jogavam nela, enquanto gargalhavam. 

— Ser criança é tão bom. — Deixei escapar e Alex olhou para as crianças. 

— Se pudéssemos nunca crescer. 

— Só indo para a Terra do Nunca. — Comentei e ele riu. 

— Seria uma boa se realmente existisse essa terra. 

— Existe um lugar tão mágico quanto a Terra do Nunca. É um lugar desconhecido, mas muito desejado pelas pessoas. 

— Por você também?

— Espero ardentemente pelo dia em que todos iremos.

— Eu irei também?

— Só depende de você. Assim como o Peter Pan voltou para buscar seus irmãos para a Terra do Nunca, Jesus irá voltar para nos buscar.

— Peter Pan os convenceu a irem com ele. Jesus irá nos convencer também? 

— Você já leu a Bíblia? 

— Poucas vezes, quando criança. 

— Se lesse com frequência, saberia as maravilhas que Deus tem guardado para nós. É através da palavra de Deus, a Bíblia, que Ele nos convence… Com a verdade. 

— Cuidado. — Alex falou quando me desequilibrei. — Para mim, é difícil pensar que Ele tem coisas maravilhosas guardadas, quando aqui há apenas sofrimento.

— Não há apenas sofrimento, Alex. Você que está enxergando só com isso. Olhe ao redor. Está vendo essa neve? Não é incrível para você, ver o gelo caindo do céu sem machucar ninguém? O mesmo digo da chuva. — Suspirei, voltando a fitar as crianças. — Olhe para aquelas crianças, como são lindas. Para o Sol. Não acha curioso como a Terra está na distância certa do Sol, sendo que estando mais perto, morreríamos queimados, e mais longe, congelados? As maravilhas de Deus estão nas pequenas coisas que, na maioria das vezes, passam despercebidas, mas se olharmos com outros olhos, seremos capazes de enxergar o quão grandes são. — Ele respirou fundo e soltou minha mão. Então, ele prosseguiu, deixando-me parada.

— Eu não enxergo as coisas como você, Amália… — Ele falou um pouco à frente. 

— Porque não quer! — Alex olhou para trás. 

— Porque eu não consigo!

— Você consegue! Apenas olhe para a sua família. Lembre-se do simples fato de você ter sido adotado pelo seu próprio pai. Alex, não acha isso maravilhoso? — Ele engoliu em seco e eu segurei sua mão. — O problema é que você se apega apenas às coisas ruins. Não há apenas sofrimento, Alex. Há também alegria, amor e esperança. Você só precisa enxergar além da escuridão e começar a ver a luz que ainda te cerca. 

— Me ajude a enxergar o mundo como você, Amália. 

— Estarei ao seu lado.



Até o próximo capítulo ❤️✅

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