Capitulo 35

ALEX

A noite estava fria. Olhei para o céu estrelado, enquanto bebia um gole do meu chá. Mais uma noite, fui despertado por meus pesadelos ou, melhor, lembranças que me perseguem. A brisa gelada se fazia presente, lembrando-me de que o inverno estava próximo.

— Mais um de seus pesadelos? — Olhei para trás, vendo minha mãe com um sorriso meigo. Não respondi, apenas voltei a olhar para frente. No entanto, senti ela se aproximar e se sentar ao meu lado em silêncio. — Você tem ido ao psicólogo? 

— Não. 

Minha mãe ficou em silêncio e eu também não quis iniciar uma conversa. Contudo, lembrei-me da conversa que tive com Tomy pela manhã do dia anterior, e também a que tive com Amália pela tarde de ontem. Ambos tinham algo semelhante: a gratidão. 

Achava incrível a maturidade de ambos em relação ao passado. Tomy reconhecia as reais intenções de sua mãe e Amália olhava as coisas pelo lado positivo. Ambos buscaram não se rebelar contra a vida e o destino que tiveram. Por que também não fui assim?  

— Por que você me abandonou? — Minha mãe me olhou com espanto.

— Por que isso agora? Você conhece a história, filho. 

— Eu sei que tem mais... — Ela respirou fundo. — Ou você realmente me deixou no orfanato por que era uma adolescente imprudente? 

— Meu pai me obrigou a te abortar.  Eu não queria isso, mas também sabia que não poderia ficar com você. Então, implorei que me deixasse tê-lo e também cuidar de você até que completasse 1 mês de vida, após isso eu poderia te entregar para adoção. Depois de muita insistência da minha mãe, ele aceitou. Quando você nasceu e eu te vi tão pequenininho nos meus braços, senti que não poderia fazer o que havia prometido ao meu pai, mas… — Ela pausou e enxugou as lágrimas. — Eu dormi. Depois do parto, eu dormi e, quando acordei, você já não estava mais comigo...

Ela falava tudo aos prantos, enquanto apertava firmemente minha mão. Não sabia a parte em que meu avô queria que minha mãe realizasse um aborto, não estava ciente da tamanha crueldade.

— Você procurou por mim depois? — Ela assentiu e sorriu em meio às lágrimas.

— Quatro anos depois, consegui encontrar o orfanato que haviam te levado, mas você já tinha sido adotado pelo Nicolas. Eu fiquei muito surpresa e cheguei a pensar que fosse mentira, mas quando o encontrei e vi você com ele, senti que poderia viver novamente. 

O vovô foi um homem horrível. Como alguém que nega o neto e causa tamanho sofrimento à própria filha, poderia estar vivendo bem por aí, enquanto pessoas inocentes perdiam suas vidas? 

Respirei fundo, segurando o pingente do meu cordão. Era injusto!

— Me perdoe. — Ela sorriu amável. — Eu não deveria ter guardado esse tipo de ressentimento. O destino foi cruel com você, mãe. Obrigado!

— Pelo o que exatamente?

— Por tudo, mas principalmente por não ter desistido de mim. — Seus olhos brilharam, com as lágrimas prestes a cair mais uma vez. 

— Você é meu filho, como desistiria? Eu te amo muito. — Sorriu, afirmando. 

Ela me abraçou e, pela primeira vez, em muito tempo, me permiti me aconchegar em seus braços.

[...]

Acordei no dia seguinte, exausto, mesmo assim, saí cedo para ir à empresa. O dia estava insuportavelmente quente. Após ter entrado em minha sala, minutos depois, alguém bateu à porta e Samantha entrou.

— O Sr. Lewis está aqui. Ele quer falar com o Senhor. — O que ele está fazendo aqui?

— Mande-o entrar. — Ela assentiu, saindo. 

Logo em seguida, um homem, com fisionomia um pouco velha, barba branca e cabelo da mesma forma, olhou para mim e sorriu.

— Quanto tempo, Alex! A última vez que nos vimos você tinha o quê? 10 anos? — Engoli em seco.

— Olá, Sr. Lewis. Quando voltou da China? 

— Tem alguns dias.

— O que o traz aqui? — Acenei para que ele pudesse se sentar e, assim, ele o fez.

— Minha filha.

— Você teve outra filha? — Perguntei um pouco tenso.

— Sim, uma linda menina. Agora, ela está nos seus 17 anos. Mas não me referi à ela. — Ele estalou a língua, procurando algo no bolso do terno. Quando encontrou, estendeu-o em minha direção, era um papel dobrado. Relutante, eu o peguei em minhas mãos. — Você não aceitou a parceria com a minha empresa, Alex. Por quê? — Tirei meus olhos do papel e o olhei. — É por causa dela, não é? Você ainda não superou. — Ele riu sem humor. — Acho que isso vai ajudar você. — Apontou para o papel em minhas mãos. — Ana que escreveu. Estava dentro de uma caixa, onde tinha os pertences dela. Depois de sua morte, eu e Claire fomos construir nossa vida na China e, na mudança, acabei encontrando isso. Na caixa dizia: "Entregar o bilhetinho ao Lex quando ele for maior." — Sorri tristemente. Ana sempre me chamava de Lex. 

— Não deu tempo. — Sussurrei em um fio de voz, olhando para o bilhete que parecia pesar toneladas. 

— Infelizmente, mas estou entregando o papel agora. Está aí. Eu não sabia qual seria o momento certo, porém Deus me guiou até o dia de hoje. Então, creio que esse foi o melhor momento. — Permaneci, olhando para o bilhete fechado. — Bom, irei deixar você sozinho para que leia mais à vontade. — Ele ficou de pé. — Foi bom revê-lo… Alex? — Olhei para ele. — A Ana está bem, onde quer que ela esteja. Então, fique bem aqui também, porque ela ficaria feliz. — Dito isso, ele saiu e Samantha entrou logo em seguida.

— Senhor...

— Saia! — Ordenei e ela rapidamente sumiu atrás da porta. 

Então, respirei fundo, criando coragem para desdobrar o bilhete, que Ana havia escrito. Eu não estava acreditando. Por fim, fechei os olhos, respirando fundo novamente. Lentamente, desdobrei aos pouquinhos o papel e sorri ao reconhecer a caligrafia dela. Lembro-me de que sempre costumava elogiá-la, pois, mesmo com apenas 9 anos, Ana escrevia muito bem.

‘Oi, Lex do futuro… Aqui é a Aninha do futuro. Você está agora com 23 anos? E eu com 22? Não importa! Ainda seremos amigos, não é mesmo? Hum, espero que sim.

Eu escrevi essa cartinha para dizer ao Alex do futuro para ele nunca esquecer o Alex do passado, porque o Alex do passado é a melhor pessoa do mundo. Ele é gentil, sorridente e às vezes um bobalhão que chora por qualquer coisa, mas ele tem um coração enorme. 

Alex, você se lembra de como nos conhecemos? Não? Como pôde esquecer? Nos conhecemos na escolinha. Você estava chorando muito, porque seu papai tinha deixado você na escola. Você não queria estar sozinho, então eu te fiz companhia. E até hoje, somos amigos, e espero que aí, no futuro, também sejamos, sim? Porque o que o papai do céu junta, ninguém separa. 

Agora se eu não estiver aí com você, não fique triste. Lembra-se de quando a minha cachorrinha foi para o céu dos animaizinhos e você ficou muito triste? Daí, eu falei: "Por que está chorando, Lex?" Aí, você disse: "O Jujubinha morreu." E lembra que eu falei que para quem crê em Deus, não existe morte, e sim vida? Que não morremos, mas voltamos a viver? Não fui eu, Alex, que ensinou você a deixar as coisas irem? 

Enfim...

Quando se sentir sozinho, lembre-se de que eu estou perto de Deus, então você tem que estar perto de Deus também, para ficar perto de mim. Mas para isso, é só deixar o coração aberto e orar muito. Lembra que eu te ensinei a orar? 

Então, não esqueça o Lex de 10 anos, ele é muito especial para mim. Nunca deixe seu brilhinho se apagar. Eu amo você!’

Ass.: Aninha.

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