Theo [Parte II]

- Eu não acredito em você.

- Não? – perguntei com minha melhor expressão de desolamento – Isso é um absurdo, Lia.

Eu não mentiria para você, moça, não percebe?

- Amélia – a garota corrigiu automaticamente.

- A-mé-lia – repeti devagar, pronunciando cada silaba com cuidado para nunca mais esquecer seu nome. Adorava perceber que era necessário fechar os lábios no "Mé", mas encostar a língua no céu da boca no "Lia". Que nome lindo, meu deus, poderia repetí-lo a noite inteira sem cansar. É o paraíso fonético.

Decidi virar o jogo antes que ela percebesse o poder que tinha sobre mim.

- Veja bem, você não é tão bonita assim. Se eu não tivesse algum interesse a médio/longo prazo, não gastaria – oh, não, falar "gastaria" dá a impressão de que falar com ela é perda de tempo – Ou melhor, investiria – corrigi rápido – quase cinco minutos em nossa relação.

Terminei a frase consultando meu relógio de pulso imaginário.

As garotas sempre acham isso engraçado. Pocahontas riu, como eu esperava que ela fizesse.

- Nossa! Nesse caso devo presumir que você só está assim tão interessado porque também não é nada demais. Não consegue ninguém melhor, por isso espera que eu te dê carona... Para o mesmo lugar que eu. E com café da manhã incluso, suponho.

Nossa, Pocahontas, você nem imagina como esse destino seria bem vindo. É uma pena que eu consiga ler em seus olhos que a sugestão não passa de um desafio – em momento algum foi um convite de verdade.

- Você é direta. – optei por responder – É isso que você quer, então? Que eu vá para a sua casa? – precisava confirmar, poxa.

Um cara pode sonhar.

Aproveitei o momento para soltar a mecha do cabelo escuro e comprido entrelaçado em meu dedo.

Segurei seu pulso, então, para imobilizá-la na parede.

Era impossível que ela não sentisse a tensão que havia entre nossos corpos, quando cada célula do meu corpo se atirava em sua direção.

Talvez eu devesse ganhar um prêmio mundial de autocontrole por não tê-la beijado ainda.

- Não, eu moro em apartamento –retrucou com os olhos brilhando pela resposta. Estava evidente que eu estava diante de uma especialista em flerte.

E eu ri diante da afirmação.

"Moro em apartamento", como se fizesse qualquer diferença. Posso ir para lá também, linda.

Ela era tão linda. Tão inexplicavelmente atraente.

Achei que ao conversar com ela eu chegaria à conclusão de que a morena não é tão incrível quanto aparentava ser enquanto dançava.

Eu não poderia estar mais enganado.

Linda, morena... Qual era seu nome, pelo amor de deus? Era... Era alguma coisa que primeiro junta os lábios e depois encosta a língua.

"Amanda"? "Beatriz"? Não.. Não... era outra coisa.

Encosta os lábios e fecha a língua... Pode ser "Bela"

- Você ser direta foi a primeira coisa que eu percebi, bela. – respondi no canto de sua orelha. Talvez, se eu fosse sexy o bastante, ela não perceberia minha insegurança.

"Bela" era um bom chute.

- Bela? – ela indagou, com as sobrancelhas arqueadas.

Ah, merda. Errei.

Encosta os lábios e fecha a língua... Encosta os lábios e fecha a língua...

Amélia!

Sorri diante da lembrança.

"Amélia, Amélia, Amélia", repeti mentalmente para não esquecer.

- É, Amélia, você é linda. – corrigi.

- Já achei que tinha esquecido meu nome. – protestou enquanto um sorriso torto brotava em seus lábios (talvez fosse alívio de constatar que eu "lembrava" sim) – Perdeu vários pontos comigo pelo susto que me deu.

- Então quer dizer que você tem medo que eu esqueça seu nome?

- Então quer dizer que eu sou linda?

Devo confessar?

- Acho que sim. – confirmei a contragosto.

- Neste caso eu já apanhei uma mentira nesse nosso relacionamento de – meu corpo inteiro arrepiou no instante em que ela tocou meu pulso para consultar o relógio imaginário. Bendito apetrecho. Melhor compra que já fiz até hoje. – dez minutos. Como você espera que isso dure?

Não resisti ao impulso de rir. Rir de verdade, não aquela coisa meio falsa que as pessoas praticam por educação.

- Eu sei que você quer me beijar – acusei finalmente – Por que você resiste?

- Como você pode ter tanta certeza do que eu quero? You know nothing.

Fui mais sincero que imaginei que seria possível em minha resposta:

- Ok, você tem razão, Amélia: eu não tenho certeza. Provavelmente só estou externalizando o que eu quero. Porque eu sei que quero te beijar. – disse, fitando seus lábios cuidadosamente preenchidos com batom vermelho vivo.

Uma sombra de timidez passou por seus olhos e o sangue subiu para seu rosto, corando as bochechas que aposto serem macias.

- Mas sabe o que me faz acreditar que esse desejo é mútuo? – prossegui - O fato de que eu sei que você corou e continua, mesmo escondida atrás de tanta maquiagem.

A morena estreitou os olhos e engoliu seco, surpresa diante da minha provocação. Levou alguns insrantes para responder, desafiadora:

- Maquiagem? Quem é você para falar de "tanta maquiagem"? Sei que passou rímel antes de vir pra cá – afirmou, com a voz meio trêmula, meio rouca, meio entrecortada pela falta de fôlego.

Rímel? O que é rímel? Qual é o rímel?

- Rímel?! Espera, qual é o rímel mesmo?

Amélia então passou a mão pelo meu rosto, encostando em meus cílios como resposta. Fechei os olhos para concentrar todos os meus sentidos em seu toque. Só queria que ela se aproximasse mais, cedesse à vontade que eu sei que sente.

Ela precisa sentir.

Como não sentiria?

Como é possível que tudo isso exista dentro de mim e não seja recíproco?

Se estou sendo atraído em sua direção por uma força magnética, é evidente que há algo puxando.

Certo?

Ela escorregou o dedo pelo meu rosto até tocar a lateral dos meus lábios.

Meu Deus.

- Eu juro que não entendo como uma garota tão confiante, tão bonita pode ter tanto medo de beijar um cara. – falei - O que há, Amélia? – que pode haver? Por que tudo isso? Porque tão resistente?

Então a resposta despencou em mim, avassaladora.

- Você é BV? Não, né? Ou é?

E se for?

O que eu faço?

Tudo bem, imagino. Mas... tão velha assim e BV?

A menos que ela só pareça ter uns vinte anos, mas na verdade seja novinha.

Doze anos.

Não, é impossível. Uns dezesseis.

Será?

Seus olhos se arregalaram diante da pergunta indiscreta e então a morena mordeu seus lábios com os dentes e inclinou o rosto em minha direção em um atitude quase dominadora:

- Eu pareço BV para você?

Pensando bem, não mesmo. 


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Gente, eu odeio esse capítulo e escrevi com má vontade, kkk, espero que me desculpem e não tenham achado tão péssimo quanto achei, hahaha.

É que eu quero muito chegar na parte da Raquel e o Theo tava me atrapalhando, haha. 

Muiiito obrigada por todos os comentários no capítulo passado, morro de rir com vocês. Especialmente da reação à Liz falando que não tá apaixonada pelo Mateus (já ia escrever Theo, ops, força de hábito). Tiveram meninas comentando "oohh, nooo", e outras falando "mas é óbvio que não, ela acabou de descobrir que ele existe",  umas com pena do mocinho.... Muitas opiniões diferentes hahaha. 

Enfim, vocês são incríveis, obrigada por tooodo o carinho <3 

Aaah, e sobre o livro novo!! Teve muita gente me perguntando sobre ele no privado e eu quero contar coisas sobre ele pra todas vocês! SÓ QUE já tentei escrever aqui três vezes e a "sinopse" ficando muito tosca, não daria vontade de ler :(((((((((((
Vou pensar em um jeito legal de contar a história e aí divulgo pra vocês <3 

(desculpa essa super incompetência)

Beijo! 

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