Raquel [Parte II]
O menino foi embora e consegui sentir pena por uns três segundos, até que me recordei que se ele fosse minimamente decente, não andaria com o otário do Lucas. Aquele monstro.
De qualquer forma, continuamos dançando.
E é por isso que não frequento baladas.
Não por causa do Lucas, claro. Ele é irrelevante para o universo.
É por causa da atmosfera machista e opressora que me sufoca a cada segundo.
Tem umas cinco meninas para cada menino - e são todos tão feinhos. Dói minha alma assumir que talvez apenas o Lucas e seu minion se safam desta constatação.
É extremamente machista a jogada de marketing de falar que as mulheres entram de graça e os caras pagam mais de cem reais. É óbvio que as moças vão sem hesitar e eles aparecem porque, afinal, "tem umas cinco meninas para cada menino".
Li uma vez que quando você não paga por algum produto, você é o produto. A droga da mercadoria neste mundo patriarcal e opressor.
As meninas que estão aqui, por outro lado, são maravilhosas. É impressionante o tanto de graça que colocam em cada um de seus movimentos, friamente calculados para atingir o potencial máximo de sedução.
Talvez...
Talvez se alguém olhasse para mim da forma com que olho para elas... Se me reparassem, camuflada nesta balada hétero...
Enquanto isso, a Liz estava incrível. Ela pode não ser a melhor dançarina do mundo, mas se divertia. E é tão linda!
Vi Lucas jogar o cabelo para o lado e arrumar as mangas da camisa antes de se aproximar de onde estávamos.
Oh, Céus.
Comecei a piscar feito uma idiota, para avisar Liz daquela aberração da natureza que estava chegando.
Ele segurou os braços dela, e beijou seu pescoço.
Safado!
Então ela se virou, e poucos segundos depois eles se beijaram.
A Liz deve estar explodindo de felicidade e..
E o imbecil está apertando a bunda da minha amiga.
QUEM ELE PENSA QUE É?
Sem querer ficar assistindo o beijo – porque seria meio invasivo -, comecei a procurar meu primo na pista de dança. Chegamos e iremos embora de carona com ele, porque ele é legal e eu não poderia contar para mais ninguém que estávamos invadindo uma balada para maiores do idade.
"Oi, mãe, vou cometer crime de falsidade ideológica e entrar em uma balada para adultos, cheia de drogas, bebidas, machistas e ponteciais estupradores. Você me busca umas quatro? Obrigaaada"
Não, né?
Por algum motivo, o Toby não estava em lugar nenhum, então dei os ombros e passei a fingir que estava dançando sozinha.
Mais tarde posso mandar mensagem para seu celular perguntando onde ele se encontra. Provavelmente está do lado de fora, porque odeia música alta e multidões. Meu deus, o que ele faz em uma balada?
Voltei a assistir minha amiga e tudo parecia estar dando certo, exceto pelo fato de que a Liz estava super em cima do cocozento e isso é meio estranho, considerando que aquele era seu primeiro beijo. Achei que ela pegaria mais leve no começo.
Quando se afastaram, a cara de nojo que Lucas fez foi assustadora. Qualquer um, em um raio de cem metros, seria capaz de perceber o nível de seu desgosto.
...Mas eu duvido que a Liz tenha percebido.
Sorriso amarelo.
E ele foi embora, deixando minha amiga desolada.
Ai, meu deus.
- Eu sinto muito.. – eu disse, assim que ela se virou para mim – quer.. quer.. ir para o banheiro?
Perguntei, assumindo mais uma vez meu papel de melhor amiga.
Ela fez que não com a cabeça, e voltou a dançar.
A Liz é das minhas.
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