capítulo 2

- Atenção! - gritou a professora Sharpe em meio ao barulho que os alunos da classe 1B faziam ao tomarem seus assentos.
    Tommy sentava-se sozinho, e havia um lugar vago ao seu lado na sala. Os lugares eram dispostos assim: três colunas compridas de carteiras estendiam-se da frente para os fundos da sala de aula. Cada coluna possuía cinco carteiras duplas, uma atrás da outra. Assim, muitos alunos sentavam-se ao lado de um menino ou uma menina. Tommy sentava-se na  carteira do meio, na fila próxima às janelas grandes. A carteira dupla atrás dele ficava totalmente vazia, e  Ryan assentava-se na carteira atrás dessa carteira vazia.
     Ronnie era considerado tão má influência que se sentava sozinha na maioria das aulas, sempre no fundão. A maioria dos professores parecia ter desistido dele e achava melhor que ele ficasse o mais distante possível das atividades de ensino. Sem perceberem, os professores apenas deram ao Ronnie uma ótima oportunidade para arremessar bolinha de papel. Ronnie retirava a carga da caneta esferográfica e colocava a ponta mais fina na boca, e na outra ponta ele punha uma bolinha de papel amassado, que ele chamava de bala. Em quase todas as aulas, os alunos dos quais Ronnie não gostava, e que eram a maioria deles, sentiam um leva peteleco na nuca. Todos sabiam a causa do incômodo era Ronnie com suas bolas de papel. Mas a lei do silêncio que existe em todas as salas de aula e impedia qualquer colaboração com os professores sempre funcionava. Assim, os professores não sabiam dessa malcriação particular Ronnie.
     - Atenção... - repetiu a professora Sharpe, elevando o tom de sua voz estridente, - Quero que façam silêncio já!
     Aos poucos, os ruídos e os murmúrios foram cessando, e a professora Sharpe conseguiu falar. Os alunos então repararam numa bela garota em pé ao lado da professora Sharpe, perto da lousa. Ela parecia um pouco nervosa, obviamente esperando para ser apresentada.
     - Antes de fazer a chamada, gostaria de apresentar a aluna nova. Ela é Sally Anne Dickens.
     Alguns assobios partiram dos garotos que estavam na sala. A garota chamada Sally Anne Dickens corou. Seu rosto rosado contrastava intensamente com os belos cabelos lisos e loiros , que iam até a cintura. Ela era muito alta, mais alta do que qualquer outra garota da classe, com certeza. Estava impecavelmente bem-vestida e tudo nela revelava seu poste de moça. Mas Tommy percebeu que a garota estava muito envergonhada e que ela provavelmente queria estar sentada despercebida numa carteira, e não constrangida em pé diante da classe como uma aluna nova, algo terrível para todos, acreditava Tommy, principalmente para uma pessoa tímida!
     Tommy percebeu que sentia atração pela Sally Anne. Que garoto não sentiria?
     O coração de Tommy bateu mais rápido quando ela se dirigiu (pensava ele) para a carteira vazia atrás dele.
     " Essa não!" - pensou Tommy. Sente-se em outro lugar, por favor!" 
     Embora Tommy sentisse que aquela era a primeira garota que realmente o encantava, ela o deixa tão nervoso que ele desejou que ela se sentasse em outro lugar.
     Tommy tentou não reparar nela conforme ela se aproximava de sua carteira, cada vez mais perto. Ele estava com a cabeça abaixada, fingindo estar concentrado, mais notou que ela seguia em direção à carteira dele. Tommy esperava que ela continuasse andando até a carteira de trás, mas ela parou. Foi quando ele percebeu que Sally Anne olhava para o assento vago ao lado dele!
     Com certeza ela escolheria senta-se  sozinha na carteira dupla, em vez de compartilhar uma carteira com Tommy. Afinal de contas, ele era um estranho! Mas ela continuou em pé ao lado dele. Ele sentiu o espanto total da sala inteira quando todos viram onde Sally Anne iria se sentar. Então, ela disse:
   - Com licença.
     Tommy, com a cara vermelha feito tomate, olhou para cima e gaguejou:
   - Po-Pois não?
   - Tem alguém sentado aqui? - ela perguntou educadamente.
   - Ahn...
   - Não Sally Anne - interrompeu a professora Sharpe. - Não tem ninguém sentado aí. Tenho certeza de que Tommy vai tirar a mochila dele dessa cadeira para você, não e mesmo, Tommy?
    - É claro! - respondeu Tommy, tentando se recuperar do constrangimento. - Claro, por favor, sente-se.
     Ele puxou a mochila, que não estava fechada direito. Assim,todos os livros, as suas canetas, as suas réguas, os seus compassos e os seus transferidores se espalharam pelo chão, e ele teve que se curvar sob a carteira para recolher tudo.
     Foi então que ele escutou George gritar da frente da sala de aula.
     - Ele está olhando embaixo da saia dela!
     A classe explodiu em gargalhadas. Tommy suava, vermelho como um extintor de incêndio, muito irritado.
Ao ouvir a piada constrangedora de George, ele tentou se levantar rapidamente, esquecendo-se de que estava sobre a carteira. A forte batida da cabeça de Tommy na carteira produziu uma nova série de risadas escandalosas de seus colegas de classe.
     - Basta! - ordenou a professora Sharpe, tentando não rir. - Sinceramente, Tommy você não pode fazer isso depois?
     Tommy desejou que o chão se abrisse embaixo dele e o engolisse imediatamente. Mas as risadas acabaram cessando. Sally Anne sentou-se ao lado dele.
      "Por que eu?" - pensou Tommy. A professora Sharpe voltou para sua mesa para fazer a chamada. Sally Anne não parecia nem um pouco envergonhada. Talvez ela estivesse agradecida pelo fato de Tommy ter involuntariamente roubado o espetáculo, desviando a atenção para longe dela. Mas Tommy não teve dúvidas de que ela olhou e sorriu para ele quando se sentou.
      Foi a primeira aula do ano da qual Tommy não conseguia se lembrar direito. Pela primeira vez, ele não escutou nenhuma palavra. De fato, quando o sinal tocou, anunciando o final da aula, Tommy em estado de choque. Era como se ele não estivesse lá.

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