29

Na manhã seguinte, Jimin acordou e encontrou a cama vazia. Atordoada, meio adormecida, estendeu o braço para o lado de Minjeong. Os lençóis não conservavam calor algum.

Ela se sentou e pôs os pés no chão, encolhendo-se quando eles tocaram o piso frio. Vestiu uma camisa larga e depois de jogar uma água no rosto saiu do quarto, coçando os cabelos desgrenhados. A luz da cozinha estava acesa, mas não havia sinal de Minjeong. Um copo de suco de laranja pela metade estava em cima do balcão, ao lado de restos de queijo e uma casca de pão. Era como se um rato tivesse passado por ali para fazer um lanchinho, mas fugido ao ser pego no flagra.

Ao entrar na sala de estar, viu cabelos ruivos espalhados sobre o braço do sofá. Dormindo, Minjeong parecia ainda mais jovem e muito serena. Sua pele estava pálida, mas seu rosto e seus lábios exibiam um tom rosado. Jimin queria eternizar aquele momento. Na verdade, ela lhe trazia à mente o quadro Sol ardente de junho, de Frederick Leighton. Vestia apenas uma camisa social cor de marfim, com os primeiros botões abertos.

Jimin não conseguiu resistir ao chamado daquela pele branca e macia. Beijou seu ombro e se agachou ao lado dela, a mão acariciando de leve sua cabeça.

A ruiva se remexeu e abriu os olhos, piscando duas vezes antes de sorrir para ela.

Seu sorriso lento e doce incendiou o coração de Jimin. A respiração dela ficou acelerada. Nunca sentira aquilo por ninguém e a profundidade do sentimento que Minjeong lhe despertava nunca deixava de surpreendê-la.

— Oi — sussurrou Jimin, afastando os cabelos do seu rosto com carinho. — Você está bem?

— Sim.

— Fiquei preocupada quando procurei você na cama e não a encontrei.

— Sai para comer alguma coisa, porque você sempre demora para acordar.

Jimin sorriu e beijou o topo da cabeça dela.

— Vou me lembrar disso. Mas você tem razão, tendo a demorar mais tempo na cama quando não preciso ir para a faculdade ou trabalhar.

— Percebi isso quando dormi aqui da última vez...

— De qualquer forma, gosto de saber que você se sente confortável quando está na minha casa.

Minjeong assentiu, sorrindo.

— Ainda está com fome? — Perguntou Jimin. — Posso preparar alguma coisa para você se preferir.

— Não, está tudo bem.

— Ah, é mesmo? — Disse ela, deslizando um dedo pela camisa social, roçando a parte de cima dos seios dela.

— Jimin...

A morena deu uma risadinha e a beijou.

— Só quero aproveitar bem o tempo com a minha namorada.

Ela deslizou a mão para tocar seu rosto e a puxou para perto para lhe dar um beijo mais intenso. Então subiu uma das mãos pela coxa macia dela, por baixo da camisa social. Em seguida soltou um grunhido, sentindo o corpo todo aquecer.

— Sem calcinha. Está tentando passar algum recado? — Ela murmurou no ouvido dela, gostando de vê-la estremecer e abrir as pernas para facilitar seu acesso. Minjeong nunca a recusava, estava sempre faminta por ela, da mesma forma que Jimin pela ruiva.

— Você sempre joga longe, e demoro um tempão para achar. Achei que... — Ela respirou fundo quando a morena começou a acariciá-la, e jogou a cabeça para trás.

Jimin a beijou de forma sedenta e a deitou no sofá. Em seguida se apoiou sobre ela e moveu os lábios sobre o seu queixo, seu pescoço. Sua mão encontrou o sexo dela. Enquanto deslizava os dedos para dentro, seus olhos se cruzaram acidentalmente, então se fixaram uns nos outros. O pânico dela foi às alturas. Era um contato direto demais, exposição demais. Minjeong tentou desviar o rosto, mas então percebeu que a vulnerabilidade da morena era evidente. Os olhos turvos continuaram em contato profundo, revelando tudo uma para a outra.

Os corpos de ambas assumiram um ritmo natural. Quadris se erguiam e se retraíam, dominavam, cediam. Jimin moveu os dedos entre as duas para tocar o lugar onde ela mais precisava. O corpo de Minjeong passou a queimar e se desfazer ainda mais. Gemidos escapavam de seus lábios, e ela se arqueou na direção dela. Durante todo o tempo, seus olhares permaneceram fixos um no outro. Jimin via tudo, ouvia tudo. A ruiva teria ficado com vergonha se não fosse o sorriso dela, a forma carinhosa como afastou os cabelos do rosto dela antes de entrelaçar os dedos da mão livre com os dela. Uma sensação absolutamente incrível tomou conta de Minjeong ao se sentir amada.

O alívio veio forte. Espasmos violentos a impossibilitavam de coordenar seus movimentos, de falar, de pensar. Ela a sentiu apertar sua mão mais forte.

O mundo parou.

Tudo era silêncio, a não ser pelos dois corações descontrolados tentando se sincronizar.

Murmurando seu nome e beijando-a de leve, Jimin se sentou no sofá e a puxou para junto do seu corpo. Ela a acomodou em seus braços, acariciando seus cabelos de leve antes de passar os dedos em seu rosto e beliscar seu queixo.

— Acho que sou eu quem estou com fome agora.

Minjeong sorriu ao ouvir aquelas palavras. Então seu rosto ficou triste.

— O que foi?

— Estou preocupada com o nosso projeto da faculdade.

Jimin sorriu.

— Só você para pensar em algo assim agora.

Minjeong mordeu o lábio e batucou os dedos no sofá cada vez mais depressa, até se virar para ela com um olhar ansioso.

— Eu não deveria estar pensado na faculdade agora, né? É só que você mencionou isso mais cedo e, eu acabei lembrando que não finalizamos nosso projeto...

Antes que ela tivesse um ataque de pânico, Jimin beijou seus lábios de forma suave.

— Eu só estava brincando, MJ.

Ela pareceu confusa por um instante, mas piscou rapidamente e soltou um suspiro de alívio.

— Ah, tudo bem. — Depois de ajeitar alguns fios de cabelo, se voltou para Jimin com um olhar todo concentrado. — Então, podemos terminar nossa pintura hoje?

Jimin deu uma risada baixa. Era típico de Minjeong ficar completamente focada quando colocava algo na cabeça. Mas ela adorava aquilo, adorava o quanto ela era brilhante. E tudo o que fazia. Cada coisinha.

— Eu já sei como vamos resolver essa questão. — A voz dela ficou rouca. — Agora, precisamos aproveitar o tempo que temos juntas. Vamos tomar um banho e sair para passear. Garanto que não vai se arrepender.

Minjeong abriu a boca para protestar, mas ela a beijou.

— A vantagem de namorar uma garota como eu é que ela pode lhe dar espaço para você se concentrar nas coisas que realmente importam.

— Mas nosso projeto é importante.

— Sim. Mas ainda mais importante é recuperar o tempo que ficamos separadas por minha culpa. Então preciso me redimir disso — Ela sorriu. — Agora me beije para provar que confia em mim.

— Eu confio em você.

Jimin a envolveu em seus braços, suspirando enquanto ela descansava a cabeça em seu peito.

\[...]

Pela tarde, Jimin presenteou Minjeong com seu café preferido no The Riverside cafe, um excelente estabelecimento próximo a Cheonggyecheon. Elas ficaram do lado de fora, pois a temperatura típica de março havia voltado e o tempo estava agradável por conta da aproximação da primavera.

Qualquer um poderia ficar sentado ali o dia inteiro, todos os dias, e observar o mundo passar. Mas Jimin evitou olhar para qualquer outra coisa que não fosse a linda garota ao seu lado.

— Tem certeza de que não quer provar? — A ruiva indicou o Mocaccino com leite que segurava em mãos.

— Ah, eu quero provar, sim. Mas não isso. — Os olhos dela brilharam. — Prefiro algo um pouco mais exótico. — Ela colocou seu espresso de lado e pegou a mão dela. — Obrigada por ter aceitado fazer esse passeio comigo.

— Você não me deu muita escolha. — Minjeong apertou a mão dela e se ocupou do seu café, por assim dizer. — Estou surpresa por ter planejado tudo isso. — Ela deu uma risadinha, estendendo-lhe um pequeno pedaço do croissant que havia pedido.

Jimin permitiu que ela lhe desse de comer e, quando a língua dela despontou para lamber os lábios, Minjeong ficou zonza. Uma enxurrada de imagens daquela mesma manhã invadiu sua mente. E uma em especial ficou gravada nela.

Ela engoliu em seco.

— É a minha primeira vez fazendo algo, sabia?

— Prometo que não vai ser a última.

Jimin tornou a lamber os lábios só para provocá-la, louca para fazê-la se contorcer.

A ruiva se inclinou para a frente, no intuito de dar um beijinho em seu rosto. Mas ela não quis saber disso. Deslizou uma de suas mãos até a nuca de Minjeong e a puxou para perto.

Quando Jimin enfiou a língua entre os lábios afastados dela, a doçura sedosa da boca dela a deixou maluca. Ela se esqueceu de todo o resto. Só conseguia se concentrar no gosto e em sua respiração quente. Queria devorá-la.

Ela percebia que gemia baixinho quando retribuía seus beijos? Ou que seus dedos frios se infiltravam sob o punho da camisa dela e acariciavam sua pele?

Jimin queria passar as mãos naquelas coxas descobertas e enfiá-las por baixo da cintura do short para poder tocá-la de novo. Mas, sabia que aquele não era o lugar e nem o momento para isso.

— Calma aí — uma voz risonha interrompeu. — Vocês estão num local público.

Minjeong se afastou, levando os dedos trêmulos aos lábios vermelhos. Ela a pegara de surpresa naquela tarde deixando os cabelos soltos em ondas compridas. Até estava maquiada, mas o beijo já arrancara todo o gloss. Tudo bem. Daquele jeito, ela parecia linda demais para ser real.

Quando o grupo de engraçadinhas na mesa ao lado começou a aplaudir e gargalhar, Jimin pensou que ela fosse ficar toda sem graça. Não foi o que aconteceu. Minjeong baixou a cabeça daquele seu jeito tímido e riu junto. O sorriso suave e o brilho no olhar dela, porém, eram só para ela, e a faziam se sentir como se tivesse vencido um exército inteiro sozinha. Era só Jimin que ela via, só para ela que sorria, e ninguém mais.

— Posso perguntar uma coisa? — Minjeong se ocupou da sua xícara de café para não ter que encará-la.

— Claro.

— Por que trouxe tela e tintas para o nosso passeio?

Jimin moveu o olhar para o material que estava na cadeira ao lado. A boca dela se contorceu enquanto ela pensava no que dizer em seguida, se é que deveria fazer isso agora.

— Bom, acho que eu só queria que você criasse lembranças inesquecíveis ao meu lado.

Minjeong arregalou os olhos diante da repentina demonstração de paixão na expressão dela. A morena tirou alguns fios de cabelo do seu rosto antes de dizer:

— Vou providenciar para que cada momento nosso seja inesquecível. Isso significa que você precisa me acompanhar agora.

Enquanto elas passeavam ao lado do rio, Jimin a acompanhou de loja em loja, inclinada a aceitar o que quer que a ruiva quisesse lhe dar de presente. A dedicação de Minjeong em agradá-la só fazia com que ela se sentisse mais e mais apaixonada.

Quando chegaram ao meio do trajeto, Minjeong puxou-a pelo braço e a conduziu até à beirada para que pudessem observar o rio de perto.

— Tem uma coisa que eu gostaria que você fizesse por mim, Jimin.

A morena a encarou com um olhar intrigado, o ar frio do fim de tarde ruborizando as faces de Minjeong.

— Diga.

Minjeong fez uma pausa para correr os olhos pela barreira que a separava das águas cristalinas.

— Vou almoçar com meus pais no próximo fim de semana e queria que você me acompanhasse.

Jimin ficou quase surpresa. Sabia que ela valorizava esse tipo de coisa devido a educação familiar que teve ao longo dos anos.

— Encontraremos uma forma de fazer isso acontecer. Talvez até tenhamos algo novo para compartilhar.

— Você não se incomodaria mesmo com isso? Depois do que aconteceu no jantar beneficente, eu entenderia se não se sentisse confortável.

Jimin colocou o material de pintura no chão e a puxou para um abraço. Ela a beijou, descendo os lábios pelo seu pescoço.

— Será um prazer fazer isso por você e muito mais. Só precisa pedir. Mas gostaria que fizesse algo por mim.

— O quê?

— Vou pedir você em casamento daqui alguns meses e gostaria que aceitasse.

Minjeong ficou boquiaberta, e o choque a atingiu em ondas que se alternavam entre calores e calafrios.

— Por que está me dizendo isso?

Um sorrisinho apareceu nos lábios da morena.

— Porque você não gosta de surpresas, e eu achei que fosse precisar de um tempo para se acostumar com a ideia.

Jimin tinha razão, mas, antes que Minjeong se perdesse em pensamentos, ela posicionou a tela sobre um cavalete e lhe entregou um pincel.

— Você quer mesmo finalizar nossa pintura aqui? — Perguntou ela, surpresa.

A morena deu de ombros.

— Nós meio que já tínhamos decidido retratar esse lugar, então porque não fazer isso ao ar livre?

— Acho que você tem razão...

Jimin segurou a mão direita dela e lhe entregou um pincel. Um sorriso apareceu nos lábios dela quando apontou com o queixo para a tela.

— Você tem certeza? — Perguntou a ruiva.

— Absoluta.

Minjeong ficou sem fôlego. Seus dedos se atrapalharam no primeiro momento, mas ela encontrou sincronia rapidinho. Jimin se manteve focada no acabamento da pintura, dando uma maior liberdade para que ela se expressasse através da arte. Minjeong nunca havia criado uma pintura com ninguém além de seu professor na época do colégio, e só eram exercícios técnicos, nada muito especial.

— Você é boa nisso — ela comentou, olhando para a morena.

O sorriso de Jimin se alargou, mas sua atenção continuou voltada para a tela.

— Com todo aquele lance de popularidade, sempre tinha alguém querendo fazer algum projeto comigo no primeiro ano da faculdade. Mas nada nunca foi tão importante como esse momento. Você é boa mesmo.

— É só prática.

A visão das mãos das duas lado a lado deslizando traços sobre a tela a encantou. Era um contraste único e belíssimo. Tão diferentes, mas num ritmo perfeito. Produzindo arte. Juntas.

Cerca de uma hora depois, Minjeong afastou o pincel da tela e observou o trabalho delas por alguns instantes. A sensação de pertencimento estava de volta.

Jimin beijou seu pescoço e envolveu os braços em sua cintura, apoiando o queixo em seu ombro. Ela sorriu enquanto apreciava a pintura de uma Cheonggyecheon ao pôr do sol.

— Acho que vamos nos sair bem nessa optativa.

Minjeong sorriu e assentiu.

— Concordo.

— Nós passamos por muitas coisas. Sinto que nossa conexão está mais profunda. – Jimin esfregou o nariz no ombro dela. – Sinto muito por não ter me permitido perceber isso antes.

— Está tudo bem — sussurrou ela. — Eu também sinto essa conexão. Era disso que eu precisava.

— E é isso que você merece. Quando toco você, quando olho nos seus olhos, vejo nossa história juntas e nosso futuro. — Jimin a beijou com delicadeza e a aconchegou nos seus braços. — Passei tempo demais nas sombras. Estou ansiosa por estar na luz. Com você.

Minjeong pousou a mão em seu rosto e sorriu.

— Eu adorei isso.

— Assim como eu adoro ter você nos meus braços, MJ.

Ela sorriu e beijou seus lábios uma vez mais, sentindo-se grata e realizada por tê-la ao seu lado.

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