28

Uma batida na porta distraiu Minjeong da tela que estava pintando. Quando virou, a porta se abriu e um enorme buquê de rosas foi levado para dentro do seu estúdio.

Ningning pôs o vaso sobre uma mesa e soltou o ar com força pela boca.

— Nossa, estava pesado. Parece que você tem uma admiradora.

Minjeong pegou o cartão no meio das flores. Reconheceu imediatamente a caligrafia de Jimin.

Para minha Minjeong. Estou pensando em você. Com amor, Jimin.

— Não entendi nada. — Ela ficou olhando para o bilhete na palma da mão.

Ningning inclinou a cabeça para ler o cartão e sorriu.

— Parece que ela quer reatar. Vai dar mais uma chance a ela?

Minjeong segurou o cartão entre os dedos.

— Fui muito feliz enquanto estávamos juntas. Ela me ouvia. Queria saber mais sobre mim, sobre meu dia, sobre o que eu estava fazendo e...

— Parece que você também não esqueceu ela — interrompeu sua amiga.

Minjeong mordeu o lábio, ficou vermelha e olhou para o chão. Ningning não estava muito errada.

— Não acredito que vou dizer isso, mas talvez fosse interessante se as duas tivessem uma conversa — A chinesa se virou para sair do estúdio. — Está na cara que existem coisas pendentes entre vocês, MJ.

Depois que sua amiga saiu, Minjeong começou a mexer no buquê. Flores nunca tinham feito sentido para ela. Cheiravam mal, depois murchavam e definhavam, e alguém tinha que limpar a sujeira. Mas aquelas tinham sido dadas por Jimin.

Seu celular começou a vibrar. Quando pegou o aparelho, a ruiva viu que era ela. Pensou em deixar a ligação cair na caixa de mensagens, mas seu dedo apertou o botão por vontade própria.

— Alô.

— Recebeu? — Perguntou ela.

— Sim... obrigada.

— Você sabe como é que está o olho do Park Sunghoon?

— Roxo.

Jimin soltou um ruído de satisfação. Minjeong quase conseguia ver seu sorriso maligno. Por sorte conseguiu se segurar, em vez de suspirar como uma garotinha. Aquele tipo de barbaridade não deveria agradá-la.

— Daqui a alguns dias vai começar a amarelar — ela falou.

— Você não deveria ter batido nele daquele jeito. — Mas a verdade era que tinha adorado aquilo. Fizera com que se sentisse especial, de um jeito que nunca experimentara. Minjeong era uma vilã sedenta por sangue.

— Tem razão. Da próxima vez, vou acertar logo no saco. Se alguém vai beijar você, que seja eu. — Depois de uma pausa constrangedora, ela acrescentou: — Quer jantar comigo hoje?

O coração inocente de Minjeong disparou com a ideia de vê-la de novo, mas ela o forçou a se acalmar. Não entendia por que Jimin estava fazendo aquilo.

— Não — disse, desconfiada.

Houve um longo silêncio antes que ela respondesse:

— Tudo bem. Gosto de desafios.

— Não estou tentando procurar você.

— Sei que não. Está tentando me esquecer, o que é pior.

— Jimin...

— Estou ocupada. A gente se fala mais tarde. Sinto sua falta. — A ligação foi encerrada.

Minjeong começou a andar de um lado para outro, com passos cada vez mais acelerados. Jimin não queria que ela a esquecesse. Era irritante. O que Minjeong poderia fazer? Ficar chorando por ela a vida toda? Aquela demonstração bizarra de interesse tinha começado logo depois que vira Sunghoon tentando beijá-la à força. Jimin estava tentando afastar seu colega porque achava que ela não sabia se defender sozinha.

Minjeong continuava sendo uma obra de caridade.

Com a respiração ofegante, ela pegou o cartão, amassou e jogou no lixo. Era assim que se fazia com uma demonstração de pena.

Se quisesse esquecê-la, precisava se esforçar.

Ela sentou e olhou para a tela a sua frente. Estava abalada demais para conseguir se concentrar. Seus pensamentos continuavam voltando para Jimin. Seu corpo ainda desejava as carícias e as palavras dela. Mais que aquilo, a ruiva sentia falta dela e da rotina que tinham criado juntas.

Não era possível que Jimin a quisesse de volta, mas seria maravilhoso se fosse verdade. Quando ela percebeu que seus pensamentos estavam ficando esperançosos demais, repreendeu-se e se obrigou a se concentrar na pintura. Não funcionou. Soltando um ruído de frustração, Minjeong pegou o cartão do lixo, desamassou e enfiou numa gaveta.

Todos os dias da semana, a morena ligava e a chamava para jantar. Ela sempre recusava o convite. Não precisava da ajuda dela. Sabia se cuidar sozinha.

No fim da tarde de sexta-feira, sua mesa na faculdade abrigava um buquê com rosas em vários tons de vermelho e um ursinho de pelúcia preto vestindo quimono de caratê. Ela era velha demais para aquilo, e ver o bichinho a enchia de vergonha. A extravagância de Jimin naquele dia a havia transformado em motivo de falatório na faculdade. Minjeong precisava arrumar um jeito de acabar com aquilo.

Na hora de ir embora, ela guardou seu material, pegou a mochila e tomou a direção da porta, apanhando o ursinho carateca no caminho. Não o queria, mas a ideia de deixá-lo sozinho a noite toda era de partir o coração.

Ela o enfiou debaixo do braço, apertando-o para escondê-lo, e saiu.

Ninguém precisava ver que ela estava levando aquilo para casa.

— Já está de saída? — A voz veio de trás de Minjeong enquanto ela se aproximava dos portões da faculdade, e fez seu coração ir parar na boca.

Ela se virou com a mão no peito.

Jimin se afastou da parede onde estava encostada, com os polegares enfiados nos bolsos. Usava uma jaqueta de motoqueiro sobre uma camisa preta e uma calça escura. Linda demais. A ruiva afastou os olhos e foi pegar o ursinho, que tinha caído.

Tirando a poeira da pelúcia, ela falou:

— Isso pode ser interpretado como perseguição, você sabe.

Jimin baixou a cabeça com um sorriso tímido.

— Sei.

— Então precisa parar.

— Não posso ser considerada nem um pouquinho romântica? Não tenho muita experiência nessa coisa de correr atrás de uma garota, então me desculpa se acabei exagerando.

Ela franziu os lábios. Com a aparência e o carisma que tinha, com certeza Jimin não precisava de mais que um aceno para que as garotas fossem rastejando até ela. E não queria mais ser uma tonta.

— Para com isso, Jimin. Nós duas sabemos que não tem nada disso.

Os ombros dela ficaram tensos.

— Como assim?

— Não precisa se preocupar em me proteger do Sunghoon. Depois do que você fez, as atenções dele agora estão voltadas para outras garotas.

— Nada disso é por causa do Sunghoon. — Ela se aproximou dela com a testa franzida e o maxilar cerrado.

Seus instintos diziam para Minjeong se afastar, mas sua teimosia a fez fincar os pés no chão. Ela levantou o queixo. Não tinha medo dela.

— Não preciso da sua pena. Não quero mais...

A morena segurou o rosto dela entre as mãos e a beijou. O choque da sensação se espalhou pelo corpo de Minjeong, encerrando sua resistência antes mesmo que começasse. A maciez fria dos lábios dela era divina. Quando enfiou a língua quente em sua boca, o gosto e o cheiro familiar a deixaram inebriada. Minjeong a agarrou pelos ombros e puxou o corpo dela contra o seu.

— Olha só você, se derretendo toda para mim — Jimin murmurou junto à sua boca. — Que saudade.

Ela a beijou de novo, em uma interação lenta e profunda que fez Minjeong se contorcer até os dedos dos pés e soltar um suspiro. Jimin levou as mãos aos cabelos dela, que estremeceu ao sentir aqueles dedos entre as mechas soltas.

— Linda — ela murmurou, passando a mão em seus cabelos. — Posso não saber correr atrás de uma garota, mas sei bem como beijar você.

Aquilo a tirou imediatamente do estupor produzido pelo beijo. Minjeong se desvencilhou dos braços dela e limpou a boca na manga.

— Não me beija. Não encosta em mim. Não quero que faça nada comigo por pena.

— Por que insiste nessa história de pena? Nunca falei que sentia pena de você — disse ela, com a testa franzida.

— Então por que falou aquilo da última vez? — Sem esperar resposta, ela pegou o ursinho de pelúcia do chão pela segunda vez. Queria abraçá-lo com força, mas em vez disso o estendeu para Jimin. — O que você fez esta semana foi simpático, mas já chega. Estou pedindo para você parar. Por favor.

— Isso significa que não sente mais nada por mim?

Os olhos de Jimin ficaram marejados, e a ruiva virou as costas às pressas.

— Tenho que ir.

— Porque eu ainda tenho sentimentos por você.

Ela ficou paralisada, e Jimin puxou sua mão para que se virasse de novo. Ela levantou seu queixo, e as lágrimas que a ruiva vinha segurando ameaçaram cair. Jimin tinha falado aquilo mesmo? Com o coração disparado e retumbando nos ouvidos como estava, era possível que Minjeong tivesse ouvido mal.

Jimin respirou fundo uma vez, depois outra.

— Eu falei aquelas coisas porque estou apaixonada por você. Fiquei dizendo para mim mesma que você precisava de mim, que te ajudando provaria que não sou como meu pai, mas eram só desculpas para continuarmos juntas. Você não precisa de mim para nada, e eu não tenho que provar para ninguém que não sou como meu pai. Terminei tudo porque achei que meu amor não era correspondido. Mas, quando você disse que estava tentando me esquecer, me enchi de esperança.

Minjeong sentiu sua pele esquentar — as mãos, o pescoço, o rosto, as pontas das orelhas. Jimin não tinha pena dela. Ela a amava. Era aquilo mesmo que ela havia ouvido? Podia ser verdade?

A morena engoliu em seco.

— Diz alguma coisa, por favor. Quando alguém declara seu amor, não espera silêncio como resposta. É tarde demais? Você me esqueceu?

— Você vai aceitar um presente meu?

Jimin caiu na risada.

— Às vezes sua mente é um mistério total para mim.

— Vai?

— Claro. O que você quiser me comprar, mas por favor não exagere.

Minjeong ergueu os olhos para ela, e uma sensação efervescente tomou conta de seu corpo, inflando seu coração e se espalhando por suas extremidades. Ela a amava mesmo. E sua teoria fora confirmada.

— As pessoas compram presentes para quem amam.

— Você está dizendo que me ama, Minjeong?

Ela agarrou o ursinho carateca e confirmou com a cabeça, de repente ficando toda tímida.

— E não vai me dizer isso com todas as letras? — questionou Jimin.

— Nunca falei isso para ninguém além dos meus pais.

— Acha que saio por aí declarando meu amor para todo mundo? — Ela a puxou para junto de si e colou a testa das duas. — Vou arrancar essas palavras de você. Ainda hoje.

— Isso é uma ameaça?

— É.

— Você vai... — A excitação nos olhos dela fez com que ela se interrompesse.

— Vamos para casa.

— Certo.

Ela a levou até sua kawasaki e lhe entregou um capacete.

— Hoje você vai dar uma volta de moto comigo, porque não vou ficar com ela por muito mais tempo.

Minjeong apertou o capacete em mãos, sentindo uma ansiedade repentina.

— Por que está dizendo isso?

— Eu vou vender a minha moto. — Ela sorriu e se acomodou no assento. — Eu e Aeri vamos criar um estúdio de arte, e eu preciso de capital inicial. Como meu trabalho na academia não rende muito, decidi fazer isso.

Jimin enfim estava dando aquele passo, se arriscando e tentando estabelecer seu nome no mercado. Naquele momento, ela parecia tão perfeita que a ruiva sentiu vontade de se jogar seus braços e beijá-la até deixá-la sem fôlego.

— Ótimo. Estou muito feliz por você. — Mas a ideia de Jimin vender a moto porque precisava de dinheiro a incomodava, principalmente depois de ter descoberto a verdade. — Você ainda precisa pagar as suas despesas médicas?

A morena inclinou a cabeça, franzindo a testa para ela.

— Você não precisa se preocupar com essa questão, ok?

Minjeong desviou os olhos.

— Tudo bem... Mas você não acha que é certo eu ajudar a garota que amo a realizar o sonho dela?

Um sorriso travesso surgiu no rosto de Jimin.

— Vou arrancar essas palavras de você do jeito mais delicioso possível. — Em seguida os lábios dela se contraíram numa linha reta e pensativa. — Podemos conversar melhor sobre isso depois se você tiver mesmo interesse. Quanto dinheiro você tem, afinal?

Ela mordeu o lábio inferior, continuando a apertar o capacete em mãos.

— Não tanto quanto os meus pais. Bom, ainda sou mais ou menos rica. Depende de como se define a palavra. Mas provavelmente você não vai gostar. Quer mesmo saber?

— Fala de uma vez, MJ.

— Eu tenho uma conta de investimentos no meu nome. Com cento e noventa milhões de wons — ela falou, encolhendo os ombros. — Posso investir uma parte desse valor no seu projeto.

— Você faria isso mesmo? Por mim?

— É o tipo de coisa que pessoas com todo esse dinheiro deveriam fazer, não acha? É só dinheiro, Jimin, e eu adoraria fazer parte do seu projeto. Se você quiser, claro.

— Se eu quiser? — Ela se inclinou e a beijou no rosto e no canto da boca. — Eu vou amar formar sociedade com uma garota apaixonada por arte como você. — Jimin beijou várias vezes seus lábios. — Obrigada por me dar a chance de te escolher. Obrigada por ser quem você é. Eu te amo.

Minjeong não conseguiu segurar o sorriso daquela vez. Achava que jamais se cansaria de ouvir aquilo.

— Agora posso dizer que minha namorada é artista. Quer dizer, se você for minha namorada. Você é?

Em vez de responder, ela ligou a moto, a ajudou a colocar o capacete e a montar na moto. Com os olhos voltados para a frente e em um tom de voz casual, Jimin falou:

— É bom que eu seja sua namorada, já que vamos passar bastante tempo juntas a partir de agora.

Minjeong ficou surpresa diante do repentino lampejo de paixão dela.

— Você está falando sério?

Um sorrisinho apareceu nos lábios da morena, que lançou um rápido olhar na direção dela antes de voltar a olhar para a frente.

— Ficamos um bom tempo separadas, e eu acho que precisamos recuperar cada segundo perdido.

Jimin tinha razão, mas, antes que Minjeong se perdesse em pensamentos, ela soltou as mãos da direção e pegou as delas, envolvendo-a em sua cintura para que se segurasse antes de sair do estacionamento.

Sem dizer nada, a ruiva resolveu curtir o momento, a incerteza, a esperança de tirar o fôlego, a ansiedade e o contentamento fervoroso. Estar próxima assim dela lhe agradava. Era algo bem diferente, mas ainda assim era maravilhoso.

Ela apertou sua cintura mais forte, e Jimin deu uma risada. Duas almas solitárias encontrando conforto juntas.

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Galera, próximo capítulo será o último. Mas ainda pretendo escrever um epílogo.

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