23

Jimin passou a mão pelos cabelos enquanto observava os ternos pendurados no closet de Minjeong, tentando escolher o que usaria no evento beneficente daquela noite. Ia conhecer os pais dela. Todos os nervos de seu corpo pareciam querer dizer que seria um desastre, mas ela precisava ir.

A ruiva a tinha convidado.

Minjeong a espiava da porta, sorrindo.

— Não consegue decidir qual usar?

— Eu não gosto muito de roupa social. Então escolhe você.

Com um jeito tímido, ela entrou no closet. Segurava o vestido na altura do peito.

— Fecha o zíper primeiro?

Sem conseguir resistir, Jimin beijou o pescoço dela, sugando a pele doce enquanto tateava sob o vestido aberto e apertava seus seios. Minjeong inspirou fundo, de um jeito sensual.

— Vamos chegar atrasadas se você continuar com isso.

— Todo mundo se atrasa nesse tipo de coisa. — Ela mordeu a nuca dela, desceu uma mão para sua barriga e se preparou para enfiá-la sob a calcinha. Adorava tocá-la, e a maneira como reagia.

— Meus pais nunca se atrasam. E querem conhecer você.

Jimin interrompeu o movimento. Como não conseguia dizer que queria conhecê-los também — porque sabia que não iam aprová-la —, Jimin falou:

— Isso vai ser interessante.

— Obrigada por ir comigo. Sei que preferia estar fazendo outra coisa.

Ela preferia estar dando aula na academia, mas não disse nada.

— Você sabe que gosto de cumprir meus compromissos. — Aquilo pelo menos era verdade. Ela tirou a mão de dentro do vestido e fechou o zíper.

— Que tal um de três peças? Gostaria de te ver em um.

— O preto, então. Vai combinar mais com seu vestido.

Minjeong sorria quando virou para ela.

— Meu vestido combina com muita coisa. As pessoas vão querer saber onde eu comprei. Posso dizer que fiz isso com minha namorada?

A morena hesitou ao ouvir aquilo sair da boca dela.

— Bom, acho que não tem problema nisso.

Minjeong baixou os olhos.

— Você não quer se envolver com outra pessoa por conta do que eu descobri quando estive no seu apartamento? A questão envolvendo sua saúde.

Seu coração disparou, sua pele queimava. Tique-taque, tique-taque. A contagem regressiva não era mais para saber quando ela explodiria e acabaria magoando todo mundo. Marcava o tempo até que Minjeong descobrisse a verdade e terminasse o que havia entre elas.

A ruiva levantou um ombro, mas não olhou para ela nem disse nada.

— Você ficou magoada por eu não ter te contado antes — Jimin falou quando se deu conta.

— Magoada não é a palavra certa.

— Então qual é?

— Não sei. Sinto que você não confia em mim. — Ela abraçou o próprio corpo. — Aconteceu a mesma coisa quando te perguntei sobre seu pai.

— Não, eu confio em você. É que... — Jimin tinha medo de perdê-la. — Odeio meu pai. — Aquilo não era mentira.

Ela a encarou com a testa franzida.

— Por quê? Porque ele largou sua mãe?

Jimin engoliu em seco. Se fosse sincera, ia perdê-la ali mesmo, naquele instante. A maldade em seu coração a aconselhava a mentir. Seria fácil. Seu pai fizera aquilo a vida toda.

— Desculpa — Minjeong se apressou em dizer. Ela piscou várias vezes, ajeitou alguns fios de cabelo e coçou o cotovelo. — É pessoal demais, né? Esquece que eu perguntei.

— Você pode me perguntar o que quiser — Jimin falou, sentindo uma dor comprimir seu peito e se espalhar pelo corpo. Aquilo jamais seria um relacionamento se elas não pudessem conversar de forma aberta. — Odeio meu pai por causa da maneira como ele foi embora, por ter traído minha mãe e ser uma péssima pessoa. Faz anos que não o vejo, mas sei que ele tem uma nova família a qual deve magoar e descartar da pior maneira possível quando se cansar. É o que ele faz.

— Você sente que ele abandonou você também? — Perguntou Minjeong com olhos tristes.

— Sim, e minha irmã também.

Joohyun dissera a Jimin para não guardar rancor do pai e perdoá-lo, mas como perdoar alguém que só a procurava para impor suas vontades? Mesmo um pai de merda era melhor do que nenhum, desde que não fosse abusivo. Jimin não tinha um. E tentar aceitar esse fato estava acabando com ela.

Minjeong se jogou em seus braços e a abraçou com força, sem dizer nada. Jimin beijou sua testa. A cada inspiração, o cheiro doce de Minjeong a invadia e acalmava. Ela precisava daquilo. Precisava dela. Quando as pessoas ouviam a respeito de seu pai, xingavam o sujeito e se enchiam de compaixão por sua mãe. Ninguém queria saber o que tudo aquilo significava para Jimin. Só Minjeong queria.

A morena sabia que precisava contar o restante da história, mas não podia.
Ainda não tinha desfrutado dela por tempo suficiente.

Então a afastou um pouco e falou:

— Melhor a gente se arrumar.

\[...]

O evento era num clube refinado, com quadras de tênis iluminadas, campos de golfe e piscinas azuis impecáveis. Jimin estacionou o porsche de Yeoreum diante de uma construção de linhas modernas e uma fachada típica da arquitetura de Seul.

Depois que ela a ajudou a descer do carro, Minjeong fitou as janelas do lugar. Seu nervosismo era flagrante, mas as luzes amarelas que jorravam pelo vidro faziam com que ela parecesse quase saída de um sonho. Seus cabelos estavam presos na lateral da cabeça por uma fivela de seda branca. Ela não carregava uma bolsa — Jimin estava com seu celular e seu cartão no bolso da calça —, e suas mãos vazias insistiam em pousar sobre as coxas.

— Se eu começar a falar da faculdade, você me interrompe, por favor?

Jimin segurou e apertou a mão dela, sentindo o suor frio na palma.

— Por quê? Nosso curso é bem interessante.

— É que eu me empolgo e acabo monopolizando a conversa. As pessoas ficam incomodadas.

— Gosto quando você se empolga. — Era quando Minjeong se tornava mais cativante, com os olhos brilhando. Jimin puxou a mão dela para beijá-la.

A boca dela se curvou em um sorriso inseguro quando Minjeong a encarou.

— Você é mesmo maravilhosa.

— Ainda bem que sabe disso.

Minjeong deu risada, e ela a conduziu até a porta da frente. Quando entraram, o som de centenas de conversas paralelas as envolveu. O salão estava lotado com os maiores figurões da cidade, enquanto uma banda tocava um jazz suave no palco mais ao fundo. Janelas que iam de uma parede a outra proporcionavam uma vista completa da raia olímpica e do campo de golfe iluminado.

— Como você vai aguentar essa barulheira toda?

Minjeong se virou para ela com uma expressão alarmada.

— Está incomodando você também?

— Para mim é tranquilo. Estou mais preocupada com você. — Não queria que ela tivesse que sair para respirar outra vez.

— Acho que estou bem. Só não sei como vai ser a mesa. Minha mãe gosta de me colocar com gente nova. Ando conseguindo jogar conversa fora um pouco melhor, mas mesmo assim é um tremendo esforço.

Jimin inclinou a cabeça enquanto refletia a respeito. Para ela, uma conversa era só... uma conversa. Não exigia esforço nenhum.

— Você pensa demais.

— Preciso fazer isso. Caso contrário acabo dizendo um monte de grosserias e afastando as pessoas.

— Só porque você é sincera.

— Ninguém gosta de sinceridade. A não ser quando é coisa boa. Nunca consigo entender o que os outros acham, em especial gente que não conheço. É como um campo minado.

Uma mulher que só podia ser a mãe de Minjeong se aproximou com um colar de pérolas e um vestido branco e folgado que ia até a panturrilha. Os cabelos estavam presos num coque idêntico ao que Minjeong, acentuando a estrutura facial com que Jimin estava bem familiarizada. A mulher elegante de quarenta e poucos anos provavelmente era o retrato de Minjeong dali a algum tempo. O que significava que quem se casasse com ela seria uma pessoa de sorte.

A mulher abraçou a filha e se inclinou para trás para admirá-la com um orgulho maternal.

— Querida, você está linda. — Então a atenção dela se voltou para Jimin. — E aqui está ela. Que bom conhecer você. Sou Taeyeon.

Ela estendeu a mão, e aceitou o cumprimento.

— Prazer.

— Que voz bonita. Estou feliz que minha filha tenha vindo acompanhada da namorada esse ano.

Aquilo soou perfeito saído da boca dela. O único problema era que Jimin não sabia o quanto podia se agarrar aquilo, nem imaginava até quando permaneceria ao lado dela. Minjeong tinha razão quando dizia que sua doença foi um dos motivos de ela ter se afastado das pessoas. Ela havia passado por momentos delicados durante o tratamento e não queria arrastar ninguém para os seus problemas. Mesmo a situação estando sob controle agora, ainda existia suas outras questões pessoais.

E ela não queria fazer ninguém sofrer por sua causa.

Se Jimin se sentia claustrofóbica e sufocada na prisão em que havia se transformado sua vida, problema dela. Não ia durar para sempre. Ela não queria arrastar Minjeong para isso, porque estava apaixonada. Mas era uma verdade inegável que, mesmo querendo protegê-la, ela não conseguia lidar com a ideia de não tê-la mais ao seu lado.

Sentimentos eram mesmo algo perigoso. Uma coisa que absorvia e fazia você perder a racionalidade. Empurrava a pessoa para baixo, forçava-a ir a lugares onde não queria estar — como aquele clube, que claramente não era seu lugar.

Taeyeon levou a mão às pérolas.

— Ah, esse vestido é perfeito para você, Minjeong. — Ela rodeou a ruiva, verificando o zíper e espiando a parte de dentro da peça. — Sem costuras aparentes. Sem etiquetas. E tão macio.

Taeyeon olhou para Jimin com os olhos marejados antes de sussurrar no ouvido da filha e dar-lhe um beijo no rosto, deixando-a vermelha.

— Venha comigo. Você precisa conhecer o pai dela — Taeyeon disse a Jimin, já pegando o braço dela e a conduzindo até uma mesa bem longe da banda.

Um homem de meia-idade com cabelos grisalhos e óculos de aros brancos estava sentado ao lado de quatro cadeiras vazias, entretido numa conversa animada com um sujeito que Jimin mão esperava encontrar ali.

— Baekhyun, esta é a Jimin. Jimin, este é meu marido.

O pai de Minjeong se levantou para cumprimentá-la com um aperto de mão educado. Os olhos castanhos por trás das lentes, porém, a examinaram como se fosse um espécime de laboratório sem origem declarada. Jimin se sentiu no baile de formatura do colégio, quando conhecera o pai de uma garota pela primeira vez. Parecia que ia ter que apresentar seu currículo. Ela se segurou para não sacudir a mão do homem com força demais e dar a impressão de que estavam em algum tipo de competição ali.

— Muito prazer — falou Jimin.

— O prazer é meu — Baekhyun respondeu com um sorriso que fez Jimin se lembrar de seu próprio pai.

— Este é Park Sunghoon — Taeyeon falou, apontando para o cara moreno. — Sunghoon, esta é Jimin, namorada da Minjeong.

Sunghoon ficou de pé e ajeitou o paletó preto bem ajustado à silhueta atlética de um jeito que deixaria qualquer alfaiate orgulhoso.

— Estou surpreso por encontrar você aqui. — Ele estendeu a mão educadamente, mas, quando Jimin a pegou, sentiu seus dedos sendo comprimidos de forma desagradável. Os olhos castanhos de Sunghoon se estreitaram ao medi-la de cima a baixo. — Minjeong me falou bastante de você na faculdade.

Na faculdade? Jimin olhou para ela, que desviou o rosto, sem jeito. O beijo.

Jimin soltou a mão de Sunghoon antes de acabar cedendo à vontade de derrubá-lo em cima da mesa. Só fez um aceno breve e seco para ele.

Aquele desgraçado tinha enfiado a língua na boca de Minjeong.

Sem perceber a tensão que se elevava no ar, Taeyeon continuou apresentando as pessoas bem-vestidas em torno da mesa: um nerd que era dono de uma empresa renomada de tecnologia, um casal de japoneses educadíssimos e uma mulher mais velha de cabelos brancos e terninho cinza, com o pescoço, as orelhas e os dedos carregados de joias.

Jimin desabotoou o paletó e sentou entre Minjeong e a última cadeira vazia da mesa com o decoro que anos acompanhando sua mãe em eventos sociais tinham lhe ensinado.

— Então, Jimin, me conte mais sobre você — o pai de Minjeong falou, cruzando os braços e se recostando na cadeira com um olhar analítico no rosto. De fato era como se estivesse na noite da formatura.

E ela sabia exatamente como aquilo ia se desenrolar.

— O que gostaria de saber? — Perguntou.

— Bom, soube que você também estuda artes na KArts.

Sunghoon a encarou com um interesse visível.

O pai de Jimin queria que ela fosse astrofísica ou engenheira. Mais perto do fim, se contentaria com arquiteta. Ainda era uma profissão respeitável.

— Começo meu último ano em abril.

— Ah, que interessante. Então foi mesmo na faculdade que você e Minjeong se conheceram?

Ela quase deu risada ao se lembrar do primeiro encontro das duas.

— Sim. Temos a mesma optativa de inverno.

— É ela a parceira de trabalho de Minjeong, querido — Taeyeon falou com um sorriso gentil no rosto. — E pelo que fiquei sabendo é extremamente talentosa.

O rosto de Baekhyun se suavizou em interesse.

— Vejo que você e minha filha tem muito em comum. Já sabe em qual área vai focar depois que se formar?

— No momento não.

— Está pensando em se lançar como pintora? Que fascinante — Taeyeon falou.

— Estou fazendo uma pausa, na verdade.

Minjeong começou a falar, mas ela segurou a mão dela e balançou a cabeça de leve. Não queria que aquelas pessoas soubessem da vida complicada que tinha e como isso afetava sua liberdade artística. Ainda que essa fosse a verdade.

— Então... você não tem nenhum plano de futuro após a formatura? — Perguntou Sunghoon, incrédulo.

Jimin fingiu desinteresse e deu de ombros.

— Pode-se dizer que tenho, mas é algo pessoal. — Ninguém ali precisava saber que seu plano de futuro era continuar viva. Ela não queria que a mesa inteira a encarasse com dó ao saber da questão envolvendo sua saúde.

O rosto de Sunghoon se contorceu em uma careta, e Jimin cerrou os dentes. Devia achar que estava interessada em Minjeong por causa do dinheiro dela. Não sabia que ela era inteligente demais para cair numa cilada daquelas? Quando se apaixonasse, seria por alguém que estivesse à sua altura.

— Eu morreria de tédio. — Ele pareceu pensativo quando se voltou para Minjeong. — Você não suportaria ficar parada, não é? Tem tanta determinação, e sabe o impacto que seu trabalho tem na faculdade.

— Gosto mesmo do que faço no meu departamento — Minjeong admitiu, lançando um olhar preocupado para Jimin.

— Sr. Kim, você precisava ver o último trabalho que Minjeong fez — Sunghoon falou. — Ela criou uma tela de um jeito que nunca vi antes. Se continuar assim vai revolucionar o mundo das artes no futuro.

— Tenho total conhecimento dos trabalhos acadêmicos da minha filha, Sunghoon.

Baekhyun pareceu ignorar as nítidas investidas de Sunghoon de se aproximar. Estava na cara que ele queria causar uma boa impressão para os pais de Minjeong. Umas quinze maneiras diferentes de jogar um cara longe passaram pela cabeça de Jimin.

Era só o que faltava. Ela já detestava a ideia de Minjeong estar no mesmo departamento que Sunghoon, quanto mais com ele tentando se candidatar a pretendente. Aquele imbecil deveria irritá-la tanto quanto irritava Jimin. Ela sentiu um desejo juvenil de beijá-la em público para marcar seu território, e afastou a mão antes que cedesse. Minjeong nem percebeu. Ainda estava imersa na conversa que acontecia na mesa.

— Minjeong é uma das poucas pessoas que têm paciência comigo. Sei que sou um babaca. Tenho um padrões altos, não suporto preguiça e incompetência — Sunghoon falou, lançando um olhar cheio de significado para Jimin.

A morena respirou fundo e soltou o ar bem devagar, procurando algum relógio na parede do salão. Por quanto tempo mais teria que suportar aquilo?

O tema da conversa passou a teoria da arte e períodos artísticos. Com desânimo, ela notou que Minjeong começou a se abrir e falar mais. Ela tinha pedido que a interrompesse se falasse sobre a faculdade, mas dava para ver que estava adorando aquilo. Era claramente a grande paixão da vida dela. Jimin não queria lhe negar tamanha satisfação. Por mais babaca que fosse, Sunghoon parecia demonstrar interesse pelo que ela dizia.

Ela se lembrou do beijo. Minjeong dissera que não havia gostado. Chamara Sunghoon de irritante, mas não parecia incomodada em interagir com o sujeito. E, embora quisesse expor aquele fato, a melhor opção era permanecer em silêncio. No fim das contas, o lance entre Jimin e Minjeong era apenas físico.

Ela não tinha o direito de se meter nas escolhas que a ruiva fazia em sua vida.

Era terrível admitir aquilo, mas Jimin não era suficiente para Minjeong. Em diversos aspectos. Ela jamais poderia amá-la. A morena não passava de alguém com quem adquiriria prática. Enquanto a conversa sobre arte continuava, uma sensação de apertar o coração e rasgar as vísceras tomou conta dela. Tudo ali parecia errado.

— Ah, que bom que sua prima conseguiu vir, Sunghoon — comentou Taeyeon.

Uma mão pousou no encosto da cadeira de Jimin, e uma combinação conhecida de aromas invadiu seu nariz. Ela ouviu os cubos de gelo tilintarem antes que o copo baixo de uísque fosse colocado sobre a mesa.

— Oi para todos. Desculpem o atraso. — Uma garota com cabelos escuros e vestido preto justo sentou na cadeira vazia. Estava de perfil para ela, mas Jimin a reconheceu. Já havia beijado aquele pescoço. — Precisei fazer uma paradinha antes de... — A garota se virou para ela, e sua expressão revelou toda a surpresa permitia. — Ora, ora... Jimin.

— Oi, Chaewon. — Era a ocasião perfeita para encontrar uma ex namorada com quem havia terminado de uma péssima maneira.

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