16
Enquanto abraçava uma Minjeong entregue aos seus braços, toda derretida e satisfeita, Jimin sentiu seu coração palpitar como se estivesse inebriado.
Aquilo não tinha sido uma simulação de transa num relacionamento simulado, ou sexo pro bono para provar que ela era uma pessoa melhor que seu pai.
Ela já tinha transado com outras garotas, mas nunca sentira uma sintonia como aquela. Nunca se sentira tão desesperada para agradar, ou tão extasiada quando a ruiva chamara seu nome e se entregara para ela de novo e de novo.
Não sabia o que tinha sido aquilo, mas com certeza não era só sexo.
Minjeong a abraçou com mais força, deu alguns beijos no seu ombro e no seu pescoço e sorriu para ela, fazendo movimentos circulares em seu ombro. Aparentemente não era sempre um mau sinal quando os dedos dela se agitavam, mas aquilo fazia cócegas.
Jimin pôs a mão espalmada dela sobre seu coração para impedir que começasse a batucar e tentou assumir um estado de espírito mais profissional.
— Você me parece bem. — Ela disse, retirando alguns fios de cabelo do seu rosto. — Mas pode me dizer se tiver algo a incomodando?
Minjeong ficou em silêncio por alguns instantes, parecendo pensativa. Então a encarou de forma relutante.
— A noite de ontem foi o que você esperava?
Jimin expirou com força, surpresa com a pergunta.
— Por que isso?
— Sei que deveria ter sido diferente para você. Eu não fui muito... ativa.
— Ativa? Do que você está falando?
— Não fiz muita coisa para lhe dar prazer. — Ela ficou vermelha.
— Isso é por causa do que Sunghoon disse daquela vez? — Jimin se esforçou para manter o tom de voz suave, mas suas palavras saíram duras mesmo assim. A lembrança daquele babaca provocando ela na soverteria fez seus punhos se cerrarem.
— Talvez um pouco.
— Mas que porra...
Jimin foi interrompida quando Minjeong virou para ela com a expressão magoada.
— Não estou brava com você. É com esse cara. Comigo mesma. — Um vinco se formou entre as sobrancelhas dela, e a morena alisou com a ponta do dedo. — Você me deu muito prazer. Sei que estava nervosa, mas apreciei tudo de forma única.
Ela voltou a ficar pensativa por alguns instantes.
— Hum... Então você está feliz com o que nós fizemos?
— Claro que estou. Quero descobrir se você está. E, pelo que me disse até o momento, estou preocupada que não esteja.
Minjeong brincou com o tecido do lençol, evitando o olhar perscrutador de Jimin.
— Eu estou feliz, mas ainda acredito que a noite de ontem não foi tão, hum... satisfatória quanto costuma ser para você, mas prometo que, se tiver paciência comigo, irei melhorar.
Jimin praguejou disfarçadamente.
— Venha cá.
Ela a puxou, fazendo-a se deitar sobre o seu corpo e envolvendo-a com os braços. Ficou em silêncio por alguns instantes antes de suspirar com força.
— Você acha que as minhas relações anteriores foram totalmente satisfatórias, mas está enganada. Você me deu algo que eu nunca tive: confiança.
Minjeong assentiu, mas algo no seu gesto a inquietou.
— Juro que não estou bajulando você. — Jimin fez uma pausa, como se ponderasse bem o que diria em seguida. — Sob o risco de parecer uma idiota, eu não senti algo assim nem mesmo com minha ex-namorada. Então confie em mim quando digo que as coisas com você são diferentes. No melhor dos sentidos.
— Hummm... Você nunca havia me falado sobre uma ex-namorada.
Jimin abriu um sorriso malicioso para ela.
— Está com ciúmes, MJ?
— Deveria?
— Não. Chaewon é passado e, eu prefiro focar no presente.
Ela a beijou com carinho, como se confirmasse de forma solene o que dizia.
— Pare de se preocupar com essas coisas, ok?
Minjeong assentiu e sua expressão se suavizou.
— Obrigada por ter sido tão paciente comigo ontem à noite – sussurrou ela, corando.
Jimin sorriu.
— Olha só você. Desse jeito vou querer uma avaliação cinco estrelas.
— Seis estrelas. — O sorriso dela se abriu ainda mais. Aqueles olhos azuis brilharam e se esqueceram de fugir logo em seguida, permitindo que Jimin a encarasse de verdade pela primeira vez naquela manhã. Aquilo a fez sentir que ela própria tinha um valor inestimável, deixando-a sem fôlego.
— Assim você faz mal pro meu ego, que já é grande o bastante — ela se obrigou a dizer em tom de brincadeira.
— Você não é nada egocêntrica. É confiante, mas bem modesta. É uma das muitas coisas que amo em você.
Ama?
Jimin sentiu uma pontada no peito.
Ela jamais poderia amá-la. Sentia aquilo com cada fibra de seu ser. O amor exigia ainda mais confiança, e ninguém confiaria tanto assim nela. Jimin tinha o sangue do seu pai.
Mas aquilo não significaria nada, caso fizesse as coisas direito. Era só o que queria. Ela olhou para o relógio e ficou surpresa ao constatar que não eram nem oito horas. Os acontecimentos daquela manhã pareciam capazes de mudar uma vida, mas as duas estavam acordados fazia só uma hora.
— Durma um pouco mais comigo. — Jimin pediu em tom gentil.
— Agora?
— Sim. — Ela esticou o braço para a cabeceira da cama e pegou o celular. Então desligou sem olhar e colocou de lado. — Tenho alguns compromissos marcados para hoje, mas eles podem esperar um pouco.
— Os outros estarão se levantando em breve, se ainda não o fizeram.
— A noite passada foi a primeira boa noite de descanso que tive em muito tempo. — Jimin acariciou sua pele de leve com a ponta de um dedo. — Eu poderia dormir mais algumas horas.
Minjeong pareceu relutar por alguns instantes, mas por fim assentiu.
Ela descansou sua bochecha no ombro dela enquanto o braço dela se enrolava ao seu redor. Jimin soltou um profundo suspiro em seus cabelos.
A maré suave da respiração da morena lentamente a levou ao sono também.
\[...]
— Se anime garota, você esta em Seul. —Somi despertou Jimin para a realidade. Ela sorriu quando se inclinou sobre o corrimão sobre a Ponte Bampo. Seus longos cabelos loiros voaram com a brisa fria. Ela usava um casaco de inverno, jeans, e botas.
Jimin examinou a ponte lotada por trás de seus óculos de grau.
— Aqui está cheio de gente para a estação.
Somi gemeu, ainda se inclinando sobre a borda.
— Esqueça os cadeados, os amantes e os turistas tirando selfies. Basta olhar para o Han.
Jimin seguiu seu olhar. O rio corria abaixo delas, pontilhado aqui e ali com barcos fluviais. Como a água ainda estava alta demais, muitos dos barcos se aproximavam lentamente da ponte antes de se virar e sair.
— As pessoas vêm, as pessoas vão. O rio flui — Somi suspirou e descansou o queixo na mão erguida.
Jimin enfiou as mãos no seu casaco.
— Por que esta tão melancólica?
A brisa soprou uma mecha de cabelo loiro na boca de Somi e ela a soltou.
— Estou com saudades de casa, mas não posso voltar. Eu tenho que ganhar algum dinheiro, e tenho que assombrar a biblioteca, pesquisando minha tese.
Jimin olhou para a amiga.
— Sinto muito por você não ter conseguido aproveitar as férias nesse semestre para viajar. Talvez consiga fazer isso no próximo recesso.
— Eu também. Sinto falta da minha mãe e do meu irmão. — Somi virou-se e ficou de costas contra o corrimão. Ela olhou para o céu nublado. — Como estão as coisas com o seu pai?
— Péssimas. — Jimin continuou a olhar para o Han. — Ele queria que eu fosse passar minhas férias com ele nos Estados Unidos, mas isso nem sequer estava na minha lista de possibilidades
— Então tudo continua na mesma?
Ela assentiu.
— Sim e não tenho a menor intenção de mudar. Já aceitei que meu pai não tem caráter e que minha família são minha mãe, irmã e Seulgi.
— Se ele quisesse mesmo se aproximar de você, não deveria parar de agir de forma tão cretina? — A loira lançou-lhe um olhar de desculpas. — Sem ofensa.
— Eu não tenho respeito pela pessoa que meu pai se tornou, então ele vai demonstrar a mesma coisa por mim. Além disso, ele tem uma nova família com a qual lidar, então poderia muito bem esquecer da minha existência.
— Eu sinto muito. — Somi deu-lhe um olhar de compaixão. — Como estão as coisas na faculdade?
— Estão indo bem — Jimin fechou os olhos atrás dos óculos, de repente se sentindo cansada. — Embora agora eu só precise lidar com um projeto de optativa, sei que quando as aulas retornarem minha rotina vai ficar bem mais exaustiva.
Ela abriu os olhos.
— E quanto a você, como está sua rotina na faculdade? Dá última vez você me disse que a pós estava chutando sua bunda.
Somi deu uma risada.
— E está. As coisas estão tão agitadas que tenho dormindo de dia e estudado à noite. Estou me sentindo como uma vampira.
— Existe vampiro coreano?
— Alguns dos vampiros mais perigosos são coreanos. — Somi deu-lhe um olhar solene antes de rir. — Mudando um pouco de assunto... Eu soube que você tem saído com a Minjeong.
Jimin se juntou a ela no corrimão.
— Não é nada sério — No instante em que essas palavras saíram da sua boca, ela se arrependeu.
A verdade era que a ruiva mexia com ela de tantas formas que era impossível para ela até enxergar direito, quanto mais pensar. Aceitara sua nova proposta simplesmente por que queria ficar mais tempo com ela.
Só que as coisas sairam do controle. Os limites ficaram difusos, de modo que parecia impossível separar as duas coisas. Talvez até por vontade própria. Sua família presumira que Minjeong era sua namorada, e ela gostara daquilo até mais do que deveria. Ir em frente com aquela história tinha sido um erro gigantesco. Mas agora era tarde demais.
— Ainda que não seja algo sério, estou feliz em ver você seguindo em frente — disse Somi sendo sincera. — Embora eu tenha ficado surpresa quando soube que você e Chaewon tinham terminado.
— As coisas simplesmente não deram certo. — A morena se concentrou em um dos barcos de turismo que navegavam abaixo delas.
A verdade é que existia mais de um motivo para esse seu término. Um deles era o fato do seu pai ser um traidor nato, o que ensinou a Jimin que, em vez de assumir compromissos e acabar magoando as pessoas, ela devia manter as relações impessoais.
O outro motivo era bem mais complicado do que gostaria de admitir.
— Eu não posso acreditar que você tem uma ex com aquele nível de gostosura. — Somi lançou-lhe um olhar provocativo. — Você ainda mantém contato com ela?
Jimin esfregou a ponta do sapato contra o corrimão.
— Não. Mas fiquei sabendo que ela aproveitou o período de férias para viajar.
— Há uma história complexa ai, mas precisamos de muito chocolate e uma garrafa de vinho para eu arrancar de você. — A loira remexeu nos bolsos e retirou algumas moedas de wons. — Minjeong é bem linda também, né?
— Sim, mas eu quero você e a sua lábia bem longe dela.
Somi reprimiu uma risada.
— Não se preocupe com isso. Você é minha amiga. — Ela fechou os dedos sobre as moedas e levou-as à boca, soprando nelas antes de murmurar algumas palavras em inglês. Então as jogou no rio.
— Você vai ser presa. — Jimin olhou por cima do ombro e examinou a ponte. — Você não deveria jogar coisas no Han.
— Ninguém notou. Se alguém ver, somos turistas e nenhum de nós fala coreano. Ou talvez se uma policial gostosa aparecer, podemos considerar ser presas. — Somi piscou. — Eu apenas fiz um desejo. Eu pedi ao rio para te ajudar.
Jimin tentou não sorrir.
— Você acha que o Han vai me ajudar a lidar com meus problemas pessoais?
— Sim.
— Você está pensando na Fonte de Trevi em Roma. Você joga moedas nela e faz um desejo.
— Fonte, rio, o que seja. Eu fiz uma doação para os deuses do rio e pedi que eles ajudassem. Tenho certeza de que eles farão alguma coisa ou terão que devolver meu dinheiro.
Jimin riu baixinho.
— Eu aprecio o pensamento.
— Estou aqui para ajudar. — Somi colocou as mãos em torno de sua boca. — Vamos lá, Han. Não me decepcione.
Sobre o som da risada de Jimin, seu celular tocou.
Ela olhou para a tela e ficou surpresa ao ver o contato de Minjeong.
— Sinto muito, Somi, preciso atender.
Sua amiga acenou para ela e continuou encostada no corrimão.
— Oi, estou surpresa por você ligar — Jimin parou a poucos metros de distância.
— Ah, eu achei que seria interessante fazer isso — disse Minjeong em tom baixo. — Estou te atrapalhando? Eu posso ligar depois...
— Não se preocupe com isso. Eu só estou dando uma volta pela ponte Bampo. Você precisa de alguma coisa?
— Na verdade... Eu só queria ouvir a sua voz.
A sinceridade dela e a mera sugestão de esperança deixou Jimin sem ar. Ela afastou o celular da boca para tossir rapidamente.
— Bom, você não gostaria de se encontrar comigo de fato?
— Eu adoraria... — Minjeong fez uma pausa e, Jimin sorriu ao imaginar ela colocando o cabelo atrás da orelha daquele jeitinho tímido de sempre. — Mas você não precisa fazer isso se não estiver afim.
— Eu estou muito afim. Que tal me encontrar no café perto da faculdade daqui meia hora? Podemos ir ver a questão do seu vestido para a festa depois.
— Por mim tudo bem.
Jimin fechou os olhos com força e tentou conter sua excitação.
— Então está combinado.
A morena terminou a ligação e enfiou o celular no bolso. Seu coração batia rapidamente e ela se viu sorrindo.
Não seria excessivamente otimista. Minjeong tomando iniciativa de ligar para ela não queria dizer nada. Ainda assim, era uma oportunidade boa demais para recusar.
Jimin enfiou a mão no bolsos da calça jeans e retirou um punhado de moedas. Ela se aproximou de onde Somi estava e jogou as moedas no rio.
— O que foi isso? — Somi perguntou enquanto observava os Wons romperem a superfície da água.
— Só estou mostrando meu agradecimento aos deuses do rio. — Jimin levantou as mãos para o ar. — Eu acho que minha sorte mudou.
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