14

Minjeong deveria estar estudando. O livro sobre conceitos da arte moderna era interessante. Normalmente, ela já teria terminado. Mas não conseguia olhar para telas e pinturas ou mesmo ler a respeito sem pensar em Jimin.

O celular sobre a mesa na biblioteca da faculdade parecia chamá-la. Queria escrever para ela. Aquilo era permitido? Afora as questões do projeto em que estavam trabalhando, elas só trocavam mensagens por iniciativa de Jimin.

Ela batucou com os dedos na superfície da mesa, então cerrou o punho. Como conseguiria conquistá-la se não tinha coragem nem de mandar uma simples mensagem? Pegou o celular.

"Oi."

Mas apagou a mensagem antes de mandar.

"Estou com saudade."

Só de ver aquelas palavras na tela suas mãos ficaram suadas. Eram diretas demais. Precisava apagar.

"Queria saber se você tem alguma coisa planejada para hoje."

Ela apertou o botão de enviar, colocou o celular sobre a mesa e ficou olhando para as páginas do livro sem conseguir se concentrar em nada. A tela do celular apagou depois de um tempo.

Jimin devia estar ocupada.

O telefone vibrou, mas não do jeito breve que indicava mensagem de texto.

Ele continuou zumbindo e tremendo. Era alguém ligando.

Quando olhou para a tela, viu o nome de Jimin e seu coração disparou. Ela agarrou o celular junto ao peito antes de atender.

— Alô?

— Oi. — Ao fundo, Minjeong ouviu a prima dela tagarelando sobre o ruído de pessoas conversando. — Estou meio ocupada no momento, então resolvi ligar em vez de escrever. Não planejei nada para a gente hoje, mas que tal você vir me encontrar na academia em que trabalho? Fica em Itaewon.

Minjeong ficou surpresa diante da sugestão de Jimin. Mas aquela era a oportunidade perfeita para conhecer mais da vida dela.

— Tudo bem mesmo por você?

— Ah, claro. Termino minha aula em trinta minutos, então podemos nos ver.

— Encontro você aí, então.

— Perfeito. — Jimin deu uma risadinha, e Minjeong apertou o celular com força. Estava com saudade dela de verdade, apesar de só fazer um dia que tinham se visto.

Aeri falou alguma coisa, e Jimin soltou um suspiro.

— Preciso desligar. Fico te esperando. Estou com saudade. Tchau.

Ela ficou sem fôlego antes de conseguir murmurar:

— Eu também. — Mas o telefonema já tinha sido encerrado, e suas palavras foram ditas apenas para si mesma.

Como as outras pessoas conseguiam cumprir suas obrigações diárias com uma saudade daquele tamanho? Ela precisava vê-la.

Minjeong guardou o celular e lançou um olhar de lamento para o livro sobre a mesa, mas não permitiu que sua mente voltassem a atenção para aquilo. Para ela, não existia aquela coisa de mais cinco minutinhos. Se retomasse os estudos, só sairia do novo mergulho nos conceitos artísticoe mais de meio-dia. Aquele era o motivo pelo qual seguia tão bem sua rotina.

Fora que Jimin era tão interessante quanto os estudos e ainda a fazia rir. Tinha um cheiro bom, um gosto bom, um toque bom e... Ela abraçou a si mesma, sentindo seus pés dançarem sobre o chão. Empolgação com a faculdade durante o dia e excitação com Jimin durante a noite. Minjeong queria continuar com aquilo pelo resto da vida.

Ela devolveu o livro para a prateleira e pegou suas coisas para sair. Atravessar o corredor cheio era algo raro para Minjeong já que a faculdade estava em recesso, mas seus colegas de departamento pareciam tão focados nas optativas de inverno quando ela.

Quando a ruiva virou no corredor acabou cruzando com Sunghoon, ele ergueu o rosto dos papéis que trazia em mãos e deu uma boa olhada nela. Minjeong acenou e se dirigiu a saída. Quando estava do lado de fora, ele a acompanhou.

— Está saindo mais cedo hoje — comentou Sunghoon.

Enquanto olhava para o céu nublado, ela percebeu que o clima estava mais frio.

— Tenho um compromisso agora.

Os olhos de Sunghoon a percorreram de cima a baixo.

— Vai encontrar alguém?

Ela colocou os cabelos atrás da orelha.

— Sim.

— Seguiu meu conselho, é? — Ele falou, com seu sorrisinho de sempre.

— De certa forma, sim. Obrigada.

Sunghoon piscou algumas vezes, então suas sobrancelhas se ergueram.

— Você é surpreendente, Minjeong. E fica bonita com o cabelo solto.

A admiração no olhar dele a deixou bem sem jeito. Ela puxou o colarinho da camisa.

— Obrigada.

— Quem é ele? Eu conheço? A coisa é séria?

Minjeong começou a batucar os dedos na coxa.

— Acho que sim. Você cruzou com ela quando estivemos na sorveteria da última vez. E espero que seja sério. Para mim é.

— Não vai me dizer que também caiu na lábia dela, hein?

Ela olhou feio para ele.

Sunghoon limpou a garganta.

— Desculpa, não foi isso que eu quis dizer. Só acho que devia ir com calma.

Minjeong acelerou o passo na intenção de deixá-lo para trás, mas ele a acompanhou.

— Aonde vocês vão?

— Ainda não decidimos. — Ela viu os portões de entrada da faculdade e desejou ser capaz de se teletransportar direto para lá. — Se o lugar for bom, aviso. Você pode levar aquela garota com quem está saindo lá.

— Não estou mais saindo com ela. Não temos nada em comum. Ela falou que preciso aprender a me comunicar melhor. Que pareço meio arrogante. Ridículo! Não tenho culpa de saber das coisas. — Ele tossiu. — Esquece essa última parte.

Aquilo a fez deter o passo. Minjeong sabia como era ter problemas para se comunicar. Aquilo significava que fora a garota quem terminara com ele? Por trás das aparências, Sunghoon estava triste? Ele era capaz de sentir aquilo?

— Entendi.

— Você e eu temos muito em comum. — O olhar dele mostrava que estava falando sério. E que estava interessado nela para valer.

Minjeong parou a poucos metros da saída.

— Não posso imaginar como.

A mãe dela certa vez considerara os dois perfeitos um para o outro. Mas agora aquilo era impossível de se tornar realidade. Ela só queria Jimin.

— Preciso ir, ou vou me atrasar.

Sunghoon deu um passo atrás.

— Divirta-se. Mas não demais. A gente se vê por aí.

Depois de se afastar e olhar em direção ao estacionamento, ela viu Sunghoon entrar no carro dele. Uma Lamborghini vermelha novinha. Não era o estilo dela. Detestava aqueles carros, mas sabia que Jimin provavelmente gostava deles.

Com um suspiro, ela seguiu seu próprio caminho.

Depois de mais ou menos vinte minutos, estava parada em frente a uma grande galeria comercial com uma fachada de madeira bem conservada e carvalhos alinhados junto à calçada. Letreiros à moda antiga assinalavam a presença de um café, uma livraria e o local que procurava: a academia de artes marciais onde Jimin trabalhava.

Respirando fundo, Minjeong agarrou a alça da mochila e entrou. Uma garota de cabelos escuros estava atrás do balcão da recepção.

Ela ergueu os olhos do livro apoiado no colo e piscou algumas vezes, surpresa por vê-la.

— Bom dia. Posso ajudar você com alguma coisa?

— Ah, bom dia. Estou procurando por Yu Jimin. Ela está?

— Está, sim. — respondeu uma voz familiar atrás dela.

Minjeong se virou e viu Aeri se aproximar com uma expressão tranquila no rosto.

— Estou surpresa por ver você aqui, Minjeong. — Ela disse, sorrindo. — Não imaginei que tivesse interesse em artes marciais.

A ruiva sorriu de forma singela.

— Jimin pediu para que eu a encontrasse aqui. Posso falar com ela, por favor?

— Jimin deve estar finalizando a aula dela. Levo você lá.

Minjeong acenou uma última vez para a recepcionista e seguiu Aeri, parando diante de uma sala de treino equipada onde Jimin, parecendo linda em um kimono preto, dispensava uma turma de alunos.

Os músculos de Minjeong se enrijeceram. Seu coração retumbava com força.

Aeri murmurou alguma coisa para Jimin, e ela desviou os olhos. Seu olhar passou da prima para Minjeong.

Com os olhos brilhando, a morena bateu nos lábios com o indicador enquanto caminhava até ela. Quando se aproximou, sorriu e lhe deu um abraço apertado, colando os lábios em seu pescoço e passando os dedos nas mechas soltas de seus cabelos.

— Minha Minjeong está maravilhosa hoje.

A ruiva sentiu um sorriso se formar em sua boca. Quando ela havia começado a chamá-la daquele jeito? Minha Minjeong. Ela poderia desejar algo no mundo além daquilo? Sentiu vontade de perguntar o que significava, mas ficou com medo de que Jimin parasse de chamá-la daquele jeito.

Ela respirou fundo e se aninhou junto a morena. Naquele momento, tudo pareceu no lugar, e sua determinação se fortaleceu. Minjeong ia conquistá-la. Só não sabia como.

— Sua prima pareceu surpresa por me ver aqui. Não posso julgá-la, esse não é bem o tipo de ambiente que costumo frequentar.

Jimin desfez o abraço para encará-la.

— Você poderia se inscrever nas aulas, se quisesse. Tem o corpo para isso — ela falou, com um sorriso provocador.

— Com minha coordenação motora, ia cair e sofrer uma concussão.

Sabiamente, Jimin não fez nenhum comentário a respeito.

— Então é aqui que você trabalha? — Perguntou Minjeong, olhando atentamente para o espaço a sua volta.

— Sim. Pela sua cara, estou vendo que você gostou. Ter chamado você para vir aqui valeu a pena.

Então ela se deu conta de que estava realmente fascinada com o que via, incluindo a morena de kimono a sua frente. Desviou o olhar e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Você pode assistir uma aula minha qualquer dia desses. — Jimin sorriu e lhe deu uma piscadela.

Como Minjeong conseguiria conquistá-la quando era ela que a seduzia tão bem?

— C-como foi seu dia? — Quando as palavras saíram de sua boca, ela percebeu que era a primeira vez que perguntava aquilo. Mas não a primeira em que tinha pensado a respeito. Seria pessoal demais? Ela deveria fazer aquele tipo de pergunta?

Os lábios de Jimin se contorceram para formar algo entre um sorriso e uma careta.

— É época de férias. Está bem longe de ser a minha favorita.

— Muitos alunos?

— E adolescentes histéricas.

— Devem ficar todas caidinhas por você. — O que de fato podia ser bem cansativo.

— Aeri da a maioria das aulas, então não é tão ruim. Mas estou ficando até cansada com a quantidade de técnicas que precisei repassar hoje. Sua visita foi o ponto alto do meu dia.

A ruiva sorriu de forma singela.

— Como foi o seu dia? — Jimin quis saber depois.

— Bom.

Jimin sorriu e beliscou o queixo dela.

— Quero detalhes.

— Ah. Encontrei um livro interessante na biblioteca da faculdade. Um que aborda conceitos de arte fascinantes que não sei como expli... Por que está me olhando assim?

Jimin estava com a cabeça inclinada para o lado, sorrindo de um modo particularmente afetuoso.

— Você fica muito linda quando fala do seu curso.

— É difícil acreditar.

A morena deu risada.

— Mas é verdade. Pode continuar. Um livro, conceitos de arte fascinantes.

— Eu conto quando conseguir por em prática. E vou conseguir. Vejamos... O que mais aconteceu? Ah, minha mãe ainda acha que estou estudando de mais. E conheci um novo lugar hoje. — Ela deixou de fora todas as informações relacionadas a Sunghoon. Não havia por que mencionar aquela conversa constrangedora.

— Sua mãe acha que você está estudando demais?

Minjeong deu de ombros.

— Quem é que não acha isso?

— Se você gosta, nunca é demais. E é o seu caso.

— Exatamente. Fale isso para minha mãe.

— Se eu cruzar com ela... — disse Jimin. Pelo tom que usou, devia considerar a probabilidade baixíssima.

— Pode ser daqui algumas semanas, num evento beneficente que ela está organizando. Se quiser ir comigo... Mas não precisa se sentir obrigada. — Minjeong acrescentou rapidamente.

Jimin levou a mão ao queixo enquanto pensava.

— Você quer que eu vá?

Ela assentiu.

— Minha mãe ameaçou me escolher um par se eu não tiver quem levar. — Ela só queria ir com Jimin, mais ninguém.

— Bem chato mesmo. Quando é?

— Num sábado à noite. Traje formal. Não que seja um problema para você.

Jimin curvou o canto da boca num sorriso, mas a tensão em torno dos olhos continuava.

— Certo. Vou marcar na agenda. Vai ser um prazer.

— Sério?

— Sim.

Minjeong mordeu o lábio, hesitante, mas resolveu dizer mesmo assim.

— Você pode ir comprar o meu vestido comigo?

Jimin a encarou por um longo instante.

— Eu vou adorar.

— Tudo bem...

— Então, você conseguiu pensar em algo para fazermos hoje? — Perguntou ela, levando a mão dela à boca para beijá-la.

— Na verdade, não. Imaginei que você tivesse alguma sugestão.

Jimin sorriu.

— Bom, podemos ir a um café e depois podemos assistir um filme juntas.

— Isso significa que você vai dormir na minha casa? — Ou ela estava tirando conclusões precipitadas ao supor que passariam a noite juntas?

— Se você quiser. Não vejo problema nenhum nisso. — Jimin coçou a nuca, toda charmosa.

— Eu ia gostar muito.

Jimin passou os dedos em seu rosto e seus cabelos.

— Tudo bem. Eu só vou tomar um banho e trocar de roupa. Promete que vai me esperar aqui?

Ela assentiu, sorrindo.

— Prometo.

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