10

O suor escorria para os olhos de Jimin, fazendo-os arder. Ela passou o antebraço no rosto antes de cerrar o punho e atingir de novo o saco de pancadas. Quando algum pensamento se infiltrava em sua mente, batia mais forte. Pensamentos demais, sentimentos demais.

Jab, esquiva, gancho. Jab, cruzado.
Seus braços queimavam. Era uma dor bem-vinda, que incinerava tudo dentro de sua cabeça. Não havia nada além da resistência pesada da areia dentro do saco e do grave impacto que provocava ondas de choque pelos braços e pernas.

Jab, jab, jab, cruzado, cruzado, cruzado. Mais forte. Será que conseguiria derrubar o saco de pancadas preso por correntes? Talvez.

Batidas escandalosas na porta a interromperam no meio de um soco, e ela olhou feio naquela direção. Sua irritação logo se transformou em receio. Poderia ser o senhorio querendo falar sobre o aluguel?

Jogando uma toalha sobre o pescoço, Jimin abriu a porta.

— E aí? — Aeri passou por ela, jogou a chaves do carro na mesinha de centro e atirou a jaqueta sobre o sofá. Sem se dar ao trabalho de olhar para Jimin, foi até a cozinha e abriu a geladeira. — Tem alguma coisa para comer?

— Bom dia para você também, Aeri — respondeu Jimin, voltando aos socos.

O saco de pancadas ainda balançava por causa da sequência de golpes que tinha desferido. Jimin o endireitou antes de cravar o punho outra vez no couro gasto. Enquanto atingia o equipamento, ouviu uma série de bipes de micro-ondas.

— Vou comer as sobras que encontrei aqui — Aeri avisou. Jimin a ignorou e continuou batendo.

O micro-ondas apitou. Pouco depois, Aeri apareceu com uma tigela fumegante, sentou no sofá e começou a devorar o jantar de Jimin. Fazendo bastante barulho propositadamente.

Quando cansou de aturar aquilo, Jimin parou de bater e falou:

— A maioria das pessoas come na mesa da cozinha.

Aeri deu de ombros.

— Prefiro o sofá. — Ela enfiou uma garfada de macarrão na boca e chupou os fios pendurados. Em seguida lançou um olhar para a prima como quem pergunta “que foi?”.

Jimin cerrou os dentes e tentou retomar o ritmo.

— Você não deveria maneirar no treino? Seu corpo não deve ser sobrecarregado. Você sabe muito bem disso, Jimin.

Endireitando o saco de pancadas, ela perguntou:

— O que está fazendo aqui?

— Você vai se desculpar comigo ou não? Porque está sendo uma prima de merda. De verdade.

Jimin fechou os olhos e soltou o ar com força.

— Desculpa.

— Vou ter que pedir para você tentar de novo.

Ela se afastou do saco de pancadas e se jogou no sofá ao lado da prima.

— Desculpa mesmo. As coisas estão complicadas para mim e... — Jimin apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto com as mãos enfaixadas. — Desculpa.

— Não entendo por que mentiu sobre ter namorada. Está com medo de que ela não goste da família ou coisa do tipo? — Perguntou Aeri com um risinho de deboche.

Jimin teve que se segurar para não arrancar os cabelos.

— Não quero falar sobre isso.

— Droga, Jimin. — Aeri pôs a tigela na mesinha e pegou a jaqueta. — Estou indo embora então. — Ela foi até a porta e virou a maçaneta.

— Tive um dia cansativo, está bem? — Jimin começou a tirar as bandagens das mãos. — Tudo bem que a maioria dos meus dias são ruins, mas hoje foi pior. Não acordei me sentindo exatamente bem. Então você tem razão quando diz que estou me sobrecarregando com esse treino.

Aeri se virou, com a preocupação estampada no rosto.

— Por que não me falou isso antes? Seus exames não mostraram nenhuma alteração, certo?

Terminando de remover as ataduras de uma mão, Jimin passou para a outra, revivendo o medo e o alívio que sentiu.

— Eu estou bem. Apesar da minha condição, não estou correndo nenhum risco de vida. E você sabe que mantenho atenção redobrada sobre essa questão.

A expressão de Aeri passou de alívio a compreensão.

— Que característica para se herdar do pai, hein?

Jimin revirou os olhos, ainda desenrolando as bandagens.

— Eis aí o verdadeiro motivo do meu dia ruim. Meu pai me ligou, praticamente me intimando a ir visitá-lo nos Estados Unidos. É sempre engraçado ver a reação dele quando digo que prefiro me alistar no exército a fazer isso. Minha mãe passou o resto do dia reafirmando o quanto prefere que eu não me aproxime dele.

— Ela só faz isso para proteger você, sabia? Se dependesse dela, você nunca mais teria que lidar com ele. — Aeri cruzou os braços e respirou fundo. — Sinceramente, eu também preferia que fosse assim.

— Eu sei. — Jimin entendia que os erros do seu pai afetaram sua família como um todo, mas estava ficando cada vez mais difícil lidar com isso. Porque ela também era uma grande egoísta.

Embora fizesse o possível para deixar essa questão no passado, as lembranças não paravam de surgir, então ela não conseguiria ignorar por muito tempo.

— Quer que eu vá embora? — Perguntou Aeri da porta.

Jimin respirou fundo e balançou a cabeça.

— Fica aí.

Aeri sentou ao lado da prima no sofá. Depois de um longo suspiro, pegou a tigela de macarrão e recomeçou de onde havia parado, fazendo menos barulho.

Jimin foi até a cozinha e pegou uma garrafinha de água. Quando voltou, ligou a TV e bebeu enquanto trocava distraidamente de canal.

— Então, sobre a sua garota... — começou Aeri. — Há quanto tempo vocês estão juntas?

Jimin deu outro longo gole na água. Ia precisar de muita paciência para levar aquela conversa adiante.

— Minjeong não é bem "minha garota". E faz só algumas semanas.

— Que seja, garota, você tem as manhas. Se quiser que uma garota seja sua, ela vai ser.

Jimin soltou um risinho de deboche e bebeu mais um pouco.

— Não quero uma garota que goste de mim só porque sou boa de cama.

Ela queria uma garota que gostasse dela por quem era.

— Que grande papo furado. — Aeri colocou a tigela vazia sobre a mesinha de centro e cruzou os braços. — Ela quase chorou quando aquela loira se jogou em cima de você. Está totalmente na sua.

O coração de Jimin ameaçou dar saltos mortais dentro do peito quando ela ouviu aquelas palavras da prima. Teve que se repreender mentalmente enquanto se forçava a encarar a garrafa. Aeri devia estar exagerando. Era melhor não tirar conclusões precipitadas.

— Legal.

— Legal? — Aeri arqueou uma sobrancelha. — Você não está mais no colégio, garota. Deveria ficar superfeliz, me agradecer por ter falado, já que não consegue perceber coisa nenhuma. Precisa de conselhos na cama também? Conheço umas posições bem interessantes.

Jimin teve que gargalhar.

— Não, estou tranquila. Valeu. Mas se você precisar de umas dicas...

Aeri começou a mexer nas chaves do seu carro, como se tivesse alguma coisa a dizer, mas não soubesse como. Por fim perguntou:

— Então vocês duas já...? Você sabe.

Jimin deu um longo gole na água.

— Não.

— Sério? — Aeri fez uma careta. — Isso é meio inusitado vindo de você.

Jimin deu de ombros.

— Ela precisa que eu vá mais devagar. Não ligo. Estou até gostando. — A cada nova reação de Minjeong, ela se sentia melhor, como se a estivesse conquistando. Talvez porque naquele aspecto as coisas sempre tivessem sido fáceis demais para ela.

— Mentirosa do caralho. Deve estar se tocando umas dez vezes por dia.

— Eu não disse que não estava.

Aeri passou para a ponta do sofá num pulo.

— Ah, que droga. Aqui no sofá?

— Quer mesmo saber? — Perguntou Jimin com um sorrisinho.

— Você é doente, sabia? — Aeri levantou e foi sentar na mesa de
centro, se esfregando como se tivesse sido contaminada.

Jimin caiu na risada, depois as duas passaram um bom tempo em silêncio.

Quando não conseguiu mais se segurar, Jimin perguntou:

— O que você achou da Minjeong? Gostou dela? — Ela se preparou psicologicamente para a resposta, percebendo que se importava de verdade com a opinião da prima.

Que idiotice era aquela? Mesmo tendo aceitado a proposta, era só a namorada de mentira dela. A simulação de relacionamento terminaria assim que Minjeong ganhasse confiança para se envolver de verdade com alguém melhor.

— Ah, sim, ela é bonita, e bem mais meiga que as garotas com quem você costuma se envolver. Sua mãe vai adorar conhecer ela.

Jimin pôs a garrafinha de água sobre a mesa. Em breve isso iria acontecer e tudo por que Seulgi tinha tirado suas próprias conclusões do que vira.

\[...]

Mais tarde naquele dia, depois de ir para a casa de Minjeong e passar horas discutindo sobre o projeto da faculdade com a ruiva e se revezando em comentários absurdos sobre arte, Jimin se juntou a ela no sofá da sala para assistir um filme. Aparentemente ela tinha gostado daquele tipo de programa e, Jimin não via motivos para reclamar.

Minjeong estava com a cabeça apoiada no ombro dela enquanto focava na TV como se nada mais ali importasse. De tempos em tempos, suspirava ou ficava tensa, reagindo à história, e um sorriso surgia no rosto da morena ao perceber o quão relaxada ela parecia na sua companhia.

Sem conseguir se conter, Jimin passou o nariz no pescoço dela e sentiu o cheiro suave de sua pele, então deu um beijo no ponto sensível no fim do maxilar. Os lábios dela a tentavam, mas ela preferiu fazer algo menos invasivo e chupar o lóbulo de sua orelha, arrancando-lhe um suspiro trêmulo.

Minjeong lançou um rápido olhar em sua direção, com a atenção capturada pela sua boca. A TV e o filme pareciam ter perdido o seu interesse.

— O que você está fazendo? — O tom sussurrante da voz dela fez uma sensação de satisfação se espalhar pela pele de Jimin.

— Humm... Digamos que estou provocando um pouco você. — Apesar de saber a resposta, Jimin perguntou com a boca colada ao ouvido dela: — Gostou?

Minjeong estremeceu e se encostou nela um pouco mais. Um novo arrepio percorreu sua pele.

— Sim, mas eu não sabia que algo assim era possível.

— Ninguém nunca fez isso com você?

Ela balançou a cabeça.

— Me diz se quer que eu pare por aqui ou se quer alguma coisa específica — disse Jimin, acariciando os cabelos dela e puxando sua cabeça para trás. Uma trilha de beijos se seguiu pela linha do maxilar dela, passando pelo queixo até chegar ao canto da boca.

Perto demais da tentação dos lábios. O corpo inteiro dela estava ansioso pela sensação de um beijo profundo, e Jimin quase cedeu, mas decidiu prolongar aquilo um pouco mais. Ela passara o dia todo pensando naquela boca. E mesmo sentindo que estava nadando contra a correnteza, forçou seus lábios a baixarem para o pescoço dela.

— Isso é realmente bom... — murmurou Minjeong.

— Quer experimentar algo ainda melhor?

Ela assentiu hesitante.

— Senta no meu colo — falou Jimin.

Mordendo o lábio, Minjeong montou sobre ela. Porra, como ela estava perto. Jimin sentiu seu corpo esquentar de imediato, mas se obrigou a ir devagar. O principal ali era Minjeong. Achava que ela fosse se sentar toda rígida e tensa e que ela teria que descobrir alguma mágica para fazê-la relaxar, mas a ruiva foi logo se encostando e apoiou o rosto em seu ombro. Quando os braços de Jimin a envolveram, ela soltou um suspiro profundo e se derreteu toda.

Os segundos se transformaram em minutos, e Jimin se permitiu saborear o momento — sem falar, sem avançar, sem fazer nada, só desfrutando da companhia. A sala era inundada pelo som da TV, mas nem mesmo isso parecia quebrar aquele clima.

— Você vai dormir como naquele dia? — Perguntou Jimin por fim.

— Não.

— Isso é bom. — Ela passou a ponta dos dedos pelos braços dela e sorriu quando viu os pelos se arrepiando.

Minjeong flexionou as coxas para se afastar um pouco. Com um olhar hesitante e a respiração acelerada, ela pôs as mãos em seus ombros. A nova posição dava mais liberdade para Jimin, como ela queria. Parecia que, se não tomasse cuidado, Minjeong poderia se desequilibrar e cair. Coisa que ela não permitiria que acontecesse.

Ela passou as mãos pelas costas dela até sentir os músculos relaxarem sob as palmas. Em seguida deu um beijo na parte inferior do seu pescoço. Minjeong fechou os dedos, cravando as unhas nos ombros dela.

Jimin se inclinou para trás e perguntou:

— Está tudo bem?

Ela limpou a garganta duas vezes.

— Me diz o que você pretende fazer.
Por favor.

Jimin respirou fundo e sorriu.

— Vamos tentar de outra forma. — Ela mordiscou seu queixo de leve. — Passa a mão em mim.

Foi um toque tímido a princípio, mas, como ela não se incomodou, Minjeong ficou mais ousada. As mãos espalmadas dela passearam por seus ombros e braços até encontrar seus seios por cima da camisa. Como se estivesse fascinada, ela continuou tocando-a de forma lenta e concentrada. Os músculos de Jimin ficaram tensos quando os dedos dela encontraram a cintura da sua calça jeans, e ela estremeceu.

— Você não podia ter um corpo convencional? Precisava ter tão atraente assim?

Jimin revirou os olhos e sorriu.

— Isso é uma reclamação?

— Não tenho do que reclamar. Até pouco tempo atrás eu nem imaginava que gostava de garotas.

— Então você gosta de mim?

Minjeong devia ter considerado aquilo óbvio, porque não respondeu. Ela parecia mais interessada em continuar sua exploração.

— Tudo bem mesmo eu fazer isso? — Perguntou.

— Eu gosto de ser tocada. E disso também. — Jimin levantou a barra do sueter dela e deslizou as mãos pela pele macia da sua cintura.

A respiração dela acelerou, e Minjeong olhou para baixo. As mãos de Jimin por baixo do sueter e sobre a pele dela era uma visão que enchia sua mente de pensamentos. A morena não resistiu a mover as mãos até a curva dos seios dela, e ficou toda satisfeita quando a ruiva respirou fundo.

— Por que agora é tão bom quando você faz isso? — A curiosidade no tom de voz dela a fez sorrir.

Antes de se dar conta, Jimin subiu os lábios pelo pescoço dela, passando pelo queixo até chegar à boca. Conseguiu se segurar no último instante e colar o rosto no dela a espera que Minjeong tomasse... Seus lábios se tocaram. Jimin ficou toda tensa com a eletricidade que percorreu seu corpo. Ela acariciou seu lábio inferior com a língua, e seus instintos tomaram conta. Jimin tomou a boca dela sem restrições.

Aquele gosto, aquela maciez, aquelas unhas no seu couro cabeludo, os beijos atrás de beijos.

— Desculpa. Eu não sei se devia ter feito isso. — Minjeong a beijou de novo. — Mas não consegui resistir. O dia inteiro fiquei pensando em beijar você.

Jimin absorveu aquelas palavras. Então não tinha sido a única. Mais um beijo entorpecedor.

— E agora não consigo parar. — Um murmúrio escapou da garganta dela, e em seguida mais um beijo.

— Então não para.

Jimin entrelaçou a língua com a dela, e o corpo de Minjeong amoleceu em seus braços. Ela se aproximou um pouco mais e pressionou os seios contra os seus. A morena soltou um grunhido. Não sentia uma atração tão intensa por uma garota desde... Teria alguma vez em toda a sua vida se sentido assim em relação a uma garota?

Quando Jimin se inclinou para trás, os lábios dela continuaram entreabertos, soltando suspiros de excitação. Seus olhos demoraram para recuperar o foco e se concentrarem nela, e Jimin esperou que ela fosse se levantar e sair correndo. Em vez disso, Minjeong enlaçou seu pescoço e a puxou para mais perto. Então deu um beijo em sua têmpora.

Uma sensação surpreendente de estar recebendo um carinho se espalhou pelo corpo de Jimin. A ruiva não estava agindo como se o que acontecia entre elas fosse uma prestação de serviço. Agia como se aquilo significasse alguma coisa, como se houvesse um sentimento envolvido, talvez até por Jimin.

Era uma noite de quinta como muitas outras. Só que ela nunca havia se sentido tão exposta, tão vulnerável, e ainda não tinha nem tirado a roupa.

Era para ser só uma encenação como o combinado. Não deveria haver sentimentos envolvidos. Jimin não conseguiria continuar fazendo aquilo caso mexesse ainda mais com ela. Estava na hora de afastar os absurdos da cabeça e se limitar a praticamente.

Infelizmente, ela já não sabia mais como fazer isso.

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