08
Minjeong estava retraída quando entrou no taxi. Diversas vezes Jimin a viu massagear as têmporas, mas quando perguntou se ela estava com dor de cabeça a resposta foi um resmungo ininteligível. Talvez ela não estivesse falando por causa da garota, mas aquilo não parecia ser do seu feitio.
Bom, ela era do tipo que ia embora sem avisar. Ouvir Yizhuo dizer que Minjeong queria pegar um táxi sozinha foi como um soco no estômago de Jimin. Lembrava-a do abandono do próprio pai, que a deixara com um problema gigantesco para lidar. Já Minjeong ia deixá-la sozinha na festa sem explicação.
Jimin achava que não merecia aquilo. Em ambos os casos.
Tentara evitar que uma antiga ficante fizesse um escândalo na frente de Minjeong. Sakura era chegada em um drama. Quando soube que Jimin havia terminado com Chaewon, não perdeu tempo em querer recuperar o que tinham.
Ela se recusava a admitir que Jimin preferia pisar em brasas a aceitar aquilo. Insistiu por vários minutos, citando motivos extravagantes um após o outro, e então simplesmente a xingou quando viu que aquilo não chegaria a lugar algum.
Jimin sempre associaria o gosto de chiclete de canela e uísque a Sakura.
Já Minjeong tinha gosto de... sorvete de menta com gotas de chocolate. Ela se afundou no banco do passageiro, apoiou a cabeça e ficou olhando pela janela, batucando nos joelhos distraída. Era um movimento hipnótico, um pouco irritante.
Jimin lhe lançou um olhar incomodado, mas ela nem percebeu. Depois de saírem de Gangnam-gu e entrarem no tráfego iluminado, ela cansou de se segurar e perguntou:
— Quando você faz isso com os dedos... é uma música? Como se tocasse um piano?
Minjeong interrompeu o movimento e sentou sobre as mãos.
— É o Arabesque, de Debussy. Gosto muito da combinação de quiálteras e oitavas.
— Então você sabe tocar? — A morena perguntou, interessada. Se ela tivesse talentos músicas além de inteligência, sucesso acadêmico e beleza, seria oficialmente a encarnação da garota de seus sonhos. E tão fora de seu alcance que chegava a ser risível.
O peso dos seus problemas ainda não havia recaído sobre ela, mas Jimin não tinha quase nada a oferecer a uma garota como Minjeong. Talvez a ruiva tivesse se atraído por quem ela era antes, alguém que podia se dedicar a suas paixões. Aquela garota tinha potencial. Jimin quase não se reconhecia mais.
— Sei — respondeu Minjeong. — Comecei a tocar antes de aprender a falar.
Jimin ergueu as sobrancelhas. Além de ser a garota dos seus sonhos,
ela também era uma espécie de Mozart.
— Não é tão impressionante quanto parece — comentou Minjeong com um sorriso ácido. — Demorei para começar a falar.
— Não consigo imaginar uma coisa dessas. Você parece perfeita.
Ela baixou a cabeça e soltou o ar com força. Jimin perguntou qual era o problema, mas uma minivan lenta à sua frente chamou a sua atenção. O taxista mudou de faixa e pisou fundo, numa ultrapassagem silenciosa.
A morena adoraria estar fazendo aquele trajeto na sua motocicleta, mas sabia que Minjeong não tinha condição de aceitar uma carona. Por isso acabou optando por chamar um táxi.
— Ela é uma ex ficante — contou Jimin. Ela sentiu o peso do olhar de Minjeong sobre si. — A garota que você viu.
— Entendi.
Minjeong ergueu a mão e colocou alguns fios de cabelo atrás da orelha.
— Você gostou de ter ficado na companhia dela?
— Eu só fui até lá por que queria evitar uma confusão. E não, eu não gostei.
— Se eu te fizer uma pergunta, você responde com sinceridade?
Aquilo seria interessante.
— Sim.
— Você age de um jeito diferente quando está comigo?
— Está perguntando se eu seria uma babaca se cruzar com você quando não estivermos mais fazendo isso? — Se Minjeong não precisasse da sua ajuda, provavelmente estaria com outra garota. Ela contorceu os lábios, sentindo um gosto ruim na boca. — Não.
— Está mentindo para eu me sentir melhor?
— Nunca menti para você. Mas cabe a você decidir se acredita ou não.
Elas não abriram mais a boca pelo resto do trajeto. O taxista freou diante da casa bonita e renovada em que Minjeong morava. Quando desligou o motor, os olhos dela se abriram.
— Chegamos. — Disse Jimin enquanto pagava pela corrida.
Minjeong passou as mãos nos cabelos amassados.
— Estou quase cansada demais para sair do carro.
— Posso carregar você.
Ela tentou abrir um sorriso sonolento, claramente pensando que Jimin estava brincando.
— É sério. — A ideia de carregá-la para a cama parecia muito atraente naquele momento. Jimin gostava de abraçá-la e, por mais estranho que pudesse parecer, queria permanecer próxima dela. Em anos, era a primeira vez que isso acontecia.
— Não seja boba. — Minjeong abriu a porta e ficou de pé com movimentos que pareceram desajeitados até mesmo para ela. Quando Jimin saiu do carro e se juntou a ela na porta da casa, porém, o olhar dela era bem firme. — Não vou ter energia para uma aula hoje.
— Não precisa ser uma aula. — Ela passou os dedos no braço dela, e viu quando sua pele inteira se arrepiou. As pálpebras pesadas tornavam seus olhos mais sensuais. Minjeong era linda. — Posso só fazer você se sentir melhor. — Ela acariciou a mão dela, que abriu os dedos, em um convite ao toque.
Minjeong fechou a mão e se virou para a porta.
— Queria conversar sobre isso com você. Entra, por favor.
Depois de guardar os sapatos, Minjeong seguiu para a sala de estar, desfrutando da sensação do piso de madeira sob os pés doloridos. Jimin a seguia em silêncio, e ela desconfiava de que morena estava pensando sobre a noite delas.
Como ficara provado, ela não estava pronta para aquilo.
— Você pode sentar pra gente conversar? — Pediu ela.
Toda séria, Jimin assentiu e contornou a enorme ilha central da cozinha para ir se sentar na cadeira indicada. Assim próxima, ela exercia uma atração magnética sobre Minjeong, que tratou de se sentar antes que a acabasse tocando e se distraindo. Precisava manter o foco. Se falasse com bastante eloquência, talvez Jimin concordasse com seu novo plano.
Minjeong apoiou as mãos inseguras no tampo da mesa. Em questão de segundos, começou a batucar.
Uma mão quente deslizou sobre a sua e a apertou.
— Não precisa ficar nervosa quando está comigo. Sabe disso, certo?
Ela não tirou a mão, o que a levou a analisar como se sentia. Era um toque casual e não solicitado, do tipo que em geral a fazia se fechar em si mesma. Mas naquele momento só sentia o calor do corpo de Jimin, a maciez de sua pele e o peso de sua mão. Era difícil de entender, mas seu corpo a aceitava. Somente ela.
A conclusão renovou sua determinação, e ela tomou coragem para o que viria.
— Quero fazer uma nova proposta.
Jimin inclinou a cabeça de forma cautelosa.
— Está dizendo que quer estender as aulas para além do tempo que falei?
— Não quero mais aulas. A noite que tivemos juntas — tanto as partes boas como as... não tão boas — me fez perceber algumas coisas. Sou ruim em interações sociais, mas ainda pior em relacionamentos. Acho que prefiro gastar meu tempo tentando me aperfeiçoar nisso. Nunca tinha dividido um sorvete com alguém, nem andado de mãos dadas na rua. Nunca tive um jantar que não fosse marcado por longos silêncios constrangedores, ou sem que eu acabasse ofendendo a outra pessoa sem querer e a afastando de mim.
Jimin passou o polegar sobre as articulações de suas mãos enquanto pensava em suas palavras com uma expressão inabalável no rosto.
— Não vi nenhum problema de relacionamento, a não ser quando quis ir embora. E, se eu tivesse aceitado as investidas daquela garota, teria merecido. Você se saiu bem hoje.
— Mas só porque estava com você.
Ela pareceu pensativa por um momento.
— Vai ver é porque você se sente no controle quando está comigo. Como concordei em ajudá-la, a pressão é menor, e pode relaxar.
— Não é isso, de jeito nenhum. Só consigo relaxar por causa da maneira como me trata. Porque é você — falou ela, convicta.
Jimin franziu as sobrancelhas e ficou imóvel por vários segundos.
— Minjeong, você não deveria me dizer essas coisas.
— Por que não? É verdade.
As reações dela se alternavam mais depressa do que a ruiva era capaz de decifrar. Jimin balançou a cabeça e engoliu em seco. Um sorrisinho curvou as beiradas de seus lábios antes que recolhesse a mão para coçar o queixo. Ela limpou a garganta em seguida, mas sua voz ainda saiu meio rouca.
— Me conta sobre essa nova proposta.
Minjeong ficou olhando para o dorso das mãos, sentindo o calor do toque dela.
— Quero que me ensine a manter um relacionamento. Não apenas a questão da companhia, mas tudo que duas pessoas fazem quando estão juntas. Novidades são sempre assustadoras para mim, mas com você consigo lidar com isso e até gostar. Quero pedir para que você aja como minha namorada em tempo integral.
Jimin abriu a boca, mas só foi falar depois de um bom tempo.
— Como assim, "sua namorada"?
— Você age assim de uma forma natural. Minha esperança é de que, se aprender tudo o que preciso, ninguém vai se incomodar em me ajudar a evoluir. Além disso quando nossas aulas acabarem quero que a próxima garota a me beijar faça isso por que ela quer.
Depois de ver Jimin com sua antiga ficante, tudo o que as duas tinham feito até então adquirira um gosto amargo na boca dela. A ideia de Minjeong pedir ajuda a ela para aprender a fletar com garotas tinha sido simplista demais.
— Quem aqui disse alguma coisa sobre eu não querer isso? — Questionou Jimin, estreitando os olhos. — Tudo o que fiz com você até agora foi por livre e espontânea vontade.
Ela se esforçou para não fazer uma careta e entrelaçou os dedos para não recomeçar a batucar na mesa.
— Sei que a princípio você não se interessava em me ajudar com essa questão e que a minha nova proposta envolve ainda mais tempo juntas e uma intimidade maior. Por causa disso, vou entender se não quiser continuar com isso.
— Isso é... — Ela sacudiu a cabeça como se não tivesse escutado direito. —Minjeong, não posso...
— Se essa for sua reposta final, eu agradeço pela sua ajuda até aqui — disse ela, sentindo o coração disparar.
Jimin se afastou da mesa e ficou de pé.
— Preciso de um tempo.
— Claro. — Ela levantou e prendeu a respiração. Estava apreensiva, sem saber o que fazer. — Quanto tempo quiser.
Jimin segurou seu braço e deu um passo em sua direção, chegando a se inclinar um pouco para a frente antes de se deter. Com os olhos colados em sua boca, percorreu o contorno de seus lábios com a ponta dos dedos, provocando calafrios por todo o seu corpo.
— Conversamos na terça que vem. Pode ser?
— Tudo bem.
A morena mordeu o lábio inferior como se estivesse pensando em beijá-la, e Minjeong sentiu sua boca formigar em resposta.
Seu celular tocou. Pela música, era a mãe.
Jimin se afastou de forma abrupta, passando a mão nos cabelos.
— Preciso atender. — Minjeong caminhou até a bancada da cozinha, pegou o celular e apertou o botão para aceitar a chamada com o dedo trêmulo. — Alô?
— Minjeong, seu pai... ah, espera um pouco. — A voz grave dele soou do outro lado da linha, e ela afastou o aparelho da orelha o máximo possível enquanto os dois falavam sobre golfe e os planos para o almoço.
Jimin se aproximou com passos fluidos e leves.
— Preciso ir, mas nos vemos terça que vem na faculdade.
— Terça que vem — ela confirmou com um aceno.
Em vez de ir embora imediatamente, como Minjeong esperava que fizesse, Jimin se inclinou para a frente e colocou alguns fios de cabelo atrás da sua orelha, acariciando seu rosto com o polegar.
— Boa noite, então.
— Boa noite, Jimin.
Paralisada e ofegante, ela a observou ir embora. Elas iam se ver de novo. Dali a alguns dias.
— Quem era essa? — Apesar de estar com o celular a uma boa distância da orelha, Minjeong notou o tom de surpresa na voz de sua mãe.
— Era a... Jimin. — Um nervosismo ofegante a invadiu. Poderia ser interessante se sua mãe descobrisse que ela gostava de garotas.
Um breve silêncio se estabeleceu, seguido de:
— Minjeong, querida, você tem novidades para me contar?
— Na verdade, tenho sim. Eu meio que estou conhecendo uma pessoa. — Alguém muito melhor do que ela poderia imaginar.
— Ora, e por que não me contou isso antes?
Minjeong respirou fundo antes de dizer:
— Mãe, nós precisamos conversar.
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