Capítulo 6

Jake tinha acabado de dar o seu sermão pelo sofá, ele estava um pouco acinzentado pela fricção do pano claro na malha escura. Foi uma pessima ideia tentar limpar daquele jeito, mas tinha sido uma ideia ainda pior inventar que ele e Jake tinham derramado vinho. Nesse caso, a mentira era muito menos constrangedora do que a verdade e com certeza Jongseong concordaria com ele se estivesse ali. Jungwon riu escondido quando Jaeyun deixou a sala, e estava certo de que precisava arrumar um lugar para si o mais rápido possível.

Ele não parava de pensar em Jay desde o momento em ele foi embora. Era esquisito sentir um vazio sem o homem por perto, mas ele ainda sentia saudades da noite. Ele estava feliz por não ter nenhum arrependimento, mas achava que deveria ter insistido para Jongseong passar a noite com ele.

Jungwon abriu a porta principal, estava de saída para levar Layla ao passeio matinal quando notou a bagunça no corredor.

Sofá, máquina de lavar, colchões e um guarda-roupa desmontado estavam tomando conta de todo o corredor, algo que Jungwon só tinha visto quando precisou fazer a própria mudança para aquele condomínio.

— Estamos fazendo muito barulho, não é? — A vizinha começou a se desculpar antes mesmo de Jungwon dizer qualquer coisa. — De qualquer forma, não estaremos mais aqui para perturbar vocês dois.

— Pensei que estavam reformando — Jungwon respondeu enquanto fingia não sentir Layla puxar a coleira para apressá-lo.

— Eu estou grávida. Nós vamos precisar de mais espaço porque o bebê não pode ficar tão próximo dos gatos.

— Meus parabéns, noona. Que notícia ótima!

— Não é? — Ela recebeu o abraço de Jungwon e sorriu — Tenho que esvaziar o apartamento. Meu marido disse que não tem pressa, já que ele ainda não tem alguém para alugar. A ansiedade está me corroendo e eu não vejo a hora de dormir no meu novo quarto e arrumar o quarto do bebê .

— Bom, eu meio que estou procurando um lugar para mim e-

— Amoooor! — Ela gritou e o marido veio correndo — Achamos o inquilino perfeito.

•••••••••••••••••••••••••••••

— Você ficou preso nessa casa a semana inteira. Estou começando a achar que seu último encontro com o Jungwon mexeu com você — Niki disse.

— De certa forma, sim.

Niki deu uma última mordida na banana e tentou acertar a casca no cesto, mas ela bateu borda e caiu no chão.

— Você vai limpar — Jongseong disse sem tirar os olhos da tela.

— Se você sair comigo eu limpo o que quiser.

— Eu não vou sair de casa hoje. Estou com muitas ideias e pouco tempo para administrar todas elas. E também, estou pensando em um jeito fácil de falar para o Jungwon que ele está saindo com o Jace.

— Você acha que ele vai reagir bem?

Jongseong tirou os olhos da tela pela primeira vez desde a chegada de Hoseok.

— Não faço a menor ideia, Riki. Eu só não quero começar isso mentindo.

— "Isso"?

— É. Eu não sei o que é isso.

Niki ficou preso entre perguntar ou não. Jongseong estava ciente de que nunca se abria sobre seus relacionamentos, então, Niki ele não conseguia esconder a curiosidade, mas também parecia confuso por não saber até que ponto poderia induzir o amigo a contar.

Jongseong começou a falar sem que ninguém precisasse pedir e Niki não conseguiu esconder o entusiasmo.

— A gente quase transou da última vez — Ele começou — Ele queria muito, mas alguma coisa impediu. Não sei dizer bem o que é, mas eu consigo ver que ele está fazendo esforço para não se entregar para mim. Acho que esse esforço dá uma falhada quando a gente se beija. Não é que seja complicado, é culpa daquele filho da puta do ex-noivo dele. Eu nem conheço esse cara mas já tenho tanta raiva.

— Vocês são perfeitos um para o outro, só que eu imagino como deve ser complicado começar a quebrar essas barreiras de alguém que foi tão... maltratado? Não sei se é a palavra certa.

— Ele está se cuidando agora. Espero que ele perceba que eu não tenho nenhuma intenção de machucá-lo. Mas sei lá, acho que vou ter que demonstrar isso de forma mais clara.

— É, cara, você vai ter que ser paciente em relação a tudo. Quando vão se encontrar de novo?

— Hoje à noite, vamos a um lugar que ele vai escolher. Vou contar a verdade sobre eu ser o Jace. Não quero que ele se sinta traído ou pense que vou iniciar um relacionamento escondendo as coisas. Me sinto confortável e quero que ele saiba.

Niki se levantou e começou a pegar as coisas para ir embora.

— Fico feliz por isso, Jay — Ele sorriu — Na verdade, estou com ciúmes!

— Ciúmes do Jungwon?

— Você está namorando com um dançarino que não sou eu. Estou magoado. Me sinto tão traído que eu poderia morrer de tristeza agora.

Jongseong sorriu quando Niki fez bico e cruzou os braços. Se não conhecesse o amigo, poderia jurar que ele estava falando sério.

— Eu não estou namorando e você nem é tão sentimental assim.

— Pode apostar que sou.

— É por isso que você trouxe dois ingressos para mim, que sou apenas um?

— Você me pegou.

— E você é um exibido!

Nishimura se sentou outra vez.

— Ok, eu confesso. Quero que ele vá me assistir — Jongseong arqueou uma sobrancelha para ele — Não me julgue, eu meio que quero ter a oportunidade de dançar com ele de novo, sabe? Pela nossa oportunidade perdida daquela vez.

— Se ele não me der um pé na bunda até lá, ele vai adorar te assistir.

— Besteira, vocês vão namorar, já comece a pensar em como vai fazer o pedido.

— O Jungwon parece gostar de coisas simples e especiais. Aquele tipo de pedido discreto que não chama a atenção de gente que não tem nada a ver com esse momento.

— Então você vai se dar bem — Niki respondeu e tentou espiar a escrita de Jongseong mas foi impedido por Yooki, que começou a morder a barra de sua calça, implorando por atenção — Tenho que ir, Kiki. Prometo que volto para ficar um pouco mais quando seu pai tiver um tempo para mim. Você ficou sabendo? Ele odeia os amigos agora que achou um pai para você.

Jongseong riu.

— Devia fazer teatro ao invés de dança, Riki. Eu vejo o Jungwon às sextas. Às vezes aos domingos, também, mas é só isso, ele não é o pai do Yooki.

— E manda mensagens para ele a cada meia hora. Está tão apaixonadinho que chega a ser ridículo. Eu quero vomitar, estou falando sério.

— Se me lembro bem, você já estava indo embora.

— Tá vendo só, Kiki? É isso que eu ganho por ser gentil — Nishimura disse.

O celular de Jongseong vibrou na mesa do computador, fazendo um barulho maior do que o de costume.

Para Niki, era óbvio que, se Jongseong sorriu e parou tudo para responder, se tratava de Jungwon.

— Agora eu estou curioso, o quê te fez sorrir desse jeito? — Niki se aproximou para ler a mensagem na tela do celular do amigo.

— Ele me disse para usar roupas confortáveis porque vamos ao lugar favorito dele.

— Nada de roupas de pai para você. Eu já amo esse cara, sério mesmo.

— Vou te deixar escolher minha roupa enquanto eu tomo banho.

Niki pareceu animado e acabou por esquecer completamente que tinha que ir embora. Ele não media esforços para ajudar em qualquer situação que tirasse Jongseong de dentro de casa.

Yooki o atrapalhou durante o processo e não foi nada fácil para Niki achar algo confortável – e que não fosse considerado roupa de pai – no closet de Jongseong, mas por fim, optou por jeans e camiseta. Aquilo era o confortável mais apresentável que tinha naquele guarda-roupa, e de bônus, Jongseong não pareceria um pai.

— Eu não vou para um enterro, Niki — Jongseong reapareceu no quarto, segurando a toalha amarrada na cintura.

— Acho que ele não reclamaria se você aparecesse assim no encontro. Eu já disse o quanto você fica lindo quando sai do banho?

— Hum, obrigado? Você é esquisito, mas obrigado.

— Vá secar esse cabelo e veja se consegue deixá-lo volumoso.

— Quanta exigência, parece até que eu vou sair com você.

— Confia em mim, depois me conta como foi a cara dele.

— Então tá, eu confio na sua palavra.

Jongseong voltou para o banheiro e secou o cabelo enquanto fingiu não escutar Niki gritando "Cadê aquele cinto?", ele já tinha exagerado no preto e o cinto era demais para ele.

MAIS UMA MENSAGEM.

Jay desligou o secador e foi até o celular.

— Ah, isso você escuta? — Niki reclamou com o cinto na mão — Ouvido seletivo do caralho.

O número desconhecido chamou a atenção de Jongseong. Na maioria das vezes ele ignorava qualquer mensagem ou ligação de números desconhecidos. Em partes, temia que algum fã fosse reconhecê-lo pela mão outra vez e começasse a tentar espalhar sua verdadeira identidade na internet.

Por sorte, a pessoa se identificou na primeira linha da mensagem e, bom, foi um tanto inesperado para Jongseong.

"NÚMERO DESCONHECIDO: Boa tarde, eu sou o Jake, amigo do Jungwon. Queria falar com você sobre a próxima sexta-feira, você poderia me dizer algum horário bom para eu te ligar?"

— É o Jake. Estou um pouco surpreso, Jungwon disse que ele odeia mandar mensagens.

Niki espiou a tela do celular novamente.

— Deve ser por isso que ele está pedindo para te ligar.

— Têm razão. Vou falar com ele agora.

O celular notificou outra vez.

NÚMERO DESCONHECIDO: Me desculpa, do jeito que eu falei parece que é coisa séria. Não se preocupe, é sobre o Jungwon que eu quero falar mas está tudo bem com ele.

Jay ficou tranquilo na mesma hora.

Park Jongseong: Boa tarde, Jake :)

Eu tô livre agora, se quiser me ligar, fique à vontade.

Jake Shim: Perfeito. Vou te ligar.

Segundos após a mensagem, o celular tocou.

— Oi, tudo bem?

Jongseong só conseguiu prestar atenção no latido de Layla do outro lado da linha.

— Tudo bem, e você?

— Tudo perfeito. Só um minuto.

Jongseong ouviu Jake pedir educadamente para a cachorra ficar quieta enquanto o pai falava com o namorado do tio Jungwon.

Ele sabia que não deveria ficar feliz ao ouvir aquilo, mas não foi possível evitar um sorriso.

— Voltei. A Layla tá meio agitada esses dias, enfim, eu te liguei para perguntar se por acaso o Jungwon marcou alguma coisa com você na sexta-feira.

— Não marcamos nada ainda. Mas como estamos saindo sempre às sextas ou aos domingos, talvez ele marque alguma coisa.

— Eu duvido muito. É o aniversário dele na sexta-feira e ele provavelmente vai fugir de você ou planejava não te contar.

— Sério? Eu não sabia de nada, achei que o aniversário dele estava longe.

— Ele está assim nos últimos anos. Mas eu quero que seja diferente esse ano, ele merece comemorar o dia dele com pessoas que gostam dele. Eu e o Heeseung hyung estávamos combinando de fazer uma festa surpresa para ele e queremos que você e os seus amigos estejam presentes. Porém, tem um pequeno probleminha...

— Qual?

— Bom, ele não é uma pessoa que odeia o próprio aniversário, mas um certo alguém fez ele sentir que o dia dele não é tão importante assim.

— Alguma chance desse "certo alguém" aparecer de surpresa e estragar a festa dele?

— Odeio partir para a violência mas seria uma opção para o caso de ele tentar manter algum tipo de contato. Então, eu acho que não.

Jongseong riu.

— Eu não julgaria. Aliás, você teria todo meu apoio.

Posso contar com você para distraí-lo e levá-lo pro local da festa sem que ele desconfie, então?

— Com certeza.

— Perfeito. Durante a semana eu te mando mensagens.

— Certo — Jongseong ficou em silêncio por alguns segundos, até que se deu conta de que precisava dar um presente para Jungwon na sexta feira — Ei, tem como você olhar o número da bota preta dele para mim?

— Claro, olho sim. Te mando por mensagem.

— Tudo bem, muito obrigado, Jaeyun.

— Por nada, pode me chamar de Jake.

— Tá bom, muito obrigado, Jake. Vou ficar esperando sua mensagem.

Eles se despediram e Jongseong correu para se vestir.

Niki foi embora minutos depois de aprovar as vestes que tinha escolhido para ele, mas mesmo assim depois que ele saiu, ele resolveu manter tudo do jeito que o amigo tinha escolhido.

Estar todo de preto não foi uma má ideia. Na verdade, Jongseong gostou do que viu quando se olhou no espelho e sequer pensou na possibilidade de descartar o cinto que antes abominava.

Ele gastou o tempo que tinha de sobra para arrumar a bagunça do cachorro e trocar a ração velha por uma porção mais fresca que duraria até a hora que ele chegasse.

Jungwon mandou mensagem quando estacionou na frente do condomínio, e no caminho que fez até ele, Jongseong começou a perceber que estava estranhamente mais animado do que as últimas vezes que se viram. Ele poderia jurar que se sentia daquele jeito por estar com saudades de Jungwon mas acabou afastando o pensamento, era muito cedo para estar se sentindo desse jeito.

É claro que o pensamento dele mudou completamente no momento que viu Jungwon recostado no carro, sorrindo para ele. Como de costume, Jungwon estava impecável, tinha escurecido o tom do loiro do cabelo e tinha ficado ainda mais bonito. Ele tinha levado a sério seu próprio dress code e pela primeira vez não estava usando botas para deixá-lo mais alto.

— Você está tão... uau! — Jungwon disse sorrindo — Lindo.

— Que exagero!

Jungwon pareciaanimado demais para se importar com as pessoas passando de um lado para o outro na mesma calçada que eles. Um casal de idosos fez careta quando Jungwon puxou Jongseong para um selinho.

— Você é quem está lindo. Esse tom ficou bem em você — Dessa vez foi Jay quem inclinou para beijá-lo, e não teria parado se a senhorinha não tivesse gritado para eles arrumarem um quarto.

Jungwon abriu a porta para Jay entrar e deu a volta para se acomodar no banco do motorista.

Ele percebeu que tinha algo diferente quando o Jungwon estava no controle dos encontros deles, mas deixaria para comentar isso depois.

— Estou curioso para saber aonde nós vamos.

— Qual é o seu nível de competitividade? — Jungwon perguntou enquanto ajustava o espelho retrovisor.

— Nós vamos competir?

— Se você tiver coragem de me enfrentar, sim, nós vamos.

Jongseong sorriu. A esse ponto ele já entendia que se apaixonaria por Jungwon de qualquer forma, mas vê-lo tão confiante era gratificante. Ele mal sabia sobre o que seria a tal disputa mas já tinha certeza da própria derrota.

— Eu sou bom em muitos jogos, Yang Jungwon.

— Então isso vai ser muito mais interessante do que eu esperava.

Eles conversaram sobre a mudança de Jungwon durante a maior parte do trajeto. E enquanto ele falava, Jay pôde perceber um certo alívio da parte dele, parecia até menos cansado agora.

— Por fim, meus pais insistiram em me dar os móveis como presente de mudança. Eu nem sei e nem quero saber que fim levaram meus móveis antigos, os novos tem a minha cara.

— E como você está se sentindo morando sozinho pela primeira vez?

— Começou de um jeito esquisito mas me acostumei depois do terceiro dia. Sem contar que, o Heeseung passa mais tempo com o Jake agora e ele parece mais feliz, nada me deixa mais feliz do que saber que o Jake está feliz. E tem outra coisa que me deixa feliz também, uma cama enorme só para mim!

— Depois da cama de solteiro, eu consigo entender a sua animação pela cama nova.

— Ela ainda não chegou. Estava fora de estoque quando fui comprar e eu confesso que fui um pouco mimado na hora, fiquei repetindo que só queria se fosse aquela e a vendedora disse que só voltaria ao estoque segunda-feira que vem. Estou dormindo num colchão enorme no chão e nunca estive tão feliz.

Jongseong se lembrou do combinado com Jake e puxou o gancho para uma nova conversa.

— Falando em semana que vem, queria te levar para conhecer um lugar que eu gosto. Você vai estar livre na sexta-feira?

— Vai soar meio antissocial mas não tenho planos, apesar de ser o dia do meu aniversário.

Jongseong teve que fingir surpresa e deu o seu melhor.

— Não marcou nada com os seus amigos?

— Eles não vão tentar, sabem que é um dia complicado para mim.

— Eu não posso aceitar um não como resposta. Prometo não te importunar ou te chamar de velhinho.

Jongseong estendeu o dedo mindinho e fez Jungwon rir.

— Promete que não vai me encher de presentes no nosso encontro?

— Prometo que não vou te encher de presentes no nosso encontro! Apesar de você merecer muitos presentes no seu aniversário, não vou te encher de presentes.

Jungwon entrelaçou o mindinho com o de Jongseong e em seguida, os dois caíram numa crise de risos provocada pela comparação dos mindinhos.

— Já estamos chegando.

O estacionamento estava cheio quando chegaram no lugar que Jungwon escolheu. Jay conseguia sentir a animação dele de longe e apesar da falta de vaga, o lugar não estava tão lotado quanto imaginavam. Jongseong agradeceu mentalmente por isso, porque significava que ele não passaria vergonha na frente de tanta gente quando colocasse o patins nos pés.

— Pela sua cara eu posso adivinhar que você não sabe andar de patins, acertei? — Jungwon perguntou sorrindo.

Jay olhou em volta, o local era gigantesco e não faltariam brinquedos para eles se divertirem, então, não saber andar de patins seria apenas um pequeno detalhe.

— Essa é a função do meu amigo Sunghoon. Mas eu vou te vencer no boliche para compensar.

— Você continua tão confiante, Jay. Uma gracinha.

Ele sentiu as bochechas corarem quando os dedos de Jungwon as apertaram como se ele fosse um bebê.

— Quer começar por onde? — Jungwon perguntou.

E então, Jongseong lembrou que tinha que arrumar um jeito de contar para Jungwon sobre o Jace. Jungwon estava tão animado para esse encontro que ele achou melhor adiantar o assunto de uma vez. Ele sentiu como se a noite tivesse potencial para ser perfeita, ou então, uma tragédia perfeita, não tinha um termo mediano que pudesse ser usado nessa situação.

Por outro lado, ele também acreditava que contar em um lugar tão cheio de pessoas desconhecidas poderia interferir na reação genuína dele sobre o assunto.

Parecia algo tão pequeno e insignificante, não era como se ele acreditasse que Jungwon sairia espalhando para qualquer um caso não reagisse bem. Porém, só Jongseong sabia da importância de se revelar para alguém tão cedo. Com certeza significava que ele tinha interesse em manter Jungwon em sua vida no futuro, ele não tinha dúvidas disso. A única coisa que fez com que Jay fingisse que estava parado e pensativo por indecisão sobre qual brinquedo ir primeiro e não sobre se revelar naquele exato momento, foi não saber o que esperar vindo de Jungwon.

Sequer sabia se, por algum milagre infeliz, Jungwon ainda tinha sentimentos pelo ex-noivo.

Ele torcia para que a resposta para sua própria dúvida fosse um belíssimo não. Mesmo sabendo que não seria surpresa nenhuma caso ele ainda gostasse do outro, afinal, ficaram juntos por mais de uma década e quase se casaram.

Achou melhor parar de pensar tanto. Jungwon estava ali e com ele, era isso que importava. Ele poderia marcar algo mais descontraído do que um encontro e falar sobre isso outro dia, ou simplesmente falar mais tarde.

— Vamos ali — Jay apontou para a pista de patins com o indicador e Jungwon sorriu com a escolha.

Cada um escolheu um par de patins de quatro rodas e Jungwon foi o primeiro a deslizar pela pista. Jay ficou parado observando os movimentos que o outro fazia e procurou por qualquer coisa que fosse ajudá-lo a ficar em pé naquele negócio, mas quanto mais olhava, mais parecia que não havia uma única possibilidade de isso acontecer.

Jungwon era de outro mundo para ele. Como é que alguém conseguia ficar tão atraente girando sobre oito rodinhas pequenas, que pareciam ser a coisa mais perigosa que existiam na face da Terra?

Jungwon voltou em direção a ele, que ainda estava sentado no mesmo lugar.

— Vem — Ele segurou as duas mãos de Jay, ajudando-o a ficar de pé — Flexiona os joelhos para você não cair para trás. Não, não empine tanto a bunda senão você vai cair para frente.

Park tinha certeza que parecia um idiota para alguém que visse de fora e só torcia para que ninguém estivesse reparando nele.

— Pode não parecer, mas tô com um frio na barriga enorme com medo de cair de bunda nesse chão duro.

— Eu vou te segurar por trás.

Os braços de Jongseong pareciam com os de um boneco de posto de gasolina, ele ficava mexendo no ar para um lado e para o outro tentando encontrar um ponto de equilíbrio.

Jungwon achava fofo até demais. Ele soltava palavras de incentivo e dizia que tinha certeza que Jongseong se sairia bem com uns quinze minutos de prática.

Ele estava infinitamente errado, apesar do escritor ainda não ter caído. Jongseong conseguiu ficar em pé por bastante tempo, até se arriscou dando algumas voltas na pista e Jungwon pôde ver o quanto ele queria aprender, mas ainda estava longe de conseguir ficar em pé sozinho sem a supervisão de Jungwon.

— Espero que você saiba onde está se metendo, Yang Jungwon.

••••••••••••••••••••

O tempo parecia passar muito rápido quando os dois estavam juntos. Fazia tanto tempo que Jongseong não se divertia daquela forma, ele não conseguia se lembrar da última vez que tinha sentido aquele clima bom de competição e estava dando tudo de si para fazer bonito na frente de Jungwon. Mesmo percebendo, da pior forma, que ele levava competições a sério demais, conseguiu ficar na frente e precisaria de mais um strike para ganhar a última rodada.

Jungwon estava apreensivo esperando pela jogada. Jongseong por outro lado, provocou uma última vez e fingiu se esforçar o máximo antes de arremessar a bola de uma forma que ela quase caiu pela lateral, mas por fim, acertou apenas um pino no canto esquerdo e este não derrubou nenhum dos outros.

Ganhar não era tão importante para ele. Jungwon estava rindo, os olhos quase fechados por completo e as bochechas vermelhas, e a covinha ficava cada vez mais funda conforme o sorriso crescia. Tão delicado... Isso sim era importante para Jongseong, porque ele não fazia questão alguma de vencer a última rodada quando ele poderia ver Jungwon sorrindo pelo resto da noite.

Ele sabia que não precisava pegar leve, Jungwon e ele empatariam facilmente. Ele não precisava deixar Jungwon ganhar, mas precisava vê-lo orrindo por mais tempo, e se tivesse que perder um jogo para isso, ele perderia mais mil vezes.

Jungwon jogou a bola na pista uma última vez e para a surpresa dos dois, apenas um pino ficou em pé.

— Isso é tão engraçado. Você só acertou uma e eu só deixei de acertar uma. Acho que a gente se completa de verdade.

Jongseong se sentiu mal, ele ainda tinha manipulado o jogo, no fim das contas. Mas não pôde deixar de ficar feliz por ouvir aquilo. E o sorriso que Jungwon estampava no rosto, fez aquele único pino valer a pena.

— Eu comecei a pensar nisso desde que a gente se conheceu naquele café.

— É sério? — Jongseong perguntou incentivando-o a falar mais.

— É meio óbvio, não acha?

Os dois deixaram as pistas de boliche e partiram para uma pequena praça de alimentação. Jongseong queria que ele continuasse falando, então, assim que se sentaram ele tentou trazer o assunto de volta.

— Para ser bem sincero, acho que óbvio não é a palavra certa.

— Mas é, sim. Você sabia que a porcentagem de pessoas que gostam de ler é muito pequena?

— Ah, sim. Disso eu entendo bem, mas ainda não vi o óbvio. Você vai ter que me mostrar.

Uma garçonete parou na mesa para anotar os pedidos, interrompendo os dois.

— Um milk-shake de morango com chocolate, uma porção grande de batata frita para nós dois e um hambúrguer — Jungwon disse sem precisar olhar o cardápio.

— Para mim, um hambúrguer e uma Coca-Cola. Pode ser a da garrafa de vidro?

A mulher assentiu.

— Muito obrigado — Ele observou a mulher se retirar e voltou a falar apenas quando ela estava longe o suficiente — As pessoas realmente detestam a leitura.

— Mas eu não, e sou um dos poucos — Jungwon ficou sem jeito — Então, eu estava me perguntando quais eram as chances de eu, um homem que gosta muito de ler, começar a sair com um homem que gosta muito de escrever. Na verdade, eu sequer conheci outra pessoa que gostasse tanto de ler, quem dirá escrever.

Jay esperou Jungwon pedir para ler os livros dele outra vez, mas acabou se surpreendendo quando ele tomou outra direção no assunto.

— Estou tentando dizer que é meio óbvio que nós estávamos destinados a nos conhecermos. E eu tenho certeza que se não fosse naquela cafeteria, seria em algum evento relacionado a livros. Ou em qualquer lugar.

— Você provavelmente passaria direto por mim.

Jungwon riu.

— Cara, não sei se você anda se olhando no espelho ultimamente, mas ninguém passaria direto por você. Jamais, Jay. Você é tão lindo que chega a ser preocupante.

Jongseong ficou vermelho com o elogio, mas achou engraçado e fofo.

Ele imaginou que provavelmente, Junhwon nunca tinha precisado flertar com ninguém e agora dava para ver que ele estava tentando.

— Você está dando em cima de mim? — Jongseong riu, ainda tímido.

— Eu só estava falando o óbvio. E também estava tentando flertar mas sou péssimo nisso.

— Achei que era óbvio que você nem precisava tentar. Eu sou completamente rendido por qualquer coisinha que você faz, meu bem.

— É que as coisas mudaram um pouco.

— Como assim?

— O Jungwon de três semanas atrás teria dado uma desculpa esfarrapada e tentado acabar com esse encontro e ir para casa o mais rápido possível. Ou então, teria dado um jeito de fazer com que você me odiasse a ponto de nunca mais me ligar.

Mas o Jungwon que estava sentado ali... bem, ele não parecia queria fugir, e principalmente, estava tentando. E isso só poderia significar que ele estava tentando fazer com que desse certo, apesar de não precisar fazer isso, já que era impossível fazer com que Jongseong desgostasse dele.

Na verdade, Jongseong poderia jurar que sentiu que Jungwon queria beijá-lo e que teeria feito isso na pista de patins mais cedo. Ele sentiu isso quando ele venceu as primeiras rodadas do boliche, ou quando ele estava fazendo bico por não ter acertado quase nenhuma cesta de basquete.

Se ele não tivesse se divertido tanto, tinha certeza que Jungwon teria se arrependido por ter escolhido aquele lugar, mas sabia que precisava ter escolhido aquele por ser um lugar mais público, o que obrigaria os dois a terem pouco contato físico e aquilo era exatamente o que Jungwon parecia evitar quando estava com ele. Ele também percebeu que Jungwon queria saber se ele era do tipo que daria um pé na bunda dele depois de transarem pela primeira vez. E que por isso, estava buscando mais contato depois do que aconteceu no sofá de Jake.

Ninguém poderia culpar Jungwon por ser tão desconfiado e precisar ter certeza que Jongseong queria ele por inteiro. Mas ele tinha que confessar, estava ficando cada vez mais difícil manter a distância e lutar contra as vontades do próprio corpo e sabia que todas essas vontades eram recíprocas. O rosto pode esconder muitas coisas, mas o corpo deles entregavam tudo.

Ele só percebeu que os pedidos se aproximavam quando sentiu um cheiro forte e delicioso de hambúrguer quente.

Jungwon esperou Jongseong morder o hambúrguer primeiro e ficou observando a reação.

— Uau! — Ele fechou os olhos para apreciar o gosto — Eu vou levar outro desse.

— Aqui é meu lugar favorito. Eu costumava vir aqui com meu pai e meu irmão. Às vezes, eu chegava a chorar para vir aqui depois da escola, e o que mais me encanta nesse lugar são as pessoas, elas vêm de longe e são de todas as idades.

— E alguém consegue te acompanhar na pista de patins?

— O Jake e o Heeseung até tentam, mas nos últimos anos nós viemos poucas vezes. Desde que saímos do ensino médio, acho que três, no máximo. Aqui é o meu lugar favorito e eu não gosto de trazer qualquer pessoa.

— Você precisa fazer amizade com o Sunghoon, acho que só ele é capaz de te acompanhar. Mas eu prometo que vou tentar nas próximas vezes.

Jongseong sorriu de alívio por ele não ter mencionado o ex-noivo. E se ele era mesmo do jeito que Niki tinha dito, ele conseguia entender se Jungwon tivesse ido ali com o ex-noivo.

No futuro, ele poderia se arrepender de ter levado Jongseong ali tão cedo. Ele esperava, do fundo do coração, que Jungwon nunca precisasse sentir tristeza quando estivesse naquele lugar.

— Você ficou pensativo do nada — Jongseong disse ao notar Jungwon calado.

— Não é nada. Eu só gosto muito desse lugar. Me sinto tão bem aqui. Só estou pensando que eu deveria ter vindo mais vezes.

Com isso, Jongseong entendeu que ele realmente não tinha ido ali com o ex e ficou feliz por conseguir trazer uma memória boa para Jungwon.

— Então eu já sei aonde vamos nos divertir no seu aniversário. Você vai amar.

Os olhinhos de Jungwon brilharam e ele encheu Jongseong de perguntas enquanto comiam, mas não conseguiu tirar nenhuma resposta que valesse uma dica.

Eles terminaram de comer e pediram dois hambúrgueres e uma sobremesas para viagem antes de partirem para o estacionamento.

Jongseong entrou e sentou no banco do carona quando Jungwon abriu a porta para ele. Ainda era estranho ter alguém fazendo isso por ele, mas no fim das contas, era um estranho bom. Jungwon era fofo quando fazia essas coisas.

No momento que Jungwon entrou no carro, ele buscou o rosto de Jongseong com as mãos e passou o polegar entre os lábios dele antes de puxá-lo com delicadeza para um beijo.

Ele era carinhoso na medida certa quando precisava ser e Jay gostava muito disso.

Gostava principalmente de quando Jungwon dava o primeiro passo para beijá-lo.

— Eu amei conhecer seu lugar favorito.

— Sério? — Jungwon perguntou sorrindo. Parecia genuinamente surpreso.

— Com certeza. E esse seu lado competitivo é fascinante.

Jongseong ganhou outro beijo e sentiu o coração acelerar, e quando se separaram, viu Jungwon sorrindo outra vez.

Ele sentiu uma necessidade desesperadora de fazê-lo ficar para sempre. Queria que Jungwon o conhecesse de verdade. Para isso, tinha que dar o primeiro passo e aquele era o momento perfeito.

— Antes de irmos, queria conversar com você sobre uma coisa.

O tom sério assustou o rapaz loiro, que assumiu um semblante completamente diferente do que tinha a alguns segundos atrás.

— Não é nada ruim, não se preocupe — ele conseguia enxergar o alívio no rosto do outro, e então, continuou — Na verdade, eu deveria ter te contado naquele dia que nos encontramos no café.

— Talvez não fosse a hora certa para me contar nada, a gente tinha acabado de se conhecer. Apesar de eu ter contado o suficiente para você conseguir me achar de novo aqui na Coréia.

Os dois riram para aliviar a tensão.

Jongseong desconfiou que Jungwon já soubesse do que ele estava falando.

— Têm razão. Definitivamente a hora certa é agora.

Ele esperou o tempo de Jongseong. O silêncio durou menos do que ele esperava, e então, ele começou a falar.

— Você sabe que sou escritor e eu vivo prometendo te deixar ler algum livro que eu já escrevi. A verdade é que você já leu todos os livros que eu publiquei, e eu estava em Nova Iorque naquele dia para o lançamento do meu livro na versão em inglês. Eu escrevo pelo pseudônimo Jace.

Jungwon ficou em silêncio por alguns minutos e aquilo foi torturante.

Quer dizer, se Jungwon quisesse ele teria descoberto antes e Jongseong sabia disso. No primeiro livro, ele se lembrou que não tinha escondido as mãos com a luva preta de seda, como fez em todos os outros após assumir o pseudônimo.

As mãos que tocaram Jungwon de forma tão íntima, os dedos que passaram por seus lábios diversas vezes, e que em um deles, tinha um pequeno sinal bem específico. Qualquer um teria percebido.

— Oh — Foi o único som que saiu da boca de Jungwon logo de cara.

— Esse "Oh" foi preocupante — Jongseong sentiu um frio na barriga.

Pensou que aquela fosse a hora em que Jungwon pediria para ele se retirar ou ficaria triste por Jongseong ter mentido na cara dele.

E então, Jungwon começou a rir sem parar.

Ele jogou a cabeça para trás e escondeu o rosto com as mãos.

Aquela era uma reação completamente inesperada.

— Ei, eu continuo preocupado, sabia?

Jungwon riu ainda mais alto.

— Cara... eu te presenteei com seu próprio livro e você não falou nada!

Ele voltou a rir, e dessa vez, Jongseong se juntou a ele.

¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤

Demorei um pouquinho mas voltei, espero que tenham gostado desse capítulo. Prometo não demorar tanto pra postar o próximo (meu favorito), até logo♡♡♡♡.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top