Capitulo 4

Volteiii, acho que esse capítulo é mais longo até agora, e é um dos meus favoritos também. Espero que vocês gostem 💛💛

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O dia seguinte chegou mais rápido do que Jungwon sequer poderia imaginar. Ou talvez ele estivesse tentando prolongar o sábado por inseguranças bobas.

— Você está tentando arranjar um motivo para não ir nesse encontro? — Jake perguntou.

— É claro que não. O Jongseong é legal e a gente conversou a noite toda ontem.

— Acha que eu não percebi? Fazia tanto tempo que eu não te via sorrindo para o celular — Jake parou para pensar e de fato, nunca tinha visto Jungwon sorrir quando recebia mensagens de um homem que não fosse amigo dele.

— Eu tenho certeza que o encontro vai ser bom. Só vou me sentir mal quando tiver que dispensá-lo.

Jake, que estava deitado, se levantou de uma vez e isso assustou Jungwon.

— Não estou te entendendo.

— Você sabe muito bem o que eu quero dizer. E se ele quiser sair comigo de novo?

— Tudo depende do encontro de hoje. Se você gostar, saia com ele. Se não, seja sincero e diga que não quer. O que aquele cara te disse não é verdade.

— Que ninguém me amaria como ele amava? — Jake afirmou com a cabeça e Jungwon sorriu ao responder  — Se ninguém fizer comigo o que ele fez, estarei com sorte, então.

— Está vendo só? Você entende exatamente a questão aqui. Muitos meses se passaram e você dispensou muitos caras legais por estar com esse pensamento, mesmo sabendo que esse pensamento nem era seu.

— Eu só estou inseguro, não tem mais nada além disso.

— Não tem motivos para insegurança. Caso vocês queiram dar um passo além do primeiro encontro, primeiramente, você pode, os dois são solteiros — Jake levantava os dedos no ar enquanto numerava os tópicos — Em segundo lugar, você não é inexperiente em nada.

— Eu só beijei um cara em toda a minha vida.

— Você ficava com ele desde os dezesseis e só não começaram a namorar porque seus pais proibiram o namoro antes de terminar a escola. Não que tenha adiantado alguma coisa, já que você namorou escondido e ficou noivo com dezoito anos. Experiência você tem de sobra, talvez até mais que ele, a diferença é que foi tudo com uma única pessoa.

Parando para pensar, ele percebeu que Jake tinha razão.

— É tão estranho que seja eu quem fica dando conselhos amorosos. Você tem que dar um jeito nisso.

— Não são conselhos amorosos. Quero passar bem longe dessa coisa de amor.

— Voltamos à estaca zero, de novo.

— Não precisamos voltar a nada. O ciclo é o mesmo. Eu me encanto com a pessoa, anos depois, ela deixa um rombo enorme no meu coração e eu levo uma eternidade para conseguir me recuperar. Já passei por isso e não vou me envolver com nenhum sentimento, isso dói demais.

— Eu entendi. Só não esquece de avisar isso a ele. A não ser que você queira ser a pessoa que vai fazer com que ele se apaixone por você e meses depois deixar um rombo no coração dele.

Jungwon sabia que era em vão falar esse tipo de coisa. Jake não acreditava em uma palavra que saia da boca dele. Claro que ele tinha total certeza que Jungwon sentia tudo o que tinha acabado de dizer. Mas durante os oito meses sem contato com o ex, Jungwon tinha dispensado muita gente, alguns até foram insistente demais, tentando mais de uma vez e sendo rejeitados. Dava para ver nos olhos e Jake que ele estava pensando pelo lado positivo das coisas e isso era um perigo no momento. Jungwon mal conhecia o básico sobre Jongseong após a primeira vez que se encontraram no café em Nova Iorque, e mesmo assim  mencionava o nome dele em algumas conversas aleatórias. Ou arranjava um motivo para usar o cachecol. Na galeria, eles ainda se conheciam pouco e Jungwon tinha aceitado sair com Jongseong, diferente do que tinha feito nos últimos meses. Era meio óbvio que Jake ia se apegar à esperança de que Jungwon voltaria a se abrir aos poucos. E tinha certeza que o amigo seria feliz quando se permitisse viver sem acreditar no os outros diziam sobre ele.

— Ele já despertou seu interesse. Eu só torço para ele perceber logo de cara.

Jungwon revirou os olhos.

— Não fala besteira e me ajuda. Eu ainda estou com uma dúvida, uso o sobretudo preto ou o bege? Está bem frio lá fora.

— Deixa eu ver — Jake observou enquanto Jungwon tirava um e colocava o outro — O bege. Você ainda não me disse nada sobre o lugar que ele vai te levar.

— Um restaurante grego. Decidimos ir para um lugar que nenhum dos dois conhece.

— Isso é bom. Experiências e memórias novas. Sempre me lembro da primeira vez que fui a fundo em um restaurante mexicano lá em Nova Iorque e descobri que na verdade amo comida apimentada mais do que achei que amava.

— Vou ignorar o fato de você não ter me chamado nesse dia. Eu andei pesquisando sobre a cultura grega, quis expandir meus conhecimentos para um pouco além da mitologia.

Jungwon sabia que Jake estava com uma piadinha na ponta da língua. Ele quase a soltou, mas com um olhar furioso de Jungwon em direção a ele, Jake optou por rir.

— Isso não é engraçado! No meio do caminho, eu decidi que me limitar à mitologia era uma boa escolha, eu seria insuportável se chegasse no primeiro encontro bancando o sabe-tudo — Jungwon disse, enquanto tentava passar o mínimo de maquiagem possível — Sabe de uma coisa? Acho que eu seria filho de Ártemis.

— E eu?

— Provavelmente entre Apollo, seríamos primos mitológicos! — Ele pareceu em dúvida por um longo minuto — Na verdade, você tem tantas qualidades e habilidades que acho que deuses e semideuses  ficariam surpresos.

— Fico lisonjeado.

— Agora pare de me distrair. Preciso terminar de me arrumar porque ele vai estar aqui em quinze minutos.

— Ok. Eu paro de te atrapalhar se você prometer não passar aquele perfume horrível que você trouxe de fora.

— Ele não é tão ruim assim. Mas eu aceito, negócio fechado.

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Nishimura estava jogado na sala de Jongseong com uma cara fechada, revoltado com a habilidade de esconder as coisas importantes que o amigo tinha. A cada dez segundos, Jay conhecia uma nova forma de ofensa

— Você vai sair com Yang Jungwon e eu só estou sabendo disso agora? É inacreditável!

— Em minha defesa, nunca soube que você o conhecia. Se soubesse teria perguntado sobre ele diretamente a você — Jay tirou o cabelo dos olhos com a pontinha do dedo.

— Todo dançarino da Coréia conhece Yang Jungwon.

— Sério?

— Houve um tempo em que todo mundo temia perder seus empregos para ele.

— E deveriam continuar temendo. Ele é incrível.

— Ah, eu não preciso temer, Yang sempre foi muito simpático e respeitoso, ele escolhe os trabalhos que faz hoje em dia e eu já tenho meu reconhecimento nesse meio. Mas muitos comemoraram quando ele parou de ser produtivo por causa do namorado.

— Namorado? — Jay parou o que estava fazendo para prestar total atenção.

— Olha, não sei bem como ele está em relação a isso agora, só que houve um tempo que o cara invadia os ensaios e ficava dando pitaco nas aulas dele. Uma vez chegou a surtar porque tínhamos que representar o inferno na coreografia, e era aquela coisa, o inferno visto pelos olhos de um cristão. As cenas eram bem sensuais e ele representava um anjo caído que foi seduzido por um humano pecador. O cara parou o ensaio e começou a gritar comigo porque eu estava "próximo demais" do noivo dele.

Jongseong engoliu seco. Não sabia se gostaria de ouvir aquilo faltando cinco minutos para sair de casa.

— É mais um filho da puta babaca.

— No intervalo teve mais. Ele se aproximou de mim com agressividade e tirei do pé o tênis que eu estava usando e arremessei na cara dele. Me senti péssimo quando o Yang veio me pedir desculpas e dizer que a partir do dia seguinte, Jake Shim estaria no lugar dele porque ele abriria mão do projeto.

Aquilo causou uma sensação horrível em Jongseong.

— Chega, Niki. Não quero sair daqui com raiva, porque senão eu não consigo disfarçar quando me encontrar com ele.

— Você tem razão. Faça com que pelo menos esse seja o melhor encontro da vida dele.

Ele se lembrou da conversa franca que Jungwon teve com ele na noite anterior. Yang tinha dito que encontros românticos não eram tão recorrentes na vida dele. Uma conversa um tanto esquisita, para alguém que tinha sido pedido em casamento.

Depois das coisas que Niki tinha dito à ele, muito do que Jungwon contara por mensagem na noite anterior começava a fazer sentido.

Jongseong fechou a bolsa e pegou as chaves do carro.

— Espero que a floricultura esteja aberta. Você acha que ele gosta de rosas?

— Clichê demais.

— Têm razão. Peônias são a cara dele.

— Cara, você está mesmo apaixonado por ele.

Apesar de querer refutar, ele não respondeu. Dizer que estava apaixonado era se precipitar demais. Negar parecia forte demais. Ele só queria conhecer Jungwon melhor.

Era isso.

— Estou de saída. O Sunghoon chega daqui a pouco. Diga a ele que o novo manuscrito está em cima da mesa do escritório, e que se mexer em qualquer outra coisa eu vou escrever um livro todo difamando a beleza dele.

Ele se despediu e correu para pegar o elevador. Por puro azar, a vizinha correu logo atrás dele.

— Boa noite — Ele disse por educação.

— Está tão cheiroso. Parece até que vai para um encontro.

— Sim, eu vou.

A mulher o olhou de cima a baixo.

— Ela vai ficar feliz em te ver assim.

— Ele — Jongseong corrigiu.

A mulher não falou mais nada. Quando a porta se abriu, saiu sem se despedir e não olhou para trás.

Se ele soubesse que seria tão fácil se livrar dela, teria feito antes.

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Jungwon esperava ansioso na portaria de seu prédio. Tinha se esquecido de perguntar para Jongseong qual era o modelo do carro, então, estava esperando por algo que não sabia exatamente o que era. No entanto, quando um carro preto se aproximava, Jungwon soube que se tratava dele.

Jongseong estacionou em sua frente e saiu do carro com um enorme sorriso no rosto.

— Oi — Jungwon disse com a voz fraca.

— Oi. Você está lindo — Jongseong se aproximou um pouco mais e o cumprimentou com um beijo na bochecha, bem em cima da covinha. Jungwon corou no mesmo instante.

— Você está lindo, também.

— Obrigado — Jay sorriu — Vamos entrar?

Ele abriu a porta do carona e esperou Yang entrar antes de dar a volta e abrir a porta de um dos bancos traseiros, em seguida, pegou algo que Jungwon não tinha visto, já que estava ocupado colocando o cinto de segurança.

Quando Jongseong se sentou no banco do motorista, Jungwon finalmente olhou para as mãos dele e viu um lindo buquê de peônias.

— São para você — Ele as entregou — Eu não sabia qual você gostava, espero que goste dessas.

O sorriso de Jungwon foi aumentando conforme ele levava as flores para mais perto de si. Ele inalou o perfume e olhou para Jongseong.

— Elas são minhas favoritas, muito obrigado. Agora vou me sentir mal por — Jongseong nem o deixou concluir a frase.

— Nada disso, eu quero te levar para sair. É um dia para nos conhecermos e também para você se sentir confortável comigo. Espero que me permita te agradar a noite inteira.

Aquilo pegou Jungwon de surpresa.

— Certo. Terei minha chance de te agradar também, eu espero.

Jungwon percebeu que sem querer tinha acabado de prolongar ainda mais o que ele disse que seria apenas um encontro. E para o seu próprio desespero, ele pareceu gostar da ideia de conhecer Jongseong o suficiente para que ele pudesse programar o próximo encontro.

Os dois passaram cerca de vinte e cinco minutos no carro. O clima era agradável e Jungwon se sentia confortável em falar sobre o trabalho. Acabaram descobrindo que Jongseong já tinha visto Jungwon dançar muito mais vezes do que ele podia contar em seus dedos.

— Aquele foi meu primeiro trabalho de destaque — Ele disse, fazendo Jongseong ficar vermelho de tanto rir — Eu estava na quinta série e levava a dança e o teatro muito mais a sério e via como um trabalho. E então, eu bebi muita água antes de me apresentar e acabei fazendo xixi nas calças em cima do palco.

— E isso não foi o suficiente para parar o pequeno Yang Jungwon que estava mega determinado. Eu me lembro de você ter saído correndo para a frente do palco, agradecido a plateia e saído correndo de novo para os bastidores. Que coincidência engraçada, eu e meus pais estávamos lá para assistir a minha prima que foi um dos peixes.

— Naquele dia eu quase fui suspenso do colégio. Por sorte, minha ideia de fazer o Jaeyun segurar uma mangueira virada para cima e simular água da chuva acabou impressionando a platéia.

— Você foi genial, afinal, o que seria de uma apresentação de A Pequena Sereia, sem água? — Jay riu ao lembrar que Jungwon escorregou várias vezes antes de conseguir terminar sua última fala na peça — Seu improviso foi brilhante, você é naturalmente engraçado e criativo desde pequeno

Jungwon não conseguiu deixar de lembrar da primeira vez que contou essa história para seu ex. Ele tinha quebrado todo o clima engraçado e dito que achava besteira mudar o rumo da peça com improvisos. E que era só Jungwon ter se retirado que tudo seguiria seu curso normal e que só sentiriam falta caso ele fosse a Ariel.

Mas ali estava Jongseong, vermelho de rir, dizendo que ele era naturalmente engraçado e aproveitando cada segundo da história ao lado dele.

— Chegamos. Eu ainda vou querer saber o desenrolar dessa história.

Os dois entraram e ambos estavam encantados com o restaurante. Assim como nos filmes, os pilares eram enormes e bem detalhados. Haviam também algumas esculturas de figuras importantes da Grécia. Eles tiraram fotos e se interessaram por cada descrição das obras, eles estavam encantados.

Foram levados a uma mesa reservada para casais no andar de cima. O local era distante de olhos curiosos e perto de uma representação perfeita de uma antiga arma de caça.

— O arco de Ártemis — Jungwon falou enquanto Jay puxava a cadeira para que ele se sentasse.

Era um cavalheiro sem parecer que estava se esforçando para isso.

— Seria perfeito se ela tivesse flechado o safado do pai dela.

Jungwon riu tanto que cobriu o rosto com vergonha de parecer tão escandaloso.

— Andei lendo sobre mitologia e acho bem improvável que ele fosse morrer desse jeito.

— Você se interessou por mitologia?

— O bastante para ter certeza que passaria bem longe de Zeus. E acho até que seria filho de Ártemis ou algo assim.

Jongseong sorriu e concordou. Jungwon com certeza seria filho de Artemis segundo as descrições espalhadas pelo restaurante.

As entradas chegaram e eles se divertiram tentando pronunciar o nome dos pratos. Qualquer coisa com Jongseong era leve e descontraída. E foi assim que eles passaram grande parte do jantar.

Jungwon tinha experimentado um shot de Ouzo, uma bebida forte e típica dos gregos. Foi o suficiente para ele não querer mais saber de nenhuma bebida com álcool. Os nomes de pratos e sobremesas já tinham deixado de fazer sentido há muito tempo.

— E então, você me disse que é escritor.

— Sim, eu sou.

— Eu gostaria de ler algo seu. O 🥺Jace não pode ser meu autor favorito para sempre. Não agora que você me deu essa noite incrível.

— Você gosta dos livros dele?

— Eu já li todos os livros que esse homem escreveu. Inclusive, eu ia para uma sessão de autógrafos quando ele esteve em Nova Iorque, mas tive um imprevisto, foi tão triste que os meus amigos me prometeram que iam me ajudar a conhecê-lo no próximo lançamento. Dá um certo orgulho por ele ser coreano e ter chegado tão longe, é como se fosse o trabalho de um amigo que trabalhou duro e eu estou feliz de vê-lo brilhar internacionalmente — Jungwon percebeu o que estava fazendo e parou no mesmo instante — Me desculpe, não quero fazer você se sentir mal.

Ele deu um tapinha de leve em sua própria testa.

— Que idiotice da minha parte.

— Não é idiotice. Você pode ter mais de um autor favorito. Não é essa a magia da literatura? Você pode viver mil vidas e ser fã de todas elas.

— Mas isso significa que terei que ler um livro seu e eu não vou esquecer de cobrar isso.

— Não se preocupe com isso. Se você gosta dos livros do Jace, vai gostar dos meus ainda mais.

Aquela era uma responsabilidade enorme. E Jungwon torcia para que o trabalho dele fosse surpreendente.  Ele não estava mentindo quando disse que leria os trabalhos de Jongseong. Jungwon amava ser fã de literatura e ficava feliz por esse hábito ter tirado ele do fundo do poço quando ele precisou se reerguer.

— Eu imagino que ele seja um cara bonito mas tímido.

— Sério? O que te faz pensar isso?

— Aquela máscara, sabe? Daquela foto que fica na orelha do livro. Foi uma jogada de marketing incrível. Aquela máscara deixa um ar de mistério que bate perfeitamente com o que ele passa nos livros, isso instiga o leitor.

Jongseong sorriu meio tímido e isso fez Jungwon cortar o assunto.

— Chega, já falei demais — Jungwon falou, se sentindo constrangido.

Não era uma boa ideia ficar falando da beleza de outro escritor enquanto se sentava na mesa em um encontro com outro escritor e ele só se deu conta disso quando já tinha falado demais.

— Por mim, eu te escutaria falar o dia inteiro. Sou escritor, gosto de ver leitores falando sobre livros. Inclusive, tenho livros interessantes sobre mitologia e você vai amar.

Jungwon estava ciente de que, a partir dali, qualquer coisa referente a cultura grega lembraria  Jongseong e aquele encontro. E bom, ele não estava nem um pouco incomodado com isso.

Ele olhou para a janela e viu que o clima estava muito melhor do que quando tinha chegado em Seul.

— Você quer sair? — Jongseong pareceu preocupado ao perguntar.

— Eu só estava pensando que a Torre deve estar linda a essa hora.

Jungwon pensou. E pensou. E pensou.

Por quê não?

Talvez ele não estranhasse o fato de Jungwon querer sair para ver a Torre de ele explicasse que fazia muito tempo que não passeava por Seul inteira.

— É só você dizer que quer ir e nós iremos.

— Você está a fim de subir uma ladeira?

— Eu estou a fim do que você quiser.

Jungwon pensou por um tempo.

— Ok. Vamos, acho que você é muito educadinho para pedir e está estampado na sua cara o quanto você quer.

— Ah, mas está tão longe, eu não posso te tirar daqui só porque eu quero. Prometo disfarçar melhor a minha cara na próxima vez.

— Bobagem. Eu também quero. Vamos?

Jungwon tentou pagar a conta mas foi impedido.

— Nada disso. Eu te chamei para sair. Faço questão.

Jungwon demorou a aceitar, e ao perceber que  Jongseong era tão duro na queda quanto ele, deixou de lado, prometendo para si mesmo que ele seria o responsável por absolutamente tudo no próximo encontro.

Próximo encontro? Que doideira! Um próximo encontro significa criar laços e você não está pronto para isso, Yang Jungwon.

O caminho até a Torre foi longo e nada monótono. Os dois resolveram falar de seus hobbies favoritos e se espantaram quando descobriram que jogos de videogame e programas de variedades eram igualmente queridos pelos dois.

— Têm uma coisa que as pessoas se surpreendem bastante quando descobrem sobre mim.

Jongseong tirou os olhos da estrada e demonstrou total interesse. Yang gostou da forma como ele parecia interessado em qualquer coisa que ele dizia. Era fofo e atencioso a todo momento, como Jungwon nunca tinha visto antes.

— Agora você conseguiu me deixar curioso, aposto que vai me surpreender também.

— Tenho certeza que sim — Jungwon falou sem jeito — Bom, eu meio que sou fascinado por futebol. Acompanho quase todas as ligas e costumava visitar estádios com o meu pai quando era criança. Quando me descobri, tentei me afastar do futebol porque achava que isso não era "coisa de gay". Claro que é besteira, apesar do número de gays que gostam de futebol ser bem pequeno, eu amo fazer parte disso. Toda vez que assisto um jogo com o meu pai é um momento único.

Jungwon riu ao lembrar de seus comportamentos de rebeldia da adolescência. Mas no fundo, agradecia por seus comportamentos péssimos não terem sido direcionados a outras pessoas, ele seria muito triste se Jake tivesse se afastado dele naqueles momentos mais sombrios.

— Tenho que admitir que não esperava por isso. Eu não entendo nada sobre futebol, a não ser quando têm jogos da Copa do Mundo —  Jongseong voltou a olhar para a estrada — E o que te fez voltar a ver futebol?

— Meu pai. Ele nunca se importou com o fato de eu gostar de garotos. Ele me disse que eu não deveria deixar de ser eu por causa das regras que as pessoas inventam. E também me mostrou jogadores LGBTs, claro que o número é bem pequeno ainda, mas isso me incentivou a voltar a jogar com ele nos finais de semana. Desde então, minha mãe diz que eu sou como uma Barbie Profissões.

— Barbie profissões? —  Jongseong perguntou rindo.

— É, eu saia do teatro da escola e ia direto para o taekwondo, de lá ia para o balé e do balé para o futebol com o meu pai.

— Você é o filho dos sonhos de todos os pais. É a pessoa mais versátil que eu já conheci.

— A pior parte de tudo isso é crescer e não ter tempo para fazer todas as coisas por causa do trabalho — Jungwon disse, tirando uma garrafa de água da bolsa e dando um longo gole. — Mas e você? Tenho certeza que tem algum hobby que vai me surpreender.

A esse ponto, Jungwon sentia que qualquer coisa sobre  Jongseong seria capaz de surpreendê-lo, ele tinha falado tão pouco de si.

— Bom, não é muita coisa, mas eu meio que sou cantor e toco guitarra.

Como esperado, Jungwon não só estava surpreso como encantado.

— Você vai cantar para mim quando chegarmos na Torre.

— Nem pensar.

— Eu sou faixa preta, tem certeza que vai querer me negar esse pedido, estrela do rock?

Os dois riram juntos pelo apelido novo.

— Por incrível que pareça, não estou nem um pouco assustado. Você vai me ver cantando e tocando na hora certa, prometo.

— Será um momento histórico, vou precisar me preparar para esse evento.

— Não exagera, meu bem. Eu sonhava em ser um cantor famoso, mas depois vi que gosto da minha liberdade. Meus pais são como os seus, me apoiaram em todas as decisões que eu tomei até agora. Tá vendo esses ombros largos aqui? —  Jongseong perguntou — Eu fiz ginástica por um bom tempo, mas desisti para aprender violino. É claro que não aprendi nada e troquei para guitarra, mas descobri que gostava de escrever quando me interessei mais pela história dos compositores do que pelo violino em si.

Era muito para assimilar. E  Jongseong era mais falante do que Jungwon sequer poderia imaginar. Foi quase impossível cair naquele silêncio constrangedor do primeiro encontro, onde as duas partes procuravam algo interessante para dizer e não deixar o assunto morrer. Com os dois não tinha isso e Jungwon estava gostando da troca de atenção que eles tinham um com o outro.

— Você é tão Barbie Profissões quanto eu.

Os dois caíram na risada outra vez.

— Chegamos. Está pronto para chegar no topo?

— Nunca estive tão animado – Jungwon respondeu.

Eles estacionaram e partiram para a subida. Não foi nada fácil, e em certo ponto, Jungwon puxou  Jongseong pela mão para ajudá-lo a continuar subindo. Os dois estavam completamente sem fôlego e despreparados para essa parte do encontro. Porém, não reclamaram um segundo de todo o trabalho, porque quando chegaram lá em cima, perceberam como tudo valeu a pena.

Já era tarde e ninguém estava de olho neles, aquela era a oportunidade perfeita, disso ele sabia. Porém, ainda estava em dúvida se era uma boa ideia. 

— Temos a vista da cidade só para nós dois. Isso é incrível, não acha? — Jungwon perguntou, observando a Torre mudar de rosa para roxo, ficando assim por um tempo.

— É incrível. Não fazia ideia de que a cidade era tão linda quando vista do lado da Torre.

Jungwon se virou e ficou de frente para ele.

— A gente mora aqui e nunca pensamos em vir.

— Cada coisa tem sua hora de acontecer. Vai ver esse era o nosso momento.

— Você acredita em destino, então?

— Você não?

Jungwon não acreditava.

Pelo menos não até perceber todas as coincidências que o levaram a conhecer  Jongseong.

— Depende.

Com um olhar,  Jongseong entendeu o que Jungwon não conseguiu dizer. Jungwon não acreditava em destino até conhecê-lo. Ou até perceber que se ele não tivesse mencionado aquela torre — que nenhum dos dois teve vontade de conhecer antes — talvez eles não estivessem ali.

Era coincidência ou destino, o fato de estarem sozinhos em um lugar que, em qualquer dia do ano, independente do horário, estava abarrotado de estrangeiros?

Também seria coincidência que Jungwon estivesse esquecido completamente de soltar a mão de  Jongseong mesmo depois de já terem concluído a subida

Tudo era coincidência demais ou o destino apenas queria que fosse assim?

Nenhum dos dois estava satisfeito em ficar nessa dúvida estranha.

Jungwon se aproximou de  Jongseong, olhando dos olhos para os lábios, queria dizer que sabia exatamente o que estava fazendo, mas sequer sabia dizer o motivo de sentir que precisava beijar  Jongseong.

Antes que sua cabeça bolasse um plano para fazer com que ele saísse correndo dali, Jungwon ficou na ponta dos pés, segurou o rosto de  Jongseong com delicadeza e o beijou.

Os lábios do escritor eram macios e o beijo era sem pressa alguma. Ele puxou a cintura de Jungwon para mais perto de seu corpo e tirou o cabelo do rosto dele antes de começar o segundo beijo.

Vez ou outra eles olhavam para ter certeza que ainda estavam sozinhos e felizmente, ninguém aparecia. Estava tarde e muito frio, ninguém, além deles, ousava sair para enfrentar aquela ladeira. Ou talvez fosse o destino agindo novamente, eles nunca saberiam.

Eles não deixaram de conversar entre os beijos. Chegavam até a sorrir e ousar um pouco mais. Jungwon cheirava bem e isso fazia com que  Jongseong beijasse seu pescoço para poder inalar o perfume enquanto o fazia.

O vento frio fazia com que eles mantivessem a sã consciência, sem esquecerem que ainda estavam na rua e que não podiam passar dos limites. No único momento em que Jungwon pensou que perderia a cabeça, a voz da razão – Park Jongseong – disse que precisavam voltar para o carro.

— Não quero que você pegue um resfriado por ficar na friagem a essa hora — Ele deu um selinho rápido em Jungwon — Seu corpo está quente, mas seu narizinho está gelado.

— É, eu acho que não vim preparado para esse frio. Acho melhor ir para casa, eu posso ser tudo aquilo mas se bate um vento já fico doente.

— Então vamos. Por sorte, a descida é a parte mais fácil.

Jongseong estendeu a mão e Jungwon segurou sem hesitar. Desceram a ladeira rindo feito bobos de algo que Jungwon tinha contado, e antes de entrarem no carro, se beijaram de novo. Dessa vez, o beijo era lento e intenso, deixando os dois completamente sem ar.

— Ok, é melhor entrarmos senão eu vou congelar — Jungwon disse sorrindo.

•••••••••••••••••

Se antes  Jongseong estava pensando em Jungwon em momentos aleatórios do dia, agora ele tinha um problema muito maior para lidar agora. Sunghoon vivia zombando da cara dele por ele estar se apaixonando por um cara que ele tinha visto apenas uma vez. Mas agora era diferente, ele conhecia mais sobre Jungwon e sabia que seria difícil esquecer o sorriso dele enquanto o beijava.

Talvez Sunghoon estivesse certo no fim das contas, ele estava começando a se apaixonar de verdade e talvez aquilo fosse vergonhoso.

Ele deixou Jungwon no mesmo lugar em que o pegou, quase grunhindo de insatisfação quando recebeu um selinho de despedida. Estava claro que nenhum dos dois queria que a noite acabasse, mas infelizmente era necessário. Logo em seguida, partiu para o seu apartamento, que já estava vazio, e com um sorriso enorme no rosto ele se jogou no sofá ao lado do cachorro que o recebeu com uma animação fora do normal.

— Seu pai é um bobo apaixonado, sabia?

Yooki latiu como resposta.

O celular dele vibrou no bolso. Ele sorriu antes mesmo de saber quem era.

Jungwon:

Hoje foi um dia especial, Jay. Eu já disse que amei as flores??? Não esquece de descansar e se aquecer, tá? Bons sonhos. 💜 "

Apesar de se aquecer bem, como Jungwon pediu,  Jongseong foi incapaz de dormir à noite.

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Vejo vcs no próximo capítulo, espero que tenham gostado desse e não se esqueçam de votar e comentar o que estão achando ❤️❤️❤️

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