7.Sobre não estar sozinha

Se recuperar nem sempre é algo possível, mas infelizmente a vida não para ou te dá regalias e Alétheia Swan tinha muito para pagar antes que pudesse dizer que estava inteira.

A primeira coisa que fez quando acordou no dia seguinte foi tomar banho, novamente a sensação abrasiva sobre a pele ocorreu ao passar a esponja com vontade e após limpa mesmo que ainda se sentisse imunda. Vestiu algo coberto e sem muitos apertos, abriu o armário pegando as mesmas pérolas maculadas de antes e seguiu para fora de casa.

Daria um basta nisso sem que ninguém soubesse, mesmo que os rasgos finos nos cantos de seus olhos ainda estivessem um pouco abertos.

[...]

Alétheia se moveu com determinação, seus passos firmes contrastando com o peso que ainda carregava dentro de si. O sol mal havia despontado, e a brisa da manhã era fria, mas ela mal sentia. Em sua mente, o plano era claro, mesmo que a dor e o cansaço tentassem distraí-la.

As pérolas maculadas estavam seguras em um pequeno saco de pano, escondidas em sua mão trêmula. Eram um lembrete cruel do que havia acontecido, mas também uma fonte de poder. Elas tinham valor, mesmo que para ela representassem cicatrizes, e ela estava disposta a usá-las para dar um fim a tudo isso.

Ela caminhou pelas ruas de Tortuga com a cabeça erguida, mesmo que tentasse se manter invisível. A cidade era agitada, como sempre, mas a maioria dos rostos ao seu redor eram desconhecidos. Ninguém prestava atenção nela, e era assim que preferia. O anonimato era uma benção naquele momento, enquanto traçava seu caminho para longe do caos que consumia sua alma.

Ao chegar a um pequeno beco, parou por um instante, respirando fundo. A dor nos olhos ainda era presente, um incômodo que ela ignorava, pois sabia que precisava se manter focada. Estava prestes a tomar uma decisão que mudaria tudo, e a incerteza do que viria a seguir lhe dava um frio na espinha. Mas ela não podia mais viver daquela forma, com medo e marcada pela violência.

"É hora de dar um basta", murmurou para si mesma, mais como um incentivo do que uma afirmação. Ela estava exausta de carregar o peso sozinha, e embora soubesse que o mundo ao seu redor continuaria indiferente, dentro de si algo precisava mudar.

Ela se surpreendeu por ver a taberna fechada, em sua cabeça não fazia sentido algum, uma vez que nos seis anos que trabalha ali aquele local nunca parou sequer um dia. Obviamente que ela se recusou a procurar pela próprio agressor, mas tinha pendências demais com o crápula para simplesmente ir para casa.

Alétheia avistou um dos clientes assíduos do bar, tirando um cochilo encostado na porta fechada, mais um bêbado que deveria ter caído há muito tempo segundo ela é claro.

Ei, você viu o desgraçado do Joshamee? — Perguntou chutando a bota direita do homem.

— Humm... — Ele murmurou em desagrado por ser acordado.

Hora se levante de uma vez, aqui não é um hotel. — Ela chutou com mais força fazendo com que o bêbado reagisse levemente.

Humm... Josha estava fodido. Muito mesmo. — Ele riu levando a garrafa vazia aos lábios e ela arqueou a sobrancelha.

O quer dizer com isso?

Ele irritou os piratas errados. Sabe, quando eu vi aquele ruivo na taverna eu tive minhas dúvidas, mas ao acionar a marinha pelo posto de comando de Tortuga com a ideia de pegar a recompensa e ter sido negado eu entendi o por quê. O desgraçado é um Yonkou e se Josha fodeu com o interesse dele, deve estar morto. Agora vê se me deixa em paz, eu preciso de outra bebida. — Cambaleando ele tentou se erguer se arrastando para longe e Alétheia respirou pesado.

A Swan permaneceu em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras do bêbado. O peso da informação a atingiu como uma maré violenta. Um Yonkou? Isso explicava muita coisa, especialmente o comportamento desconfiado de Joshamee nos últimos dias.

Ela sentiu o coração acelerar de raiva, misturado com confusão. Shanks, o ruivo que havia aparecido em sua vida de maneira quase casual, era um dos piratas mais poderosos do mundo. O que ele havia feito com Joshamee? Mesmo sendo um crápula, Joshamee ainda era a única ligação que ela tinha com aquele maldito bar. Ela não estava preocupada com ele por afeição, mas pelas dívidas e o tempo investido naquela vida.

"Piratas errados... um Yonkou..." As palavras do bêbado ecoavam em sua mente enquanto ela cerrava os punhos. Tudo isso era mais uma complicação que ela não precisava. Não bastava o trauma recente, agora tinha um pirata lendário interferindo em seus negócios pessoais.

Com a cabeça fervendo de raiva, Alétheia respirou fundo, tentando se controlar. A última coisa que queria era causar uma cena. Porém, ela não podia deixar as coisas como estavam. Se Joshamee realmente havia sido punido por ele, queria saber os detalhes.

Determinada, ela virou as costas para a taverna fechada e começou a caminhar em direção ao porto. Se aquele ruivo achava que poderia intervir em sua vida sem explicações, estava redondamente enganado. Teria uma bela conversa com ele, e ele teria que lhe dar respostas...

O entardecer já havia tomado o céu enquanto ela encarava o navio imponente, as luzes do deck acesas e claramente em uma festa. Estava receosa, mas não recuou ao subir a bordo.

Você tem visita capitão. — A voz de Benn ecoou enquanto a tripulação ficava em silêncio. Shanks deu mais um gole na garrafa antes de notar a bela Sereia parada na entrada de seu navio.

Ele então deixou a garrafa sobre um dos barris antes de ir até ela.

Que bela surpresa. — Ironizou, tentando descontrair o clima e ela desviou o olhar antes de respirar fundo.

Vamos caminhar ruivo. — Foi tudo o que respondeu antes de virar de costas e começar a descer, Shanks respirou fundo antes de pegar duas garrafas fechadas e a seguir pela praia.

Shanks a observou enquanto descia do navio, sua postura firme, apesar do evidente desconforto. O ambiente festivo da tripulação contrastava drasticamente com a tensão que pairava entre eles. Mesmo sendo apenas uma caminhada, ele sentia o peso do que estava por vir.

Ele alcançou a sereia na praia, entregando-lhe uma das garrafas enquanto ela apenas o encarava, sem aceitar o gesto. Os olhos dela, sempre tão penetrantes e misteriosos, agora estavam escurecidos pela raiva e confusão. Não era difícil entender que ela estava furiosa - ele podia ver isso claramente no jeito que ela mantinha os ombros rígidos e a mandíbula travada.

Você mexeu com Joshamee, não foi? — Ela perguntou sem rodeios, a voz firme e direta. Seus dedos crispados ao redor do tecido fino que vestia.

Shanks deu de ombros, um sorriso enviesado surgindo em seus lábios. — Ele mereceu. Você não acha?

Alétheia sentiu o sangue ferver. — Isso não é problema seu! — Ela rebateu, os olhos faiscando de fúria. — Eu sou a única que lida com ele. Eu... — sua voz fraquejou por um segundo, a dor por trás de suas palavras era inconfundível, mas ela recuperou o controle rapidamente. — Eu não pedi sua ajuda, ruivo.

Shanks suspirou, seus olhos não desviando dos dela. — Não pedi permissão. Não vou ficar de braços cruzados enquanto alguém tenta te machucar.

Ela ficou em silêncio por um momento, tentando processar o que ele estava dizendo. Havia uma parte de Alétheia que queria explodir de raiva, gritar que ele havia complicado tudo, que não era assim que as coisas funcionavam naquela ilha. Mas outra parte dela sabia que, em algum nível, ele estava certo.

E o que vai acontecer agora? — Ela finalmente perguntou, sua voz mais baixa, quase um sussurro encarando o céu e finalmente aceitando a bebida.

— Agora — Shanks abriu uma das garrafas e tomou um gole — Você decide. Se quiser que eu vá embora, vou. Se precisar de ajuda, estou aqui.

A sinceridade em suas palavras a desconcertou. Alétheia havia esperado arrogância ou desdém, mas em vez disso, viu uma certa vulnerabilidade no pirata à sua frente. Ela desviou o olhar, encarando o horizonte escuro do mar, pensando que talvez eles estivesse agindo assim por que estava enfeitiçado por ela, uma vez que ela estava no mar, naquela noite por uma razão e qualquer humano que tivesse o mínimo de contato seria o suficiente para se encantar.

Eu só quero... — começou, mas as palavras morreram em seus lábios. Ela não sabia o que queria naquele momento. Talvez apenas paz, talvez vingança. Tudo estava tão embaralhado dentro dela.

Shanks não pressionou. Ficou ao lado dela em silêncio, observando o mar com a mesma intensidade que ela.

Às vezes — ele começou, rompendo o silêncio — o mais difícil não é enfrentar o que nos machuca, mas aceitar que não estamos sozinhos.

Ela o encarou por um momento, as palavras dele ecoando em sua mente. Talvez Shanks estivesse certo. Talvez ela não tivesse que carregar aquele fardo sozinha.

Mas confiar em alguém como ele? Isso era outra questão completamente diferente.

O ruivo pareceu se recordar de algo. — Ah, eu não sei se é seu, mas estava com aquele taberneiro desgraçado antes de cuidarmos dele. — O Ruivo fincou o fundo da garrafa na terra antes de enfiar a mão no bolso e pegar a peça e direcionar a ela. Os olhos da sereia chegaram a brilhar conforme ele foi abrindo a mão. A corrente dourada reluzia e a concha perolada do tamanho de um peso de ouro estava em sua palma.

Alétheia olhou para a concha na mão de Shanks com um misto de choque e emoção. Aquela peça que reluzia na palma do pirata era muito mais do que um simples ornamento. Era o símbolo de algo que a havia sido arrancado, um pedaço de sua história, de sua dignidade. As lágrimas que encheram seus olhos não eram apenas de alívio por tê-la de volta, mas também de dor, de tudo que aquela concha representava: o controle, o medo, a violência.

Ela respirou fundo, sentindo o coração acelerar. As memórias amargas do que Joshamee havia feito a ela vieram à tona, mescladas com a sensação agridoce de finalmente ter em mãos algo que, por tanto tempo, esteve perdido.

Essa... — sua voz saiu embargada, e ela apertou os lábios, tentando conter o que sentia. — Essa concha... foi a única coisa que minha mãe deixou para mim.

O ruivo observou em silêncio, compreendendo o peso que aquela pequena peça trazia. Ele não disse nada, mas a forma como a encarava, com uma mistura de empatia e respeito, a fez sentir-se segura, mesmo que por um breve instante.

Alétheia estendeu a mão trêmula para pegar a corrente. Quando seus dedos finalmente envolveram o objeto, uma sensação de pertencimento tomou conta de seu corpo, como se, por um momento, o mundo ao redor dela ficasse menos opressor. Ela segurou a concha contra o peito, sentindo o metal frio contrastar com o calor de sua pele.

Essa concha tem um poder que nenhuma de nós, sereias, pode ignorar. Ele sabia disso. E por isso conseguiu o que queria.

Shanks deu um passo mais perto, o som da areia rangendo sob suas botas o único ruído no silêncio que os envolvia. — E agora está de volta com quem deveria estar desde o início.

Ela assentiu lentamente, ainda sem conseguir olhar diretamente para ele. As lágrimas escorriam, mas não havia mais tristeza nos olhos da sereia. Havia um tipo de força que Shanks reconheceu. Ela não precisava de sua ajuda; ela só precisava quebrar aquela maldita amarra.

Obrigada, ruivo - disse finalmente, com um tom de voz mais firme, como se estivesse se recuperando de uma longa batalha interna. — Eu... não sei o que teria feito sem isso.

Shanks apenas sorriu de canto. — Talvez seja o contrário, sereia. Acho que você só precisava se lembrar de que não está sozinha.

Ela respirou pesado se afastando e seguindo até o mar.

Talvez você mereça ver. — Ele ficou sem entender, até observá-la se sentar na areia e tirar as botas seguida das meias e então tocar a água o corpo reconheceu o mar de imediato, como um calmante, a reestruturando por inteira, ela foi mais para dentro erguendo o vestido e então sentiu o rosto arder, aqueles pequenos rasgos que tinham na lateral de seus olhos se fecharam completamente enquanto as pernas eram substituídas por uma bela calda, as escamas tão holográficas que reluziam ao mero brilho do céu.

"Linda...", foi o que ecoou pela mente de Shanks enquanto ela agora colocava a concha no pescoço amarrada no cordão, aos poucos ela saiu da água e o ruivo pode notar até mesmo como a pele parda estava mais viçosa.

Sereia... E eu pensando nesse apelido apenas pela sua beleza. — Riu e de certa forma ela se sentiu mais calma.

Pelo visto você até que tem uma boa... percepção.

Para que não fique na dúvida, no começo do livro o Shanks a ver no mar, porém, ela não tinha calda e ele associou sereia pela beleza, a concha e todo o restante que está faltando será explicado a frente, mas creio que já tenham matado parte da charada dessa fic...

A calda para quem não conseguiu imaginar. Eu pintei essa pele tantas vezes que se não ficou bom, sinto muito. Mas sou péssima pintando digitalmente e a ia só sabe fazer sereia branca nesse crlh. "¬¬

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