11.Olá novamente, pirata
Tortuga estava em festa. Os últimos seis meses trouxeram mudanças profundas para a ilha, dividindo-a em dois mundos que agora coexistiam e se fundiam em um centro movimentado e festivo. O contraste era gritante, mas de alguma forma, essa dualidade formava uma harmonia caótica que só Tortuga poderia oferecer.
De um lado, ainda se impunha a clássica baía pirata, um ambiente que parecia não ter sido tocado pelo tempo ou pelas tentativas de modernização. O ar era pesado com o cheiro de rum derramado, e as tabernas abarrotadas transbordavam de homens e mulheres que só queriam uma coisa: festejar até o amanhecer. Piratas bêbados se metiam em brigas, prostitutas levavam seu pouco dinheiro roubado e mesas de madeira eram viradas em meio a disputas por cartas e dominós, e o som alto das gargalhadas preenchia o ar como o hino descontrolado de Tortuga. As ruas eram sujas, cheias de barris, lixo e escombros, mas ninguém ali parecia se importar. A baía pirata era o refúgio dos libertinos, dos sonhadores e dos desajustados que encontravam na farra e no caos uma forma de esquecer os perigos do mar e as marcas da vida de pirata.
Do outro lado, um novo Tortuga florescia, um ambiente mais calmo e inclinado ao progresso. Esse lado da ilha, revitalizado pelas mãos de Alétheia Swan, exalava uma beleza e organização que há muito tempo não se viam ali. As ruas eram pavimentadas, as fachadas das lojas agora eram cuidadas e pintadas com cores vibrantes. Mercadores vinham de longe para trocar suas mercadorias — especiarias raras, tecidos finos e azeites preciosos — trazendo um ar de sofisticação e oportunidade. Esse lado da ilha era também uma referência cultural, onde pequenas feiras de arte e música aconteciam, atraindo aqueles que buscavam algo mais do que o frenesi da bebida e das lutas sem sentido. O odor doce das rosas, símbolo da casa Swan, dominava o ar, e as pessoas que circulavam ali estavam mais interessadas em negócios e progresso do que em brigas de taberna.
No centro, as duas Tortugas se encontravam, fundindo a farra com o comércio. Piratas bêbados cambaleavam por entre as barracas de especiarias, enquanto mercadores tentavam negociar com homens e mulheres que mal conseguiam manter-se em pé. Aqui, todos se misturavam: os comerciantes discutiam preços e contrabandistas faziam seus negócios, enquanto, logo ao lado, algum pirata arrancava uma risada alta de uma prostituta ou se envolvia em uma briga de facas com outro marinheiro.
Era nesse cenário que a Swan se destacava como uma figura de poder e influência. A sereia havia, de fato, transformado Tortuga, e os efeitos de sua influência estavam espalhados por todos os cantos. Ela caminhava pelas ruas, observando tudo ao seu redor com um olhar calmo, porém calculista. Cada pequena mudança, cada nova conexão comercial, era fruto de seu planejamento cuidadoso. Seu sobrenome circulava tanto entre os que temiam seu poder quanto entre os que reconheciam sua astúcia.
Enquanto a multidão se perdia em sua própria euforia, algo diferente pairava no ar. Um sentimento de expectativa, como se algo grande estivesse para acontecer. E de fato estava.
A música alta estava a todo vapor quando ela buscou se afastar, o suficiente para encarar o mar, estava em paz, estava em casa e finalmente sentia-se completamente segura, os pensamentos vagavam para Shanks e retornavam para seu trabalho e seus próprios feitos, inebriando-a, porém, o som distante de um navio chegando ao porto alcançou seus ouvidos, e Alétheia soube imediatamente quem era.
Havia passado tempo demais desde a última vez que tinha notícias de seu pirata, mas agora, ele estava de volta. Tortuga, com toda sua dualidade e caos, se preparava para receber o homem que mexia com o coração da sereia.
Ela se virou lentamente, seu coração batendo mais forte ao sentir o cheiro familiar do mar. A cada passo que dava, em direção ao cais, a expectativa aumentava. Ao longe, o imponente navio pirata já se fazia visível, e, quando seus olhos focaram na figura de Shanks — alto, imponente, com aquele sorriso despreocupado — ela soube que nada havia mudado entre eles, exceto, talvez, a saudade que só havia se intensificado com o tempo.
Shanks saltou do navio com a mesma facilidade de sempre, mas seus olhos estavam fixos nela. A multidão ao redor não importava; era como se só ela existisse naquele momento.
— Olá novamente, Sereia. — A voz rouca dele ressoou no ar, carregada de ironia e algo mais, algo mais profundo que ele não costumava demonstrar tão facilmente.
Alétheia sorriu, aquela mistura de mistério e confiança que sempre o intrigava.
— Olá novamente, pirata. — Ela o recebeu com um sorriso cativante, aquele sorriso que só reservava para ele. Quando Shanks se aproximou, ela estendeu a mão em um gesto de boas-vindas, e logo seus olhos correram pela tripulação.
— Rapazes — disse, calorosa, acenando para cada um dos membros. — É bom vê-los de volta a Tortuga.
Benn, Yasopp, Lucky e os demais trocaram olhares entre si, sempre surpresos pela maneira como Alétheia, uma figura tão enigmática, tratava-os com tanto respeito. Era claro que a sereia e o Capitão tinham uma ligação especial, e, de certa forma, isso se refletia no tratamento dela com o restante da tripulação.
Shanks ofereceu o braço com aquele sorriso brincalhão de sempre, e Alétheia, em um gesto cheio de charme, o aceitou. Juntos, começaram a caminhar pelas ruas movimentadas da cidade, enquanto os outros seguiam para o bar ou buscavam outras formas de entretenimento pela ilha.
— Tortuga mudou muito nesses seis meses. — Alétheia começou, apontando com um leve gesto da mão para as ruas pavimentadas e os novos estabelecimentos que floresciam ao redor deles. — Desde que recuperei o controle do bar e reorganizei o comércio, a cidade começou a prosperar.
— Já percebi. — Shanks olhou ao redor, observando o contraste entre a confusão da parte antiga da cidade e a nova Tortuga que surgia. — Nunca pensei que veria essa ilha com um toque de elegância.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Elegância é um termo forte, ruivo. Mas estou transformando as coisas. Chega de piratas passando dos limites e descontrolando tudo. Agora, temos um equilíbrio... — Ela parou por um momento e lançou-lhe um olhar de lado. — Embora o caos ainda faça parte da essência de Tortuga.
— Caos é a alma da ilha. — Ele respondeu com um sorriso maroto. — É difícil imaginar Tortuga sem ele.
Enquanto caminhavam, Shanks fez algumas perguntas sobre os detalhes das mudanças. Ela contou sobre como lidou com Joshamee deixando de lado a ordem que deu aos outors, mesmo que ele já tivesse um ideia da forma com foi morto, afinal os gritos do comerciante e as súplicas foram ouvidas por um bom tempo, ela também contou como revitalizou os comércios e trouxe mercadores para a ilha, além de como usava sua própria influência para manter tudo funcionando.
— E você? — Ela perguntou, depois de um tempo. — O que tem feito nesses mares?
O ruivo deu de ombros, seu sorriso ainda no rosto.
— Nada muito diferente do usual. — Ele começou a contar algumas de suas aventuras, mencionando de forma breve como havia saqueado um forte da Marinha, se metido em um duelo com um almirante e escapado de uma armadilha preparada por alguns caçadores de recompensas.
As palavras dele eram medidas, como se as histórias fossem apenas a superfície de tudo o que realmente havia acontecido. Mas, para Alétheia, era o suficiente. Ela sabia que Shanks preferia manter o mistério em suas histórias, deixando sempre algo por trás do sorriso despreocupado.
Depois de um tempo, Shanks se afastou para ficar com sua tripulação. Alétheia observou enquanto ele trocava algumas palavras com Benn e Yasopp, discutindo o que seria a próxima parada ou apenas atualizando-os sobre os acontecimentos do dia. Ela sorriu ao ver como, apesar de ser o Capitão, Shanks nunca se colocava acima de sua tripulação, tratando-os como companheiros.
Quando a noite caiu sobre Tortuga, Alétheia e Shanks decidiram jantar juntos. Sentaram-se em uma das varandas que dava vista para o porto, onde o som das ondas batendo suavemente contra as docas se misturava com o murmúrio distante da festa que ainda se desenrolava na cidade.
A mesa estava repleta de frutas frescas, vinho e carnes, um banquete à altura de qualquer nobre, mas ambos pareciam mais interessados na companhia um do outro do que na comida.
— Sabe, sereia... — Shanks começou, levando a taça de vinho aos lábios e lançando-lhe aquele olhar divertido. — Eu me pergunto quantas vezes ainda vamos nos esbarrar nesses portos antes de você decidir se juntar a mim definitivamente.
Alétheia riu, revirando os olhos.
— E me transformar em uma pirata? Por favor. — Ela respondeu, sarcástica. — Já tenho meus próprios negócios para cuidar, Shanks.
— Claro, claro. — Ele inclinou-se para frente, um brilho provocador nos olhos. — Mas você tem que admitir que minha proposta é tentadora.
— Só na sua cabeça. — Ela sorriu, jogando o cabelo de lado, sem perder o tom de desafio.
A conversa continuou por um tempo, recheada de trocas de ironias e comentários afiados. Era como se ambos dançassem, cada palavra uma provocação velada, cada gesto cheio de significados que só eles compreendiam.
Finalmente, quando a noite estava avançada e o ar entre eles carregado por uma tensão latente, Shanks não resistiu mais. Ele observou-a por um longo momento, seus olhos percorrendo os traços delicados da mulher, a maneira como o brilho da lua refletia em seus cabelos, e sem mais hesitar, ele se inclinou sobre a mesa e a beijou.
Os olhos dela captaram o momento exato em que ele decidiu cruzar aquela linha tênue entre a provocação e a ação. O tempo pareceu desacelerar quando seus lábios se aproximaram, e ela sentiu o ar ao redor deles ficar mais denso, carregado de uma expectativa ardente que os envolvia.
O primeiro contato foi suave, quase uma provocação a mais, como se ele estivesse testando sua reação. Os lábios dele encontraram os dela com uma pressão leve, que logo foi aumentando conforme Alétheia, surpreendida e ao mesmo tempo rendida àquele momento, correspondeu. O gosto do vinho que haviam compartilhado ainda estava presente, misturando-se com o calor do beijo. Era um sabor embriagante que deixava tudo ao redor secundário, como se nada mais existisse além daquele instante entre os dois, onde ambos já haviam se recordavam perfeitamente do momento intenso que tiveram assim que o pirata pisou na ilha, meses atrás ainda sem saber o nome da sereia.
A mão de Shanks se moveu de forma ágil, pousando na nuca de Alétheia com firmeza, os dedos entrelaçando-se nos fios macios de seu cabelo. Ele a puxou para mais perto, intensificando o beijo com uma paixão que vinha sendo alimentada por meses de desejo reprimido. O toque dele era ao mesmo tempo possessivo e gentil, a combinação exata que a fazia estremecer. Cada movimento de seus lábios era calculado, alternando entre a suavidade de um toque cuidadoso e a intensidade de uma fome reprimida.
Alétheia, sem hesitar, levou as mãos ao peito dele, sentindo os músculos sob a camisa enquanto ela se inclinava ainda mais, quase subindo sobre a mesa para aproximá-los. Seus dedos deslizaram até os ombros largos do pirata, apertando-os com uma leveza que contrastava com o fervor do beijo, como se quisesse marcá-lo de alguma forma. Ela sentia o calor dele irradiar, seus corações batendo forte e em sintonia, enquanto o beijo se aprofundava.
Os lábios de Shanks agora se moviam com uma urgência crescente, explorando os dela de maneira mais intensa, enquanto sua língua deslizava, encontrando a dela em uma dança lenta e provocante. O ritmo entre eles oscilava entre o controle preciso e o desejo desenfreado. A respiração deles se entrelaçava, quente e irregular, ecoando no silêncio da noite que os cercava.
Alétheia arfou contra os lábios dele quando ele a puxou ainda mais para si, quebrando brevemente o beijo apenas para que ambos pudessem recuperar o fôlego por um instante. Mas antes que qualquer palavra pudesse ser dita, Shanks voltou a colar seus lábios aos dela, mais impetuoso desta vez, como se quisesse gravar aquele momento em sua memória e na dela.
O calor entre eles era palpável. O beijo se tornava uma expressão crua do que palavras nunca poderiam transmitir — a atração avassaladora que os unia, o jogo de poder que ambos adoravam manter, mas que naquele instante estava suspenso. Alétheia sentiu como se cada célula de seu corpo estivesse em chamas, os lábios de Shanks explorando os seus com uma habilidade inigualável.
Quando finalmente se afastaram, ambos ofegantes, a tensão ainda vibrava no ar ao redor deles. Shanks não tirou os olhos dela, seu sorriso provocador mais evidente do que nunca.
— Acho que agora você sabe que não é só a proposta que é tentadora. — Ele murmurou, a voz rouca pelo desejo ainda pulsante. Ainda com os rostos próximos, Shanks sorriu, aquela expressão despreocupada e sedutora de sempre.
Ela sorriu, os lábios inchados e a mente um tanto turva pela intensidade do momento.
— Esse restaurante não serve mais. — Ela ironizou. Sabia que aquele beijo havia sido apenas um começo, os dedos graciosos se ergueram e ele sorriu de maneira convencida.
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