10.Até breve, Sereia
Os ventos da mudança sopravam firmes sobre Tortuga, trazendo consigo um prenúncio de agitação iminente. As nuvens que se formavam no horizonte pareciam sussurrar que a ilha estava prestes a enfrentar uma nova turbulência, e entre esses murmúrios, havia a certeza de uma despedida próxima. O bando do Ruivo se preparava para partir, e junto com eles, uma história inacabada deixava marcas nas praias e nas memórias daqueles que permaneceriam.
Alétheia caminhava pela costa, seus pés descalços afundando levemente na areia úmida. Os últimos dias haviam sido um redemoinho de emoções e decisões, e enquanto sentia a brisa fresca em sua pele, ela sabia que seu tempo de calmaria estava chegando ao fim. O mar, sempre seu aliado, cantava uma melodia familiar, mas hoje parecia carregado de nostalgia e despedida.
Shanks, por sua vez, estava de pé no convés de seu navio, observando a ilha. Seus olhos, normalmente cheios de despreocupação e alegria, agora carregavam uma seriedade incomum. Benn e o resto da tripulação se movimentavam preparando os últimos detalhes antes da partida, mas a mente do capitão estava em outro lugar, ou melhor, em outra pessoa.
O ruivo se permitiu um último gole da garrafa que segurava, observando o horizonte, mas não era a vastidão do oceano que o prendia. Seus pensamentos estavam focados naquela mulher única, misteriosa e poderosa, que lhe despertara algo que nem ele conseguia nomear. Alétheia Swan, a sereia que o encantara de maneiras que ele nunca esperava.
— Parece que você está com a cabeça longe, capitão. — A voz de Benn interrompeu seus devaneios.
— Talvez esteja. — Shanks respondeu com um leve sorriso, mas seus olhos ainda fixos na direção da costa. — Pensei que essas coisas não me pegassem mais.
— Algumas coisas a gente não escapa, nem você, Shanks. — Benn deu uma risada baixa antes de se afastar, deixando o capitão sozinho com seus pensamentos.
Alétheia avistou o navio ao longe, as velas grandes e imponentes já erguidas, prontas para zarpar a qualquer momento. Ela sabia que o bando do Ruivo estava prestes a partir, e por mais que soubesse que deveria estar aliviada, um peso inexplicável aninhava-se em seu peito. Era um conflito interno que ela tentava, mas não conseguia ignorar. Havia algo em Shanks, algo que desafiava sua lógica fria e calculista, algo que a fazia questionar o que realmente sentia.
Como se o destino conspirasse para aquela despedida, os olhos de Shanks e Alétheia se encontraram de longe, enquanto ela permanecia na areia e ele no convés de seu navio. Um sorriso tímido e contido se formou nos lábios da sereia, enquanto ela erguia a mão em um gesto de adeus silencioso.
Shanks, com seu sorriso despreocupado e caloroso, retribuiu o gesto, mas algo dentro dele sabia que essa despedida não era definitiva. Ele respirou fundo, guardando cada detalhe daquela figura imponente e graciosa que tanto o fascinava.
— Até breve, sereia. — Murmurou para si mesmo, antes de dar a ordem. — Levantar âncora, vamos zarpar.
As velas se abriram ao vento, e o navio começou a se mover lentamente, afastando-se da ilha. Alétheia observou até que o navio sumisse no horizonte, deixando apenas o som das ondas e o vazio que, por um breve momento, parecia maior que o próprio oceano.
O tempo em Tortuga continuaria a fluir, mas ela sabia que essa história estava longe de acabar. Mesmo à distância, o mar sempre encontraria uma maneira de unir aqueles que têm destinos entrelaçados.
E assim, sob as estrelas que começavam a surgir no céu, a sereia ficou, esperando o que os ventos da mudança trariam a seguir.
[...]
O den den muchi tocava alto na sala, e ela sempre atendia. A voz rouca no fundo e o som dos tripulantes eram a certeza de que aquele na linha era o "seu" pirata.
— Pelo jeito, não se aguentou de saudade, não é mesmo, Sereia? — O ruivo ironizou, levando-a a rir.
— Não sou eu quem vive ligando, ruivo. — Ela rebateu e ele sabia que estava sorrindo, simplesmente pelo modo como falava.
A risada suave de Alétheia ecoou pela sala, misturada ao som distante das ondas que quebravam na praia. O Den Den Mushi ainda vibrava em suas mãos, enquanto do outro lado da linha, a voz rouca de Shanks preenchia o ar com sua provocação.
— Ah, você sabe que não resisto... — a voz de Shanks parecia mais baixa, talvez pela distância, mas carregava o mesmo tom despreocupado que a encantava. — Afinal, quem resistiria à uma sereia tão encantadora?
— Estou começando a achar que você tem tempo de sobra para essas conversas. — Alétheia brincou, sentindo o calor familiar da presença dele, mesmo que à distância.
— Pode ser, mas só para quem merece, Sereia. — ele respondeu com aquele riso abafado que sempre a fazia revirar os olhos, embora por dentro, ela se sentisse aquecida.
— Então, o que te traz até aqui, capitão? Ou melhor, o que te faz ligar? — A pergunta dela era leve, mas Shanks percebeu o tom de curiosidade.
— Apenas para me certificar de que está bem. — ele fez uma pausa, o som dos tripulantes ao fundo diminuindo conforme ele se afastava do convés. — E, talvez, para ouvir sua voz de novo.
Alétheia hesitou por um segundo, os dedos brincando distraidamente com o cordão da concha em seu pescoço. Por mais que tentasse manter a postura firme e fria, a verdade é que a presença dele lhe trazia conforto.
— Eu estou bem. — ela respondeu finalmente, deixando a suavidade transparecer. — E você?
— Vivo, como sempre. — ele brincou, mas havia um toque de seriedade em sua voz. — E de volta ao mar. Mas... não consigo deixar de pensar na sereia que deixei para trás.
Ela sorriu, dessa vez sem se conter, escondendo de si mesma as suaves batidas e a sensação aquecida na face pelas palavras dele. — Ah, Ruivo, você nunca deixa de ser dramático.
— Dramático? Talvez... mas estou falando sério. — Shanks disse, sua voz mais suave do que o usual. — Até breve, minha Sereia.
— Até breve, Capitão. — ela respondeu, com o mesmo sorriso nos lábios enquanto o Den Den Mushi ficava em silêncio.
Os meses se passaram rápido, a mudança em Tortuga se iniciou conforme a sereia agia por baixo dos panos. Instintivamente, a Swan manipulou certas situações para que ninguém mais se tornasse uma pérola maculada.
A casa Swan aos poucos foi reaberta, um local onde os vinhos enchiam as adegas e os navios de carga viviam aos portos. Tortuga sempre teve uma variedade enorme de especiarias, bebidas e azeite, porém, quando se tornou uma baía pirata, esse mesmo comércio ficou apagado, somente sobressaindo o mesmo vício diário, onde álcool, sexo e outros assuntos de cunho escuso ficavam em alta, trazendo assim tanta gente de péssima fama para a ilha que acabava a difamando. O bar de Joshamee era um dos maiores e claro, pertencia à família Swan assim como todos os estoques dele, porém, como Alétheia estava sob controle do taberneiro, nada era tão simples.
Agora que tinha todo o controle de sua herança maldita, pelo menos faria um bom uso. Tortuga permanecia sendo a baía pira imponente que parecia viver em festa, porém estava, além disso, a reabertura da maior fonte de riqueza líquida e alcoólica da ilha fez com que o dinheiro adentrasse cada vez mais e claro, com eles os perigos vinham também.
E nada que a Swan não pudesse lidar, ou utilizar o nome de um certo ruivo para acercar o local de proteção, afinal, ninguém em sã consciência mexe no território de um Yonkou...
Todos os dias à noite, a sereia nadava no mesmo lugar, como se fosse um segredo só seu, ela sempre encarava o céu e depois batia a calda com mais força simplesmente para rever o brilho bonito das próprias escamas, ela sempre pensava no pirata que mexia consigo. Fosse pelas ligações, agora bem mais escassas, ou tudo o que viveram em tão pouco tempo.
No fundo, não via a hora de revê-lo, principalmente para saber de suas novas aventuras e contar sobre cada uma de suas empreitadas.
Tortuga, com toda sua grandeza e caos, não poderia preencher o vazio que aparentemente ela havia reconhecido que o ruivo deixava em seu coração. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que, quando ele voltasse, a ilha estaria preparada para o que viesse — e ela estaria pronta para recebê-lo.
Olha a reta final da shortfic chegando...
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