V

A última coisa que eu queria quando tirei férias era ter problemas, mas eles parecem me seguir onde quer que eu vá.

Não me iludi, nem por um segundo sequer, achando que passaria os próximos trinta dias sem trabalhar. Isso é simplesmente impossível quando se trabalha com Tatiana Fonseca. Minha certeza é reforçada quando, agora, em pleno sábado, às cinco da tarde, sentado na sala da casa da parte da minha família que não vejo há mais de meia década, preciso pedir licença para minha tia para atender o telefone porque é a quarta ligação dela que recuso e a mulher parece decidida a não desistir.

Afasto-me do cômodo e atendo à ligação.

— Você realmente não consegue ficar sem mim — digo com um sorriso no rosto. — O que seu marido vai achar disso?

Ela solta uma risada do outro lado da linha.

César está a ponto de pegar um avião e ir atrás de você, agradeça por eu estar te ligando.

Franzo o cenho, recostando na parede. A viciada em trabalho, desesperada por resultados e incapaz de respeitar o horário comercial costuma ser ela. César, apesar de ser o vice-presidente do grupo e estar em uma posição hierarquicamente superior, normalmente só segue às vontades da esposa. Entro em um estado novo de alerta ao ouvir que ele também está agitado. Isso não é rotineiro.

— O que aconteceu? — pergunto, já preparado para alguma catástrofe.

Quando você ia me contar sobre a empresa da sua família?

Fecho os olhos, apertando o osso entre eles. Demorou. Demorou até mais do que eu esperei que fosse, considerando a incapacidade dessa mulher de deixar qualquer informação fora do alcance dos seus olhos. Meu silêncio não é resposta o suficiente para ela, que insiste.

Calebe?

— Não ia — decreto simplesmente.

Tatiana solta uma risada irritada do outro lado da linha.

Você é um dos donos de uma das maiores agropecuárias do Brasil e não achou relevante colocar isso no seu maldito currículo?

— Existe um motivo para eu trabalhar para a Locus por um salário merda e não na empresa da minha própria família, Tatiana — respondo entredentes.

É o suficiente para que ela fique em silêncio.

Nós somos amigos; eu e o marido dela principalmente, há um bom tempo. Conheci Tatiana cerca de três anos atrás, quando a empresa em que eu trabalhava tentou contratá-la e, ao invés disso, acabou sendo fundida à Locus. De um dia para o outro, passei a trabalhar com ela e não demorou para que encontrássemos nosso ritmo perfeito. Funcionamos muito bem como um time e nos tornamos muito amigos. Apesar disso, dentro do ambiente profissional, a postura sempre foi mantida.

Não é como amiga que ela está me ligando, é como a puta investidora financeira que ela é, que fareja a chance de fazer dinheiro a quilômetros de distância. E é como o puta analista de risco que sou que respondo:

— Você não quer o nome da Locus associado à empresa da minha família. Eu não quero nem o meu nome associado a eles, Tatiana.

Posso quase ouvir suas engrenagens funcionando do outro lado da linha. A única forma que é possível trabalharmos juntos é com uma confiança total e exclusiva. Cada vez que Tatiana aparece, com seu olhar afiado, e me entrega um projeto megalomaníaco de investimento, eu dito os dados, forneço os números, analiso os riscos.

E isso significa muito mais do que garantir o retorno financeiro: nesse caso, investir na empresa da minha família como ela parece querer vai render dinheiro, muito dinheiro. É provavelmente o número adicional que nós dois precisamos para não só bater a meta anual, como ultrapassá-la com folga e garantir uma gorda bonificação no fim do ano. Mas, nesse caso, o perigo de estar associado ao nome Bauer ultrapassa qualquer ganho financeiro.

O quanto você pode me contar? ela pergunta do outro lado da linha. Abro um sorriso de lado pela forma como ela fez a pergunta. Outra pessoa talvez batesse pé e insistisse por toda informação possível. Mas ela é esperta. Se eu não falei nada até agora, é porque é melhor que ela não saiba.

Gostaria eu de não saber das merdas que sei.

— A única coisa que você precisa saber foi que faz tempo que abri mão da minha posição na empresa e não recebo um centavo do que quer que eles ganhem. Não tenho qualquer relação com aquele lugar e não pretendo voltar a ter.

Certo.

Ela suspira e eu espero, fornecendo os segundos que sei que Tatiana precisa para aceitar que não conseguir o que quer dessa vez. Acontece muito raramente. Na maioria das vezes, consegue dobrar todo mundo às suas vontades, mas dessa vez isso não pode acontecer.

Agora... Sorrio quando sinto o tom da sua voz mudar para o seu costumeiro e me permito relaxar — Que história é essa de "salário merda"? Você está sendo muito bem pago!

Solto uma risada, balançando a cabeça.

— Eu só quero saber quando é que você vai me liberar para terminar meu MBA, isso sim.

Vou pensar no seu caso, bonitão. Aproveita sua viagem e não esquece de checar seu e-mail.

Encerro a ligação, quase imediatamente recebendo a notificação do e-mail vindo dela. "Não vai atrapalhar suas férias, Calebe", ela disse. "Você já vai estar por lá, não custa nada dar uma olhada nas indústrias portuárias, Calebe. É só uma análise de mercado rápida, não vai durar mais que alguns dias". Coitado do iludido que acredita nisso. Eu realmente preciso de um aumento.

Quando volto para a sala, pronto para me desculpar com a minha tia pelo sumiço, vejo Breno. Parado no meio da sala com uma mala de mão, meu primo ainda veste o casaco pesado apropriado para o dia de hoje, estranhamente frio para essa época do ano. Quando me vê, o sorriso que abre faz com que eu fique completamente dividido. Não sei como me sentir, depois de tanto tempo.

— Irmão — diz, deixando de lado a mala e vindo até mim, prendendo-me em um abraço. Demoro um instante para retribuir, mas, por fim, o abraço de volta.

Faz quatro anos desde a última vez que o vi, que falei com ele. Não porque a vida é corrida ou algo que o valha, não. Tivemos uma briga feia, muito feia. Antes disso, sempre fomos muito amigos, apesar da diferença de idade de quase dez anos. Sinto falta dele, da família que sempre foi para mim. Contudo, até onde sei, os motivos que causaram nosso afastamento ainda não podem ser completamente esquecidos.

Quase não vim. Na verdade, eu não queria vir. Minha mãe praticamente me obrigou. Dona Marta fez um discurso bem ameaçador sobre o que aconteceria comigo caso perdesse o casamento do meu primo. A cerimônia não vai acontecer até o início de novembro, mas Tatiana achou a situação propícia para me empurrar as férias que não tiro há três anos. "Férias". Então vim para o jantar de noivado, que acontece hoje.

Tudo que eu queria era ter ficado em Rio Grande. Foi uma manhã muito agitada e minha mente continua insistindo em voltar para a dona dos lábios grossos que acordou perdida na minha cama hoje, mesmo que não tenha passado mais do que meia hora com sua versão sóbria e afrontosa. Quero saber como foi sua apresentação. Se deu tudo certo. Se conseguiu a tal bolsa.

Eu poderia perguntar, é verdade, mas imagino que ultrapassaria o limite do aceitável ligar para Jéssica para perguntar sobre a amiga dela depois da manhã que tivemos juntos. Até eu tenho limites.

— Vem, vamos para o escritório — Breno diz, andando na frente.

— Depois nós terminamos o café, tia — digo e ela dispensa meu comentário com a mão.

— Teremos bastante tempo para isso, querido.

Sigo Breno e rapidamente me acomodo na confortável poltrona de frente para a mesa de madeira escura do cômodo que ele mantém na casa. A grande estante que cobre a parede está cheia de ponta a ponta, e muitos dos livros que estão aqui são meus. Alguns ainda intactos e faço uma nota de mental de carregar alguns exemplares comigo. Ele vai até a janela e abre a cortina, deixando a luz do dia entrar, ainda que fraca pelas nuvens que cobrem o céu. A vista do jardim da parte de trás da casa e da piscina enche minha visão com saudosismo.

Volto minha atenção a ele quando vejo um copo ser entregue a mim.

— Não acreditei quando minha tia disse que você vinha - aponta, sentando-se na outra poltrona, depois de arrastá-la até estar de frente para mim.

— Eu costumo manter minha palavra, Breno — aponto, e minha voz sai mais ríspida do que planejava. Tomo um gole do uísque forte demais para o meu gosto, mas não reclamo.

Ele suspira e recosta, concordando com a cabeça.

— Calebe, sobre o que aconteceu naquele dia... Eu fiz o que te prometi que faria.

— Eu sei que fez. Não estaria aqui se não soubesse. Mas não fale como se não fosse mais do que a sua obrigação. Não vou te parabenizar por fazer o mínimo para ser um ser humano descente.

Breno balança a cabeça em positivo, erguendo um copo na minha direção.

— Você sempre foi um homem melhor do que eu.

Tomo outro gole da bebida para não apontar o óbvio de que não é preciso muito esforço para isso. Minha percepção sobre ele é confusa demais. Não consigo desapegar do homem com quem cresci, que me incentivou, que foi meu melhor amigo durante minha adolescência, que me ensinou muito do que sei. Ele existe, e está aqui na minha frente. Meu primo, meu sangue. Mas não consigo ignorar tudo que descobri a seu respeito há alguns anos. Não sei até onde posso confiar nele, na sua palavra. Não sei até onde posso confiar no meu julgamento sobre isso, então me afastei. Afastei-me e passei a não ter nada a ver com ele, com a empresa, com esse lugar.

Mas vir aqui, para o seu casamento, celebrar sua felicidade, é como decretar paz. Só não tenho muita certeza sobre como conciliar minha falta de confiança com o laço forte que nós sempre tivemos. Quero dar um voto de confiança cego, estou tentado a fazê-lo.

— Por que você não vem comigo na segunda? — oferece. — É sua empresa também.

Nego com a cabeça. Não, não é.

— Não vim aqui para falar de trabalho — determino. — Vim para o seu jantar de noivado. Quando vou conhecer sua futura esposa, que nem o nome eu sei?

O sorriso que ele abre é genuíno e me dá a esperança verdadeira de que ele se tornou uma pessoa melhor.

— Logo. Ela não deve demorar a chegar. Mas me explica de novo por que você está ficando em um hotel e não aqui?

Dou de ombros.

— Minha empresa está pagando e, de qualquer forma, não posso ficar em Canoas. Estou de férias, mas não estou de férias. Sabe como é.

Ele concorda com a cabeça e olha o relógio no seu pulso, franzindo o cenho.

— Na verdade, logo, logo os convidados todos vão estar aqui, então sugiro que você vá para o seu quarto e se arrume.

Olho para mim mesmo, para o jeans escuro que visto, o suéter preto por cima da camisa polo.

— Não estou engomadinho o suficiente para o evento? — pergunto, abrindo um sorriso ao repetir a implicância que sempre dirigida a mim quando era mais novo.

— Você está engomadinho demais — responde com um arquear de sobrancelhas.

Solto uma risada e ele me acompanha.

— Senti sua falta, moleque.

Concordo com a cabeça. Não sei como me sinto sobre isso, mas também senti falta dele.

Depois de um merecido e longo banho quente que ajudou a relaxar meu corpo depois das mais de três horas dirigindo até aqui, encaro meu reflexo no espelho. A primeira coisa que fiz quando cheguei a Rio Grande foi alugar um carro, porque sei bem que vou ficar dirigindo para cima e para baixo. Toquei a calça jeans por uma social, o suéter por blazer e decido que estou arrumado o suficiente para o evento.

Confiro a hora e estou pronto para descer quando meu celular toca novamente no bolso. Faço uma nota mental para colocar em modo avião pelo resto da noite enquanto levo o aparelho ao ouvido sem conferir quem está ligando, certo de que é a Tatiana de novo.

— Já está com saudades? — implico, indo em direção à porta, mas paro com a mão na maçaneta quando ouço a risada do outro lado.

Na verdade, estou com saudades há muito tempo, mas você tem ignorado minhas ligações há mais de um mês.

Fico em silêncio por tempo o suficiente para que ela chame meu nome novamente, com sua voz baixa e doce, que conheço muito bem.

— Não tenho nada para falar com você, Camila — respondo. — Acho que a essa altura isso já devia estar mais do que claro.

A mulher dos belos olhos castanhos, cabelos acobreados e pernas enlouquecedoras tem sido parte da minha vida pelos últimos três anos na forma de um relacionamento que sequer pode ser chamado assim. Perdi a conta de quantas vezes a pedi em namoro, quantas vezes tentei tornar mais sérias as coisas entre nós dois. Ela nunca aceitou e sempre respeitei sua decisão. Se era só algumas saídas casuais que ela queria, então assim seria.

O problema foi que, ao longo dos anos, houve momentos em que, de fato, consegui me distanciar dela, consegui me afastar dessa relação que claramente me fazia mal. Sair com outras pessoas. Cuidar da minha vida. Viver em um mundo em que eu não ia correndo cada vez que Camila estalava os dedos. E era sempre a mesma coisa. Duas semanas sem me arrastar atrás dela e a mulher vinha atrás de mim, com sua voz doce, dizendo sentir minha falta.

E eu ia.

Trouxa.

Idiota.

Até a última vez, em que bati pé e disse estar cansado disso. Em que pedi para que não me procurasse mais e ela disse que queria tentar. Tentar de verdade. Entre lágrimas e sussurros de que tinha medo, vai saber Deus do que, mas não queria me perder. Então, começamos a namorar, e foi provavelmente a pior decisão da minha vida. Todo mundo me previu o resultado, menos eu. Juliana, uma das minhas melhores amigas há uns bons cinco anos, só faltou acertar um tapa na minha cara quando contei para ela. Juju nunca gostou ou confiou em Camila, e eu devia tê-la escutado.

Durou quatro dias. Um total de noventa e seis horas inteiras antes de eu aparecer no apartamento dela de surpresa e ver coisas que preferia não ter visto.

Foi o suficiente para acabar de vez. Até eu tenho limites, para tudo.

Não acredito que você vai jogar três anos fora assim, amor.

Esfrego o rosto, sentando-me no chão atrás da porta, a cabeça apoiada na madeira. Fecho os olhos e suspiro, deixando um sorriso meio patético crescer no rosto. Não dá nem para dizer que a cara de pau de me ligar e achar que existe qualquer chance desse teatro me convencer é infundada. Funcionou muitas vezes antes.

— Você me traiu, Camila.

Minha voz sai mais embargada do que eu pretendia e nem sei bem o motivo. Já faz mais de um mês. Não é como se meu coração estivesse partido e eu não conseguisse tirá-la da minha cabeça; eu consigo. Tanto consigo que passei as últimas semanas muito bem sem ela. Conheci outras pessoas. Voltei a surfar com frequência. Voltei a ver meus amigos. Até outro pé na bunda eu levei.

Eu cometi um erro, Calebe. Me perdoa. Vamos conversar, por favor.

Balanço a cabeça em negativa, mesmo que ela não possa ver. Não. Chega.

— Boa noite.

Desligo o telefone no meio do seu protesto choroso e levo alguns minutos para me levantar. Quando o faço, desligo o celular. Chega de dor de cabeça por hoje. Desço as escadas e me deparo com a sala já cheia, então tomo outro minuto para me acostumar com a multidão antes de colocar um sorriso no rosto e enfrentá-la. Procuro e rapidamente encontro Breno no meio do cômodo. Abraçada a ele, vejo uma mulher pendurada nele, longos cabelos negros caindo por suas costas. Quando ela vira na minha direção, o reconhecimento me atinge no mesmo instante em que vejo seus olhos arregalarem.

Mas era só o que me faltava.

— Rebecca.

Tentei me concentrar no jantar. A comida estava maravilhosa, Breno claramente não economizou em nada. Durante seu discurso apaixonado, com Jéssica pendurada no meu ombro, não consegui tirar os olhos dela.

Eu estou muito irritado.

Ontem, no bar, quando Jéssica se aproximou com a amiga a tiracolo, não posso negar que meus olhos voaram para ela e não saíram mais. Rebecca ficou uma gracinha bêbada. Tive um pequeno vislumbre de como ela é normalmente quando acordou na minha cama, a ferocidade no olhar, o abuso na voz. E cada empinada de queixo que ela me deu, cada olhar desejoso que dirigiu ao meu corpo, me fez querer jogá-la na cama.

Não posso dizer que me arrependi de ter terminado na cama com Jéssica. Longe disso. Ela é divertida, engraçada. Tivemos uma ótima conversa durante o café da manhã, antes de terminarmos embolados nos lençóis - e o sexo foi maravilhoso.

Mas tem alguma coisa... Alguma coisa naqueles olhos sabichões, lábios grossos e no fato de ela simplesmente parecer me afrontar mesmo eu não tendo feito absolutamente nada que me faz querê-la. Senti-me um belo de um filho da puta desejando a amiga errada, mas não pude evitar.

Estou me sentindo um filho da puta maior ainda agora, porque quando descobri que ela é a tal noiva de Breno... Tudo que consegui pensar foi em Camila.

É verdade, Rebecca não foi para a cama comigo, não deu em cima de mim, não tentou nada. Mas ela não me parou. Não me parou quando me aproximei. Não me parou quando cheguei perto o suficiente para tocar seu pescoço. Não me parou quando flertei descaradamente, quando envolvi sua cintura. Ela não me parou, e adoro que ela não tenha me parado. Não sei se estou mais irritado com ela ou comigo mesmo.

Largo o computador de lado na cama e resolvo tomar outro banho para tentar tirar isso tudo da cabeça. Tirar a imagem dela da cabeça. Saio do quarto, sigo em direção ao banheiro principal do segundo andar e vejo a porta trancada. Estou a ponto de virar para descer as escadas quando a porta se abre e sinto um corpo quente trombando contra o meu.

Dessa vez, sou eu quem me afasto no segundo em que sinto seu corpo colado ao meu. Limito-me a acenar sem olhar duas vezes para ela e estou quase fechando a porta quando ouço sua voz.

— O que eu te fiz?

Paro e a encaro, abrindo novamente a porta. Apoio-me na parede, cruzo os braços e espero, cerrando o maxilar quando seus olhos rapidamente percorrem meu corpo novamente. Ah, puta que pariu. Por que eu gosto disso? Por que sinto meu corpo reagir tão prontamente? Não devia.

— Essa cara aí mesmo. Desde que me viu aqui está me olhando como se eu tivesse cuspido na sua comida. O que eu te fiz?

Solto uma risada baixa, meio desesperada, mentalmente implorando para ela só sair de perto de mim. Mas Rebecca coloca a mão na cintura e empina o queixo. Afrontosa. Inferno.

— E como você quer que eu te trate, Rebecca? - pergunto. — Quer que eu fique excitado por você estar me olhando do mesmo jeito que me olhou hoje de manhã quando acordou na minha cama?

Porque eu estou.

Ela me interrompe, negando, mentindo descaradamente, e eu ignoro.

— Quer que eu te diga o que pensei quando te vi naquele bar ontem? Ou quer que eu te dê cada detalhe do que passou na minha cabeça hoje de manhã quando te vi dentro da minha camisa, na minha cama?

Não foi pouca coisa. Não foi mesmo. A visão dela meio descabelada, mal coberta pela minha camisa, puta da vida comigo por motivo nenhum fez com que a cena ficasse ridiculamente sedutora. Vejo seus olhos arregalados, os lábios partidos e o leve empinar de queixo. Ela percorre a língua pelo lábio inferior e engulo em seco.

— Quer que eu jogue piada e flerte com você de novo depois de descobrir que você é noiva do meu primo?

Devia virar as costas, entrar no banheiro, trancar a porta e só sair quando tivesse certeza que ela está no quarto dela, com o noivo dela. Ao invés disso, saio do lugar e alcanço-a, levando a boca ao seu ouvido, dizendo a mim mesmo que não tem nada a ver com o fato de eu estar desesperado para tocá-la. Ela dá um passo para trás e eu enlaço sua cintura, puxando-a para mim.

Ignoro a forma como seus seios pressionam contra meu tronco, quentes através do tecido fino da camisola que usa.

— Eu não vou — digo, não sei se para ela ou se para tentar me convencer. — Se você não respeita seu noivo, eu respeito meu primo por nós dois. Então é exatamente assim que vou te tratar. Como se você tivesse cuspido na minha comida.

Começo a implorar mentalmente para que diga o belo do hipócrita que estou sendo por estar dizendo isso enquanto a agarro no meio do corredor, e Rebecca parece ouvir minhas preces: ela dá um tapa na minha mão e se solta. Antes mesmo de ver seus olhos marejados sei que fui um completo babaca. Melhor assim. Quanto mais longe de mim ela ficar, melhor.

Porque estou olhando para esse par de olhos verdes, mas tudo que vejo são os castanhos de Camila.

Enquanto assisto-a andar pelo corredor, a barra da camisola revelando mais do que devia, menos do que eu gostaria de ver, ranjo os dentes. Não para ela, mas para mim mesmo.

Porque estou olhando para ela e odiando cada segundo da falta de controle que parece ter se apossado do meu corpo, quando eu nunca fui assim. Quando nunca me deixei ser afetado fisicamente dessa forma. Quando sempre fui o primeiro a dizer que não acredito nessa história de "não pude evitar", de "foi mais forte do que eu". Sempre dá para evitar. Sempre dá para saber qual a coisa certa a se fazer.

Não sei se Breno merece minha lealdade cega depois de tudo que aconteceu, mas ainda assim ela está aqui. Não por ele, mas pela integridade do meu próprio caráter.

Então a única coisa que eu quero é entender por que logo ela despertou esse desejo todo em mim. Entender o motivo e acabar com ele, porque se existe uma mulher no mundo em quem eu nunca poderei tocar, é Rebecca.

CANAVIAL DE PROBLEMAS, MORES

Gosto assim, não nego.

Depositem aqui seus pensamentos. Alimentem minha curiosidade!

O link para todas as redes sociais está na bio do meu perfil, incluindo o link do grupo do Whatsapp.

Não esqueçam de votar, comentar bastante e indicar pras amigas!

Amo vocês

Até breve <3

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top