capítulo vinte e sete

kessie

— Mais alguém sentiu como se houvesse uma ervilha debaixo do colchão a noite inteira o impedindo de dormir?

Meu irmão gêmeo, Henry, deixou uma gargalhada ácida escapar de seus lábios ao se sentar ao meu lado.

— Se com ervilha você quer dizer uma guerra iminente com a única outra máfia do país que nos supera e possui um líder psicopata, então, sim, tinha uma grande ervilha debaixo do meu colchão.

Na noite do dia seguinte, quando nos reunimos na sala de reuniões, estávamos todos acabados. Podíamos até não deixar transparecer, mantendo a postura ereta e elegante, e as feições impecáveis, mas aquelas olheiras profundas sob nossos olhos cansados não enganava ninguém. Suspeitava que, assim como eu, meus irmãos e a nossa chefe de segurança, Celine, passaram a noite em claro, revivendo todos aqueles últimos acontecimentos. O ataque à festa de noivado, os segredos revelados a uma antiga amiga, a partida de Dimitri para Paris...

Nós três passamos praticamente o dia inteiro em reunião com Dimitri, através de vídeo chamada, discutindo nossos próximos passos. Por mais que seria melhor se Dimitri estivesse conosco, eu entendia porque ele teve que partir. Ele estava planejando um evento em Paris fazia bastante tempo, e era responsabilidade dele garantir que tudo ocorresse em segurança. Mesmo que a França estivesse bem longe dos limites territoriais do Comerciante de Almas, todo cuidado era pouco. Sem contar que alguém precisava avisar pessoalmente à minha mãe — madrasta de Dimitri — sobre tudo que estava acontecendo. Era ela quem cuidava dos negócios na Europa, e se uma guerra fosse acontecer novamente, precisava se preparar.

Então, naquela noite, nos reunimos com outros integrantes da máfia para discutir os recentes acontecimentos. Eu e Henry, sentados na cabeceira da mesa e ao lado, respectivamente, e Celine, encostada na parede de braços cruzados — como de costume —, observamos quando eles entraram, um por um. Todos aqueles rostos... Fiz questão de analisar cada um deles. Eram os rostos do nosso pessoal, que contavam conosco e eram leais a nós. Eu sabia que eles morreriam por nós tanto quanto nós morreríamos por ele, mas preferia bem mais que ninguém precisasse morrer.

— Então... — comecei, pigarreando. — Vocês devem ter ficado sabendo sobre o que aconteceu.

— Aquele filho da puta atacou a festa de noivado do irmão mais velho de vocês. — disse uma mulher, uma jovem ruiva com fogo nos olhos. Os outros concordaram, fazendo questão de xingar o responsável por tudo aquilo.

— Nós prometemos a vocês que teremos a cabeça do Comerciante de Almas numa bandeja um dia. — rosnou Henry, sua voz tão feroz que eu quase não a reconheci.

— Mas agora... — o interrompi, lançando-o um olhar que dizia o que foi isso?, mas meu gêmeo apenas me ignorou, sério. — O Comerciante de Almas voltou, isso é um fato. E ele provavelmente quer terminar o que começou sete anos atrás. Ele está atrás da nossa máfia. — fiz uma pausa para que todos pudessem assimilar o que eu dizia. Então, prossegui, tentando soar o mais amistosa quanto possível. — Alguns de vocês estavam aqui naquela época. Alguns não. Mas quando a guerra começou, Dimitri os fez uma pergunta; pergunta esta que eu lhes farei de novo, agora que o caos está recomeçando. — respirei fundo, olhando nos olhos de cada um deles. — Se quiserem deixar a máfia, agora é o momento. Independente se ficarem ou não, nós prometemos proteção a vocês e suas famílias. Mas a escolha é de vocês.

Um silêncio se estabeleceu no cômodo, todos pareciam ponderar sobre aquela decisão. Lancei um olhar preocupado a Celine, mas ela respondeu com um aceno de cabeça reconfortante, como se dissesse não se preocupe.

— Eu morreria pelos Tarasova sem pensar duas vezes. — disse um dos homens, de repente, ao se por de pé. — Uma vez, Dimitri quase foi baleado para salvar meu filho. Essa máfia não é só uma organização criminosa, é uma família. E eu sempre darei minha lealdade completa aos Tarasova com muita honra.

Mal tive tempo para me emocionar com aquelas palavras, pois o homem careca que sugeriu invadir o Porto de Miami em outra reunião também se levantou.

— Estou nessa máfia desde a liderança de Andreas. Admito que muitas coisas mudaram desde a sua morte, mas a honradez e a lealdade conosco permanece íntegra. — disse ele. — Já sou mais velho, mas não anseio nenhuma outra forma de morrer se não for lutando pelos Tarasova.

— Ninguém precisa morrer. — eu garanti. — Nós lutaremos lado a lado, um pelo outro. 

— Dimitri pagou pela minha faculdade e de todos os meus irmãos, e comprou uma casa para os meus pais, sem nunca pedir nada em troca. — afirmou a ruiva. — Eu nunca lutei, mas estou disposta a começar. Principalmente se for para derramar o sangue daquele canalha.

Henry sorriu para a ruiva e eu quase me virei para perguntá-lo se os dois não preferiam arranjar um quarto.

Assim, todas as outras pessoas na reunião começaram a se levantar, declarando sua lealdade a nós. Aquela era a espécie de situação que assustaria Dimitri, ele sempre sentiu um grande peso nas costas por ter tantas pessoas que confiavam e dependiam dele. Dimitri morreria por eles sem pensar, eu sabia disso. E, naquele momento, eu entendi. Uma sala cheia de pessoas estava disposta a morrer por nós, e tudo que eu queria era que todos sobrevivessem. Que ninguém precisasse dar sua vida. A máfia dependia daquelas pessoas mais do que de nós, e, ainda assim, era difícil assimilar o grande papel que tínhamos de liderança.

Henry começou a dar ordens sobre o que deveria ser feito em seguida. Eu não escutava, estava distraída pensando em como eu gostaria que houvesse alguma forma de evitar o banho de sangue. Tão distraída que quase não percebi quando Celine silenciosamente saiu do seu posto e caminhou até mim.

— Aquele homem que deixamos escapar quando fomos procurar Meyer acabou de chegar num ponto de tráfico secreto do Comerciante de Almas. Ele veio receber um caminhão vindo da costa leste. — sussurrou ela em meu ouvido.

— Aqui? — arregalei os olhos, surpresa. — Em São Francisco?

— Suponho que ele tenha se infiltrado em todos os cantos do país ao longo dos anos. Assim ficaria mais fácil quando... Quando chegasse a hora de nos atacar novamente chegasse.

Assenti.

— O que eles estão traficando? — perguntei, e tive que me esforçar para manter as feições impassíveis quando o olhar furioso de Celine me deu a resposta. Pessoas, pensei, a raiva fazendo meu sangue ferver. Se interferíssemos, o Comerciante de Almas saberia que estávamos o seguindo. Ele mudaria o ponto de tráfico e perderíamos a vantagem. Mas... Não podia. Simplesmente não podia ficar parada sabendo o que estava acontecendo lá. — Prepare as coisas. — falei para Celine. — Eu e você saímos em dez minutos.

Avisei meu gêmeo para ele dar continuidade à reunião no tempo que eu e Celine agiríamos. Também mandei uma mensagem para Dimitri, somente para informá-lo, pois sabia que ele concordaria com a minha decisão se estivesse ali.

Não havia tempo para trocar de roupa. Mas eu duvidava que houvesse algo que eu não conseguisse fazer, mesmo estando de saia e saltos. Celine, por outro lado, parecia estar sempre pronta para uma batalha, toda vestida de preto com couro, com luvas que possuíssem buracos para seus dedos ficarem à mostra, e um cinto com compartimento para armas. Nós duas passamos rapidamente na sala das armas para nos equiparmos da cabeça aos pés. Aquele entre nossos homens que estivera seguindo o capanga do Comerciante de Almas avisara que havia dez pessoas no ponto de tráfico, e, por isso, levamos três homens de reforço. Para sermos discretos, não poderíamos levar mais do que o suficiente para caber num só carro, ou perderíamos o elemento surpresa.

Assim que chegamos, saltei para fora do carro, já com uma arma na mão, mas fui parada por Celine. Ela segurou em meu braço e me puxou para olhar diretamente em meus olhos.

— Cuidado. — disse ela, simplesmente.

— Eu sou sempre muito cuidadosa. — dei de ombros de forma brincalhona, e Celine bufou quando a lancei uma piscadela.

Eu, Celine e os outros três nos aproximamos por cima. O ponto que eles estavam se encontrando era embaixo de uma ponte abandonada nos arredores da cidade, cercada por nada além de mato. De cima, escondidos entre as árvores, pudemos ver o capanga que estivemos seguindo. Ele estava acompanhado por quatro homens, e tinha um caminhão vazio atrás dele. Esse capanga conversava com um homem extremamente feio, que igualmente possuía quatro homens e um caminhão, mas o seu estava trancado. Ali devem estar as pessoas, pensei. Além disso, todos eles possuíam uma cicatriz em algum ponto perto do olho.

Testemunhamos silenciosamente enquanto eles conversavam. Eu mantinha uma arma mirada naquela direção, só esperando o momento em que Celine desse a ordem para iniciarmos o plano. Nesse meio tempo, os três dos nossos homens deram a volta pela floresta, para esperar do outro lado; dessa forma, os homens do Comerciante de Almas lá embaixo estariam cercados.

O homem que estivemos seguindo se aproximou do caminhão trancado. Me mexi no lugar, ansiosa, mas Celine me alertou:

— Espere... — ela sussurrou. O homem estendeu a mão. — Espere... — repetiu. Então, no minuto em que o homem encostou a mão no cadeado para abrir o caminhão, ela exclamou: — Agora!

Não pensei duas vezes quando atirei na mão do homem. Ele cambaleou para trás, urrando de dor, e os outros homens apontaram armas em nossa direção, começando a atirar. Mais uma vez sem pensar, eu empurrei Celine para longe dos disparos, e quase fui acertada.

Kessie! Está louca?! — ela reclamou, furiosa. Não tive tempo de argumentar, porém, porque os nossos homens desceram da sua posição, atirando nos capangas do Comerciante de Almas. Era hora de agir.

— Desculpe interromper a diversão, rapazes. — falei em tom de zombaria, indo na direção de um deles. Uma luta entre armas e corpos se iniciou, mas o elemento surpresa nos deixou em vantagem.

— O chefe ficará sabendo sobre isso... — o homem que eu lutava riu de forma assustadora, enquanto sangue escorria pela sua boca. Eu tinha tentado chutá-lo, mas falhei, pois, naquele momento, ele segurava minha perna, me imobilizando. Minha arma estava jogada em algum canto longe demais, então, peguei uma faca da cintura e comecei a atacá-lo continuamente, até que, por fim, ele não conseguiu mais desviar e a arma penetrou seu estômago.

— Ótimo. — disse eu, no tempo em que o homem caía no chão, escorado pelo caminhão atrás de nós, e deixando um rastro de sangue atrás. — Adoro quando pessoas falam de mim.

Dito isso, eu enfim removi a faca da sua barriga e ele despencou no chão, sangrando até a morte.

Olhei para Celine. Ela e nossos homens já tinham derrubado todos os outros. E, mesmo assim, a chefe de segurança estava absolutamente irada. Ela, que normalmente transmitia tanta emoção quanto uma porta, me encarava com um olhar absolutamente mortífero. Franzi as sobrancelhas, confusa, mas ela apenas me ignorou.

Dessa forma, coloquei a faca de volta na cintura e fui em direção do caminhão. Quando eu atirara na mão aquele capanga, a bala atravessara seu corpo e atingira o cadeado que trancava a carroceria do veículo, destruindo-o completamente. Assim, facilmente conseguimos abrir as portas; imediatamente um aperto tomou meu coração ao ver todas aquelas pessoas ali dentro — em sua a maioria mulheres. Estavam tão assustados que se encolheram ao nos verem, pensando que estávamos com os traficantes. E pensar que Celine já estivera naquela situação...

Era nojento. Absolutamente nojento o que o Comerciante de Almas fazia.

— Vocês estão seguros agora. — foi Celine quem se pronunciou, séria. — Os levaremos até a estação policial, está bem?

Obviamente, os levaríamos para a polícia que estava do nosso lado, que colaborava com a máfia.

Eles assentiram com a cabeça.

Eu e Celine passamos o resto da noite cuidando para que aquelas pessoas recebessem toda à assistência necessária. Também garantimos à eles assistência financeira e psicológica para o resto da vida. E, ainda assim, parecia pouco, principalmente porque eles eram apenas uma pequena parte de todas as pessoas que sofriam nas mãos do Comerciante de Almas.

Quando voltamos para casa, estávamos mais exaustas do que antes. E não apenas por toda aquela ação, que certamente desgastara nosso físico; mas também nosso emocional. Ver todas aquelas pessoas naquele caminhão foi como voltar no tempo, e eu tinha certeza que Celine sentira o mesmo. No caminho de volta para a mansão Tarasova, tudo que eu conseguia pensar era na maneira como a conheci.

Sete anos atrás, uma briga durante uma fria madrugada de outono acontecia numa rua vazia de Miami. Nós tínhamos cercado os caminhões do Comerciante de Almas, e havia disparos para todo lado. Acreditávamos que naqueles caminhões haviam apenas drogas, mas percebemos o quanto estávamos errados quando um deles explodiu. Bombas. Ele estava traficando bombas. Foi quando Dimitri mandou que cessássemos fogo e partíssemos para o combate corpo a corpo.

A bomba fez com que o outro caminhão caísse para o lado. O impacto abriu as portas da carroceria daquele outro veículo, todavia, todos estávamos ocupados demais na luta para nos importarmos com o conteúdo ali. Se antes a noite estava quente, naquele momento, suor e sangue começaram a escorrer pelo meu corpo, enquanto aquele caminhão que explodira continuava pegando fogo. Era um caos infernal de labaredas flamejantes para todo lado, fumaça tomando conta dos meus pulmões, e braços e pernas tentando me atingir constantemente. Mas eu continuei lutando; continuei mesmo estando exausta e sendo apenas uma jovem de quase dezenove anos comandando uma guerra entre máfias.

Em algum momento, eu caí. E, aproveitando a minha fraqueza, o homem que me atacava pisou em meu braço, me impedindo de buscar a minha faca que estava a alguns centímetros de mim. Então, usei minhas pernas para segurá-lo e o puxei para baixo. Contudo, ele foi mais rápido e usou minha própria arma contra mim, perfurando levemente meu quadril. Não foi nenhum golpe mortal, mas me enfraqueceu o suficiente para que eu caísse, apoiando as minhas costas contra a roda do caminhão revirado. Assim, o homem se aproximou de mim como um predador e direcionou a faca para um ponto abaixo dos meus olhos.

— Será que devo levar seus olhos como recompensa? — ponderou ele, no tempo que eu apenas tentava continuar respirando. — Seria bem simbólico, não é? O Comerciante de Almas... Com os olhinhos da princesa Tarasova.

— Realmente quer isso? — disparei, ainda conseguindo soar arrogante mesmo que sangue saísse da minha boca. Por dentro, eu estava desesperada, torcendo para que alguém viesse me ajudar. — Meus olhos assombrando você para o resto da sua vida? Me sinto até lisongeada.

— Não... Eu já tenho fantasmas demais me perseguindo. — ele gargalhou, tirando a faca do meu rosto. Porém, em seguida, ele direcionou a ponta da faca contra o meu peito, fazendo apenas um pequeno furo. — Talvez eu devesse arrancar seus órgãos. Um por um...

De repente, um disparo. E aquele homem pendeu para o lado, morto com uma bala na cabeça.

— Vai para o inferno. — rosnou alguém ao meu lado. Era Celine. Mais tarde eu descobriria que, depois de meses fazendo parte do sistema de tráfico do Comerciante de Almas, ela e várias outras pessoas estavam naquele outro caminhão que estava sendo levado para outro lugar na costa leste. Contudo, quando a explosão derrubou o veículo e abriu a carroceria, Celine conseguiu sair e pegou uma arma à tempo de me salvar. Naquela época, ela nem me conhecia, nem sabia lutar, mas me salvou mesmo assim.

Celine, após aquela noite, se juntou à nossa máfia. À princípio, ela só queria ajuda para encontrar a mãe, que também fora levada pelo Comerciante de Almas, mas depois que descobrimos que ela estava morta, Celine se juntou permanentemente à nós, jurando vingança ao homem que destruiu sua vida. Eu não conhecia uma pessoa que não gostaria de colocar uma bala na testa daquele mafioso, contudo, Celine certamente merecia ser a pessoa que o mataria.

— Por que Celine parece mais irritada do que de costume? — indagou Henry, ao nos ver chegar. Ele estava no canto da sala, bebericando um copo de uísque.

A chefe de segurança, em resposta, apenas fez um gesto vulgar para ele com o dedo do meio.

— Não sei, ela não me disse. — murmurei, finalmente podendo tirar aqueles saltos que faziam meu pé latejar. Celine bufou, ignorando-me por completo e indo até uma mesinha com os itens necessários para limpar suas armas.

— Agora, o Comerciante de Almas vai fazer de tudo para encobrir tudo que descobrimos ao segui-lo. Tudo por a'água abaixo. — comentou Henry.

— Se acha que salvar aquelas pessoas é motivo de derrota, então você tem que rever suas morais. — disparou Celine, séria.

— Desculpe, não foi isso que eu quis dizer. — disse meu gêmeo, acuado. — Sei que não tínhamos outra escolha ao interferirmos hoje. Só estou dizendo que teremos que pensar em outra forma de ficar à frente daquele canalha.

— Nós vamos dar um jeito. — mumurei. — Sei que vamos. Mas não adianta termos tanto poder se não podemos usá-los para ajudar as pessoas. Para combatê-lo.

— Nós vamos combatê-lo, Kessie. — afirmou Henry, convicto. — Eu não vou deixar esse mundo sem antes garantir a queda do Comerciante de Almas.

Assenti, concordando. Em seguida, meu gêmeo se despediu e saiu do cômodo, me deixando sozinha com Celine.

— Boa noite. — resmungou ela, num tom severo, se virando para sair sem nem olhar para mim.

— Celine, não saia daqui sem falar comigo. Por favor. — disse eu, e ela imediatamente voltou. — Por que está chateada comigo?

— Não é óbvio?

— Não! Não é óbvio. — exclamei, balançando a cabeça em negação. — Não tenho poderes de ler mentes ainda, sua bobinha.

Celine respirou fundo, me encarando como se ponderasse se deveria falar ou não.

— Você podia ter levado um tiro. Você pulou por cima de mim para me proteger e poderia ter sido acertada.

Arqueei as sobrancelhas, surpresa. É... isso? Quase ri. Celine estava chateada... por que eu a protegi?

— E qual o problema? — indaguei, confusa. — Você faz isso comigo o tempo todo. — argumentei.

Celine bufou, impaciente.

— Você realmente não percebe, não é? É diferente, Kessie! Eu posso morrer por você, e morreria! Mas você... você absolutamente não pode morrer por mim. Ou sequer se machucar por mim.

— Isso seria tão ruim assim? 

— Sim!

— Por que?!

— Porque... — Celine engoliu seco e, pela primeira vez em todos os anos que nos conhecíamos, eu a vi sem palavras. Pior ainda, vi medo nos seus olhos. — Porque eu não aguentaria. Você é... Você é como esse... raio de sol brilhante e espalhafatoso que ilumina meus dias sombrios. — suas palavras eram carinhosas, mas seu tom era raivoso. — Eu não aguentaria ver você se machucar por mim.

— Bem... — mordi o lábio, sem saber o que dizer. Eu nem sabia que Celine era capaz de dizer coisas boas sobre as pessoas. — Feche seus olhos, então? — sugeri, como se fosse óbvio, um sorriso brincalhão despontando dos seus lábios. — Eu vou ficar bem, Celine. — falei carinhosamente, indo até ela para depositar um beijo em sua bochecha. — Mas, para isso, não podemos perder tempo brigando por coisas bobas. Eu preciso de você ao meu lado. 

— Sempre. — ela respondeu, séria. — Sempre.


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