capítulo vinte e seis

como faz tempo que não tem um capítulo no presente vou relembrar vcs: no capítulo vinte e um estava tendo a festa de noivado, até que o lustre caiu e tudo ficou escuro; no capítulo vinte e três continua com a festa sendo invadida, acontece um tiroteio, mas os tarasova conseguem salvar uma parte das pessoas, incluindo a elaine, a naira e o nikolai (que levou um tiro). então, eles levam a elaine e o nikolai para a mansão tarasova. é a partir daí que começamos agora ;)

Eu não soube dizer quanto tempo fiquei parada, encarando o vazio diante de mim onde Dimitri antes estivera.

Foi preciso uma extrema quantidade de força para eu conseguir me mover e me arrastar para fora daquele corredor e de voltar para sala de estar onde estava antes. Kessie, Henry e meu noivo ainda discutiam no escritório com a porta aberta, mas imediatamente se calaram ao me ver. Engoli seco, analisando o rosto de cada um deles. Estavam escondendo algo de mim, eu sabia. Dimitri... Dimitri dissera para eu perguntar a verdade à Nikolai se realmente quisesse me casar com ele. Eu não sabia como deveria processar aquilo, mas com a expressão em minha face, os três ali certamente deviam estar pensando que eu acabara de ver um fantasma.

— Eu... — comecei, em voz fraca. Os acontecimentos daquela noite ainda me abalavam, eu não sabia quanto mais poderia aguentar. Seria essa verdade algo tão ruim assim? — Eu preciso falar com você. — afirmei, convicta, entrando no escritório e encarando meu noivo. Ele estava sentado na mesa, já com o braço que levara o tiro enfaixado. Henry e Kessie se entreolharam, como se tivessem algum super poder de gêmeo que permitisse que eles conversassem sem palavras, e assentiram.

— Grite se precisar. — a fala de Henry foi direcionada a mim, mas ele não tirou os olhos do irmão mais velho. Em seguida, colocou a mão no meu ombro rapidamente e saiu, sua perna esquerda sempre mancando.

— Me desculpe. — foi o que Kessie disse, depositando um beijo no topo da minha cabeça antes de sair acompanhada de Celine. Senti um aperto no meu coração. Kessie... Kessie realmente teria algum motivo para se desculpar? Isso tinha alguma relação com a verdade? Perguntas demais martelavam em minha mente, e eu estava determinada a conseguir as respostas.

Os três fecharam a porta, deixando-me sozinha com Nikolai.

— O quanto Dimitri te contou? — perguntou meu noivo, cabisbaixo.

— Ele não me contou nada, Nick. — falei, tentando soar o mais pacífica e compreensiva o possível. Afinal, eu teria que escutá-lo antes de me estressar. Mas pelo modo que todos agiam... Parecia sério. Com aquilo, Nikolai pareceu suspirar em alívio. — Ele só... Disse que se eu quisesse me casar com você, teria que saber a verdade antes. Que verdade é essa, Nick?

— Podemos, por favor, sentar? — sugeriu ele, indicando algumas poltronas no canto do escritório.

— Por que? É tão ruim assim? — respondi com uma pergunta, tentando soar descontraída. O modo com que Nikolai fitou o chão me fez perceber que era ruim assim. Minha ansiedade estava a mil, eu só queria respostas e o mais rápido possível.

— Elaine... — ele tentou se aproximar e me tocar com a sua mão boa, mas involuntariamente recuei.

— Desculpe. — sussurrei. A maneira como eu desviara do meu próprio noivo partiu meu coração tanto quanto o dele. — Vamos só acabar logo com isso. — acrescentei, me sentando numa das poltronas. Não tirei os olhos de Nikolai nem por um segundo enquanto ele lentamente me seguiu, sentando-se na outra.

— Você vai me odiar pelo que eu vou te dizer. — disse ele, me deixando ainda mais nervosa. — Provavelmente vai querer cancelar o casamento.

— Deixa que isso eu decido. — afirmei, séria.

Nikolai assentiu, suspirando.

— Tudo começou muitos anos atrás, no início do século XX, quando uma traição forçou nosso ancestral a vir para os Estados Unidos. — começou meu noivo, no tempo que eu escutava atentamente. — Os Tarasova... Formaram uma máfia. Sustentando seus interesses de maneiras desonestas e ilegais, a máfia Tarasova começou a sonegar impostos, formar carteis, controlar territórios, praticar corrupção, contrabando, extorsão, fraudes, jogos de azar dentro dos hotéis, tráfico de armas, de informações, de influências, formação de milícias e esquadrões da morte, entre várias outras coisas. Tudo isso escondido por trás da rede de Hotéis e Resorts Tarasova.

— Eu... Não... O quê? — foi tudo que consegui falar. Aquilo não fazia sentido. Uma máfia? Máfia... Tarasova? Não, não podia ser... Dimitri, Kessie, Henry, Nikolai... Não podia, ser não. Não tinha como eles serem de uma família de mafiosos. Meu coração batia tão rápido que eu pensei que nem conseguiria escutar Nikolai falar.

— Nós somos uma família de mafiosos, Elaine. Nós somos mafiosos. — disse Nikolai. Balancei a cabeça, em negação. Não... Não podia ser verdade... — Na verdade, eles são. Dimitri me baniu anos atrás.

Dimitri? Dimitri era... Um mafioso? E eles esconderam aquilo de mim? Desde aquela época, desde aquele verão...

— Isso não faz nenhum sentido... — minha voz saiu como um sopro. Máfia Tarasova...?

— Por favor, não fique brava com meus irmãos por terem escondido isso de você. Ou comigo. Nós só queríamos te proteger.

— Eles eu até... Até consigo entender... Eu era só uma garota aleatória que eles conheceram no hotel. — falei, por mais que cada uma daquelas palavras soasse como uma facada em meu coração. — Mas você... Eu sou sua noiva, Nikolai. Quando você planejava me contar? Depois de anos estando casado comigo? — elevei a voz, começando a ficar chateada. — Ou quando algo terrível acontecesse, como hoje?!

— Eu sei que errei. Dimitri odiou que eu escondi isso de você, ele disse que eu tinha até a festa de noivado para contar a verdade ou ele mesmo contaria. Mas você tem que entender...

— Como pode esconder isso de mim? — o interrompi, sem conseguir olhar nos seus olhos.

— Eu deixei a máfia, Elaine! Eu não pensei... Não pensei que meu passado fosse voltar para me assombrar. Não pensei que eu ter sido parte da máfia da família atrapalharia nossas vidas, que te colocaria em perigo...

— Mas aconteceu, Nick! E, Deus, por que Dimitri o baniu? O que aconteceu? E me diga tudo dessa vez. Eu quero saber de tudo.

— Está bem. Contarei tudo. — disse Nikolai, sério. — Eu... — ele suspirou antes de começar. — Eu sou o mais velho e, logicamente, eu seria o sucessor do nosso pai. Mas ele me desprezava. Dimitri era seu favorito, sempre foi. Nossa rivalidade apenas aumentou enquanto crescíamos. Eu fiz de tudo para ser o filho perfeito. Treinei mais do que qualquer um, li todos os livros, fiz todas as atividades extracurriculares, passei em todas as melhores faculdades do país, e Dimitri... Dimitri fazia tudo errado, era rebelde e retrucava nosso pai. E continuava sendo o favorito.

"Todos os Tarasova vão para Stanford. É uma tradição. E eu passei naquela faculdade, Elaine, passei com louvor. Mas meu pai... Ele não me deixou cursá-la. Ele disse essas exatas palavras 'sou eu que estou pagando, então você vai para onde eu quiser' e, assim, ele me mandou para estudar do outro lado do país, lá em Miami. Eu odiei aquilo, mas aceitei, porque fazia todas as vontades do meu pai. Então, no dia da minha partida eu cheguei para ele e o perguntei se estava orgulhoso de mim por ter feito tudo que ele queria. Mas meu pai..." Nikolai soltou uma risada amarga. "Ele olhou bem nos meus olhos e disse 'Você poderia roubar todas as sete maravilhas do mundo até onde eu sei. Não há nada, absolutamente nada, que me faça ter orgulho de você'. Ele me desprezava, e sem nenhuma porcaria de motivo!" a forma como meu noivo gritou até me assustou.

"Então, quando eu me mudei para Miami, eu conheci a única máfia que nos superava. A máfia da costa oeste, a máfia do Comerciante de Almas. A máfia dele é terrível, ele lidera por medo, ameaças e mentiras, sequestrando, torturando e traficando pessoas. Ninguém sabe qual é o negócio que ele usa para esconder a parte ilegal, ou quem ele é, mas todos os seus capangas tem alguma cicatriz perto do olho. Talvez ele também tenha uma, mas não sei dizer, porque nunca o vi."

— Uma cicatriz perto do olho... — ponderei, tentando processar aquela história. Eu não sabia o que deveria sentir entre tanta confusão, medo e aquela terrível sensação de que eu fora enganada. — Como os homens que atacaram nossa festa hoje?

Nikolai assentiu tristemente.

— Eu estava cegado pela raiva, Elaine, e cometi o pior erro da minha vida... — ele passou a mão pelo cabelo, e pelo sofrimento expresso em sua face eu soube que aquilo não era fácil para ele dizer. — Eu me aliei a ele. Àquele monstro... Me tornei parceiro do seu braço direito, um homem chamado Víbora Branca, e concordei em ajudar a tomar a máfia Tarasova se eles prometessem que não machucariam um fio de cabelo da minha família. Eu dei tudo a eles. Todos os segredos da nossa máfia, as formas de invadir nossa casa tudo... Deus, como eu fui burro! — uma lágrima escorreu pela sua face. Eu nunca tinha visto Nikolai chorar antes.

"Uma semana depois do fim do verão de 2013..." meu coração deu um salto. Aquele fora o verão em que conheci Dimitri. "A Víbora Branca e seus capangas invadiram este lugar. A mansão Tarasova." meu noivo teve que enxugar as lágrimas antes de prosseguir. "Meu pai foi morto na minha frente, Elaine. Henry levou cinco tiros na perna, e Aaron... E foi minha culpa. Tudo minha culpa."

Eu recuei um pouco, horrorizada. Nikolai, meu noivo, traíra seus irmãos? Então, fora aquilo que matara Andreas Tarasova? Que matara Aaron?!

"Assim, Dimitri foi forçado, com apenas dezoito anos, a assumir a máfia. Kessie e Henry também. Eu fui banido. E isso deu início a uma guerra entre as duas maiores máfias do país, sem que ninguém pudesse interferir, porque meu pai se ajoelhara e dera permissão ao Comerciante de Almas para caçar nossa máfia. Foi um massacre, Elaine. E não só homens de ambos os lados morreram, mas civis também."

Tudo pareceu, de repente, se encaixar. Aquela ligação misteriosa de Dimitri que encerrou nosso relacionamento acontecera exatamente uma semana depois do fim do verão de 2013. E eu me lembrava... Lembrava de ver as notícias sobre a violência ter aumentado depois daquele verão. Era porque uma guerra secreta entre mafiosos estava acontecendo.

"A guerra só acabou quando o Comerciante de Almas foi deletado para a polícia." continuou Nikolai "Ninguém sabe quem o delatou, porque mafiosos não deletam um ao outro, mas meu palpite é que o delator deve ter tido uma morte lenta e dolorosa. Uma força-tarefa que não era corrupta o atacou, e ele perdeu muitos homens naquele dia. Ninguém sabe o que aconteceu com o Comerciante de Almas depois disso, mas ele jurou que derrubaria os Tarasova... E acho que ele voltou para cumprir sua promessa."

— Por isso nossa festa foi atacada? — perguntei em voz fraca, visto que um nó se formando na minha garganta. Como que eu vim parar no meio disso?!

— Dimitri acha que sim. Quando ele veio me avisar...

O quê?!

— Ele te avisou?! — exclamei, ficando de pé, indignada. — Você sabia...?

— Eu sabia que tinha um risco, mas... Eu não sabia que... — Nikolai se levantou, tentando se aproximar. — Perdão, Elaine. Perdão por ter escondido isso de você. Eu realmente achei que não faria diferença.

— Eu não sei o que pensar... — murmurei.

— Elaine, por favor... — ele tentou tocar em minha mão, mas eu me afastei de supetão. — Por favor, me perdoe...

— Pessoas morreram hoje, Nikolai! Pelo que você fez. Pelos segredos que guardou. Eu... — eu mal conseguia falar sem desabar. — Eu preciso pensar. — falei, por fim, fitando o chão. Nikolai apenas recuou um passo, e assentiu de modo compreensivo.

— Eu entendo. — disse ele. — Leve quanto tempo for preciso. Eu vou esperar.

— Eu... Eu não posso fazer você esperar. — quase doía dizer aquilo. Mas era preciso. Então, tirei a aliança do meu dedo, sentindo como se alguém estivesse arrancando meu coração, e carinhosamente a coloquei na mão do meu noivo. Ou ex-noivo? Eu teria que pensar sobre isso. — Eu prometo que vou pensar. Eu quero voltar para você, Nick, eu só... Eu preciso de tempo para assimilar tudo isso. Desculpe.

— Não precisa se desculpar. — Nikolai suspirou. — Eu entendo. Mas eu vou esperar, Elaine. Não importa se levar uma vida inteira, ou se nunca acontecer. Eu vou esperar por você. Porque é... Você. A mulher da minha vida. — suas palavras só me fizeram soluçar. — Eu sei que errei, e errei feio, e se viver uma vida sem você for o preço a se pagar pelos meus pecados... Aceitarei a punição com honra.

— Desculpe. — repeti, chorosa, segurando firme em sua mão fechada, com a aliança dentro. E, então, saí sem mais nem menos.

Kessie e Henry olharam para mim no minuto em que saí do escritório. A chefe de segurança, Celine, não estava mais lá. Os gêmeos perceberam, somente pela expressão em meu rosto, o que acontecera lá dentro.

— Então... Mafiosos, hein? — disse eu, um certo tom de escárnio em minha voz.

— Não podíamos te falar. — disse Henry. Apesar do seu tom sério, havia um pedido de desculpas expresso em seu olhar castanho.

— Você entende isso, não entende? — perguntou Kessie, tentando soar compreensiva e carinhosa, e arriscando dar um passo para perto de mim. Apenas um passo, mas ainda mantendo uma distância segura. Ela deveria saber que eu ainda estava processando muitas informações. Estava confusa, desolada. — Para sua proteção e para a nossa, não podíamos te contar. Praticamente ninguém em nossas vidas sabe, Elaine, nem mesmo amigas minhas que eu conheço há anos desde o jardim de infância. Mas isso não significa... Não significa que todas as outras coisas foram uma mentira. Eu fui sincera quando disse que sua amizade significava muito para mim, que você era como uma irmã... Eu nunca menti para você. Nenhum de nós mentiu.

Assenti com a cabeça, triste. Eu compreendia. Compreendia de verdade. Só precisava... De tempo. Para assimilar tudo aquilo.

— Aaron sabia? — indaguei por curiosidade.

— Sabia. — afirmou Henry. Dessa vez, eu pude sentir sua raiva se dirigir à Nikolai com a menção ao falecido namorado. "Tudo minha culpa..." As palavras de Nikolai ainda ecoavam em minha mente. — O pai de Aaron faz parte da máfia.

— O pai de Aaron não é policial?

O silêncio de Henry e Kessie serviram de resposta suficiente para minha pergunta. O senhor Hopkins é um policial corrupto, pensei. Tentei não imaginar quantos outros policiais ao redor do país se corromperam para as máfias locais.

— Não somos monstros, Elaine. — disse Kessie, sentando-se no encosto do sofá e cruzando as pernas, me permitindo ver a arma escondida em sua coxa, debaixo do vestido.

— Apenas fazemos o que tem que ser feito. — complementou seu gêmeo.

— Vocês... Vocês não me devem explicações. — murmurei. Era provável que todos eles já se sentissem culpados o suficiente por tudo que fazíam. Mas eles não tiveram uma escolha. Eu não podia julgá-los por ter nascido numa família de mafiosos e estarem fadados a seguir aquele caminho. A última coisa de que precisavam era o meu julgamento.

Mas não significava que eu gostava daquilo. Ou apoiava.

— Você quer algo? Um copo d'água, um pouco de ar?

Olhei para Kessie e neguei com a cabeça.

— Não, obrigada. — recusei, num suspiro. — Eu acho... Acho que preciso de espaço. E tempo.

— Não pode ir sozinha. — disse Nikolai, que até agora estivera em silêncio. — O Comerciante de Almas sabe quem você é, e sabe que você é uma refém em potencial. No minuto em que ficar sozinha, eles irão caçá-la.

Henry bufou.

— E de quem é a culpa?

— Eu odeio dizer isso, mas Nikolai está certo. — falou Kessie. — Mas talvez... — de repente, uma lâmpada pareceu ter acendido em sua mente. — Vá falar com Dimitri.

— Por que?

Henry e Kessie se entreolharam.

— Você vai entender. — disse Henry. Eu não tinha certeza se confiaria nos Tarasova, mas não era como se tivessem muita escolha.

— Vocês podem... Podem proteger Naira e minha mãe? — pedi antes de sair. — Tenho medo que elas sejam reféns em potencial também. — apenas por me conhecerem, por serem próxima de mim... Odiava o fato de estar tão envolvida naquilo. Nikolai me envolvera... E nem me contara.

— A protegeremos com nossa vida. — respondeu Kessie, exibindo um sorriso triste.

.

Foi uma das funcionárias da casa que me levou ao quarto de Dimitri. Estava tão escuro lá dentro, iluminado por nada além da luz da lua advinda da janela, que nem pude analisar a interiorização do cômodo. Dimitri estava diante de uma enorme cama, virado de costas para a porta, colocando apressadamente várias roupas dentro de uma mala. Acreditei que estava sendo silenciosa, mas a fala do único Tarasova de olhos azuis me fez perceber o contrário:

— Olá, Lis. Ele te contou? — indagou ele, olhando para a frente, para o espelho do outro lado do quarto que permitia que ele olhasse nos meus olhos através do meu reflexo. Respondi com um aceno de cabeça. — Veio para me dar uns bons chutes, então?

Ignorei sua última pergunta.

— Por que está fazendo as malas?

— Tenho umas coisas para resolver em Paris. — disse ele, me olhando por cima do ombro. A escuridão do quarto e a tensão entre nós parecia me sufocar.

— Paris? — arqueei uma sobrancelha. Certa vez, Dimitri me disse que iria a Paris comigo, mas rapidamente afastei aquela lembrança. — Vocês têm máfia em Paris também?

— Ei, eu percebi essa leve crítica no seu tom. — embora aquelas tivessem sido suas palavras, seu tom era de brincadeira. — Mas sim. Afinal, a rede de Hotéis e Resorts Tarasova é internacional.

— Me leve com você. — disparei, tão de repente que até Dimitri se surpreendeu. — Eu preciso de tempo e espaço para pensar, mas não posso ficar sozinha sem um maluco das almas tentar me sequestrar.

Dimitri teve que conter o sorriso que dispontou em seus lábios ao escutar a forma como eu chamara o tal do Comerciante de Almas.

— É verdade.

— E então? — insisti, dando um passo a frente. — Posso ir com você?

Dimitri fixou seu olhar no meu antes de responder.

— Pode. — disse ele. — Ficará segura no hotel de Paris e prometo que não será incomodada.

.

Não me despedi de Nikolai, Kessie ou Henry antes de partir. Mas fiz questão de ligar para Naira — com um telefone público, para não ser rastreada — e dar uma desculpa qualquer. Disse a ela que os invasores da festa faziam parte de um grupo de loucos anarquistas e que a polícia estava investigando. Além disso, falei que eu tinha ficado muito abalada com tudo aquilo e, juntando com o tiro que Nikolai levara, nós tínhamos decidido adiar o casamento. Odiei mentir para minha melhor amiga, contudo, era necessário; quanto menos ela soubesse, melhor.

Também pedi a Dimitri para me levar no meu apartamento antes da viagem. Arrumei uma mala rápida, com todos os itens essenciais e algumas roupas. Tudo aquilo tinha que ser muito discreto, e um dos homens da máfia Tarasova me seguiu por todo canto, pois não sabíamos se estávamos sendo observados ou se teria alguém por perto. Toda aquela vida de temer um possível ataque a qualquer momento... Não sabia quanto tempo aguentaria sem enlouquecer.

Tentei não me impressionar muito com o jatinho particular que nos levaria a Paris. Entretando, era quase impossível, visto a sintuosidade e luxo tanto no exterior quanto no interior. A poltrona em que me sentei, perto da janela, era bege e definitivamente era o assento mais confortável que eu já experimentara em toda a minha vida.

— Um copo de uísque, por favor. — escutei Dimitri pedir a um dos aeromoços. Em seguida, ele se voltou para mim. — Quer alguma coisa?

Neguei com a cabeça.

Dimitri começou a andar, para se sentar num assento distante, mas eu o chamei de volta. Dessa forma, ele retornou e se sentou na minha frente. Fiquei observando-o por alguns instantes, cada traço daquele belo rosto pelo qual um dia eu me apaixonara. Eu pensava que a barba rala e as tatuagens eram algumas das poucas coisas que tinham mudado em Dimitri, mas estava errada. Não sabia dizer se aquele era o mesmo Dimitri que conheci. Ou se eu sequer o conheci verdadeiramente.

Eu não queria pensar assim, não queria estragar nossas lindas memórias juntos. Mas estava confusa, e respensar cada momento se tornava inevitável.

— Pergunte-me o que quiser. — disse Dimitri, como se soubesse que minha mente curiosa estava cheia de perguntas. — Vou ser honesto com você, Elaine. Totalmente honesto. Você não merece mais segredos.

Engoli seco, sem saber por onde começar.

— Você iria me contar? Digo, naquela época...

— Sim. — respondeu ele, sem titubear. — Eu queria esperar nosso relacionamento estar mais estável, mas queria te contar mais do que qualquer coisa. Principalmente depois que você disse aquilo, sobre toda parte sua estar conectada por toda parte minha. Eu sabia que era para o seu bem, mas odiei esconder isso de você. Eu planejava te contar no minuto em que descesse do avião em Miami, mas como tudo que aconteceu aconteceu... Eu sei que foi errado terminar as coisas daquela forma, mas eu tinha acabado de perder meu pai e um dos meus melhores amigos, tinha assumido uma máfia inteira e estava no meio de uma guerra, eu só... Não pensei. Apenas agi. Fiz o que foi necessário para não te colocar em perigo, e não me desculparei por isso. — ele suspirou. — Eu sei que está brava comigo...

— Não estou brava. — o interrompi, tomando coragem para olhar em seus olhos. — Não com você, pelo menos. Eu entendo, Dimitri. Entendo de verdade. Eu só queria...

— Queria que as coisas não fossem dessa forma?

Assenti.

— Você sempre soube que... que seria um mafioso? — questionei. Não podia negar que estava curiosa e várias outras perguntas surgiam em minha mente.

— Sim. — ele respondeu na lata.

— E você... tem armas?

— Um arsenal cheio delas. Tenho uma arma comigo agora, inclusive. — acrescentou, e eu arregalei os olhos, sem saber o que pensar. — Isso... te assusta?

— Um pouco. — dei de ombros. — Mas eu entendo. O... — tentei pensar na palavra adequada — trabalho... a vida que vocês levam... Entendo porque armas são necessárias. — ele assentiu. — Sinto muito. Por tudo que aconteceu com você.

— Eu também.

O resto do voo prosseguiu em silêncio.

eai gente como vcs estão?

elaine agr sabe de tudo e decidiu fugir com o dimitri. acham que essa foi uma boa escolha?

aliás, o que vcs acharam do capítulo em geral? e da reação da elaine com tudo isso?

to muito agoniada com essa história de comerciante de almas!! quem vcs acham que é esse maluco?

a elaine é meio lesa então acho que vcs vão conseguir adivinhar quem é antes dela heheh

beijosss espero vcs no próximo capítulo!

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